domingo, 27 de setembro de 2009

Máquinas ligadas

Por Thiago Romero

O Programa de Integração da Capacidade Computacional da Universidade Estadual Paulista (Unesp), mais conhecido como GridUnesp, será lançado e começa a funcionar nesta sexta-feira (25/9), após cerimônia no campus da Barra Funda da instituição de ensino e pesquisa, em São Paulo.

Trata-se de um conjunto de clusters (aglomerados de computadores interconectados) formado por, além do núcleo principal instalado na capital paulista, estruturas paralelas em outros seis diferentes campi, nas cidades de Araraquara, Bauru, Botucatu, Ilha Solteira, Rio Claro e São José do Rio Preto.

Ao todo, serão 2.944 unidades de processamento com 33,3 teraflops (trilhões de cálculos por segundo) de capacidade de processamento teórico. “É a maior estrutura computacional de alto desempenho e processamento distribuído na América Latina”, disse Sérgio Ferraz Novaes, coordenador geral do GridUnesp e professor do Instituto de Física Teórica da Unesp, à Agência FAPESP.

“A implantação do GridUnesp é o passo decisivo para posicionar a universidade no patamar do compartilhamento de dados científicos em alto nível de desempenho computacional. É o resultado do reconhecimento da consolidação e da elevada capacidade de diversos grupos de pesquisa”, disse Herman Jacobus Cornelis Voorwald, reitor da Unesp e conselheiro da FAPESP.

Na computação em grid (grade, em português) o poder de processamento de muitos clusters é reunido para se obter um desempenho muito superior ao que seria possível caso os aglomerados fossem mantidos isolados.

Os computadores do GridUnesp utilizam processadores Intel Xeon de quatro núcleos e foram adquiridos da Sun Microsystems do Brasil. A estrutura permitirá a grupos de pesquisa acesso a elevados níveis de capacidade de processamento e armazenamento de dados nos mais diversos campos.

Entre as áreas e aplicações que poderão se beneficiar estão o sequenciamento genético, previsão do tempo, modelagem molecular e celular, reconstrução de imagens médicas, desenvolvimento de novos materiais, segurança de redes de dados, química quântica e física de altas energias.

Nessa última área, o grupo liderado por Novaes, coordenador do GridUnesp, já desenvolve trabalhos em parceria com centros e projetos internacionais de pesquisa como o LHC (Large Hadron Collider, na Suíça). Um dos estudos se deu por conta do Projeto Temático “Física experimental de anéis de colisão: SP-Race e HEP Grid-Brasil”, desenvolvido com apoio da FAPESP e cujos resultados deram origem ao Projeto Grid Educacional, lançado em 2008.

“Como todo o projeto do GridUnesp foi centrado na pesquisa científica, 14 projetos em andamento deverão se beneficiar de imediato da estrutura. Outra chamada de propostas para a contratação de novos projetos deve ser lançada ainda este ano”, disse Novaes, que também coordena o Centro Regional de Análise de São Paulo (Sprace), instalado em 2003 com apoio da FAPESP.

Grade do conhecimento

Foram investidos no projeto do GridUnesp R$ 8 milhões, dos quais R$ 4,4 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e R$ 3,6 milhões da Unesp. A conexão do GridUnesp entre os clusters no interior de São Paulo ocorre por meio da rede KyaTera, desenvolvida no Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia) da FAPESP.

“A rede KyaTera teve um papel extremamente importante nesse projeto no que diz respeito ao fornecimento da estrutura de fibras apagadas, que posteriormente foi ampliada pelos pesquisadores da Unesp”, explicou Novaes.

A rede KyaTera se equipara ao que existe de mais avançado no mundo em desempenho de redes com tecnologia de transmissão óptica. Sua ampliação foi realizada com a aquisição de equipamentos desenvolvidos pela Padtec, empresa que atua no desenvolvimento de alta tecnologia na área de redes ópticas.

Na capital, a rede foi redimensionada de forma a incluir o novo campus da Unesp na Barra Funda no anel metropolitano que liga diversas universidades e institutos de pesquisa. No interior, foram criados novos enlaces de fibra, prolongando a malha óptica até Ilha Solteira.

As unidades da Unesp em Bauru, Botucatu, Ilha Solteira, São José do Rio Preto e Rio Claro estão sendo conectadas a Araraquara com velocidade de 1 gigabit por segundo, sendo o tráfego agregado transmitido até o data center do Núcleo de Computação Científica da Unesp e ao enlace internacional a 10 gigabits por segundo.

Outro benefício proporcionado pelo projeto GridUnesp é a instalação de um novo gateway (portão de entrada) no campus da Barra Funda que permitirá o tráfego de internet por meio da rede MetroSampa.

Novaes destaca que o Brasil tem hoje uma demanda crescente de pesquisas que exigem a evolução do conceito de grade, uma vez que os problemas científicos necessitam cada vez mais da produção de maior quantidade de dados, que devem ser filtrados e armazenados em um espaço de tempo menor.

Mais informações: www.unesp.br/gridunesp

Fonte: Fapesp

Efeito multiplicador

Por Fábio de Castro

Com o lançamento de uma nova chamada de propostas para o Programa Equipamentos Multiusuários (EMU), a FAPESP disponibilizou R$ 70 milhões para que pesquisadores tenham acesso a instrumentos científicos cuja aquisição normalmente seria inviável para seus grupos.

De acordo com cientistas já contemplados pelo EMU em editais anteriores, além de possibilitar o acesso continuado de inúmeros pesquisadores a esses equipamentos, o programa tem um efeito multiplicador, gerando novas redes de pesquisa que impulsionam o avanço do conhecimento de forma exponencial.

Luiz Nunes de Oliveira, professor do Departamento de Física e Informática do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), recebeu em 2005 auxílio do EMU para aquisição de um supercomputador IBM PowerPC 970. O equipamento, que foi encomendado e chegou ao laboratório no início de 2007, tem produzido importantes resultados científicos e parcerias inéditas.

“O projeto foi elaborado por um consórcio formado por 66 grupos de pesquisa da USP, que teve acesso prioritário ao equipamento durante um primeiro período. Depois disso o acesso foi aberto e tivemos muitos resultados interessantes. A maior parte na área de física, mas também em química e astronomia, por exemplo”, disse Nunes de Oliveira à Agência FAPESP.

Segundo o pesquisador, o supercomputador – que consiste em um cluster (aglomerado computacional) de 448 processadores que operam em conjunto, possibilitando um desempenho de 2,9 trilhões de operações por segundo (teraflops) – não poderia ter sido adquirido sem o Programa EMU.

“Alguns pesquisadores tinham projetos engavetados há cinco anos por falta de uma máquina adequada para executá-los. O próprio projeto do supercomputador só foi viabilizado com o EMU”, disse.

A aquisição do equipamento teve efeito multiplicador: colocou em contato grupos com interesses comuns de pesquisa. “Temos cientistas das áreas de química e biociências que não se conheciam e, a partir das reuniões relacionadas ao uso do supercomputador acabaram desenvolvendo uma colaboração forte, graças ao projeto. Esse é um benefício talvez até mais importante do que o próprio uso da máquina”, afirmou.

As solicitações na nova chamada do programa serão recebidas até 30 de outubro de 2009. A chamada contempla instrumentos científicos com valores superiores a R$ 100 mil e caracterizados por terem utilidade, de forma continuada, para um conjunto de pesquisadores com ampla experiência e comprovada competência.

As solicitações deverão ser sustentadas por pelo menos três projetos associados de pesquisa, coordenados por diferentes pesquisadores e apoiados pela FAPESP que estejam vigentes ou tenham terminado há menos de dois anos.

Diversidade de equipamentos

Jackson Cioni Bittencourt, chefe do Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, obteve, entre 2000 e 2003, apoio do Programa EMU para equipar e montar um laboratório multiusuários especializado em técnicas de biologia celular e molecular. Bittencourt afirma que, na época, o departamento tinha extrema necessidade de equipamentos atualizados.

“O departamento tem uma tradição de 95 anos na formação de anatomistas, que sempre usaram cadáveres como objeto de pesquisa. Mas esse modelo chegou a certos limites e já tínhamos professores que utilizavam novas metodologias. Por isso era preciso obter equipamentos modernos, que, no entanto, tinham preços proibitivos. Uma ultracentrífuga, por exemplo, custa cerca de R$ 310 mil”, contou.

Como o uso de equipamentos desse porte por um número muito limitado de pessoas não se justifica, segundo Bittencourt, os pesquisadores do Departamento de Anatomia uniram as necessidades de suas diferentes linhas de pesquisa e conseguiram recursos do Programa EMU.

“Adquirimos algumas centrífugas, uma câmara fria, câmaras escuras, freezers de 86 graus negativos e equipamentos especiais para o crescimento de bactérias que são utilizados na transfecção de bactérias para a confecção de sondas. Pudemos montar um laboratório multiusuários com 150 metros quadrados que é hoje altamente produtivo. Sem o programa da FAPESP não estaríamos no patamar de pesquisa competitiva que alcançamos hoje”, afirmou.

O laboratório atualmente é utilizado por dez dos 18 pesquisadores do departamento, além de seus alunos de todos os níveis acadêmicos e de pesquisadores externos ao ICB e à USP. “Para nós, o mais importante foi a diversidade de equipamentos e a rede de contatos formada a partir do uso do laboratório. As instalações são controladas por computador, com acesso feito por cartão magnético restrito aos pesquisadores credenciados”, explicou Bittencourt.

Em reportagem publicada pela revista Pesquisa FAPESP, o professor Edison Zacarias da Silva, do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), destacou que o sistema computacional adquirido em 2006 por meio do EMU, pelo Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho em São Paulo (Cenapad-SP), coordenado por ele, foi amplamente utilizado por pesquisadores de vários lugares do Brasil. Metade do tempo de uso do sistema, até agosto de 2008, foi dedicado a cálculos feitos por pesquisadores de outros estados.

Segundo ele, o investimento feito pela FAPESP rendeu frutos em vários lugares do Brasil. “O Cenapad de São Paulo ficou em situação mais favorável e por isso tornou-se referência para pesquisadores de outros estados”, disse.

Sem a aquisição feita em 2006, de acordo com o pesquisador, teria sido comprometida a realização, nos últimos três anos, de simulações computacionais em áreas como física, química, biologia, engenharia, matemática e genômica.

Foco na competitividade

O Programa Equipamentos Multiusuários foi criado pela FAPESP em 1996 como um módulo do Programa de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa, passou a ser tratado de 1998 a 2002 como um Programa Especial autônomo e foi retomado em 2004.

De acordo com Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, o programa tem um papel fundamental para a competitividade da ciência produzida no Estado de São Paulo.

“Hoje, em diversas áreas, para que a atividade de pesquisa tenha competitividade internacional é preciso ter acesso a certos instrumentos, mas o custo desses instrumentos científicos cresceu ao longo das últimas décadas. Ao mesmo tempo, também foi se consolidando a possibilidade, em muitos casos, de os equipamentos serem utilizados por muitos grupos de pesquisa em ocasiões diferentes”, disse.

Segundo Brito Cruz, com a nova chamada do programa, a FAPESP pretende impulsionar a pesquisa no Estado e, consequentemente, no país. “A ideia é oferecer mais uma oportunidade para que a comunidade científica paulista se organize a fim de adquirir alguns desses equipamentos multiusuários e, ao mesmo tempo, colocá-los em disponibilidade para serem utilizados pelo maior número possível de pesquisadores”, explicou.

A nova chamada oferece R$ 70 milhões, quantia consideravelmente maior do que os R$ 50 milhões do último edital. De acordo com o diretor científico, com base no aprendizado adquirido a partir das chamadas anteriores, a FAPESP está fazendo exigências mais fortes e mais explícitas sobre a garantia de apoio institucional para a obtenção de recursos.

“O objetivo é justamente comprar, instalar e operar equipamentos complexos e custosos. E isso só pode funcionar corretamente se as instituições que vão receber os equipamentos garantirem certos apoios essenciais, como local e infraestrutura adequada, pessoal técnico capaz de operar e manter funcionando o equipamento e, eventualmente, contratos de manutenção e de fornecimento de materiais necessários para o prosseguimento da operação”, afirmou.

Brito Cruz contou que a nova chamada possibilita a aquisição de conjuntos de equipamentos a fim de compor instalações multiusuários mais amplas. “Uma novidade é que as instituições poderão se organizar em um estágio mais sofisticado. Em vez de ter um equipamento isolado, poderão obter um conjunto de equipamentos que tenham características complementares ou associáveis e organizar um projeto no formato que designamos como facilities – isto é, um laboratório multiusuário”, disse.

De acordo com Brito Cruz, o edital é bastante competitivo e exigente em termos da qualidade das propostas e dos projetos a ela associadas. “É muito importante para a FAPESP que os projetos sejam fundamentados em uma necessidade objetivamente demonstrável por meio de projetos de pesquisa que a Fundação já tenha financiado ou esteja financiando e que possam se beneficiar do acesso a tais equipamentos”, disse.

Mais informações sobre a chamada: www.fapesp.br/emu.

Fonte: Fapesp

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Tecnologia para a saúde

Agência FAPESP – A Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) inaugurou seu Centro de Produção Digital (CPD). As novas instalações reunirão equipamentos de ponta para produção, edição e veiculação de material audiovisual para uso em atividades didáticas.

O projeto, coordenado pela Coordenadoria de Tecnologia de Informação da USP, prevê ainda a instalação de mais 19 centros semelhantes em outras unidades.

O CPD tem cerca de 90 metros quadrados e é dividido em três ambientes distintos: estúdio, sala de videoconferência e sala de aprendizado eletrônico. Nessa última estarão as “lousas eletrônicas” – dispositivos nos quais os ministrantes das aulas poderão desenvolver seus temas e depois salvá-los nos formatos PPT ou PDF. Quem estiver assistindo às aulas poderá obter o material para, posteriormente, dar andamento aos seus estudos.

Todas as salas serão gerenciadas por meio da sala de controle, que conta com monitores, controles de vídeo e de som, gravadores de DVD para o registro dos eventos e demais recursos necessários para a administração do espaço.

De acordo com a FSP poderão ser realizadas no CPD atividades como a realização de videoconferências, gravação de aulas para cursos de ensino a distância, transmissão de eventos em tempo real pela IPTV (televisão por internet da USP), entre outras.

O uso das novas instalações não será restrito à FSP. Instituições como a Escola de Enfermagem, Faculdade de Medicina e Hospital das Clínicas – que compõem o chamado “quadrilátero da saúde” – terão acesso ao CPD.

Professores poderão, por exemplo, relatar experiências, com interação de outros docentes, pesquisadores ou alunos em outros campi, possibilitando aulas cooperativas e interativas.

Além do ensino a distância, as instalações serão utilizadas para produção de vídeos e para a confecção de um acervo de materiais didáticos multimídia.

Os docentes e pesquisadores interessados em utilizar os recursos do CPD podem procurar o centro no segundo andar da biblioteca da FSP, ou entrar em contato pelo e-mail tic@fsp.usp.br, a fim de solicitar treinamento.

Mais informações: www.fsp.usp.br

sábado, 12 de setembro de 2009

Breve reflexão sobre a internet e a longevidade:Novos espaços de sociabilização preparam o silêncio da saúde

Por: Celina Dias Azevedo & Beltrina Corte

INTRODUCCIÓN / RESUMEN

O computador aliado ao processo comunicacional via internet é o centro vital de uma revolução que envolve e intermedia ações diversas, a ponto de nos referirmos atualmente a uma nova sensibilidade, cuja intimidade com a tecnologia é passaporte obrigatório para os novos formatos de modelos de vida em processo de envelhecimento que estão sendo instaurados. Ao refletir como a tecnologia transformou e revolucionou nosso cotidiano, especialmente para os idosos, construindo novas gravuras no Atlas e nele uma nova forma de sociabilização, entendemos que o mundo virtual transformou-se em um novo espaço social em que a existência humana continua sendo abordada com uma extraordinária proximidade.

1 - Introdução

A era da Revolução Informacional tem como base o computador – criado para ser empregado em estratégias militares e depois modificado para dar conta do processamento de grande volume de informações no mundo empresarial – que passou a mediar o cotidiano do cidadão reconfigurando as relações sociais e abrindo aos velhos – particularmente – novos espaços de sociabilidade e de protagonismo.

Consideramos que o acesso e familiarização com as tecnologias comunicacionais transformam-se em formatos de vida até então não experimentados em nossa cultura, especialmente por aqueles que nasceram antes do surgimento delas. Blogs, chats, Orkut e correio eletrônico – entre outros - tornaram-se espaços correntes de comunicação e de encontros que o velho protagoniza, apropria-se, construindo novas gravuras do Atlas e nele uma nova forma de sociabilização.

Neste artigo concentramos nosso olhar para as possibilidades de interação comunicacional engendradas e consentidas pelas tecnologias informacionais e, conseqüentemente, que preparam o silêncio da saúde uma vez que os novos espaços de sociabilização fazem parte da medicina preventiva e, esta, por sua vez, não atua nas patologias do processo de envelhecimento, mas no cuidado para com a vida.

2 - Breve histórico sobre a Revolução Tecnológica

Para refletirmos sobre a necessidade e importância da inclusão digital na era da Revolução Tecnológica e Informacional na contemporaneidade, é necessário estarmos atentos à equação computador + internet e as conseqüências que essa relação trouxe e ainda trará à nossa sociedade.

Podemos tomar como marco temporal – para a história da invenção do computador - a Segunda Guerra Mundial. O primeiro computador eletrônico foi construído em 1946 para aplicação na indústria bélica – era utilizado para cálculos balísticos - o ENIAC, em português "Computador e Integrador Numérico Eletrônico". Estes equipamentos, estes “cérebros eletrônicos” eram enormes e ocupavam salas inteiras.

Já em 1951, surge o primeiro computador comercial, o LEO, e em 1960 a IBM lança o IBM/360, que marcou uma nova tendência na construção de computadores com o uso de pastilhas, que ficaram conhecidas como Chips. Esses chips incorporavam, numa única peça de dimensões reduzidas, várias dezenas de transistores já interligados, formando circuitos eletrônicos complexos.

Em 1971, Ted Hoff cria o microprocessador permitindo a redução no tamanho dos equipamentos e viabilizando o aparecimento dos microcomputadores. A empresa Apple Computer, em 1977, lança o primeiro “computador caseiro” o Apple II e em 1979 o VisiCalc – primeiro programa comercial. Mais tarde, a Microsoft foi responsável pelo arremate que possibilitou a entrada do computador na casa das pessoas.

A Internet - conexão mundial de todas as diferentes redes de computadores ou “rede das redes” – nasceu, assim como o computador, de um projeto militar. Em 1969 – durante a Guerra Fria - foi proposto o projeto de uma rede de comunicação descentralizada, um sistema militar de comunicação que se mantivesse mesmo sob um ataque nuclear. Vários centros de computadores compartilhariam as informações on-line, a intenção era que a informação não seguisse uma única rota, seguiria o traçado de uma rede onde todos os pontos se comunicariam, os nós dessa rede eram equipamentos localizados em pontos estratégicos. Foi desenvolvida a ARPANet, que, na década de 80, passa a denominar-se Internet. Vista como eficiente forma de comunicação, passa a ser amplamente utilizada para compartilhar informações e pesquisas no meio acadêmico e científico. A partir da década de 90, o interesse comercial na rede nutre sua expansão.

Até hoje, desde sua criação, a Internet passou por várias fases, porém decisivo para sua popularização foi – além dos computadores pessoais - o desenvolvimento de um software com avançada capacidade gráfica que tornou possível distribuir e captar imagens e outras interfaces da multimídia.

Essa nova Revolução Tecnológica recebeu várias denominações: Revolução das Novas Tecnologias de Informações, Revolução Digital, Revolução Informacional e Era do Acesso.

Podemos afirmar que no mundo contemporâneo as principais atividades econômicas, sociais, políticas e culturais são estruturadas e mediadas pelo computador - as mais simples tarefas de nosso cotidiano, nas nossas residências, no trabalho, nas escolas e, não podemos nos esquecer, nos nossos momentos de lazer. As novas tecnologias comunicacionais e informacionais fazem parte da condição humana. Nascemos com elas e, portanto, nossa percepção de mundo é alterada, queiramos ou não, a ponto de hoje nos referirmos a uma nova sensibilidade, a da era eletrônica, cuja intimidade com a tecnologia é passaporte obrigatório para os novos formatos de modelos de vida que estão sendo instaurados.

Para Santaella (2004, p.31)

O aspecto sem dúvida mais espetacular naquilo que vem sendo chamado de “era digital”, na entrada do século XXI, está no poder dos dígitos para tratar de qualquer informação [...] com a mesma linguagem universal [...] uma espécie de esperanto das máquinas.


Importante refletir como essa tecnologia, que nasceu para dar conta do processamento de grande volume de informações no mundo empresarial e como estratégia militar, transformou e revolucionou nosso cotidiano configurando as relações sociais.

Antes que a palavra computador fosse usada correntemente, quando só havia as enormes máquinas militares e de grandes empresas, falava-se em “cérebro eletrônico”. Por quê? Porque se tratava de um objeto técnico muito diferente de todos até então conhecidos pela humanidade. De fato, os objetos técnicos tradicionais ampliavam a força física dos seres humanos (o microscópio e o telescópio aumentavam o limite dos olhos; o navio, o automóvel e o avião aumentam o alcance dos pés humanos; a alavanca, a polia, a chave de fenda, o martelo aumentam a força das mãos humanas (...) ). Em contrapartida o “cérebro eletrônico” ou computador amplia e mesmo substitui as capacidades mentais ou intelectuais dos seres humanos (grifo nosso). (CHAUÍ, 2003, p. 303)


Outro salto foi o desenvolvimento do computador pessoal. O PC ou Personal Computer permitiu que o uso dessa nova tecnologia fosse ampliado para além do uso militar e das grandes corporações, possibilitou sua entrada no cotidiano das pessoas: na escola, em casa, no trabalho. Nele, uma das transformações diz justamente respeito às nossas casas e às nossas deslocações: a forma de habitar e, conseqüentemente, a forma de conviver uns com os outros.

Ao socializarmos de outra forma, já não habitaremos da mesma maneira. Serres (1997, p. 12) assinala que

[...] já há muito tempo que telefonamos para os confins da Terra; as imagens vindas de longe deixaram de nos surpreender; separados por mil léguas, conseguimos reunir-nos para uma teleconferência e, inclusivamente, trabalhar juntos. Deslocamo-nos sem mover um dedo”. Para sua pergunta: Onde tem lugar essa conversa?, responde que “num sítio virtual”. Para ele as conversas parecem “fundir-se e difundir-se, como se um tempo novo organizasse um outro espaço. O ser aí expande-se.


O idoso - ou a pessoa acima de 60 anos - é testemunha viva da dissolução das antigas fronteiras e da conquista de novas terras pelo mundo virtual da comunicação. Ele vivencia a projeção de um atlas sobre outro, o antigo e novo mundo, adaptando-se a técnicas e formas de aprendizagens estranhas, mas que conduzem a um mundo que lhe é conhecido.

3 - Novas tecnologias e velhice: novas formas de apreender as singularidades do século

De acordo com essa realidade e tendo como certo a importância e influência do computador na organização da vida social e do trabalho, a inclusão digital e alfabetização tecnológica surgiram como uma nova forma de apreender o mundo virtual, atingindo todos os cidadãos.

Para Moran, Masetto e Behrens (2000), na sociedade da informação todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicarmos, a ensinar e a aprender; a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social. O saber e aprender integra hoje as tecnologias imagéticas quanto às materiais (telemáticas, audiovisuais, textuais, orais, musicais, lúdicas e corporais). Conhecimentos que qualificam para acompanhar, fazer uso e participar da implementação dessas tecnologias que já não dizem respeito apenas às possibilidades de uso no cotidiano – serviços bancários, educação à distância, correio eletrônico, canais de sociabilização, jogos e pesquisa, mas estende-se também a possibilidade de participação na vida política. Inserção no mundo.

No Brasil o acesso à Internet – e conseqüentemente aos recursos disponíveis – apresentou um crescimento relevante nos últimos anos em todas as faixas etárias. Dados do PNAD – Pesquisa por Amostra de Domicílio de 2003 do IBGE - mostram que, entre os bens duráveis, o número de computadores nas residências foi o que mais cresceu nos últimos anos no Brasil, para a população em geral(1). O computador estava presente, em 2003, em 7,5 milhões de domicílios – 15,3% - sendo que 5,6 milhões – 11,4% - dispunham de acesso à Internet. Em relação à população idosa, a Folha de São Paulo (2) – no mesmo ano de 2003 – informava que o número de internautas com mais de 65 anos crescia de 7,9 milhões para 9 milhões no mundo.

Em divulgação mais recente, o PNAD 2006(3) mostrou que o número de computadores nas residências praticamente dobrou desde 2001, quando chegou a 22,4% em 2006, sendo que no Norte urbano (de 6,7% para 12,4%), no Nordeste (de 5,2% para 9,7%), no Sul (de 13,9% para 27,9%) e no Centro-Oeste (de 10,6% para 20,4%).

Em estudo desenvolvido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil - sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil 2006, concluída em 2007 (4) - os dados mostram um crescimento na posse de equipamento e no acesso à internet de 17% e 13%, em 2005; 20% e 15% em 2006 e 24% e 17% em 2007, respectivamente. A mesma pesquisa - ao analisar as atividades desenvolvidas na Internet - indica que mensagens instantâneas e participação em sítios de relacionamento, representaram mais de 50% dos motivos do acesso à rede, no ano de 2007. No item que identifica a proporção de indivíduos que usam a Internet com a finalidade de comunicação, mostra que na faixa etária acima de 60 anos 87,17% - sobre o total de usuários de internet dessa faixa etária – utilizam a internet para se comunicar; índice muito próximo ao percentual da faixa entre 16 e 24 anos – 85,01% - e acima do percentual de 71,97% da faixa de usuários entre 10 e 15 anos.

Idosos no Brasil: vivência, desafios e expectativas na 3ª Idade(5), pesquisa realizada em 2006, parceria entre a Fundação Perseu Abramo, SESC Nacional e SESC São Paulo, mostra a urgência de projetos e políticas públicas que ampliem o acesso ao mundo digital para a população. Dos idosos pesquisados – uma amostra de 2.136 cidadãos de 60 anos e mais, em 204 municípios em todas as regiões do Brasil - 80% dos entrevistados relataram que embora conheçam um computador, nunca o utilizaram. Com relação à Internet 37% não sabem o que é, e embora 63% conheçam, 59% nunca utilizaram, apenas 1% costuma usá-la sempre e 3% utilizam apenas algumas vezes. Entre as razões do interesse pelo computador apresentadas, estão a aquisição de conhecimento (11%) e a possibilidade de estabelecer comunicação com amigos e familiares distantes (7%).

A pesquisa não responde o porquê do pouco uso do computador. Um dos fatores, certamente, é a dificuldade de acesso a esses equipamentos que exige um investimento inicial distante das possibilidades de grande parte da população brasileira - para o acesso à Internet, por exemplo, é necessário um computador, um provedor e uma linha telefônica, no mínimo, ou então o cabeamento - associado à fragilidade das políticas governamentais para prover ao cidadão espaços públicos para uso dessa tecnologia.

Outra hipótese nos faz pensar que o distanciamento do velho em relação às novas tecnologias não vem - ao contrário de algumas considerações que ouvimos diariamente - da dificuldade desse cidadão em aprender coisas novas ou preferir viver no passado, mas simplesmente de uma falta de familiarização com essa linguagem. Grande parte dos idosos apresenta-se – espontaneamente - como incompetente diante dessa tecnologia. Moldam seu discurso a uma imagem instituída e padronizada posta, que coloca que o “velho não se interessa pela tecnologia” ou “que o velho não consegue aprender ou apropriar-se desses novos instrumentos”. Ao mesmo tempo mencionam, orgulhosamente, como o neto – ainda não alfabetizado – manuseia o computador. Ora, não nos esqueçamos que o “neto de cinco anos, que mexe no computador de forma tão desinibida”, nasceu mergulhado nessa cultura e tinha – muito provavelmente – em algum lugar ao seu redor essa máquina. Além disso, sempre é permitido às crianças – além de incentivado - o manuseio de equipamentos tecnológicos. Um exemplo são os brinquedos que já os mergulham nesse mundo como o carrinho de controle remoto, o telefone celular, a máquina fotográfica digital cor-de-rosa ou azul e o lap top da mesma cor, com o velho – salvo raras exceções - ocorre o contrário.

A inclusão digital, tão em voga na grande mídia, pode ser mapeada e trazer estímulos como: instrumento de acesso à informação – construção do conhecimento, re-adequação das possibilidades de comunicação, fonte de serviços, uma possibilidade de ampliação da rede social e estímulo à socialização, especialmente para os mais fragilizados.

Em programas voltados ao cidadão idoso, conceito importante é o do aprendizado permanente. Está distante e não nos serve mais a idéia do saber consolidado, estanque. Nesse momento histórico onde o uso das tecnologias – particularmente a Internet – nos possibilita de forma democrática o acesso a informações, são necessários esforços para que todos possam mergulhar nas fronteiras virtuais em igualdade de condições, incentivando a aprendizagem personalizada, a partir do interesse de cada um. Por outro lado, na sociedade de informação em que vivemos, a comunicação é elemento essencial para uma participação cidadã.

A singularidade do nosso século são as redes de comunicação. Tanto é que a comunicação é tida como um aspecto dos direitos humanos, reconhecida e incorporada como essencial no Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento, na Assembléia Mundial do Envelhecimento (Madri, 2002). O conceito de comunicação como direito humano está no primeiro relatório da comunidade internacional sobre Direitos Humanos, publicado há mais de 25 anos, em 1980, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Paris, e lançado no Brasil em 1982.

O relatório, chamado Um mundo e muitas vozes – comunicação e informação na nossa época - conhecido como MacBride - foi elaborado sob a presidência do jurista e jornalista irlandês Sean MacBride(6). Nele, o direito à comunicação é entendido como um "prolongamento lógico do progresso constante rumo à liberdade e à democracia". O Relatório MacBride, um documento contraditório em muitos pontos, é até hoje o mais completo relato já produzido sobre a importância da comunicação na contemporaneidade.

A Internet proporciona a oportunidade de comunicação ágil, eficiente e abrangente, ela permite a comunicação de muitos com muitos. A exploração da interatividade incentiva a criatividade e a sociabilidade. Hoje podemos identificar exemplos de uso do mundo virtual no cotidiano dos velhos, alterando perspectivas de isolamento. Conforme Sant’Anna (2006, p.108):

Atualmente, em diversos países, pessoas idosas com problemas de audição ou de locomoção têm possibilidade de ampliar contatos com moradores de diferentes regiões graças à internet. [...] Algumas delas possibilitam a construção de rede de laços afetivos e informativos sem a presença real dos corpos [...].


Às possíveis críticas sobre as relações que se estabelecem pela Internet, Castells (2003, p.104) ao relatar estudos sobre a perda de sociabilidade por internautas “assíduos” relata que

de modo geral, o corpo de dados não sustenta a tese de que o uso da Internet leva a menor interação social e maior isolamento social. Há alguns indícios, porém, de que, sob certas circunstâncias, o uso da Internet pode servir como um substituto para outras atividades sociais. Como os estudos que sustentam teses alternativas foram realizados em diferentes momentos, em diferentes contextos e em diferentes estágios da difusão do uso da Internet, é difícil chegar a uma conclusão a respeito dos efeitos da Internet sobre a sociabilidade [...] o estudo da sociabilidade na/sobre/com a Internet deve ser situado no contexto da transformação dos padrões de sociabilidade de nossa sociedade [...] não significa menosprezar a importância do meio tecnológico, mas inserir seus efeitos específicos na evolução geral de padrões de interação social [...].


O computador em todo esse processo é apenas uma máquina que redimensiona as limitações corporais do homem. Assim, refletindo sobre uma velhice fragilizada, poderíamos pensar que o computador, enquanto máquina, pode sim devolver sentido ao corpo e inseri-lo no universo técnico, que prima por velocidade, resistência, potência, dinamismo e precisão. É importante, para o indivíduo que está envelhecendo, entender que seu corpo precisa adaptar-se às circunstâncias tecnológicas.

4 - Sociabilidade, Comunidade e Internet

Compreendemos o homem - historicamente - como um ser gregário - apesar da pós-modernidade apresentar o individualismo como predicado relevante – somos seres sociais, buscamos relações, faz parte de nossa característica buscar aproximações, nos articularmos em grupos ou comunidades, ontem e hoje.

Qual a importância e como a internet pode contribuir para essa nova possibilidade de estabelecer relações sociais, já que o espaço virtual reinventa o espaço social e organiza novas interações sociais?

A Internet é um meio que permite a comunicação de muitos com muitos, sítios de relacionamento, blog, correio eletrônico, salas de bate-papo, MSN, Second Life, entre outros. Essa sociabilidade deve ser observada e analisada no contexto da transformação dos padrões de sociabilidade de nossa sociedade.

Apoiando-nos na concepção de comunidade que se caracteriza pelo interesse comum, o sentimento de pertencimento - quando o indivíduo sente-se parte de um todo maior – a permanência, além de ligações emocionais ou afetivas, entre outros. Podemos estender essa concepção para as comunidades virtuais

Na rede, o indivíduo busca pessoas que têm os mesmos interesses, afinidades e valores que ele, seja nas salas de bate-papo (chats) ou em comunidades virtuais (...) visto que geram sociabilidade, relações e redes de relações humanas (...). O mesmo acontece com qualquer blog, site pessoal, fórum de discussão ou ambiente de produção coletiva. Nessa linha de raciocínio, destaca que, dentro de uma comunidade virtual, ainda são pessoas “de verdade” que ali se encontram, mesmo estando fisicamente distantes e invisíveis, graças à tecnologia. (REULE , 2007)


Pesquisa concluída, pelo Instituto Pew Internet, nos Estados Unidos e divulgada recentemente(7) , dá conta da importância do estabelecimento de redes sociais na Internet, uma rede que não depende de territórios definidos ou ligações locais, pelo contrário os usuários cada vez mais fazem parte de redes espalhadas geograficamente.

A pesquisa aponta para o fato do estabelecimento dessas ligações virtuais criarem uma nova base para surgimento de uma nova comunidade. Em vez de depender apenas de uma única comunidade para apoio social, os usuários, com freqüência, ampliam suas experiências e procuram e relacionam-se ativamente com uma variedade de pessoas e recursos apropriados para diferentes situações.

Além do mais, tomando como base o valor terapêutico do exercício de escrever, como mecanismo de alívio de estresse, pesquisas recentes demonstram que o ato de expressar-se pela escrita (como nos blogs, por exemplo) pode estimular a memória, o sono e melhorar o sistema imunológico de pacientes atingidos por doenças graves como a AIDS ou o câncer.

É o que demonstra o trabalho realizado no Tufts-New England Medical Center, em Boston, envolvendo 234 pacientes portadores de câncer, os quais foram divididos em três grupos e monitorados durante oito semanas sobre suas dores. O primeiro tinha como tarefa preencher cotidianamente um questionário sobre as dores que sentia; o segundo deveria escrever sobre como se sentia e o terceiro ficou como controle. Como resultado o estudo concluiu que aqueles que escreviam sentiam menos dor e mal-estar.

Esse estudo só traz subsídios científicos para o que milenarmente vem se fazendo. Soranus, famoso médico de Roma, recomendava a leitura de poesia e drama a seus pacientes já no primeiro século d.C. O que foi reforçado pelo criador da psicanálise, Sigmund Freud, ao reconhecer que a literatura havia descoberto o inconsciente antes dele. A prática de colocar livros ao alcance de pacientes hospitalizados (coisa que Benjamin Franklin defendia já no século 18) evoluiu para uma forma sistematizada de tratamento, a biblioterapia, e também para a formação de grupos e instituições que usam o ato de escrever como forma de tratamento (SCLIAR, 2008).

O blog – uma espécie de diário virtual – tornou-se o centro dessas pesquisas, algumas delas tentam traçar análises sobre o comportamento do cérebro antes e depois do ato de escrever, pois se acredita que há uma relação entre a escrita expressiva e alterações biológicas.

Como resultado, alguns hospitais nos EUA começaram a hospedar blogs de pacientes-blogueiros em seus websites. Nancy Morgan (apud WAPNER, 2008, p.17) autora de artigo sobre os benefícios da escrita expressiva na revista Oncologist argumenta que “As pessoas estão se conectando e testemunhando as expressões uns dos outros – a base para a formação de uma comunidade”.

O aumento constante do número de pessoas conectadas no mundo virtual criou novas formas de se pensar a saúde no país. O Google Brasil lançou em 2008 uma pesquisa sobre o uso da internet no Brasil por médicos e por pacientes, encomendada pela Media-Screen, registrando que 20% dos pacientes dos médicos trazem informações para consulta.

Na ocasião do lançamento da pesquisa, a diretora de negócios da vertical de Saúde do Google, Adriana Grineberg, em entrevista à imprensa nacional, chegou a comentar que com a internet 2.0 a Saúde acaba mudando o perfil e o consumidor começa a ganhar novamente o poder e a participação:

Assim como na época dos gladiadores, em que o imperador perguntava para os espectadores se o gladiador merecia viver ou morrer, a internet proporciona a mesma percepção atualmente. Por meio da web, um paciente busca melhores drogas, equipamentos, hospitais, especialistas e registra a sua opinião sobre tudo para todos. (8)


O mundo virtual cria e estabelece novos paradigmas temporais e espaciais. Distâncias intransponíveis – que poderiam representar limites físicos – com a tecnologia são transpostas em tempos imediatos, transformando-se assim em alternativas às limitações determinadas pela fragilidade do corpo humano.

5 - Qual o lugar do velho?

O que teria mudado na sociedade contemporânea em relação ao cenário posto por Simone Beauvoir, em sua obra clássica sobre a velhice, quando a autora afirma que:

Aí está porque escrevo este livro: para quebrar a conspiração do silêncio (...). É preciso perturbar sua tranqüilidade. Com relação às pessoas idosas, essa sociedade não é apenas culpada, mas criminosa. Abrigada por trás dos mitos da expansão e da abundância, trata os velhos como párias. (BEAUVOIR, 1990, p.8)


A mudança faz-se à medida que a velhice, na atualidade, é tema importante, fala-se mais dela – tornou-se objeto de estudos e estatísticas - mas é ainda interpretada como algo negativo e carregada de simplificações, como ressalta Silvana Tótora (2006, p.36)

Em uma cultura, que valoriza os excessos de prazeres e o culto da felicidade como ausência de sofrimentos, doença e dor, ser velho é privação. Se o tempo se consome em um movimento linear e a morte é algo que se quer exorcizar, ser velho assume um estatuto negativo [e envelhecer] um mal reservado àqueles que não seguiram uma prescrição correta de vida


Diante dessa perspectiva, generaliza-se e uniformiza-se a velhice, desprezando a singularidade e a potencialidade de cada ser.

O olhar lançado sobre a velhice na contemporaneidade desvaloriza-a diante da juventude e abre caminho a uma série de situações discriminatórias. Por exemplo, parece natural – mas não é e não deve ser encarado assim – que a criança seja estimulada a descobrir e aprender coisas novas, enquanto para o velho quer-se como que concluído. É como aquela história que já ouvimos várias vezes, para a criança pergunta-se “... o que vai ser quando crescer...” e para o velho “... o que você foi...” duvidando do seu potencial de vir a ser e determinando-se como concluída sua formação, ignorando seu futuro.

Em uma sociedade em que a aparência – feio/bonito, gordo/magro, jovem/velho – e o status social condicionam a possibilidades de encontros, de concretização de relações ou não, o ciberespaço pode ser o lugar privilegiado para quebra desses paradigmas, favorecendo a criação de novas formas de contato - a emergência de uma nova sociabilização. É importante ressaltar que a comunicação pela internet não substitui outras formas de relação, mas surge, sim, como mais um recurso de sociabilização, abalizados por pesquisadores que entendem o ciberespaço – na sociedade do século XXI - como terreno importante de comunicação e de interação social, espaço que cabe ao homem explorar em todas as suas potencialidades positivas. Os velhos já se deram conta da importância desse recurso e apropriam-se dessa ferramenta comunicando-se em salas de bate papo, criando blogs, relacionando-se no orkut, fazendo uso do correio eletrônico.

O velho está no ciberespaço, faz parte e integra as redes sociais na internet conectando-se com pessoas e forjando novos laços sociais, a partir de suas angústias existenciais.

Enquanto no filme Sob o sol de Toscana (direção e roteiro de Audrey Wells, baseado em livro de Frances Mayes) a ficção nos mostrava - como inusitado - uma personagem idosa que se comunicava por e-mail com seu namorado em outro país, hoje já é comum encontrar na mídia exemplos de personagens reais – embora ainda marcados por estereótipos e vistos como excepcionalidade e encarados como raridade – de velhos que fazem uso e estabelecem relações sociais pela Internet.

Um exemplo - que já ganhou o mundo e grande popularidade - é o de Maria Amélia Soliño, espanhola que aos 95 anos ganhou de seu neto – como presente de aniversário – um blog(9). Maria Amélia escreve muito e recebe comentários – aos seus posts – de todas as partes do mundo. Afirma que a Internet mudou sua vida e que hoje não poderia viver sem ela. Tornou-se figura iminente na Espanha, encontra-se com figuras importantes do cenário nacional - já foi recebida pelo primeiro-ministro socialista espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero – e é cortejada por partidos políticos. No seu espaço virtual, em vários momentos exorta outros velhos a criarem seus próprios blogs. Esse espaço social – em seu entender – pode ser uma alternativa ao isolamento a que alguns idosos estão sujeitos.

Seu blog remete o internauta também ao de outros velhos. Caso, por exemplo, de Olive Rilley – australiana falecida em meados de 2008 - que mantinha um blog de expressão individual(10) . Olive era considerada a blogueira mais velha do mundo com 108 anos.

Olive andava em cadeira de rodas, tinha postado em seu blog – seu amigo Mike digitava seus posts – inúmeros textos desde fevereiro de 2007 sobre a vida moderna e suas experiências no século XX. Comunicava-se através de seu blog com pessoas de todo o mundo e dizia que gostava da notoriedade que tinha adquirido porque lhe permitia manter a mente fresca.

Maria Amélia e Olive mantinham contato social na blogosfera(11) . Aqui - para ambas - o ciberespaço permitiu a ampliação dos seus espaços sociais. Além deste ser um admirável exemplo do acesso ao ciberespaço no cotidiano dos velhos – ou para pessoas com qualquer tipo de fragilidade - demonstra, também, como podem ser alteradas perspectivas de isolamento.

No Brasil não é diferente, basta uma pesquisa rápida na web para encontrarmos exemplos de velhos totalmente integrados a esse universo.

O escritor e jornalista Fernando Jorge(12) – 80 anos – declara-se encantado com o potencial para difusão de idéias da rede. Além de dois blogs Fernando Jorge mantém um site, uma comunidade no Orkut e utiliza o correio eletrônico com freqüência. Segundo Fernando, o blog ampliou seu universo de leitores, de amigos. Além disso, diz perceber na blogosfera uma possibilidade de intercâmbio, de troca de informações e fonte de pesquisa para suas obras.

Outro exemplo é a dona de casa Astrid(13). Casada, com filhos, encontrou na Internet a possibilidade de comunicar-se, criar um espaço para divulgar suas idéias e poesias de autores anônimos. Criadora de outros blogs, flogs e videologs, Astrid possui Orkut, utiliza MSN e correio eletrônico com a mesma desenvoltura que usa o telefone. Não descuida das reuniões familiares aos domingos, mas declara que considera a relação virtual mais “profunda” já que não interessa a raça, religião ou cor do outro com quem se relaciona.

6 - Algumas reflexões

Está claro que o a comunicação mediada pelo computador cria um novo espaço de e nova forma de sociabilidade, no entanto, ponto crucial é o momento histórico em que se estabelece esta discussão.

O processo de interação no espaço virtual da internet ainda é razoavelmente recente, levando-se em conta que a popularização da rede no Brasil deu-se a partir da década de 90, do século XX. Hoje, nesta sociedade que cultua a juventude e onde vigora uma série de práticas e preconceitos em relação ao velho, ele apropria-se – apesar dos entraves e dos estereótipos – desse novo espaço de relações de interações sociais e transforma-se em peça de resistência diante da sociedade que o percebe como incompetente e naturalmente distante desse ambiente.

O fato é que os velhos estão recusando-se a permanecer nos lugares que lhes foram definidos social e culturalmente. Não estão mais restritos à dimensão privada nem ao mundo material, o que é fundamental para serem vistos como cidadãos e seres autônomos. Apropriam-se de espaços públicos e virtuais que lhes dão visibilidade e sua presença nesses espaços – em qualquer instância - é essencial para trazer para a pauta de discussão as questões relacionadas à existência humana, especialmente a velhice, alterando paradigmas e percepções sobre o processo de envelhecimento e sobre o sujeito – o velho, até então relacionado a doenças, ou ainda apenas e tão somente a perdas e limitações.

Ao lançar um olhar que vincula a exploração do mundo virtual à reflexão sobre as relações que daí pode surgir - tendo-se como base as relações estudadas e compreendidas, até o momento, no ciberespaço - enfatizamos principalmente a qualidade das relações. Entendemos que o acesso e familiarização com as tecnologias informacionais fundem os velhos modelos de vida com os novos formatos de existência que estão sendo instaurados na nossa cultura.

A comunicação consciente [...] é o que faz a especificidade biológica da espécie humana. Como nossa prática é baseada na comunicação, e a Internet transforma o modo como nos comunicamos, nossas vidas são profundamente afetadas por essa nova tecnologia da comunicação. Por outro lado, ao usá-la de muitas maneiras, nós transformamos a própria Internet. Um novo padrão sociotécnico emerge dessa interação. (CASTELLS, 2003, p.10)


No ciberespaço outro atlas é resenhado. É desconstruída a noção convencional de espaço material como o conhecemos, no qual se rompe a noção do tempo da sucessão cronológica - compartimentado da modernidade – onde distâncias são transpostas em tempos “imediatos” e as relações se pautam pelo tempo da interação, definindo a construção de novas relações com o velho baseadas na existência humana. Acreditamos, como Serres (1997), que essas novas narrativas traçam um outro mapa-múndi que prepara o silêncio da saúde, seja pela democratização do conhecimento e consequentemente maior controle sobre o próprio corpo, seja pelos dos espaços sociais e terapêuticos instaurados na rede. Um mapa que cose, tece urde e desenha os entrelaçados e expansões do humano, uma vez que é constituído dos seres, dos corpos, das coisas e questões existenciais. As tecnologias comunicacionais nos oferecem oportunidades para cartografarmos a vida!

REFERÊNCIAS

* BEAUVOIR, Simone. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
* CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. 243p.
* CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2003.
* MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos e BEHRENS, Marilda. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. São Paulo: Papirus, 2000.
* REULE, Danielle Sandri. De máscaras e espetáculo: formas de construção do sujeito pós-moderno virtual. In Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 30. 2007. Anais do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação de 29 a 2 de setembro - Santos. CD Rom.
* SANTAELLA, Lucía. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.
* SANT’ANNA, Denise Bernuzi. Entre o corpo e os incorporais in Velhices: reflexões contemporâneas. São Paulo: SESCSP/PUC-SP, 2006, p.108
* SERRES, Michel. Atlas. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.
* SCLIAR, Moacyr. Escrever é terapia. Academia Brasileira de Letras. Disponível em http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from_info_index=11&infoid=7840&sid=613, acesso em 25/08/2008.
* TÓTORA, Silvana. Ética da vida e envelhecimento. CÔRTE, B., MERCADANTE, E., ARCURI, I. (orgs). O envelhecimento e velhice: um guia para a vida. Vol.II. São Paulo: Vetor Editora, 2006. p. 36-41.
* WAPNER, Jessica. O remédio é escrever: o valor terapêutico de criar blogs torna-se foco de estudo in Scientific American Brasil, São Paulo, v. 6, nº 74, p. 17, julho 2008.



NOTAS

^ 1Os dados apontam que de 2001 para 2002, o crescimento foi de 15,1% e de 2002 para 2003, de 11,4%, sendo que, entre os que tinham acesso à internet, o aumento nos dois períodos foi, respectivamente, de 23,5% e 14,5%. Disponível em http://www.ibge.gov.br

^ 2Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/informat/fr2611200314.htmv

^ 3 Disponível em http://www.inclusaodigital.gov.br/inclusao/noticia/pnad-2006-percentual-de-domicilios-com-computador-praticamente-dobrou-entre-2001-e-2006/. Acesso em 30 nov.2008

^ 4Disponível em http://www.cetic.br/, acesso em 25.mai.08

^ 5Disponível http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?storytopic=1642. Acesso em 18 dez. de 2007

^ 6Unesco, Um Mundo e Muitas Vozes – comunicação e informação na nossa época. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1983

^ 7Ver Força das ligações da Internet in Internet fortalece relações sociais, em http://www.bbcbrasil.com, acesso em 21.jul.2008

^ 8Cf. artigo intitulado “Internet muda perfil da saúde no Brasil”. Disponível em Saúde Business Web http://www.saudebusinessweb.com.br. Acesso em 04/9/2008.

^ 9http://amis95.blogspot.com/

^ 10http://www.allaboutolive.com.au/

^ 11Entendemos aqui como blogosfera à comunidade formada por quem constrói, disponibiliza, acompanha e lê conteúdos de blogs.

^ 12http://fernandojorge88.blog.terra.com.br/ fernandojorge88.blog.terra.com.br/

^ 13http://poemasepoesiasdeamor.blogspot.com

Fonte: Revista TEXTOS de la CiberSociedad
ISSN 1577-3760 · Número 16 · Monográfico: Internet, sistemas interativos e saúde

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Los buscadores de Internet ya son un “enemigo público” que complica a varios países

Publicado en: iProfessional
27/07/09
Por César Dergarabedian

Imagine el siguiente caso: necesita averiguar cuáles son los casos de corrupción en los que está involucrado el hijo de un gobernante del país donde vive. Va a la versión local de Google, el buscador más popular de Internet, y escribe los nombres de los protagonistas del caso: El apellido del funcionario y el de la empresa vinculada. Pero Google responde a la consulta con una página en blanco y una frase donde aclara que el contenido no puede ser mostrado por el régimen legal imperante en el país.

Este tipo de censura es cotidiano y mucho más estricto en una veintena de países en todo el mundo, y volvió a relucir la semana pasada en el caso del hijo del presidente de la mayor potencia de Asia. Las dictaduras, los gobiernos que ejercen la autoridad violando derechos humanos como la libertad de expresión, tienen su correlato en la Red.
El alcance de estas medidas afecta a parte de los 1.500 millones de usuarios de Internet que hay en el mundo. Para el año 2013 se estima que habrá 2.200 millones de usuarios, lo que supone un aumento del 45%. Un 43% de esos internautas se situarían en Asia y un 17% concretamente en China, según el último estudio publicado por Forrester.

Asia verá aumentar su importancia desde un 38% a un 43%, mientras que América del Norte no representará más del 13% de la población conectada y Europa el 22% (frente al 17% y el 26% respectivamente en 2008). Se espera que América Latina se mantenga alrededor del 11 por ciento.

A nivel nacional, China se llevará el primer puesto en 2013, con una tasa de crecimiento del 11% al año que dará 377,1 millones de usuarios de Internet; o lo que es lo mismo, el 17% de los internautas a nivel mundial el mundo.

No toquen al hijo del Presidente
Justamente, la máxima potencia asiática es escenario de uno de los principales esquemas de censura que impera en la Red. Los buscadores chinos, como la página local de Google, bloquearon la semana pasada las noticias sobre un caso de soborno en Namibia en el que está implicada una empresa que estuvo presidida por el hijo del presidente Hu Jintao.

Hu Haifeng es el ex director general de Nuctech, con sede en Pekín, un fabricante de escáneres de seguridad implicado en una investigación sobre un caso de corrupción en Namibia. Haifeng no es sospechoso en el caso, dijo Paulus Noa, director de la Comisión Anticorrupción del país africano. Los investigadores quieren hablar con Haifeng para conseguir información sobre la compañía, informó Noa.

Una búsqueda en la página en chino de Google de los caracteres “Hu Haifeng” y “Namibia” arrojó el siguiente mensaje en chino: “El resultado de la búsqueda podría implicar material no conforme con las leyes y regulaciones vigentes, es imposible mostrarlo”. Una búsqueda en chino en Google.com, dirección radicada fuera de China, ofrece 2.000 resultados.

En la foto inferior se puede apreciar la diferencia entre las dos búsquedas:

Las restricciones muestran hasta qué punto el Gobierno está tratando de contener las noticias relativas al caso, que podría ser embarazoso para el presidente Hu Jintao en un momento en está tomando medidas enérgicas contra la corrupción.

“La actividad de Google en todos los países del mundo debe acatar las leyes, regulaciones y directrices internas”, dijo Marsha Wang, portavoz de la compañía en Pekín. Por eso “algunos resultados de búsqueda no se muestran”.

Las búsquedas bloqueadas también muestran que compañías como Google se ven presionadas a seguir las instrucciones del Gobierno chino, señaló Rebecca MacKinnon, profesora de periodismo en la Universidad de Hong Kong que está escribiendo un libro sobre el control de China sobre Internet.

“Cuando se da una orden ellos no tienen otro recurso que seguirla”, explicó MacKinnon. “Mi impresión es que ellos responden a las órdenes. No tengo la impresión de que estén siendo proactivos en censurar”.

Dos representantes namibios y uno chino de Nuctech fueron arrestados la semana pasada después de que una comisión de investigadores concluyó que un pago de u$s12,8 millones a Nuctech por escáneres de seguridad se había hecho a una consultora, informó a principios de esta semana la agencia France Presse.

También el e-mail, Twitter y YouTube
Hacia fines de junio, la versión de Google en inglés y su correo Gmail sufrieron un bloqueo intermitente después de que el Gobierno chino acusara a la multinacional de difundir contenidos “pornográficos” de forma ilegal. “Hemos recibido numerosas denuncias de que el buscador Google en inglés tiene contenidos vulgares, pornográficos y lascivos, lo que viola gravemente las leyes de China y la autodisciplina del sector”, contestó el portavoz de turno de la cancillería, Qin Gang, al ser preguntado por si la “avería” de Google se debe a un bloqueo del Gobierno chino.

En rueda de prensa, el portavoz Qin explicó que “hace unos días nos reunimos con los responsables de la compañía y les ordenamos que llevaran a cabo un reajuste y eliminaran todos los contenidos negativos”. “La empresa de Internet Google tiene que cumplir con las leyes chinas, y con las medidas y multas decididas por los departamentos competentes de China de acuerdo con la ley”, agregó el portavoz, sin negar en ningún momento que el bloqueo sea una decisión de su Gobierno.

No se pudo acceder ni a Google ni Gmail en China mediante servidores proxy, lo que indicó que estas web fueron bloqueadas de forma central, un bloqueo efectivo incluso en mega ciudades como Shanghai.

A principios de junio el acceso a la popular red de microblogging Twitter y al correo electrónico de Hotmail fue bloqueado en toda China antes del 20º. aniversario de la matanza de Tiananmen, ocurrida el 4 de junio de 1989.

Mientras los profesionales chinos a menudo usan las herramientas de Internet, incluyendo Twitter, Hotmail y Facebook, la amplia mayoría de los chinos emplean servicios similares pero radicados en China que son cuidadosamente controlados en busca de cualquier contenido que sea considerado subversivo.

El acceso a YouTube, propiedad de Google, está bloqueado en China desde marzo, después de que grupos tibetanos colgasen material gráfico de la represión de las protestas de 2008.

Filtros en las computadoras
A estos bloqueos que vienen por el lado de las empresas y del software se sumarán en China los filtros instalados en las propias computadoras. El polémico “Dique Verde-Acompañante de la Juventud”, tal el nombre de un software destinado al control del contenido de Internet, especialmente la pornografía, será incluido en algunos equipos en China, a pesar de la decisión del Gobierno de retrasar la aplicación de instalación, informa la prensa de ese país.

Mediante un sofisticado sistema de inteligencia artificial, el “Dique Verde-Acompañante de la Juventud” filtra unilateralmente imágenes explícitas y lenguaje inapropiado, y bloquea el acceso a las páginas.

Cuando la medida se dio a conocer, un gran sector de la comunidad de internautas chinos planteó sus dudas sobre las verdaderas intenciones de este filtro, criticó su funcionamiento e incluso lo consideró un robo a los contribuyentes.

Con fuerza de ley
China no está sola en este mundo oscuro de las dictaduras de Internet. Irán aprobó a mediados de julio una ley para controlar las actividades delictivas en Internet. El régimen sostiene que de esta forma pretende reducir el número de delitos en la red y ofrecer a sus usuarios mayor seguridad.

La ley, ratificada por el Parlamento y aprobada por el Consejo de Guardianes, contempla distintos castigos a quien desarrolle actividades ilegales en el ciberespacio. En virtud del artículo sobre información secreta y privacidad, el individuo que facilite información privada sobre otra persona sin su consentimiento se enfrentará a penas de prisión o al pago de una multa.

Además, esta ley obliga a las empresas del sector a guardar todos los datos enviados y recibidos por sus usuarios hasta tres meses después de que éstos se hayan dado de baja. Por otro lado, se permitirá recopilar información privada cuando las autoridades consideren que de ello depende la seguridad nacional o cuando se cuente con el permiso de un tribunal.

Para acelerar su proceso de aplicación, las autoridades crearon un comité que definirá las actividades del ciberespacio contra las que es prioritario luchar. Esta decisión se adopta en medio de las protestas por los resultados de las elecciones celebradas en junio, que dieron la victoria al presidente, Mahmud Ahmadineyad, y cuyo principal vehículo ha sido Internet.

A fines de mayo, el ministerio iraní de Comunicación había bloqueado el acceso a Facebook apenas 24 horas después de que arrancara la campaña para las elecciones presidenciales del 12 de junio. El bloqueo afectó a los candidatos reformistas, quienes confiaban en la plataforma como una de sus bazas para atraer el voto, en especial de jóvenes y de mujeres.

Un país cercano a Irán, la ex república soviética de Kazajistán, aprobó en julio una ley que aumenta los controles en la Red. El presidente de este país, Nursultan Nazarbayev, firmó la norma que establece nuevos controles sobre Internet y que según la Organización para la Seguridad y la Cooperación en Europa (OSCE) instaurará medidas represivas en el país asiático.

La OSCE es un organismo intergubernamental de seguridad y vigilancia de los derechos humanos que Kazajistán presidirá el próximo año. La institución había instado a Nazarbayev a vetar el proyecto de ley porque permitiría a los tribunales locales bloquear sitios web, incluidos los extranjeros. Además, la nueva legislación clasifica a los blogs y los chats como medios de comunicación.

El gobierno del país centroasiático argumentó que la ley tiene por objeto impedir los disturbios y proteger los derechos de los ciudadanos. Nada que ver con el temor de que Internet se convierta en la herramienta preferida de los activistas de la oposición. Pero la realidad es que varios sitios web, incluyendo el servicio de blogs LiveJournal.com, son ya inaccesibles.

La ciudad de la censura
Birmania, otro país asiático gobernado por una dictadura, parece que irá más allá que China, Irán y Kazajistán. La nueva ciudad cibernética que construye la Junta Militar de Myanmar (el actual nombre de Birmania) será empleada por ésta para controlar todavía más los contenidos de Internet y acallar las voces de la oposición en la red, según denunció en mayo un medio disidente.

El diario digital The Irrawaddy informó que la versión birmana de Silicon Valley, como la calificó el régimen, servirá de centro de operaciones para los censores de cara a las elecciones del próximo año.

La ciudad cibernética de Yadanabon, que se levanta a imagen y semejanza de Ciberjaya en Malasia, será la sede de Hanthawaddy National Gateway, compañía a la que fue concedido el monopolio estatal para proveer servicios de Internet.

Hanthawaddy National Gateway es una filial de la china Alcatel Shanghai Bell Company y su socio local es Tay Za, uno de los empresarios más ricos de Birmania e íntimo amigo del jefe de la Junta Militar, general Than Shwe.

A finales de 2008, el régimen birmano sorprendió a muchos con el anuncio del proyecto de Yadanabon en un país donde apenas existe la alta tecnología, todavía se emplean teléfonos móviles analógicos y se empeña en permanecer aislado del resto del mundo.

La ciudad cibernética, en cuya construcción toman parte más de cien compañías de telecomunicaciones locales y extranjeras, se ubicará sobre un complejo de 4.000 hectáreas unos 70 kilómetros al este de Mandalay, la segunda ciudad más importante de la nación.

Un año antes de los comicios, las autoridades birmanas ya trabajan duro para controlar el flujo de información en la red para garantizar la victoria del partido oficial, y bloqueó Google y las cuentas de Gmail en los cibercafés de Rangún, la capital del país.

El Ministerio de Defensa birmano, a través de su departamento de guerra cibernética, ha desplegado a miles de funcionarios para peinar Internet en busca de opositores para impedir que suceda lo mismo que en 1990, cuando la Liga Nacional por la Democracia de la Nobel de la Paz Aung San Suu Kyi arrasó en las urnas. Los generales de Birmania, una dictadura militar desde 1962, nunca aceptaron esos resultados.

Otros enemigos de Internet
La organización Reporteros sin Fronteras (RSF) publicó en marzo una lista de los que denomina “doce enemigos de Internet” por el control y la censura que ejercen sobre la red y el acceso a ella desde sus respectivos territorios.

Se trata de Arabia Saudí, los ya mencionados Birmania, China e Irán, Corea del Norte, Cuba, Egipto, Uzbekistán, Siria, Túnez, Turkmenistán y Vietnam, quienes, según la organización, “han transformado sus redes en Intranet, impidiendo que los internautas accedan a informaciones que se consideran ‘indeseables’”.

“Todos esos países ponen de manifiesto no solo su capacidad para censurar la información, sino también la represión prácticamente sistematica de los internautas molestos", declaró la organización en su informe.

En el caso cubano, RSF afirma que, aunque los ciudadanos de la isla pueden utilizar conexiones a Internet en hoteles turísticos y consultar páginas extranjeras, “la red se encuentra estrechamente vigilada por la Agencia Cubana de Supervisión y Control”.

Este órgano, dependiente del Ministerio de Información, recordó la organización, “decide la concesión de licencias, los precios y las posibilidades de conexión” y en la isla “hay un único proveedor de acceso a Internet, ETEC SA, que alimenta una de las redes más restringidas del mundo”.

En cuanto a Arabia Saudí, RSF indicó que las autoridades no han hecho oficial la práctica del filtrado de sitios “pero han optado por reprimir a los bloggers que se manifiestan en contra de su moral, sea cual sea la reivindicación”.

Esta política, advierte RSF, “resulta muy disuasoria en un país que carece de código penal y detiene a los autores de 'contenidos que ofenden o violan los principios de la religión islámica y las normas sociales”.

El Gobierno chino “ostenta el liderazgo de la represión en Internet” y la organización advirtió que “con la mayor población de internautas del mundo, el juego de la censura es uno de los más indecentes del mundo”.