sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

H. G. Wells: a ficção científica como romance social

Por: Edgar Indalecio Smaniotto


Herbert George Wells (1866-1946)Herbert George Wells é um dos autores mais importantes da ficção científica. Ele tratou vários temas que seriam mais tarde centrais nesse tipo de literatura: a viagem no tempo [1], a invasão alienígena [2], a manipulação biológica [3], a guerra total [4] e a invisibilidade [5].

Também foi uma espécie de filósofo político [6], como o definia sua amiga socialista Beatrice Webb. A admiração por ele levou os Webb a incluírem Wells entre os “doze sábios” com os quais fundaram, em 1902, o “The Co-Efficients”, em que ele teve um papel importante. Os Webb consideravam a literatura, como praticada por Wells, um meio indispensável de propagar as idéias socialistas [7].

Franzino e tuberculoso, Wells nasceu em 21 de setembro de 1866, filho de empregados domésticos que mais tarde se tornaram comerciantes em Kent (Inglaterra). Aos trinta anos decidiu abandonar o cargo de professor e se tornar escritor. Seu fascínio pela ciência o levou para a ficção científica, gênero difundido por Júlio Verne.

A fama lhe trouxe um convite para filiar-se à Sociedade Fabiana, onde passou a defender a instituição de um socialismo militante, em contraposição a um socialismo acadêmico: “Devemos nos associar a alguma organização – falava eu. – Devemos realizar coisas... Devemos sair pelas ruas. As pessoas estão desinformadas.” (WELLS, 1990, p. 109), por isso se tornou membro da Sociedade Fabiana. Mas os fabianos nunca tiveram a pretensão de constituir um partido de massas. Contentavam-se em ser um grupo pequeno e seleto, empenhado em educar e preparar a classe média para o socialismo.

Publicavam grande quantidade de tratados e panfletos denunciando a pobreza e as injustiças que imperavam nos primeiros anos do século XX na Inglaterra. A solução para esses males viria em breve, asseguravam, através de programas e medidas governamentais de caráter paternalista. Antes, porém, era necessário que se formasse um governo verdadeiramente democrático e que o povo adquirisse consciência desses problemas.

Consideravam que os sindicatos deveriam limitar sua atuação à defesa dos interesses econômicos da classe operária nos processos de barganha coletiva. Não lhes competia imiscuírem-se em questões políticas ou cometer atos de rebeldia. Em verdade, não acreditavam que um movimento operário de bases amplas pudesse produzir mudanças políticas. Confiavam em que os apelos intelectuais acabariam modificando a opinião pública, e assim, conseguiriam levá-la a eleger para o parlamento candidatos que tivessem simpatias pelas idéias socialistas.

Incomodado com estes traços de comodismo burguês que encontravam em muitos dos fabianos, Wells passou a se dedicar exclusivamente à escrita e pregava a necessidade de uma educação científica entre os socialistas, que eram até então poetas, intelectuais aventureiros, professores e funcionários públicos. Ele defendeu suas idéias nos fóruns da Sociological Society, do qual foi membro fundador em 1903. Em 26 de fevereiro de 1906 ele apresentou em um de seus encontros uma palestra com o título “The So-Called Science of Sociology”, em que contestava as pretensões da sociologia de ser uma ciência, para ele esta deveria ser literária e utópica. Seriam sociólogos Platão, Morus, Bacon, Swift, Edgar Allan Poe e até aquele Comte que criara uma utopia ocidental altamente pessoal.

Pessoas como Spencer e os Webb seriam no máximo assistentes sociais e pseudocientistas criadores de confusão. Wells mesmo, por falta de experiência em formar comissões e organizar atividades políticas, não conseguiu seu intento. Sem apoio, ele abandonou a Sociedade Fabiana em 1908, passando a fazer severas críticas a esta sociedade. Vejamos as observações de George Ponderove (personagem de um romance de Wells), um socialista disposto a fazer uma carreira de ação política dentro desta sociedade:

Depois de muitos sacrifícios, nós descobrimos o escritório da Sociedade Fabiana, escondido num porão de Clement’s Inn. Entramos e interrogamos um secretário de ar desencorajador que se encontrava em frente ao fogo e que nos questionou com severidade acerca de nossas intenções...

- Quantos membros há na Sociedade Fabiana? ...

- Cerca de 700...

- Como – como estes aqui?

- Estes socialistas não têm sentido de proporção – disse ele.

- O que você pode esperar deles? (WELLS, 1990, p. 110-111).

A crítica aqui é explícita no sentido da necessidade de tornar a Sociedade um movimento de massas e não um ‘grupelho’ de intelectuais incapazes de participação política, que ficava a discutir e não agia politicamente.

Wells também se mostrou profético em seu intento; em 1918 o trabalhismo repentinamente apareceu com 24 por cento do total de votos, atingindo 37,5 em 1929, o que pôde medir razoavelmente a consciência de classe crescente entre os britânicos (HOBSBAWM, [S.D.], p.293). Wells certamente pretendia que esses votos fossem dados a uma Sociedade Fabiana convertida em Partido Político.

Wells tornara-se candidato ao Parlamento, propagador, educador e enciclopedista, ardente sustentador da idéia da Liga das Nações. Escreveu uma longa história mundial, Resumo da História (1920). Dez anos mais tarde, com a colaboração dos biólogos G. P. Wells (seu filho), e do Dr. Julian Huxley, escreveu A Ciência da Vida, um vasto manual de biologia para todos os interessados. Também escreveu uma volumosa exposição da economia cotidiana, Trabalho, Riqueza e Felicidade da Humanidade (1932).

Quando estourou a guerra de 1939-1945, Wells foi provavelmente o pensador mais influente do mundo. Seu Resumo da História foi traduzido em quase todas as línguas, e vendeu 2 milhões de exemplares.

Podemos dividir as novelas de Wells, basicamente, em três grupos. O primeiro consiste nos romances científicos e outras fantasias. O segundo, em novelas de caráter ou comédias sociais. E o terceiro, em novelas de idéias, dedicadas em sua maioria à discussão de idéias e ao progresso humano.

A Guerra dos Mundos tem sua história dividida em dois livros: o primeiro contando a invasão marciana e o segundo como ficou a Terra sob seu domínio e como os marcianos sucumbiram às bactérias. O livro é destinado a transmitir o pânico e a humilhar os arrogantes vitorianos [8]. A humilhação começa no primeiro parágrafo:

Ninguém teria acreditado, nos últimos anos do século XIX, que este mundo estava sendo observado com atenção e bem de perto por inteligências maiores que a do homem e, no entanto, tão mortais quanto a dele próprio; que os homens, enquanto se ocupavam com diferentes problemas, eram examinados e estudados, talvez tão minuciosamente quanto alguém com um microscópio pode examinar as efêmeras criaturas que pululam e se multiplicam numa gota d’ água. Com infinita satisfação, os homens iam e vinham por este globo cuidando de seus pequenos afazeres, serenos na certeza de seu império sobre a matéria. É possível que os protozoários sob o microscópio ajam do mesmo modo. (WELLS, 2000, p. 11)

Depois de afirmar que os marcianos estavam nos estudando, Wells expôs os motivos para que eles tenham decidido nos invadir. Na verdade, era a única alternativa de sobrevivência marciana, uma vez que Marte era um mundo antigo e agonizante rumo a um fim inevitável, tendo esgotado seus recursos naturais. Entretanto não nos passa despercebido o fato de os britânicos serem comparados a simples protozoários, tamanha a sua inferioridade em relação aos marcianos.

Em outra parte do livro, um soldado britânico diz que aquilo que estava havendo não era uma guerra, afinal não existem guerras entre humanos e formigas, nós simplesmente passamos por cima delas. Mas, infelizmente, somos formigas comestíveis.

Os marcianos seriam cinzas com tons marrons. Eles ainda teriam “olhos negros bem grandes” com grande intensidade, não possuiriam narinas nem lábios, teriam uma pele lustrosa, sem pêlos e uma grande cabeça. Comunicar-se-iam por telepatia. Em vez de mãos e braços, teriam tentáculos, oito de cada lado. Fica fácil identificá-los como polvos. As máquinas marcianas seriam gigantes mecânicos andando sobre três longas pernas. A parte superior, acima do tripé teriam a forma de disco. Este ‘monstro mecânico’ ainda possuiria longos tentáculos metálicos, e estes seres extraterrestres construiriam máquinas bizarras semelhantes à forma de seu próprio corpo.

Talvez nada seja mais admirável para um homem do que o curioso fato de estar ausente aquela que é a forma dominante de quase todos os aparelhos mecânicos humanos – a roda está ausente. Em todas as coisas que eles trouxeram para a Terra não há vestígio nem sugestão de que usem rodas. Seria de esperar que surgissem pelo menos na locomoção. E, quanto a isso, é curioso notar que mesmo aqui na Terra a natureza nunca precisou da roda, ou preferiu outros expedientes para seu desenvolvimento. E os marcianos não somente desconhecem (o que é incrível) ou dispensam a roda: em seus aparatos também se faz um uso singularmente restrito do pivô fixo, com os movimentos circulares em torno dele delimitados a um único plano. (WELLS, 2000, p. 151)

Ao final da história, pouco antes que os marcianos sucumbissem às bactérias terrestres, construíram máquinas voadoras, mas não conseguiram sobreviver para usá-las. “Entre outras coisas, a reportagem me reiterava algo em que não pude acreditar naquele momento: que o “segredo de voar” tinha sido descoberto. (WELLS, 2000, p. 200-201)

É um livro inspirado no colonialismo britânico, sobre como os valores morais da avançada civilização britânica condescendiam com o genocídio de um povo considerado inferior. Atribui-se a inspiração para a história a notícias a respeito da extinção dos nativos da Tasmânia (Austrália) [9] pelos colonizadores ingleses que estabeleceram lá uma colônia penal. Em ‘A Guerra dos Mundos’, Wells faz com que os britânicos sejam o povo inferior a ser massacrado por marcianos [10] mais avançados tecnologicamente e com valores morais questionáveis, se não ausentes. A mensagem central não só deste como de todas as histórias de Wells não é uma fantasia desvairada de alienígenas e tecnologia, mas um ponto de vista crítico e até pessimista sobre a própria humanidade. ‘A Guerra dos Mundos’ fala mais sobre nós, sobre a humanidade do que sobre os marcianos.

Em ‘A Guerra dos Mundos’, H.G. Wells compara os repulsivos marcianos a répteis, répteis que dispõem a seu bel-prazer de uma raça de seres humanóides bípedes e frágeis. Em sua invasão à Terra, os marcianos trazem consigo um certo número dessa outra raça de alienígenas que lhes servem de nutrição.

Sua preferência [a dos marcianos] inegável pelos homens como fonte de alimento é parcialmente explicada pela natureza dos restos das vítimas que trouxeram consigo de Marte como víveres. Essas criaturas, a julgar pelos pequenos restos mirrados que caíram em mãos humanas, eram bípedes com esqueletos inconsistentes e de siliciosos (quase como os das esponjas siliciosas) e débil musculatura, com cerca de dois metros de altura e cabeças redondas, eretas, com grandes olhos em órbitas muito duras. Duas ou três delas parecem ter sido trazidas em cada cilindro, e todas foram mortas antes de chegarem à Terra. (WELLS, 2000, p. 147)

Porém, é importante notar que os marcianos se nutriam de uma outra raça bípede, não simplesmente se alimentavam. Os marcianos de Wells não tinham sistema digestivo. A nutrição marciana consistia em injetar sangue fresco de outras criaturas em seus corpos. Eles não comiam carne, mas se nutriam de sangue. A crueldade suprema dos seres carnívoros no topo da cadeia alimentar imaginados por Wells como vampirescos é a idealização suprema da dominação, pois o que estava sendo sugado era a própria essência do outro ser.

A elite britânica da época foi descrita como vampiros, seres parasitas, mortos vivos, que se sustenta de outros. Devemos nos lembrar que o Drácula, de Bram Stoker [11] era um sucesso de venda na Inglaterra vitoriana, mas enquanto no livro de Stoker os britânicos eram descritos na figura de Van Helsing (uma mistura de professor, médico, advogado, filósofo e cientista), e sua equipe de cavalheiros enfrentando vampiros em países distantes:

Sob o comando unificador e sacerdotal de Van Helsing, os homens da classe média da Inglaterra vitoriana revigoram sua identidade cultural e sua masculinidade primitiva nos valores sagrados que são reinvocados contra a sublimidade da ameaça vampiresca. Em face à sexualidade voluptuosa e violenta solta pelo vampiro decadentemente licencioso, um senso vigoroso de valores patriarcais, burgueses e familiares é instaurado. (Botting apud Rocque e Teixeira, 2001, p. 31)

Na obra de Wells os britânicos mais bem representados no papel de vampiros alienígenas marcianos, com uma tecnologia superior, uma crítica perspicaz do autor ao imperialismo britânico. Ao apresentar seus alienígenas no papel exercido pelos britânicos em suas colônias, e os britânicos no papel exercido pelos povos colonizados, Wells faz uma critica áspera ao suposto papel civilizador da Grã-Bretanha.

O fato de os alienígenas serem tecnologicamente superiores e ainda assim moralmente condenáveis pode ser lido como uma critica inerente à ciência. O progresso do conhecimento científico não traria consigo uma nova ética, mas poderia até mesmo tornar as guerras exponencialmente mais sangrentas, com a destruição de cidades inteiras, como fazem os alienígenas no romance de Wells.

Além da critica social, a Guerra dos Mundos também apresenta ligações com a novela de idéias, basicamente no capítulo 7 da segunda parte (“O homem de Putney Hill”), onde as inquietações filosóficas do autor são apresentadas no discurso quase demente de um artilheiro do exército inglês que quer construir uma nova civilização nos esgotos de Londres.

Os fracos, e os que se tornam fracos à força de pensar demais, deságuam sempre numa religião do fazer nada, muito piedosa e elevada, e se submetem à perseguição e à vontade do Senhor. (WELLS, 2000, p. 147)

Wells continua afirmando que muitos homens até aceitariam de bom grado virar bichinhos de estimação dos marcianos, tudo para não precisarem lutar, afinal eles já são estimação de um deus, por que não ser dos marcianos? Para ele, a maioria das pessoas em sua vida moderna, indo e vindo de seus empregos diariamente, sem sequer pensar no que fazem não seriam nada mais que escravos.

Ele também fala sobre como a descoberta de que nós temos companhia alienígena poderia minimizar nossas diferenças aqui no pequeno planeta azul e criar um novo sentimento de união. Não devemos esquecer que Wells foi um batalhador incansável pela união dos seres humanos.

De todo o modo, esperando ou não outra investida, nossas opiniões sobre o futuro da humanidade devem ser amplamente modificadas por esses acontecimentos. Aprendemos que não é possível considerar este planeta como uma morada inviolável e segura para o ser humano: nunca poderemos prever o bem ou o mal invisível que pode se abater repentinamente sobre nós vindo do espaço. Pode ser que, no desígnio maior do universo, essa invasão marciana tenha mesmo sido afinal benéfica para os humanos; ela nos tirou desta serena confiança no futuro que é a fonte mais fecunda da decadência, trouxe incontáveis dons para a ciência e fez muito para promover a concepção do bem estar comum da humanidade (WELLS, 2000, p. 206).

Apesar de compartilhar as idéias socialistas do homem de Putney Hill quanto à questão da natureza e do papel do governo, suas concepções diferiam radicalmente das de Marx. Segundo Marx, o governo era um instrumento de coerção controlado e utilizado pela classe dominante para perpetuar seus privilégios, que eram inerentes ao sistema capitalista.

Já Wells considerava que, numa democracia parlamentar baseada no sufrágio universal, o Estado era uma instituição neutra que poderia ser ocupada e utilizada pela maioria para reformar o sistema econômico e social. Ora, como em uma economia capitalista a classe operária constituía a maioria, estavam seguros de que, mediante reformas pequenas e graduais, os privilégios das classes dominantes seriam abolidos e o socialismo seria instaurado por meio da evolução pacífica ao invés da revolução violenta.

Em “Antecipações”, publicado em 1901, ele chegou a defender a idéia de um Estado Mundial liderado por uma elite de pessoas cultas e educadas. Essa elite visionária tomaria controle das armas de guerra, pacificaria e unificaria o mundo e criaria uma nova era de prosperidade indefinida, mas nunca a uma revolução de proletários. Desta forma, qualquer um podia esposar o socialismo, e a continuar a viver em completa segurança num nicho confortável e pequeno-burguês da sociedade capitalista inglesa.

Desta forma, ao associar ficção científica, comédia social e novela de idéias, Wells tentava literarizar suas reflexões acerca da sociedade, tornando seus romances cada vez mais sociológicos e os transformando em fonte de propagação de suas idéias socialistas, segundo sua própria concepção de romance. “...o moderno romance... é o único meio com que podemos discutir a grande maioria dos problemas... que o desenvolvimento social atual traz consigo” (WELLS apud LEPENIES, 1996, p. 155).

Herbert George Wells não era um pensador ou cientista, era um escritor criativo, um homem que se achava um profeta e guia para um mundo melhor. Por vezes mostrava-se um pessimista acerca do futuro da humanidade. Em A Máquina do Tempo e Os Primeiros homens na Lua, desenvolve a idéia de sociedades controladas pelo intelecto sendo levadas à decadência. Já em “Antecipações”, um Estado Mundial liderado por uma elite de pessoas cultas e educadas, constrói o paraíso sobre a Terra.

Em Tono Bungay [12], ele defende o governo da maioria proletária ao invés de um grupo elitista intelectual. Manteve um diálogo particular com Joseph Stalin [13], que durou quase três horas, e foi grande admirador dos progressos sociais soviéticos. São idas e vindas no pensamento deste autor, que necessita ser mais estudado aqui no Brasil [14]. Com exceção de suas obras de ficção científica e o Resumo da História, não temos quase nada de suas obras e artigos de cunho social e socialista publicados no Brasil.



[1]A Máquina do Tempo. [S.T.] Portugal / Mem Martins: Publicações Europa-América, 1992. (Coleção FC-Bolso nº 191). Versão cinematográfica: A Máquina do Tempo (EUA, 2002), Direção de Simon Wells.

[2]A Guerra dos Mundos. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2000. A Guerra dos Mundos (EUA, 1954), Direção de Byron Haskin.

[3]A Ilha do Dr. Moreau. [S.T.] Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1983. (Coleção Mestres do Horror e da Fantasia). Versão cinematográfica: A Ilha do Doutor Moreau (EUA, 1996), Direção de John Frankenheimer.

[4]O Alimento dos Deuses. [S.T.] São Paulo: Editora La Selva, 1964. (Coleção Espacial nº 5). Versão cinematográfica: A fúria das feras atômicas (EUA, 1976), Direção de Bert Gordon. Um novo título foi dado na versão cinematográfica.

[5] O Homem Invisível. [S.T.] Portugal / Mem Martins: Publicações Europa-América, 1992. (Coleção FC-Bolso nº 190). Versão cinematográfica: Homem Invisível (EUA, 1933), Direção de James Whale.

[6] Segundo Beatrice Webb, esposa de Sydney Webb, dois dos mais prolíferos escritores da história do socialismo, H. G. Wells fazia parte de um grupo de escritores ingleses que ela denominava edwardians, juntamente com Arnold Bennett e John Galsworthy. Eram aqueles que podiam ser considerados representantes do romance sociológico. “Gostamos muito dele [H. G. Wells], - é completamente autêntico e todo inventividade, um especulador, uma espécie de jogador, mas completamente consciente de que suas hipóteses não estão comprovadas. Num certo sentido é um romancista estragado pela escrita de romances, mas que no estado atual da sociologia é útil tanto para Grdgrinds como para nós, porque nos fornece generalizações livres que podemos utilizar como instrumentos de pesquisa. E somos-lhe úteis também, porque lhe oferecemos uma enorme quantidade de fatos cuidadosamente peneirados e uma ampla experiência com a administração pública.” (WEBB apud LEPENIES, 1996. Pág. 149).

[7]Beatrice Webb e Sydney Webb em uma de suas primeiras e mais conhecidas obras, intitulada Industrial Democracy, rejeitam a idéia de que os trabalhadores pudessem gerir democraticamente suas próprias indústrias sob o socialismo. Afirmavam que os trabalhadores não tinham nem a intenção nem a capacidade de administrar empresas. Segundo eles, na futura democracia industrial socialista, as indústrias seriam controladas por administradores profissionais que, por sua vez, seriam responsáveis perante a população, uma vez que prestariam contas a um parlamento democraticamente eleito, aos governos locais e às cooperativas de consumidores. Rejeitaram também a idéia de que o socialismo implicaria a transferência da propriedade de toda a indústria para o governo nacional. A propriedade deveria ser exercida tanto pelo governo nacional quanto pelas inúmeras pequenas unidades administrativas locais ou regionais. O alcance das atividades de cada empresa e a parcela da população atingida por essas atividades determinariam, segundo eles, o tipo de propriedade em que se enquadraria a empresa. Na obra intitulada A Constitution for the Socialist Commonwealth of Great Britain, propuseram a criação de dois parlamentos distintos, ambos eleitos democraticamente. O primeiro se ocuparia das questões políticas, e o segundo cuidaria dos assuntos econômicos e sociais. Sugeriam também a adoção de um sistema de governos locais, baseados em unidades locais com limites geográficos definidos. Os governos locais se combinariam de várias maneiras para formar unidades administrativas encarregadas de supervisionar e controlar. (Para um maior entendimento do pensamento dos Webb, ver: LEPENIES, Walf O Romance Jamais Escrito: Beatrice Webb. In: As Três Culturas. Trad. Maria Clara Cescato. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. P. 115-145.)

[8] Wells atingiu seu intento com tamanha destreza que a “Guerra dos Mundos” viria mais tarde a causar pânico e desespero nos Estados Unidos e no Brasil. No dia 30 de outubro de 1938, Orson Well, apresenta na CBS uma adaptação radiofônica da obra homônima de Wells. Mais de um milhão de americanos saem às ruas em pânico, aterrorizados com as supostas notícias que anunciavam uma invasão marciana e a destruição de Nova York. A íntegra da transmissão foi publicada no Brasil. Ver: HOWRAD, KOCB. A Guerra dos Mundos. In: Antologia Cósmica – Primeiros contatos com seres extraterrestres. Fausto Cunha (org.). Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1981. Para uma análise mais aprofundada deste caso, recomendo o livro do jornalista Homero Fonseca, que fez um estudo a respeito em Viagem ao planeta dos boatos (Rio de Janeiro, Record, 1996). Ou o filme Radio Days (A Era do Rádio), de 1987, no qual Woody Allen mostra diversos episódios interligados __ entre eles a invasão marciana preconizada por Welles __ pela presença constante do rádio, que age poderosamente sobre os membros de uma família judia no bairro do Queens nos anos 30 e 40. O mais estranho é que em 22 de novembro de 1954 na cidade mineira de Caratinga a transmissão radiofônica da mesma obra gerou tanto tumulto e foi encarada com tanta seriedade que a Aeronáutica chegou a enviar um grupo de oficiais em um C-47 20-53, para averiguar o acontecido, ao mesmo tempo em que manteve outras aeronaves prontas para o combate. O fato voltaria a se repetir em 30 de outubro de 1971 em São Luís (Maranhão), chegando mesmo a mobilizar uma esquadrilha da Aeronáutica. Para maiores informações ver: VALIM, Alexandre Busko. Os marcianos estão chegando. Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Edições Biblioteca Nacional, 2005 (04): p. 64-69. Todos estes casos evidenciam a força da obra de Wells, e a credulidade e falta de ceticismo em grande parte da população, seja americana ou brasileira.

[9] Entre os anos de 1815 (após a queda de Napoleão), e praticamente até a Primeira Guerra Mundial, os grandes conflitos armados ocorrerão distantes da Inglaterra. Estes eram travados nas colônias, ou na periferia da Europa (Guerra da Criméia, 1853), ou não envolviam diretamente a Inglaterra (Guerra Franco-Prussiana, 1870). Wells critica justamente esta posição distante dos Ingleses para com os povos que estavam conquistando, atitude semelhante a dos marcianos, que estavam travando uma guerra tão longe de seu próprio mundo, quanto os ingleses em suas colônias.

[10] Na época o interesse pela existência de outros mundos já se encontrava bastante difundida, embora as pesquisa astronômica estivesse voltada para a mecânica celeste e astrometria. Mas em 1877, o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli publicou um artigo notificando a existência de canali na superfície marciana. Nos Estados Unidos um erro de tradução do italiano para o inglês, disseminou a idéia de que havia um sistema de canais artificiais em Marte. Percival Lowell, defendia a idéia de que havia um sistema de canais com a finalidade de trazer água dos pólos para uma civilização marciana sedenta. Daí para eles invadirem a Terra atrás de nossa água era uma questão de tempo. Wells soube usar esta mitologia muito bem, afinal na época ela era tão difundida quanto as modernas observações de UFOs. Uma história mais detalhada pode ser verificada no livro: A Conquista de Marte de Willy Ley (Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1967)

[11] Pode-se dizer que Bram Stoker legitima a atitude dominadora e imperialista inglesa, já que seus personagens vão à Romênia libertar o seu povo do tirano local e ao mesmo tempo prevenir ataques à “boa sociedade inglesa”. STOKER, Bram. Drácula. Trad. David Jardim Junior. [s.c]: Ediouro, [s.d].

[12] Tono Bungay: Temos neste livro elementos de ficção científica, tais como a experiência de George com sua máquina voadora e seu destróier, assim como especulações sobre a natureza radioativa do imaginário “quap”. A comédia social é centralizada no tio Edward Ponderevo, ao tentar junto com sua mulher adquirir a etiqueta da nobreza britânica. Já a “novela de idéias” aparece quando Wells comenta e mostra as mudanças sociais e as condições comerciais na Inglaterra.

[13] Diálogo recentemente publicado no Brasil. Ver: ALTMAN, Fabio (org.). A Arte da Entrevista. São Paulo: Boitempo Editora, 2004.

[14] Ao que parece a estreia em cinemas brasileiros do filme produzido por Steven Spielberg, A Guerra dos Mundos, gerou pelo menos um interesse momentâneo pela obra de Wells. Que na verdade pouco tem haver com o filme. Sendo a adaptação dirigida por Byron Haskin e produzida por Georg Pal, em 1954, a melhor já feita festa obra. Para maiores detalhes acerca das adaptações cinematográficas da obra de Wells, recomendo o artigo: NO CINEMA. Scientific American – Exploradores do Futuro – H. G. Wells, São Paulo: Segmento-Duetto, 2005 (02): p. 70-77.



Referências

HOBSBAWM, Eric J. Mundos do Trabalho: Novos Estudos sobre História Operária. Trad. Waldea Barcellos e Sandra Bedran. Editora Paz e Terra: [S.D.] p. 293

LEPENIES, Walf. As três culturas. Trad. Maria Clara Cescato. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996.

PEREIRA, Fabiana da Camara Gonçalves. Fantástica Margem: O cânone e a ficção científica brasileira . Dissertação de Mestrado. PUC – Rio de Janeiro, abril de 2005.

ROCQUE, Lucia de La. TEIXEIRA, Luiz Antonio. Frankenstein, de Mary Shelley, e Drácula, de Bram Stoker: gênero e ciência na literatura. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Vol. VIII (1), 10-34, mar. –jun. 2001.

WELLS, Herbert George. A Guerra dos Mundos. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2000.

_____________________. Tono-Bungay. Trad. Mara Elizabeth. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1990.




Fonte: Revista Espaço Acadêmico - 93

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Medição dos impactos das inovações tecnológicas

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – A pesquisadora da área de Biossegurança da Embrapa Meio Ambiente, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em Jaguariúna (SP), Katia de Jesus-Hitzschky desenvolveu um novo método que permite a avaliação dos impactos de inovações tecnológicas em diversas áreas do conhecimento. A ferramenta foi disponibilizada gratuitamente na internet.

Trata-se do software Inova-Tec, que fornece informações de acordo com critérios definidos em sete dimensões, entre as quais “ambiental”, “social”, “econômica” e “desenvolvimento institucional”, nas quais os impactos da tecnologia podem ser percebidos e mensurados.

Segundo Katia, em linhas gerais, o sistema permite a análise do cenário no qual a tecnologia será introduzida e também do desempenho da inovação propriamente dita, por meio da análise dos indicadores de impacto com base em diferentes pesos, que são índices numéricos utilizados para a medição do impacto.

“O método apresenta 61 indicadores mais gerais, que são inseridos no contexto das sete dimensões, além de o avaliador poder utilizar indicadores mais representativos da tecnologia que será avaliada, possibilitado uma avaliação caso a caso”, disse ela à Agência FAPESP.

“Ele avalia o impacto real da introdução de uma tecnologia no mercado – como seu retorno financeiro, por exemplo – e também faz avaliações prospectivas de impactos potenciais”, conta.

Com isso, o pesquisador tem a possibilidade de monitorar quais são os indicadores que podem causar problemas em seus modelos de negócio e, consequentemente, tomar medidas específicas e focadas em cada dimensão.

“O software é bem inclusivo e mede o impacto de inovações em qualquer área do conhecimento. Ele já vem sendo utilizado na avaliação de programas e projetos da Embrapa”, explicou a pesquisadora, destacando que um estudo de caso voltado ao setor florestal desenvolvido pela instituição de pesquisa, que utilizou o método, teve seus resultados publicados no Journal of Technology Management & Innovation.

Os resultados das avaliações pelo método são apresentados no formato de gráficos, tabelas, relatórios e por meio de uma matriz que fornece a recomendação para o melhor gerenciamento do impacto da inovação. “Quanto maior o número de indicadores que o pesquisador inserir no sistema, maior será o nível de refinamento dos resultados”, disse Katia.

Antes de criar o software, alguns estudos de mercado foram realizados. A pesquisadora – que para definir os 61 indicadores do software entrevistou economistas, sociólogos e ambientalistas, entre outros profissionais – verificou que muitas tecnologias falharam simplesmente porque não era o momento mais adequado para inseri-las no mercado.

“Uma das vantagens do método é que ele avalia o cenário de mercado no qual a tecnologia será inserida, de modo a mostrar que ainda que as dimensões social e ambiental estejam favoráveis, por exemplo, a econômica pode estar mal avaliada e por isso precisa de ajustes para a redução de seus impactos”, disse.

O software permite ainda que, depois de consultar várias bases de dados na literatura de uma área do conhecimento, incluindo artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais, o pesquisador possa cruzar os dados no sistema e mensurar a qualidade de uma determinada tecnologia.

Segundo Katia, o sistema permite ainda um aprimoramento dos trabalhos científicos antes de eles serem apresentados às agências de fomento para a obtenção de financiamento. “Isso significa que o pesquisador pode avaliar seu trabalho antes da investigação mais refinada da agência, uma vez que o sistema fornece as recomendações de indicadores prioritários a serem melhorados”, disse.

Para ler o estudo Impact assessment system for technological innovation: inova-tec system, publicado no Journal of Technology Management & Innovation, clique aqui

Mais informações sobre o software Inova-Tec, que está disponível para uso livre no site da Embrapa Meio Ambiente:clique aqui

Fonte: Agência FAPESP

Por Thiago Romero