sexta-feira, 29 de maio de 2009

Experimentos virtuais

Por Thiago Romero

Promover o ensino e a aprendizagem de física, para os alunos dos ensinos fundamental, médio e superior, por meio da seleção e divulgação de materiais didáticos que sirvam de apoio pedagógico a professores de todo o país.

Essa é a proposta do projeto de extensão universitária Física Animada, coordenado por Eloi Feitosa, professor do Departamento de Física do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São José do Rio Preto (SP).

Com o objetivo de mediar a relação entre escola e tecnologias computacionais e disseminar conceitos da física e matemática, tornando-os mais claros para os estudantes, o projeto consiste na disponibilização gratuita no site do grupo de jogos e experimentos virtuais selecionados pelos professores.

“A internet contém animações de excelente qualidade e em grande quantidade para o ensino de diversas disciplinas, como física, matemática, química, biologia e inglês, mesmo que essas ferramentas ainda sejam muito pouco exploradas na educação. Por isso, diariamente, o grupo de pesquisa interdisciplinar Físicanimada seleciona e divulga jogos didáticos e experimentos virtuais, conhecidos como applets, na web”, disse Feitosa à Agência FAPESP.

Segundo ele, como é necessário ter critérios para a seleção desses programas gratuitos e ter projetos de utilização dos mesmos nas escolas públicas, o grupo prioriza softwares livres que permitam ao aluno superar dificuldades de aprendizagem, e não apenas testar conhecimentos adquiridos.

“Selecionamos apenas applets com elevado grau de interação aluno-software e que veiculem conceitos físicos ou matemáticos coerentes”, apontou. Applets, no caso, são animações desenvolvidas em linguagem de programação Java que podem ser incluídas em uma página HTML para ser lida por um programa navegador de internet.

A maioria das animações que são encontradas na web e disponibilizadas para as escolas, segundo Feitosa, requer aplicativos Java. Outras exigem o uso dos programas Flash e Shockwave.

“Assim como os jogos computacionais, os applets são muito úteis no processo de ensino-aprendizagem escolar, desde que inseridos em situações pedagógicas criadas a partir de objetivos claros, com intencionalidade bem definida, o que requer tempo, dedicação e preparo do professor”, disse Feitosa.

Aplicação na escola pública

Quando utilizadas corretamente, conta o professor, essas tecnologias computacionais também contribuem para minimizar a exclusão digital dos alunos das escolas públicas. A relevância do projeto, segundo ele, se dá justamente devido à escassez de laboratórios didáticos para o desenvolvimento de práticas experimentais nessas escolas no Estado de São Paulo.

“Quando as escolas públicas têm um laboratório, muitas vezes ele é subutilizado por vários fatores. A física é uma ciência que não se aprende somente pelo ouvir em aulas expositivas, nas quais fórmulas são muitas vezes deduzidas no quadro-negro dissociadas da realidade concreta dos indivíduos”, disse.

Com a proposta de inserir uma nova cultura de uso da linguagem digital para fins educativos, o projeto capacita alunos de licenciatura da Unesp e professores de escolas públicas, sobretudo nas cidades de São José do Rio Preto, Terra Roxa, Jaborandi e Barretos.

O grupo de pesquisa fornece material didático, orientação e formação aos professores e acompanhamento sistemático para o desenvolvimento do projeto. “Mas sabemos que o uso das tecnologias digitais de informação e comunicação nas escolas públicas é ainda bastante precário pela falta de formação docente, de recursos materiais e de uma cultura escolar que favoreça a utilização dessas inovações em ambientes de ensino”, destacou Feitosa.

O projeto Física Animada foi apresentado na 6ª Conferência Internacional de TIC na Educação, na cidade de Braga, em Portugal, nos dias 14 e 15 de maio, e em janeiro último no 18º Simpósio Nacional de Ensino de Física, em Vitória.

O grupo que conduz o projeto utiliza a estrutura do Laboratório de Física de Colóides da Unesp, coordenado pelo professor Feitosa, cujos computadores e outros equipamentos foram adquiridos com apoio da FAPESP. O projeto também recebe apoio da Pró-Reitoria de Extensão Universitária, da Pró-Reitoria de Graduação e da Vice-Reitoria da Unesp.

Em junho próximo, também com apoio da FAPESP – na modalidade Auxílio a Pesquisa - Participação em Reunião Científica e/ou Tecnológica –, Feitosa embarcará para os Estados Unidos onde apresentará, entre os dias 14 e 19, duas comunicações orais sobre o projeto na 13ª International Conference on Surface and Colloid Science, organizada pela American Chemical Society, na Universidade de Columbia, em Nova York.

O professor orientou, nos últimos anos, trabalhos de doutorado e mestrado que tiveram bolsa da FAPESP, tendo ainda participado, com recursos da Fundação, de outros eventos internacionais e visitas a laboratórios, principalmente na Suécia, Portugal, Espanha e Estados Unidos.

“Dentre os resultados de pesquisas financiadas pela Fundação merece destaque o desenvolvimento de óleo de soja enriquecido com vitaminas e sais minerais e as microvesículas catiônicas, que são nanoestruturas com grande potencial para transfecção celular de DNA em terapia genética e também para o desenvolvimento de vacinas”, ressaltou.

Além de Feitosa fazem parte do Grupo Física Animada da Unesp a pedagoga Rosemara Lopes, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), em Presidente Prudente, além de alunos de graduação em física biológica, ciências da computação, matemática e ciências biológicas da universidade.

Os experimentos virtuais selecionados pelo grupo podem ser consultados na página eletrônica do Projeto Física Animada, enquanto na página do Laboratório Virtual de Física (Labvirfis) são disponibilizadas animações agrupadas por assunto.


Fonte: Agência FAPESP

sábado, 23 de maio de 2009

Comunicação e cidadania: gritos populares latino-americanos no YouTube

Para citar este artículo: Moraes Gonçalves, Elizabeth & Porto Renó, Denis, 2008, Comunicação e cidadania: gritos populares latino-americanos no YouTube, Revista TEXTOS de la CiberSociedad, 13. Temática Variada. Disponible en http://www.cibersociedad.net

Introdução

Compreende-se que a comunicação pode fortalecer ou enfraquecer os traços de uma sociedade. Quando se olha pelo ângulo da Escola de Frankfurt, verifica-se que as estruturas midiáticas transformam a sociedade em reféns das classes dominantes, que buscam manipular hábitos, costumes e ideologias de acordo com seus interesses políticos e comerciais. De fato, isso acontece, como pode-se perceber com os resultados homogêneos da aldeia global Mcluhiana, onde manipulações políticas, sociais e culturais ganharam aliados potentes e ágeis, com uma nova concepção de comunicação massiva, tanto no quesito plataforma como no linguagem. As estruturas midiáticas ganharam uma nova presença no cotidiano da sociedade e as doutrinas políticas tornaram-se mais intensas. Com isso, os latino-americanos tornaram-se ainda mais reféns da manipulação cultural da qual já se tornara vítima desde o surgimento destas sociedades, sempre combatendo tais atitudes manipulatórias com os gritos e as tradições sociais. Porém, essas manifestações só se tornam significativas na medida em que interferem, de fato, na produção dos conteúdos, alterando linguagens e questionando o que está convencionado como certo e aceitável. O simples domínio da tecnologia e a acessiblidade não garantem participação ou intervenção social a menos que se possa agir na produção dos bens simbólicos.

Forças de combate surgem por meio da folkcomunicação, que ganha impulsos com ambientes midiáticos modernos, como o YouTube, onde qualquer pessoa pode publicar seus vídeos de protesto, tornando-os públicos e disponíveis na própria aldeia global. Talvez por este ângulo as idéias de McLuhan passem a se tornar positivas, pois com o advento da comunicação digital e das novas tecnologias a cidadania ganhou um novo aporte: o da comunicação em massa. O ambiente folkcomunicacional passa a ganhar status e espaço de divulgação – talvez um espaço folkmidiático.

Os estudos da Folkcomunicação orientados pela teoria de Luiz Beltrão, segundo a qual a "folkcomunicação é o processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, idéias e atitudes da massa, por meio de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore" (BELTRÃO, 2001, p.79), neste estudo serve apenas como referência, uma vez que a Internet não se caracteriza como uma folkmídia, embora a existência de sítios tais como YouTube nos leve a reconsiderar o papel midiático desse espaço de processamento de informações e de interação social. Nesse contexto Hohlfeldt (2002, p.25) amplia os horizontes desse estudo, refletindo que

A folkcomunicacão não é o estudo da cultura popular ou do folclore, [...] é o estudo dos procedimentos comunicacionais pelos quais as manifestações da cultura popular ou do folclore se expandem, se sociabilizam, convivem com outras cadeias comunicacionais, sofrem modificações por influência da comunicação massificada e industrializada ou se modificam quando apropriadas por tais complexos.


Este artigo apresenta discussões a respeito da construção ou da reconstrução da cidadania latino-americana por meio de atitudes modestas como a disponibilização de vídeos não profissionais no YouTube, tendo como ponto de partida conceitos de folkcomunicação, teoria que explica os métodos comunicacionais das classes marginalizadas, e de produção de vídeos populares. Por fim, estuda-se, por meio de uma metodologia de pesquisa quantitativa/ qualitativa, a condição em volume em que se encontram vídeos que possibilitam uma (re)construção cidadã da América Latina no sítio YouTube. Espera-se, com os resultados desta pesquisa, compreender os caminhos que podem seguir a (re)construção da cidadania em tempos de aldeia global, se é que ela existe de fato.

Linguagem e construção simbólica

Na busca de entender o processo especial de comunicação estabelecido na Internet somos levados a considerar a relação entre as condições de produção, responsáveis por conferir a liberdade artística e avaliativa ao produtor, garantindo o espaço de sua fala; as condições de recepção ou de interpretação que devem garantir a aceitabilidade e a competência de compartilhar da proposta sugerida pelo produtor e a própria organização sígnica da mensagem, que, intencionalmente, constrói um todo simbólico, elaborando e reelaborando as significações da realidade, capaz de atrair pela criatividade e irreverência. Conforme Charaudeau (2003, p. 22, tradução nossa):

Todo ato comunicativo é um objeto de intercâmbio entre duas instâncias, uma de enunciação e outra de recepção, cujo sentido depende da relação de intencionalidade que se instaura entre elas. Isto determina três lugares de pertencimento: aquele em que se encontra a instância de enunciação, ao qual denominaremos lugar das condições de produção, aquele em que se encontra a instâncias de recepção, ao que denominaremos lugar das condições de interpretação e aquele em que se encontra o texto como produto terminado, ao que denominaremos de lugar de construção do discurso.


Identificamos no discurso do vídeo, especialmente naquele disponibilizado no YouTube, vestígios de outros discursos sociais e vínculos entre os campos envolvidos para a construção do sentido, buscando não o que se diz, mas a forma de construir este dito ou ainda, de sugerir sem dizer explicitamente. O contexto ideológico no qual o vídeo se insere determina as características da mensagem e a seleção dos signos que a compõem:

O ideológico está presente num texto pelas marcas ou traços que estas regras formais de geração de sentidos deixam na superfície textual [...] Uma parte do ideológico também transparece num texto sob a forma de preconstruídos, que são inferências e pressuposições que o coemissor deve fazer para suprir as lacunas e dar coerência à interpretação que faz, interligando as frases e partes do texto e ligando-o a um mundo (PINTO, 2002, p.41).


Dessa forma, o exercício de produzir um vídeo e a iniciativa de expor esse produto em um espaço amplamente acessível representam uma postura participativa, na qual o indivíduo avalia sua produção não exclusivamente pelo aspecto estético ou pelo aparato tecnológico de que dispõe, mas pelo valor simbólico que assume, de poder fazer parte de um contexto até então reservado a poucos. Esse bem simbólico, portanto, significa muito além de sua mensagem. Representa uma participação social ilimitada, ainda que avaliações elitistas tendam a reprimir e condenar a divulgação de produtos que não passariam pelo refinado gosto estético de pareceristas de arte.

Olhares sobre os efeitos da aldeia global

Os conceitos de aldeia global por McLuhan trouxe promessas, que aos olhos de Santos (1999) integrou de forma substancial o século das promessas não cumpridas. Naquele período, o século XX, dizia-se que os cidadãos ficariam mais próximos, cultos e teriam um inter-relacionamento mais eficaz e intenso. Porém, como criticou Beltrán (SOARES In MARQUES DE MELO & BRITTES, 1998), muitos dos povos latino-americanos não faziam parte dessa aldeia, em plena moda McLuhiana de meados dos anos 80, e que, dessa forma, a aldeia nunca seria global.

A crítica veio, basicamente, da América Latina, assegura o texto. E não apenas aos paradigmas tradicionais, mas também aos discursos modernos, como os de McLuhan: ‘Os latino-americanos não estão certos de que o mundo se converteu numa aldeia global principalmente porque milhões deles não têm acesso algum a qualquer meio de comunicação de massa’. (SOARES In MARQUES DE MELO & BRITTES, 1998, p. 67)


Para Beltrán, o efeito de aldeia global serviria, de fato, para neutralizar a diversidade cultural existente nos povos latino-americanos, facilitando, assim, a construção de um mercado de consumo. Se todos pensam da mesma forma, o consumo é igual, homogêneo, assim como a linguagem para instigar este consumo. A grande massa perde suas identidades, substituindo-as por uma única, “enxertada” na personalidade dos pertencentes à aldeia global de McLuhan. E reforça tais críticas aos conceitos comunicacionais de origem aristotélica, defendida pelo próprio Schramm, ao lado de diversos outros teóricos, como Wiener, Shannon e MacLean. Para Beltrán, com esse esquema o emissor não sofre questionamentos, podendo comunicar o que quiser ao receptor passivo e manipulável.

Outro que cita tais problemas sobre a aldeia global é Canclini (2005), mas este segue um olhar mais otimista e provavelmente menos ansioso. Para ele, hoje, de fato, há um forte processo de exclusão social, profissional e cultural, pois nem todos possuem acesso completo aos canais globalizadores, onde inclui-se a Internet. Porém, esse quadro pode mudar, como ocorreu com a televisão em seus primórdios. Segundo Canclini (2005, p. 215):

Numa análise das formas públicas de comunicação, diz-se que hoje “a televisão faz a pergunta e a Internet responde” (Peregil, El País, 29 abr. 2001). Oxalá fosse tão simples, mas a simplificação da fórmula sintetiza um processo que segue aproximadamente nesta direção.


Mas, apesar desse otimismo aparente, Canclini (2005) manifesta preocupações quanto ao efeito da chamada sociedade do conhecimento. E declara:

(...) os aspectos cognitivos e socioculturais estão distribuídos e ao apropriados de modos muito diversos. Geram diferenças, desigualdades e desconexões. Por isso, é arriscada a generalização do conceito de sociedade do conhecimento à totalidade do planeta., incluindo centenas de etnias e nações. Tal como outras designações de processos contemporâneos – “sociedade de consumo”, “globalização” –, requer especificar com cuidado seu âmbito de aplicação para não homogeneizar movimentos heterogêneos ou grupos sociais excluídos das modalidades hegemônicas do conhecimento. (CANCLINI, 2005, p. 225-226)


Mas Canclini (2005, p. 235) dialoga consigo mesmo ao recordar que “nas últimas décadas, multiplicaram-se os usos de tecnologias avançadas (computadores, satélites) por parte dos grupos indígenas e pobres suburbanos”. Para ele, tal crescimento demonstra a potencialidade da tecnologia em, efetivamente, oferecer á sociedade uma a condição de aldeia global.

Com a aldeia global, corre-se o risco de todos se tornarem reféns da classe dominante, da elite, dos incentivadores do consumo, de acordo com as idéias gramscianas. Mas, através dela, se a chamada democratização ocorrer, poderá se atingir um fortalecimento cultural da classe subalterna, em especial a latino-americana, que conseguirá ampliar o hibridismo cultural existente nestas sociedades, como defende Canclini (2006).

Porém, de acordo com Vilches (2003), a aldeia global deve ser revista, pois com o advento das novas tecnologias duas novas características passaram a fazer parte da estrutura comunicacional: a desmassificação, provocada pela segmentação dos conteúdos comunicacionais, e a interatividade, onde os usuários deixaram de ser objetos de manipulação para se transformarem em sujeitos que manipulam (VILCHES, 2003, p. 234), conceitos que reforçam as idéias deste artigo.

As idéias de possibilidades de fortalecimento da cidadania por intermédio da comunicação em tempos de ciberespaço tem sido amplamente discutidas na academia, propiciando um repensar das teorias da Comunicação. Pineda (2004, p. 86) defende que a virtualidade é o caráter mais revolucionário e atual do ciberespaço, pois, possibilita que as pessoas possam construir simbolicamente mundos que não têm referentes reais diretos com suas vidas concretas. As ferramentas que viabilizam a atualização do potencial criativo deixam de ser elementos restritos à elite ou ao artista e passam a habitar o cotidiano do cidadão comum, capacitando-o a ressignificar seu universo de diferentes maneiras.

A produção de vídeos populares

O vídeo popular ganha força a partir do momento em que a tecnologia aproxima os subalternos das ferramentas de produção. Nos primórdios do cinema, era preciso investir altas cifras em produções audiovisuais. Todo e qualquer registro audiovisual era realizado apenas pela elite, como investidora ou mesmo produtora. Mas é preciso compreender o que significa vídeo popular, para então discutir seus poderes de reconstrução da cidadania. Segundo Santoro (1989, p. 59), “uma tentativa de conceituação da expressão ‘vídeo popular’ deve partir, no nosso entender, do reconhecimento do conjunto das produções e dos modos de atuação dos grupos de vídeo junto aos movimentos populares”. Ainda segundo Santoro (1989, p. 60), divide-se o vídeo popular em cinco modalidades. São elas:

* a produção de vídeos por grupos ligados diretamente a movimentos populares, como sindicatos e associações de moradores de bairros;
* a produção de vídeo por instituições ligadas aos movimentos populares, como Igreja, centros de defesa dos direitos humanos;
* a produção vídeos por grupos independentes dos movimentos populares que desenvolvem conteúdos para atender aos interesses destes grupos;
* o processo de produção de vídeos com a participação direta de grupos populares;
* o processo de exibição de vídeos populares de interesse dos movimentos populares para informação, animação, conscientização e mobilização.



De acordo com os conceitos do autor, encontram-se nos produtos analisados neste trabalho as cinco categorias, todos disponibilizados no YouTube. Este material ganhou força com o advento da tecnologia digital, mas parte do material é proveniente de digitalização de materiais produzidos anteriormente, ainda na fase do produto audiovisual analógico, quando iniciou-se essa produção com relativa intensidade.

Santoro (1989) explica ainda que com a chegada do vídeo analógico as produções populares passaram a se manifestar, inicialmente de forma modesta, tímida, mas sofreu uma evolução gradativamente. As câmeras, de simples operação e com um custo decrescente devido à obsolescência provocada pelo rápido desenvolvimento tecnológico, passaram a conviver com alguns representantes de grupos sociais, que se esforçavam e conseguiam adquirir a ferramenta. Surgiu, então, um líder de grupo popular diferente da definição de Beltrão (In HOHLFELDT & GOBBI, 2004), capaz não somente de receber mensagens e reproduzi-las para seu grupo, mas também responsável por produzir coletivamente a mensagem de seu grupo e enviá-la ao líder de grupo da elite: os meios de comunicação de massa aos quais estes componentes também estão sujeitos, como a televisão e o vídeo-cassete, agora substituído pelo aparelho DVD.

Mas apesar da novidade, tais atividades de distribuição política e cultural, de caráter folkcomunicacional, ainda não conseguiam eficácia frente aos efeitos contrários produzidos pela mass media, devido, inclusive, à baixa qualidade dos materiais produzidos, graças às limitações tecnológicas. Até que chega a tecnologia de produção digital, que começou a ser ofertada ao mercado amador no início deste século. Através desta tecnologia, os vídeos passaram a contar com maior qualidade e uma diversidade de recursos, até então impossibilitados pelas câmeras analógicas. O mesmo aconteceu com os programas de edição, que passaram a compor sistemas operacionais de fácil obtenção, como o Windows XP, que traz em seu pacote básico o programa de edição de vídeo Windows Movie Maker, gratuitamente. Neste processo, novos formatos acabaram sendo definidos para cada fim. Segundo Santoro (1989, p. 95-97), os grupos populares que desenvolvem vídeos adotam diversas linguagens e aportes audiovisuais, descritas em seis tipos:

1. Autoscopia, que consiste em gravar reuniões, registrando-as, para que as mesmas possam ser assistidas e difundidas pelo grupo apenas para integrantes do grupo, vetadas aos não-integrantes. Estes vídeos não sofrem processos de edição por parte dos produtores;
2. Registro, onde gravam-se eventos ou fatos que sejam de interesse do grupo, sem se preocupar com processos posteriores de edição, como ocorre no tipo de registro de autoscopia;
3. Edição simples, quando desenvolve-se um documentário manipulando um material já gravado. Desta forma, registros de fatos sociais ganham força midiática com aporte artístico;
4. Documentário, quando tem-se os objetivos das gravações previamente definidos. Normalmente, este tipo segue um roteiro de produção, assim como uma estética definida a fim de informar com maior força midiática e aporte artístico que o tipo “edição simples”;
5. Roteiro original, que possui uma melhor qualidade de topos os outros tipos, inclusive o documentário. Neste caso, apóia-se também na modalidade ficção, tendo como objetivo uma compreensão do grupo popular, e pode-se ampliar a reconstrução cidadã quando estendida a visualização para outros grupos;
6. Suporte, quando o grupo analisa programas previamente gravados e deste ponto desenvolvem-se discussões. Tal análise é ampliada pelo YouTube, ampliando o grupo e ilimitando o alcance destes fragmentos de análise.



Com esse desenvolvimento tecnológico, o mundo sofreu mudanças significativas. Atualmente, o maior país produtor audiovisual do mundo é a Índia, graças à possibilidade de produzir e exibir vídeos com baixo custo. O mesmo ocorreu no Brasil, onde vídeos populares passaram a ser produzidos, tanto do gênero documentário quanto ficção, ampliando as manifestações cidadãs e folkcomunicacionais para o espaço midiático.

Porém, o surgimento de tecnologias de produção nada resolveu para dar efetiva voz aos grupos subalternos, pois o maior problema de desigualdade na aldeia global é o espaço de difusão. De nada vale ter o domínio da palavra se a mudez o impede de dissipar tais idéias.

A cidadania ganha voz com o YouTube

Enquanto a Internet oferecia apenas produtos culturais elitistas ou filtrados pela elite, a aldeia global não contava com perspectivas.de cumprir suas promessas. Os poucos usuários, porém com crescente representatividade, pertencentes a este grupo sociocultural e econômico recebiam o que os “senhores da indústria cultural” definiam como ideal para consumo.

Mas o dinamismo da Internet desenvolveu um novo ciberespaço para o consumo cultural mais próximo de cumprir as promessas cobradas por Santos (1999), com uma democracia ao alcance de qualquer usuário: o YouTube, que agora oferece aos usuários um novo ambiente, um novo modo de fazer e pensar sobre televisão. Segundo Islas (2007, p. 17, tradução nossa):

O YouTube representa o principal referente da nova televisão na Internet. Por esta simples razão, em outubro do ano passado, o Google concretizou a aquisição do YouTube mediante uma operação milionária.


Através deste espaço, qualquer usuário cadastrado gratuitamente pode disponibilizar vídeos para exibição gratuita. Para isso, basta atender às especificações técnicas deste material, que servem somente apenas simplificam a produção. Tais efeitos midiáticos do YouTube merecem novos estudos, de acordo com as idéias de González (1994, p. 51), para quem:

Acontece que a maioria das análises tem sido desenvolvidas privilegiando o aspecto de distinção entre as classes, mas a cultura, além de distinguir, une e identifica. É por isso que a meu juízo nos falta uma categoria complementar que nos permita pensar e analisar também os espaços de onde se produzem e reproduzem ou desestruturam as identidades, ou seja, aquelas áreas do social onde culturas “desniveladas” se encontram e se reconhecem em estruturas de significados similares, mas cada classe, sem problema, ao seu modo.


Para se cadastrar no YouTube basta estar conectado à Internet e informar os dados básicos, como e-mail, nome, etc. Em seguida, pode-se enviar vídeos para exibição de qualquer tema, contanto que estes possuam uma duração máxima de 10 minutos (o ideal neste espaço é que possua uma duração em torno de 4 minutos) e um tamanho máximo de 100 Megabites. Com isso, o vídeo terá uma qualidade limitada, o que diminui as diferenças entre produtos audiovisuais captados por equipamentos profissionais e obras realizadas por câmeras caseiras ou mesmo aparelhos celulares, tendo em vista que hoje em dia estes equipamentos são de simples aquisição e comuns na grande massa.

O YouTube, criado por Chad Hurley, 29 anos, e Steven Chen, 27 anos, em 2005, possui hoje dados de acesso que têm impressionado especialistas. Em maio de 2006, o site atingiu a marca de 40 milhões de vídeos exibidos diariamente. Em junho do mesmo ano, o site alcançou a média de 100 milhões de exibições/dia, com o total de 2,5 bilhões de vídeos exibidos, com uma média de 65 mil novos vídeos sendo enviados diariamente, segundo Fortes (2006, p.34). Com isso, o mercado audiovisual ganhou, efetivamente, um novo espaço alternativo, de caráter massivo e democrático.

Os vídeos postados no YouTube pertencem a diversas linhas temáticas (MARTHE, 2006, p. 90). Algumas produções caseiras são do gênero ficção, a maioria comédia. Além disso, existem registros de entrevistas, vídeos antigos e documentários. Estes materiais são ligados a outros sítios, assim como aos blogs, e passam a ser assistidos com maior intensidade, e é possível definir grupos de acesso aos produtos audiovisuais disponíveis, o que amplia a fragmentação e a objetividade da comunicação, quando necessário. Outro diferencial é a possibilidade de se definir um roll de palavras-chave, facilitando a busca pelos materiais audiovisuais.

Discursos cidadãos presentes no YouTube

Para compreender a participação do YouTube no processo da difusão dos conceitos de cidadania e de mobilização popular levantou-se a condição quantitativa e qualitativa (por amostragem aleatória) de seu acervo na tentativa de alcançar dados representativos deste recorte. Para tanto, definiu-se um conjunto de palavras-chave (tags) para buscar no sítio através de suas ferramentas de busca.

A palavra-chave inicialmente procurada, “vídeo popular”, ofereceu uma relação de 93 vídeos, a maioria de conteúdo relacionado a manifestações folclóricas, como o vídeo Escuela del Barro ANMCLA: Del Barro Venimos. Porém, de acordo com as idéias de Beltrão (2001), o folclore é um forte agente de informação de questões sociais e cidadãs, o que valida a busca por tal terminologia. Encontrou-se, também, com a busca, vídeos de ideologia popular, como visto na obra ANMCLA Yaracuy: Bolivar Tv. Percebeu-se que as obras de caráter popular postadas são do tipo registro ou roteiro original, mas também existem documentários disponíveis.

A segunda busca foi realizada através da palavra-chave “cidadania”. O termo, que define diretamente a intenção da busca, encontrou 838 vídeos relacionados com o tema, a maioria de teor político e educacional, porém em português. Porém, algumas obras apresentadas são do tipo “suporte”, o que provoca análise de seu conteúdo por integrantes do grupo publicador e por pertencentes a outros grupos. Outros vídeos são de caráter educativo, definidos como vídeo-aula, como Ética e cidadania ou Ética e cidadania II, que utilizam recursos de power point somados a música e narração. Encontram-se, também, vídeos do tipo registro, como a 5ª Corrida pela Cidadania, ou para divulgar ações cidadãs, como a obra Jornada de Ação da Cidadania 1ª Companhia, que oferece imagens do evento editados em formato simples.

Em seguida, buscou-se uma relação de vídeos através da terminologia “ciudadania”. O objetivo de adotar-se palavra-chave em castelhano deve-se à necessidade de se provocar um comparativo quantitativo entre a discussão por grupos hispânicos, e não somente lusófonos. Com este tag, chegou-se ao resultado de 629 vídeos, quase a mesma quantidade que a versão anterior. Neste acervo percebeu-se que diversos arquivos oferecem imagens do tipo registro, alguns gravados de programas de televisão, como é o caso do arquivo Educación para la Ciudadanía, los Obispos y el Gran Wyoming, pois trata-se de uma reportagem veiculada na televisão gravada para publicação na Internet. Também encontram-se obras de caráter educativo, como em Preguntas de Ciudadania, que oferece um vídeo-aula sobre o que é cidadania para os norte-americanos.

Em uma nova análise, buscou-se uma relação audiovisual com a adoção do tag “social”, o que proporcionou uma surpreendente relação de 69.600 vídeos. Mas o número engana, pois parte deste material não contribui com a reconstrução da cidadania pelos grupos subalternos, ficando apenas no campo do entretenimento, em alguns dos casos analisados totalmente distante do social. Encontrou-se, também, um fragmento do documentário Buena Vista Social Club em meio à busca, pois a mesma é realizada não somente pela palavra-chave, mas por parte do título, e um vídeo-aula sobre a web 2.0, intitulado La Web 2.0: La revolución social de Internet, que discute sobre o tema através de imagens, gráficos e uma narração.

Buscou-se pela palavra-chave “política social” e chegou-se a um total de 53 vídeos, a maioria do tipo “suporte”, como constatada pelo tag “cidadania”. Em contrapartida, constatou-se um total de 25.100 vídeos quando buscou-se pelo tag “política”, com as mais diversas discussões de conteúdo, inclusive não relacionadas com o tema. Dentre os vídeos do tipo suporte, pode-se perceber uma maioria proveniente de reportagens jornalísticas, como em Xavier Trias denúncia la política social del tripartit.

Quando procurou-se pelo termo “popular”, chegou-se ao resultado ainda mais surpreendente de aproximadamente 225.000 vídeos. Neste caso, percebeu-se que os 30 primeiros vídeos oferecidos discutiam o tema do tag, tanto no que se refere à socialização da educação e da cultura como em uma nova democracia popular em busca de igualdade. Mas encontrou-se uma gama de vídeos sobre música popular, como o fragmento Música Popular Portuguesa ou Polymarchs Casa Popular homenaje a Tony Barrera, este de caráter registro.

Por fim, buscou-se pela expressão “popular en América Latina”, chegando-se à relação de 37 vídeos. Tais fragmentos audiovisuais oferecem tanto músicas populares latino-americanas como discussões sobre a questão do popular nos países da América Latina ou documentários sobre a região, como o caso do fragmento Los Jaivas - Alturas de Machu Picchu, que apresenta Machi Picchu aos usuários, ou sobre músicas populares latino-americanas relacionadas a movimentos populares, como é o caso de Lloviznando Cantos - Hombre Sur, este em favor da doutrina política do presidente venezuelano Hugo Chavez, no tipo documentário. Mas também, no mesmo canal de busca, são apresentados vídeos de caráter político, relacionados a grupos populares, do tipo registro, como é o caso do fragmento Rebelión popular en América Latina, este do tipo edição simples. Vale ressaltar que a análise qualitativa foi realizada de forma aleatória e que os vídeos encontrados nas primeiras páginas podem sofrer mudança de paginação, pois a ordem é definida de acordo com o número de acessos e a avaliação dos usuários.

Conclusão

Com a chegada do YouTube, as perspectivas de uma possível participação do cidadão na estrutura comunicacional da aldeia global passaram a ganhar força. Através dele, a classe subalterna ganha status de agente emissor de seus protestos e de sua cultura popular.

Pelo YouTube, grupos populares já se mobilizam e desenvolvem neste ambiente midiático discussões de significativa importância para a reconstrução da cidadania. Também através do ambiente, grupos políticos passaram a se manifestar com maior intensidade e alcance, o que fortaleceu seus projetos de ampliação e difusão de idéias. O YouTube se transforma, desta forma, em um responsável pela democracia social e cultural que a sociedade contemporânea tem à sua disposição.

Percebe-se, também, que através do YouTube os grupos sociais passaram a difundir suas idéias, crenças e costumes. E, através deste espaço ciberespacial, pode-se construir um hibridismo cultural capaz, inclusive, de combater a homogeneidade provocada pelos interesses neoliberais, presentes nos produtos da indústria cultural, criticada pela escola de Frankfurt exatamente por seus efeitos.

A participação de vídeos brasileiros e latino-americanos já é intensa. A taxa de participação do Brasil nos acessos do YouTube já é de 19,1% (1). Vale ressaltar que esses números sofrem alterações constantes, pois novos vídeos são publicados diariamente no YouTube. No entanto, os que existem atualmente reforçam o papel do sítio na interlocução entre os marginalizados e a elite, tendo o primeiro como efetivo emissor de suas idéias e de seus protestos políticos, sociais, culturais e cidadãos. Desta forma, surge uma nova forma de re-imaginar a cidadania nos meios através dos recursos oferecidos pela cibercomunicação audiovisual, baseada no conhecimento pessoal de recursos midiáticos acessíveis ao cidadão comum, tanto no quesito custo como no que se refere à tecnologia empregada e à necessidade de conhecimento para operá-la.

Bibliografia

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* VILCHES, Lorenzo (2003). A migração digital. São Paulo: Editora Loyola.



Webgrafia

* YouTube. Disponível em http://www.youtube.com. [Data de consulta: 05/10/2007].



Notas

^ 1 Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20645.shtml. Acessado em 05/10/2007.


Fonte: http://www.cibersociedad.net/

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Redes digitais e movimentos sociais: perspectivas

INTRODUCCIÓN / RESUMEN

Neste texto se discutem algumas das exigências que as sociedades colocam às organizações e instituições que se propõem a realizar algum tipo de trabalho relacionado à identificação e encaminhamento de demandas sociais (materiais e/ou simbólicas). Pesquisas realizadas em organizações do Terceiro Setor possibilitaram a identificação de algumas estratégias de comunicação relevantes para os processos de mobilização social, com especial ênfase para a comunicação por meio de redes digitais.

Este trabalho é resultado de pesquisas em andamento já há alguns anos e que tratam, basicamente, do papel que as atividades de comunicação vêm desempenhando, ou do papel que se espera que venham desempenhar, nas organizações do Terceiro Setor (1) , tanto do ponto de vista das próprias organizações como também da literatura existente. Convém deixar claro que na perspectiva aqui adotada o chamado Terceiro Setor não pode ser visto como algo homogêneo ou coerente, e sim como uma heterogeneidade que comporta desde entidades filantrópicas, religiosas, grupos mais ou menos estáveis de assistência social, até instituições cujo caráter político e ideológico é mais definido e que optam por um maior comprometimento com transformações sociais radicais. Nas pesquisas realizadas, descartamos as instituições filantrópicas e/ou religiosas e dirigimos o foco para as organizações que se propõem, explicitamente, a proporcionar algum tipo de benefício e/ou transformação, material ou subjetiva, que implique também em algum compromisso com transformações culturais e sociais, isto é, com a possibilidade de construção de uma nova ordem social.

Além dessa heterogeneidade, talvez não seja redundante lembrar que o estilo de atuação das organizações tem mudado bastante, especialmente em função das exigências colocadas pelas instituições financiadoras, que passaram a avaliar os projetos levando em consideração principalmente a possibilidade de mensurar, quantitativamente, os objetivos a que aquelas se propõem e os resultados que apresentam. Para se adequar a essa realidade, as organizações tiveram de se adaptar e rever métodos e práticas de intervenção social, adaptação que não aconteceu sem custos, tanto em termos do sacrifício dos resultados mais propriamente subjetivos e, portanto, difíceis de serem convertidos em quantidades, quanto em termos de priorizar a capacidade de se reorganizarem internamente, em detrimento da possibilidade de se servir da militância como elemento central na colaboração e condução das políticas de intervenção social. Essa necessidade de especialização das funções e da qualificação da mão-de-obra abriu um amplo campo de atuação para profissionais de várias áreas, que muitas vezes não possuíam uma formação humanística adequada e/ou um maior comprometimento ideológico com os processos de transformação social.

Assim, não se trata aqui, exclusivamente, de avaliar as atividades de comunicação empreendidas pelas entidades pesquisadas, uma vez que tais apreciações já foram realizadas e apresentadas em trabalhos anteriores (2) , mas também de identificar outros elementos úteis para o desempenho mais eficaz das ações das organizações do Terceiro Setor, em especial aquelas em que a eficácia comunicativa é condição para alcançar os objetivos propostos. A intenção é contribuir para que os debates sobre a tendência crescente à profissionalização não caminhem na direção do engessamento e da burocratização, ou da adoção de estratégias meramente copiadas da gestão empresarial, em vista da importância que assumem essas formas de organização popular para o exercício mais pleno dos direitos da cidadania e para a diminuição das desigualdades.


Da difícil tarefa de resistir

Nas últimas décadas, as transformações políticas, sociais, econômicas e tecnológicas contribuíram tanto para a consolidação de uma ordem social em que viceja uma cultura em vários aspectos desfavorável às demandas pela redistribuição mais eqüitativa dos recursos e do resultado da produção social quanto para o reconhecimento das diferenças daí decorrentes.

Em um mundo em que prevalecem os valores da globalização neoliberal, são perceptíveis o esfacelamento dos ideais coletivos e a multiplicidade de interesses em cena, e a fragmentação do espaço público em segmentos variados, que disputam uma maior participação na distribuição de vantagens econômicas, políticas e simbólicas. Em decorrência, as formas tradicionais de encaminhamento das lutas propriamente políticas têm perdido fôlego e as ideologias autoritárias, ao contrário, ampliam seu alcance. As possibilidades de luta social, atualmente, giram em torno de organizações, associações, cujos objetivos e alcance são mais localizados. Esse tipo de (re)organização ou de (re)configuração das lutas sociais vem colocando em cena novos atores sociais em substituição ao proletariado como o grande ator coletivo. E no lugar da luta política global surgem novas demandas setoriais, parciais, em que as conquistas simbólicas constituem um avanço talvez maior do que a satisfação de privações materiais. E os processos de mobilização passam a ser, freqüentemente, organizados por meio das redes eletrônicas. Os exemplos das manifestações mundialmente organizadas que tiveram lugar em Seattle ou em Gênova são provas da capacidade de articulação dos movimentos contra-hegemônicos.

Ainda que existam críticas dirigidas em especial às organizações que buscam conquistas simbólicas, ou reconhecimento social, não se pode negar que os processos democráticos se estendem também à esfera cultural e social, não se concentrando apenas nas demandas de cunho econômico. Bauman (3) , por exemplo, afirma que as organizações que buscam a necessária visibilidade pública para sua própria sobrevivência, mantêm “75% dos americanos e 95% da população mundial ocupados com hostilidades étnicas e religiosas... Se os proletários puderem ser distraídos de seu próprio desespero por pseudo-eventos criados pela mídia, incluindo uma breve e sangrenta guerra ocasional, os super-ricos nada terão a temer”. Este autor também distingue duas diferentes formas de organização: aquelas cujos objetivos estão relacionados ao reconhecimento de diferenças e as que efetivamente têm em pauta as demandas por mais igualdade e justiça social. Ele também aponta o risco, sempre presente, de que essa identificação com objetivos representativos das classes populares, quando construída em torno de lutas pelo reconhecimento de diferenças, ser meramente o retrato da fragmentação social e da incapacidade de se concentrar naquilo que efetivamente importa: as questões relacionadas à desigualdade.

É por isso mesmo que, quando se abordam as organizações do Terceiro Setor como agentes privilegiados de reorganização de grupos e comunidades, elas passam a poder ser vistas como elemento de mobilização social, desde que sua atuação seja no sentido de proporcionar o surgimento das condições necessárias. Para Melucci (4) , algumas condições são a existência de “um ator que se define por sua própria identidade; uma relação de oposição em que ele é um dos pólos e a delimitação de um campo que dá significado à luta e ao objetivo”.

A relação entre identidade e mobilização social não é algo novo; já vem sendo apontada por diversos autores em termos de seu potencial contracultural e de criação e exercício de novas formas de relações sociais cotidianas, o que implica o estreitamento de laços com outros em condições semelhantes (5). As construções identitárias, entretanto, nas condições históricas atuais, tendem a ser múltiplas, frágeis e ostensivamente transitórias. Estabelecer e solidificar laços humanos toma tempo, requer comprometimento e se consolida com a visão de perspectivas futuras; mas as uniões tendem a ser de curto prazo e destituídas de perspectivas, condenando a possível comunidade de interesses a se dissolver antes mesmo de se reunir ou de se solidificar (6).

Assim, a forma de atuação das organizações deveria ser pensada, antes de tudo, no que diz respeito à identificação de objetivos representativos das necessidades das populações, em torno dos quais se pudessem articular identidades e sentimentos de pertencimento, de forma a construir um “nós” perante um “outro” reconhecível e localizável historicamente, sem que esses processos se extingam na rapidez da transitoriedade das modas, mesmo políticas. Uma excessiva mobilidade poderia comprometer a estabilidade e a permanência do comprometimento efetivo com projetos futuros e o engajamento necessário à luta política. Mas, ainda na visão de Bauman, as lutas por reconhecimento (das diferenças) se justificariam a partir do momento em que se

“tornam um terreno fértil para o comprometimento mútuo e o diálogo significativo, que poderão eventualmente levar a uma nova unidade [uma vez que] ... a única estratégia disponível para realizar o postulado da ‘sociedade justa’ é a eliminação dos impedimentos à distribuição eqüitativa das oportunidades uma a uma, à medida que se revelam e são trazidas à atenção pública graças à articulação, manifestação e esforço das sucessivas demandas por reconhecimento. Nem todas as diferenças têm o mesmo valor, e alguns modos de vida e formas de união são eticamente superiores a outras; mas não há forma de definir qual é o que, a menos que seja dada a todas a oportunidade de defender e fundamentar seu pleito” (7).
É exatamente nessa convergência entre luta cultural pela superação das diferenças e as lutas políticas por melhor redistribuição da produção social e por mais igualdade que se situa o grande desafio para as organizações da sociedade civil. A reconfiguração dos embates sociais, entretanto, os aspectos culturais ganham destaque, mesmo nas causas mais propriamente relacionadas às questões objetivas, ou seja, as demandas materiais são também, freqüentemente, revestidas de um matiz cultural (8) .

A partir dessas premissas tentou-se extrair das pesquisas empreendidas informações que permitissem identificar em que direção o trabalho das organizações poderia se encaminhar para que sua atuação possuísse um caráter mais inclusivo, no sentido de propiciar a reaproximação e o entendimento entre as diferentes modalidades de intervenção social.

A partir da análise das estratégias comunicativas adotadas por várias instituições do Terceiro Setor localizadas em Goiânia, bem como da análise do tratamento dado por jornais e revistas (9) e lista de discussão sobre os movimentos sociais, foi possível refletir sobre as formas de se conseguir fazer circular discursos alternativos.


Comunicar é mais que divulgar

Deve-se reconhecer que um dos grandes problemas identificados ainda é a avaliação do papel da comunicação nos processos de mudança social. As atividades comunicativas são percebidas, cada vez mais, como elementos decisivos para a obtenção de mudanças de atitudes, de comportamento e, sobretudo, dos padrões culturais mais profundos e expressivos, o que torna significativa a busca por modelos e estratégias mais eficazes e que dêem conta de equacionar problemas relativos à aceitação das mensagens e dos conteúdos dirigidos aos diferentes públicos das instituições.

Nas organizações do Terceiro Setor pesquisadas são poucas as que faze uso profissional da comunicação: tanto na comunicação imediata como mediada pelas tecnologias, muitas vezes valem-se de modelos que revelam uma concepção absolutamente instrumental de comunicação, isto é, como um conjunto de meios para atingir determinados fins.

Esses modelos apresentam perspectivas que vão desde o estritamente unidirecional, ao gosto das práticas preconizadas pelo modelo “difusão de inovações”, passando pelas técnicas empregadas pelo marketing social até os modelos mais sofisticados de mobilização popular, que apresentam várias etapas e instâncias de produção de sentido.

No que diz respeito à capacidade de colocar seus temas na agenda da grande mídia, a investigação, ainda que breve,identificou a dificuldade que as organizações do Terceiro Setor têm de “pautar” jornais e revistas. As exceções são as grandes ong’s, patrocinadas por grandes empresas ou fundações – como a ANDI, por exemplo, ou ong’a relacionadas aos direitos humanos que denunciam a violação desses direitos ou humanitárias, como a organização Médicos sem Fronteiras ou movimentos “pró-saúde” suportados por iniciativas de “responsabilidade social” de grandes empresas privadas que conseguem colocar, para um púbico maior, seu trabalho e suas conquistas, em especial quando sua clientela é formada por crianças ou idosos.

Como alternativa, despontam as redes digitais, a Internet. Devido ao fato de ser de fácil e teoricamente irrestrito acesso, de modo a permitir a circulação sem barreiras de todo tipo de informações, converte-se numa expectativa de tornar-se um espaço alternativo de circulação de opiniões como contraponto à grande mídia. No entanto, convém receber esta idéia com um misto de entusiasmo e cautela, pois algumas reservas devem ser feitas.

Em primeiro lugar pode-se objetar que, apesar da gratuidade, o acesso não é irrestrito e que vastas parcelas da população não conseguem, tanto por falta de meios econômicos quanto pela falta de um repertório de conhecimentos específicos, manter uma relação proveitosa com esta nova mídia. Pode-se objetar também que a Internet tem se desenvolvido no sentido de imitar um funcionamento televisivo, nas modalidades de patrocínio, de comercialização e nos conteúdos. A revista Veja informa que dos dez assuntos mais pesquisados nos serviços de busca brasileiros, oito tem a ver com sexo e não é mais novidade que os serviços mais procurados são os de bate-papo.

Em artigo sobre as (im)possibilidades das novas tecnologias, Lucien Sfez diferencia a liberdade de expressão da liberdade de pensar de forma autônoma e de nada serve esta pretensa liberdade se as mentes estão subordinadas aos cânones oficiais. Para o autor, “pensar não é qualquer coisa de inato, aprende-se, conduz-se segundo regras, refina-se; isto não tem nada a ver com a liberdade de expressão comercial (...). A livre expressão comercial é a expressão do consumidor; o pensar por si mesmo, ao contrário, é a liberdade de expressão do cidadão” (10).

Assim é que, paralelamente ao fato de as redes digitais possibilitarem efetivamente a circulação e o intercâmbio de idéias e de conteúdos alternativos, elas também percorrem caminhos em muitos aspectos semelhantes aos meios de comunicação tradicionais: comercialização do espaço, profusão de superficialidades, concentração da tecnologia, limitação das fontes produtoras de notícias, e por fim, a construção de mais um canal de exercício da influência do “modus vivendi” norte-americano sobre as outras culturas.

Em relação à existência de redes de comunicação entre os membros das organizações e entre estes e seu público, as entrevistas realizadas informam que existe pouco conhecimento sobre as possibilidades de utilização de redes, tanto as eletrônicas como as sociais. Em geral, verifica-se que não existe uma compreensão mais exata do que seja uma rede nem das implicações de sua existência na própria condução do trabalho. O conceito ainda presta-se a ambigüidades e interpretações estreitas.

Em relação à Internet, em geral utilizam-se apenas os recursos mais simples, sem um projeto específico que preveja a exploração eficiente das potencialidades dos espaços virtuais. Mesmo um simples mailing atualizado e devidamente segmentado é difícil de ser encontrado. A construção de sites parece ser compreendida como um importante recurso para atingir públicos diferenciados, mas sua atualização, a conexão com similares e as possibilidades de interação efetiva são pouco empregadas. Rede, nesse caso, refere-se mais à noção de fluxos de informação ou existência de conteúdos disponíveis do que propriamente de uma rede de comunicação em que a possibilidade de interatividade seja um fato concreto e conduza à construção de saberes e ao compartilhamento de objetivos.

Parece ser ainda muito pouco exploradas algumas das características principais das redes, como a flexibilidade, a pouca ou nenhuma hierarquia, a participação voluntária em torno de objetivos ou temáticas comuns podem conduzir a uma percepção de casualidade ou contingência, mas na verdade as redes podem ser estimuladas, monitoradas, avaliadas e se configuram como um importante recurso de mobilização. Por meio da rede transitam fluxos de informação que possibilitam a interação e a cooperação, capazes de alimentar a produção e a difusão de conhecimento, ampliando a capacidade de comunicação e intercâmbio de experiências entre as diferentes organizações, nos diversos estágios de desenvolvimento. Podem ser planejadas para que, na prática, possam funcionar como uma comunidade de interesse ou de afinidade, portadora de uma identidade coletiva reconhecida pelos seus membros e que possui objetivos e metas específicos, tanto em termos de produção e circulação de informações como em ampliação do número de participantes, entre outros critérios possíveis.

Simultaneamente, as listas de discussão, em especial a “TerceiroSetor” aqui analisada e da qual a autora é membro, faz com que circulem nesta mesma Internet os manifestos, os trabalhos realizados por diferentes grupos, publicações, convocações, listas de discussões e outras formas mais de comunicação não aceitas ou tecnicamente incompatíveis com os outros meios. Resta saber se estas iniciativas não se restringem e a um círculo de pequenos grupos de iniciados, uma vez que os textos são muitos, grandes e de demorada leitura. Falta identificar se serão capazes de fazer frente ao poder da mídia tradicionais e comerciais e dar visibilidade a questões e problema de interesse social e de expressar outras visões de mundo. Pois é na junção dessas formas alternativas de mobilização social que podem ser depositadas as expectativas de construção de um novo espaço público, como aconteceu durante a realização do Fórum Social Mundial, que não conseguiu ocupar, desta vez, as páginas dos jornais mais conservadores.

A se concordar com a afirmação de Walter Benjamin, que uma “tecnologia só pode ser absorvida por uma cultura quando esta lhe dá uma função social”, as redes eletrônicas só passariam a fazer sentido a partir do momento em que fossem utilizadas para a difusão de um discurso particular, de mais uma fala no conjunto dos discursos sociais. É quando se dá um cunho social à rede, ao permitir o intercâmbio de experiências e a construção, conjunta, de modos diferentes de ver, de compreender e de construir o mundo. Construção que permite vislumbrar novas formas de apropriação desse mundo.


Considerações Finais

Não foi intenção, nesse texto, fornecer modelos ou normas de condutas para organizações do Terceiro Setor, nem mesmo pretender que exista uma maneira única, especial e preferencial de organizar as atividades das instituições. Ao contrário, considera-se aqui que a singularidade de cada situação e de cada contexto histórico deve conduzir à recusa à utilização de modelos de qualquer natureza. O que não significa, também, a desqualificação das experiências acumuladas pelos diversos tipos de organização e movimentos sociais.

Assim, a contribuição se localiza na atenção que se deve dar aos processos de qualificação do trabalho na área. Ao mesmo tempo em que as habilidades técnicas não podem ter sua importância relativizada, não se pode abandonar, ou colocar em segundo plano os compromissos ideológicos que, se não chegam a constituir um projeto de vida, que ao menos tenham prioridade em determinado momento da existência particular de cada ator social.

As novas tecnologias oferecem um amplo campo de atuação para as organizações e movimentos sociais mas requerem, urgentemente, uma qualificação profissional específica de comunicador para que consigam, de forma leve, objetiva, sutil, irônica, transmitir mensagens outras.

Faz parte dessa necessária qualificação as redes se estendam também aos diferentes formatos de comunicação que não dispensem o local em favor global e nem, ao voltar-se para o local, desdenhem o poder do alcance da “grande mídia”. As diferentes formas de comunicação devem ocupar um papel privilegiado tanto no nível local, na reconstrução de subjetividades, quanto no nível global, aquele que vai permitir a identificação com outras lutas e ampliar a capacidade de mobilização social. Trabalhar para que as iniciativas locais, comunitárias, sejam viabilizadas e consigam realizar uma verdadeira democratização das comunicações neste País e que os diferentes meios de comunicação, especialmente os “de massa”, cumpram um papel que supere o incentivo ao consumo material e simbólico é, hoje, tarefa mais que necessária.

Será preciso, também, acompanhar o trabalho e avaliar se estas novas formas de organização social serão capazes de se enraizar nas práticas sociais e proporcionar o surgimento de novas matrizes culturais que se contraponham ao pensamento hegemônico. Apenas na medida em que conseguirem se entranhar na vida cotidiana, inserir nos discursos sociais os seus temas, sua agenda, seus princípios e valores, poderão criar condições para o surgimento de uma outra intersubjetividade, de uma cultura da cidadania, solidária, capaz de se contrapor à hegemonia mercadológica e, por fim, de realizar uma verdadeira revolução cultural.


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Notas

^ 1 A opção pelo termo Terceiro Setor é utilizado aqui para referir as OSCIPS (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público), denominação criada a partir da legislação, pelo fato de elas mesmas se identificarem e serem identificadas, em geral, como organizações do Terceiro Setor ou Organizações Não-Governamentais (ONGs).

^ 2 Essa crítica já foi realizada por mim em outros textos e também em trabalhos que orientei. Como exemplo, podem ser citados Processos comunicativos e subjetividade: desafios para o terceiro setor, texto apresentado no XII Congresso da Compós, Recife, junho de 2003 e Comunicação e terceiro setor: desafios e tendências, apresentado no XXVI Congresso da Intercom, Belo Horizonte, setembro de 2003.

^ 3 Bauman. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. p.95

^ 5 Melucci, Alberto. A invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas. p.61.

^ 5 Ver Tilman Evers. Identidade: a face oculta dos movimentos sociais.

^ 6 Ver Bauman, op.cit.

^ 7 Bauman, op.cit. p.73.

^ 8 É o que se verifica hoje no Brasil, com a questão das cotas para negros nas universidades públicas. Essa discussão toma lugar, nas pautas públicas, do real problema de distribuição de renda no país e de melhoria no sistema público de ensino fundamental e médio. A resolução dessas questões tornaria desnecessária, por ultrapassada, a discussão sobre cotas.

^ 9 Jornal O Globo; Folha de São Paulo (duas edições semanais), e Revista Veja (semanal) durante o mês de dezembro de 2007. A lista de discussão é a do Terceiro Setor. Algumas instituições em que a pesquisa foi realizada:: Fundação Pró-Cerrado (meio ambiente e educação de menores carentes) Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (crianças em situação de rua), Grupo Transas do Corpo (gênero), ARCA (meio ambiente), CEVAM (Centro de valorização da mulher), IBRACE (Instituto Brasil Central – meio ambiente), IFAS (Instituto de Formação e Assessoria Sindical Rural “Sebastião Rosa da Paz”), Grupo de prevenção ao uso indevido de drogas “Gente Livre” e outras mais.

^ 10 Sfez, Lucien. L’idéologie des nouvelles technologies. Le Monde Diplomatique, Dossier Manière de voir,n.46, juillet-août, 1999.

Fonte: CIbersociedad
Martins de Mendonça, Maria Luiza, 2009, Redes digitais e movimentos sociais: perspectivas, Revista TEXTOS de la CiberSociedad, 13. Temática Variada. Disponible en http://www.cibersociedad.net

7ª Ciclo de Debates em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia

Agência FAPESP – O 7ª Ciclo de Debates em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia será realizado nos dias 18 e 19 de maio na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na capital paulista.

Com o tema principal “Tecnologia e inovação: impactos na produção e no trabalho”, o evento visa a apresentação e debates de pesquisas que estão sendo desenvolvidas nessas áreas no país.

“Família e trabalho”, “Internacionalização de empresas de infraestrutura: casos do setor elétrico”, “Influxos de investimento direto estrangeiro no Brasil”, “Determinantes da acumulação de conhecimento para inovação tecnológica na indústria de TICs no Brasil” e “Determinantes da economia informal nas principais escolas do pensamento econômico” serão alguns dos assuntos em debate.

Mais informações: www.pucsp.br/eitt e (11) 3670-8516

Teoria do Parentesco, Redes, Máquinas

Dia 14/5/2009


Agência FAPESP – A integração entre os novos recursos computacionais e a tradição inaugurada pelo antropólogo francês Claude Lévi-Strauss para os estudos de parentesco é um dos temas do seminário “Teoria do Parentesco, Redes, Máquinas”, que será realizado no dia 14 de maio, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior paulista.

O assunto será abordado por Márcio Ferreira da Silva, professor do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo (USP).

A apresentação no evento, que integra a programação das Quartas Indomáveis da UFSCar, será dividida em três partes.

Na primeira será oferecido um breve resumo dos desenvolvimentos recentes da teoria do parentesco e, na segunda, será proposto o emprego de um método para o estudo das redes empíricas de aliança.

Na terceira parte do evento será feita a descrição de uma ferramenta computacional que permite efetuar uma varredura das redes de aliança de uma população, em busca dos circuitos de relacionalidade existentes.

Mais informações: www2.ufscar.br