sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O 'lado negro' da internet cresce cada vez mais

A existência do chamado 'lado negro da internet' foi tema de discussão em um artigo do jornalista Andy Beckett, publicado nesta quinta-feira no jornal britânico The Guardian. Ainda não completamente identificado pelos pesquisadores, este dark side da internet inclui diversas plataformas paralelas, como o Freenet - software freeware criado no final dos anos 90 e que permite aos internautas realizarem, anonimamente, diversas atividades - o que acaba dando abrigo a muitos sites de pornografia infantil, grupos terroristas e trocas de vírus e malwares.

Definido de muitas formas metafóricas como "internet profunda", "internet negra", "internet invisível", esta "outra" internet se contrapõe à "a internet navegável", aquela que conhecemos por meio dos sites de buscas.

"Muitos usuários pensam que quando eles buscam no Google, por exemplo, estão vendo todos os sites existentes", afirma Anand Rajaraman, fundador do Kosmix, mecanismo de buscas na web. "Acredito que apenas uma pequena parte de toda a internet vem à tona com os mecanismos de busca. Não tenho certeza, para ser honesto, sobre o quão pequena é esta parte, mas posso dizer que a internet é, pelo menos, 500 vezes maior do que a web a que temos acesso", disse em declarações ao Guardian.

Michael Bergman, pesquisador americano e uma das maiores autoridades nesta "outra" internet, afirma que até hoje continua sem saber exatamente o que acontece do "outro lado". "Lembro de dizer para a minha equipe no final dos anos 90 que este lado desconhecido era provavelmente duas ou três vezes maior do que a internet regular", afirmou.

Mas, em 2001, um artigo publicado por Bergman e até hoje usado regularmente como fonte de informações, afirmava que "os mecanismos de busca na web procuram em apenas 0,03% de todos os sites existentes". Bergman escreveu, na ocasião, que a "internet profunda é a categoria de novas informações que mais cresce na internet".

Criar um mecanismo de buscas que alcance esta internet desconhecida é o objetivo de um grupo de pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos. "O problema é que não é viável, existem dados demais", explica a professora Juliana Freire, pesquisadora do projeto chamado "Deep Peep". Além da quantidade de dados, há também outros problemas. "Quando pesquisamos em alguns sites, somos bloqueados depois. É possível criar mecanismos que tornam impossível para qualquer um buscar nos seus dados", explica.

Esconder os dados na web pode ser uma estratégia comercial, mas os alvos dos pesquisadores são os criminosos que utilizam a rede. "Existe um conhecido grupo criminoso chamado Russian Business Network (RBN) e eles estão sempre rodando a internet, roubando endereços de sites que estão em desuso, enviando milhões de spams destes endereços e depois se desconectando rapidamente", explica Craig Labovitz, diretor da Arbor Networks, empresa de segurança na web.

A RBN também aluga sites temporários para outros criminosos realizarem atos como roubos de dados, pornografia infantil e distribuição de vírus de computadores. "No ano de 2000, este lado negro da internet era uma novidade. Hoje, é parte do cotidiano da rede", afirma Labovitz.

Sites de empresas extintas, erros técnicos e falhas, disputas entre servidores de internet, endereços abandonados no início da internet, entre outros, são fatores que deixam espaço para a exploração ilícita. "A internet nasceu em grande parte baseada na confiança", acredita Laibovitz.

Mas, o ideal de uma internet livre, que motivou o pesquisador irlandês Ian Clarke a criar o software Freenet no final dos anos 90, ainda tem muitos defensores, um deles, o próprio Clarke. "Pornografia infantil existe no Freenet, assim como existe em toda a internet. Poderíamos controlar esta pornografia, mas então deixaria de ser uma rede livre", afirma Clarke em declarações ao jornalista do Guardian.

O software foi lançado em 2000 e hoje possui milhões de usuários no mundo todo. Entre os sites abrigados pelo programa estão desde blogs de notícias sobre o Irã até guias sobre como explodir bombas e realizar ataques terroristas.

Diante deste mundo desconhecido, e que provavelmente "continuará a crescer por mais alguns anos", o jornalista britânico concluiu que prefere continuar "vagando pela web" por meio do Google, já que a "darknet não é um lugar para os mais sensíveis".

Fonte: Redação Terra.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ministério da Justiça propõe mais restrições na Internet

Por: Mário Coelho

Se depender da vontade do governo, a lei de crimes da internet será muito mais restritiva do que gostariam os senadores. Na minuta do projeto, o Ministério da Justiça quer que os provedores de acesso mantenham por três anos todos os dados de tráfego de seus usuários. Ou seja: que hora se conectou à internet, em que sites entrou e quanto tempo ficou.

O Congresso em Foco teve acesso ontem, com exclusividade, a um trecho da minuta elaborada pelo MJ. O texto modifica a redação do artigo 22 do substitutivo ao Projeto de Lei 84/99, elaborado pelo senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). É justamente essa parte da peça em tramitação na Câmara que tem causado polêmica entre internautas e sociedade civil, pois obriga os provedores de acesso a armazenarem os dados de conexão dos usuários.

Agora, o MJ, influenciado por setores da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), quer radicalizar. Pelo substitutivo do senador tucano, ficariam guardados os horários de log on (entrada) e log off (saída). Já na minuta do ministério, além de todos os dados de tráfego, os provedores seriam obrigados a registrar o nome completo, filiação e número de registro de pessoa física ou jurídica.

Além disso, ele acrescenta a possibilidade de, a partir de requisição do MP ou da polícia, que todos os dados sejam imediatamente preservados. Esse artigo foi construído especialmente para a PF, que já havia se manifestado favoravelmente à ideia. Em novembro do ano passado, durante audiência pública, o delegado federal Carlos Eduardo Sobral, da Unidade de Repressão a Crimes Cibernéticos da instituição, afirmou que era necessário acrescentar essa possibilidade à lei.

A minuta estabelece que os provedores de acesso devem ter a capacidade de coletar, armazenar e “disponibilizar dados informáticos para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”. Também prevê que, após o pedido do MP ou da polícia, os dados de navegação sejam entregues imediatamente mediante ordem judicial. “A impressão é que o ministério tem acatado várias sugestões da Polícia Federal”, diz o deputado Júlio Semeghini (PSDB-SP), relator do substitutivo na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informação (CTCI).

Quando houver solicitação do MP ou da polícia, os dados devem ser preservados por 30 dias, renováveis sucessivamente, desde que não ultrapassem três meses seguidos. Depois disso, os provedores podem destruir o material. O texto também coloca que os provedores precisam informar e conscientizar os usuários quanto a medidas e procedimentos de segurança.

Como o Congresso em Foco mostrou ontem (confira aqui), a intenção do MJ é apresentar o texto nas próximas semanas. O secretário de Assuntos Legislativos do ministério, Pedro Abramovay, é o responsável pela discussão do projeto, mas ontem não quis adiantar o teor do texto.

O site apurou que a pasta tem conversado com vários integrantes da sociedade civil e do meio acadêmico. Entretanto, excluiu da discussão boa parte dos parlamentares que cuidaram do projeto no Congresso.

Conteúdo

Ontem, os deputados Paulo Teixeira (PT-SP), que tem sido o interlocutor do governo com o Congresso na discussão, o relator Semeghini e o presidente da CTCI, Eduardo Gomes (PSDB-TO), participaram de uma reunião no MJ. Ao grupo foi apresentado trechos do que deve formar o projeto da pasta. Entre eles, a polêmica proposta de aumentar o controle dos usuários na rede mundial de computadores.

A redação estudada pelo MJ também contém, no parágrafo 4º, a previsão de aplicação das obrigações aos provedores de conteúdo. O PL que tramita na Câmara não tem essa determinação. A avaliação de pessoas que participam da discussão é que as redes sociais estão em perigo.

“Quem será atingido por este artigo? O Twitter, o Facebook, o Youtube e quase todo mundo que monta uma página na web”, afirmou o professor da Faculdade Cásper Líbero e membro do Movimento Software Livre, Sérgio Amadeu. Para ele, a proposta coloca todo usuário em suspeita dentro do que chama de um “estado de vigilantismo”.

O desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) Fernando Botelho se mostrou preocupado com as informações do projeto que se desenha no Ministério da Justiça. “Por mais polêmico que seja o substitutivo do [senador Eduardo] Azeredo, ele é coisa de escola infantil perto da ideia do Ministério”, disparou.

Outra proposta polêmica, e contraditória, é que os telecentros públicos – como a rede sem fio da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro – estariam fora das novas regras. Por exemplo, ao entrar em uma lan house, quem queira navegar na internet deveria apresentar a carteira de identidade e fazer um cadastro. Já à beira do mar, o usuário estaria livre para usar como bem entender. “Tenho certeza que, se for aprovado, o Supremo [Tribunal Federal] derruba”, comentou o professor da Cásper Líbero.

Trâmite

“A impressão que eu tive é que o governo pode mandar o projeto a qualquer momento”, relatou Semeghini. Entretanto, apesar da vontade do governo de apresentar um novo texto, o substitutivo continua tramitando na Câmara. O relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Régis de Oliveira (PSC-SP), já apresentou seu relatório pela aprovação.

Os outros dois relatores, Semeghini e Pinto Itamaraty (PSDB-MA), da Comissão de Segurança Pública, planejam apresentar seus pareceres até o fim de abril. “Nós recebemos uma série de sugestões que podemos acrescentar ao texto, mas faremos isso sem mudar o espírito do projeto do senador Azeredo”, disse Itamaraty ao Congresso em Foco.

Apesar de os dois deputados serem suplentes nas comissões, eles foram mantidos como relatores pelos presidentes. Semeghini, inclusive, propôs a realização de uma nova audiência pública para discutir o tema. Essa seria a terceira; o Senado e Câmara receberam uma cada.

Fonte: Congresso em Foco

Lula quer regular internet

Por: Mário Coelho


Presidente encomendou marco regulatório que definirá direitos e obrigações dos cidadãos na rede de computadores


Por determinação do presidente Lula, a internet brasileira terá um marco civil regulatório a partir do próximo ano. O projeto, ainda em fase de discussão com a sociedade, deve originar uma legislação que preveja direitos e deveres dos internautas no uso dos meios digitais. A proposta aborta de vez a intenção inicial do Ministério da Justiça (MJ) de criar uma lei altamente restritiva para a internet.

Até março deste ano, a Secretaria de Assuntos Legislativos do MJ trabalhava a minuta de um projeto que pretendia aumentar o rigor na identificação dos internautas, exigindo dos provedores de acesso dados como o número do RG e o nome dos pais de quem está atrás do computador durante toda a navegação. Como o Congresso em Foco mostrou em março, o objetivo, na época, era coibir a prática de crimes na rede.

A minuta do MJ foi considerada, na época, um retrocesso em relação ao Projeto de Lei 84/99, elaborado pelo senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Apelidado de “AI 5 digital”, a proposta do tucano tem enfrentado uma série de resistências de membros da sociedade civil e até mesmo dentro do parlamento. Aprovado no Senado, ele agora tramita na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informação (CTCI).

“A pressão popular gerou a demanda específica do presidente Lula”, afirmou o coordenador do projeto, Guilherme Alberto de Almeida, ao Congresso em Foco. Ele conta que a mobilização contra o projeto de crimes na internet fez o Palácio do Planalto mudar sua visão sobre o tema. A tese de um marco civil era, até então, defendida especialmente por professores do curso de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“Estamos buscando contribuições qualificadas”, disse o professor de direito da FGV Ronaldo Lemos, à Agência Estado. Ele explica que o próprio Ministério da Justiça moderará a discussão. Podem participar pessoas físicas ou instituições, que terão peso igual. “Ganha o debate quem melhor expor sua opinião.”

Em 26 de junho, Lula já havia dado a senha publicamente para a mudança de rumo da pasta. Ao participar do 10° Fórum Internacional Software Livre, em Porto Alegre (RS), o presidente afirmou que “no governo dele é proibido proibir”. Quando chegou ao local do encontro, Lula foi recebido por participantes do fórum com uma faixa pedindo o veto ao substitutivo de Azeredo.

“Essa lei que está aí, essa lei que está aí, não visa corrigir abuso de internet. Ela, na verdade, quer fazer censura. O que nós precisamos, quem sabe, é mudar o Código Civil, quem sabe seja mudar qualquer coisa. O que nós precisamos é responsabilizar as pessoas que trabalham com a questão digital, com a internet. É responsabilizar, mas não proibir ou condenar”, disse Lula no Fórum.

Em 29 de outubro, o MJ lançou um blog para começar a discussão sobre o tema. O debate ocorre tanto virtualmente, pela rede de computadores, quanto em reuniões em diversas cidades. Na última sexta-feira (20), por exemplo, parlamentares, professores e membros do Ministério Público discutiram a elaboração da nova legislação. “Na consulta em São Paulo, estava toda a comunidade. Representantes dos ministérios da Cultura e da Justiça discutiram os direitos do cidadão na internet”, afirmou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que participou do evento.

Polêmicas

Dois temas, até agora, têm monopolizado o debate. A guarda dos logs – registros de entrada e saída dos usuários na rede – e o direito à privacidade são as questões mais sensíveis e que devem exigir muita conversa e negociação entre as partes. “Nesse momento, queremos mais ouvir do que escrever”, disse Guilherme Almeida.

No projeto que tramita na Câmara e na proposta abortada pelo ministério, provedores seriam obrigados a guardar todos os registros de conexão de seus usuários – hórário de log on e log off – em seus arquivos. A do MJ ia além. Para combater práticas criminosas na internet, a proposta era aumentar a vigilância sobre os internautas.

O coordenador do projeto adianta que a intenção é enviar o texto ao Congresso até março do ano que vem. Apesar de afirmar que a discussão vai ditar os prazos, trabalha com 17 de dezembro para encerrar a primeira fase de debates. Com o recesso de fim de ano, a ideia é elaborar uma minuta e coloca-la no blog para discussão em janeiro. Feitas novas sugestões, aí sim ele estaria pronto para o debate final pelos parlamentares.

Mas, enquanto o projeto não é enviado ao Congresso, o PL de Azeredo continua tramitando. Para o deputado Paulo Teixeira, “ele já caducou”. “Ele perdeu o timming pelo número de matérias que ele quis incorporar. Acabou perdendo a força”, opinou.

Mas ele adianta que pelo menos quatro artigos devem ser aproveitados por ele e pelo deputado Julio Semeghini (PSDB-SP), relator da matéria na CTCI. Entre eles, o roubo de senhas e a invasão e destruição de redes internas. O que restou do projeto deve virar um projeto à parte.

Além disso, o governo ainda não decidiu como vai enviar o texto do marco civil para apreciação dos parlamentares. Existe a possibilidade de ser um projeto de lei do Executivo. Ou, até mesmo, de a autoria ser compartilhada por Teixeira e Semeghini.

FOnte: Congresso em Foco - 24/11/2009

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

3º Simpósio Internacional de Cultura e Comunicação na América Latina

De 29/3/2010 a 31/3/2010

O 3º Simpósio Internacional de Cultura e Comunicação na América Latina – “Integrar para além do mercado” será realizado entre os dias 29 e 31 de março de 2010, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

O evento, organizado pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc), tem o objetivo de reunir pesquisadores, docentes, estudantes e acadêmicos em geral, para discutir as perspectivas de integração da América Latina no âmbito da cultura e comunicação.

A conferência inaugural, sobre o tema “Perspectivas de Integração da América Latina”, reunirá Margarita Lopez Maya, da Universidade Central da Venezuela, e Emir Sader, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), sob a coordenação de Nazareth Ferreira, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

A programação inclui grupos de trabalho sobre os temas “América Latina, Globalização e Cultura”, “Indústria Cultural na América Latina e Políticas Culturais” e “Experiências de Mídia Alternativa e Cultura na América Latina”, além de mesas-redondas sobre temas como “Produção Cultural - O Papel do Estado e Ação do Capital” e “Mídia e Culturas Alternativas”, com participação de especialistas de vários países e instituições.

De acordo com os organizadores, o avanço das discussões no contexto da geopolítica regional da integração do continente demanda o aprofundamento dessa temática, tendo em vista incentivar mudanças no cenário das indústrias culturais continentais, influenciar as políticas culturais na região e aumentar a visibilidade da temática da diversidade cultural.

A Fundação Memorial da América Latina, a Television América Latina e o Programa Integração da América Latina (Prolam) da USP participam também da organização do simpósio.

Mais informações

POr: Agência FAPESP

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Novas formas de aprender

POr: Fábio Reynol


Todas as terças-feiras, cerca de 30 agentes da Prefeitura Municipal de Pedreira (SP) se reúnem para aprender a lidar com novas tecnologias e partilhar registros de visitas e entrevistas feitas com a população da cidade.

O encontro faz parte do projeto de doutorado de Carla Lopes Rodrigues, bolsista da FAPESP, vencedor da primeira edição do Prêmio Instituto Claro – Novas formas de aprender, que será entregue em cerimônia nesta quarta-feira (11/11).

Orientado pelo professor José Armando Valente, do programa de Pós-graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o trabalho de Carla avalia a aplicação de recursos audiovisuais como ferramentas de apoio em programas sociais envolvendo saúde e educação.

Munidos de câmeras fotográficas e de vídeo e gravadores digitais, os agentes fazem entrevistas com a população e registram as visitas às residências. O material é avaliado em reuniões com médicos e outros profissionais de saúde, que discutem as demandas e necessidades locais bem como a melhor maneira de atendê-las. Para isso, o programa tem parceria com o Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

“Além de debater soluções para essas demandas, o projeto trabalha a inclusão social”, ressaltou Carla, salientando que antes do programa apenas três desses agentes públicos tinham e-mail. Hoje, além de terem endereço eletrônico, todos são periodicamente treinados nos usos de equipamentos multimídia.

O trabalho também propõe soluções tecnológicas para determinados problemas. “Um jogo eletrônico, por exemplo, pode ajudar na educação de jovens sobre gravidez na adolescência”, indicou. O objetivo é promover a inclusão digital e testá-la como ferramenta para identificação de problemas e de auxílio a soluções.

A iniciativa faz parte da Vila na Rede, que integra o projeto E-Cidadania, uma nova proposta de rede social on-line em desenvolvimento no âmbito do Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research.

As reuniões, parte presenciais, parte virtuais, contam com um telecentro montado na cidade de Pedreira ligado à rede KyaTera, desenvolvida no Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia) da FAPESP.

Nessa primeira versão, o Prêmio Instituto Claro recebeu 1.365 inscrições em três categorias: Vivência, Desenvolvimento e Pesquisa, esta última dividida em dois subgrupos “Graduação/Curso técnico” e “Pós-graduação” da qual Carla foi a vencedora. Thomas Eduardo Schiffino de Oliveira, aluno da Universidade Federal do Mato Grosso, foi o vencedor na categoria “Graduação”.

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fONTE Agência FAPESP

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A DIMENSÃO SOCIOESPACIAL DO CIBERESPAÇO: UMA NOTA

Por: Carlos Alberto F. da Silva
Michéle Tancman Candido da Silva

A velocidade da mídia eletrônica altera o campo dos conceitos e introduz uma nova forma de experienciar o tempo e o espaço, aqui tratada como ciberespaço. Ela se relaciona a uma geograficidade determinda pelo processo de desencaixe, entendido como o deslocamento das relações sociais dos contextos locais de interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço, promovido pela telemática.



1) Introdução

Nas três últimas décadas, a Geografia tem sido marcada por uma forma peculiar de operacionalizar a complexidade da sociedade. Da prática humana emergiu o modo materialista de analisar o objeto de estudo do geógrafo. A influência marxista acredita ser necessário pensar as relações sociais em termos de suas conexões com o tempo e o espaço.

A concepção materialista e dialética concebe o tempo e espaço como formas peculiares da existência da matéria em movimento. Desse modo, a materialidade social só existe no tempo e no espaço. A matéria em movimento é a base de tudo que existe no mundo. Ela é também a realidade objetiva, existindo fora de nossa consciência e nela se reflete. Há uma impossibilidade da existência do tempo sem o espaço. Os dois estão ligados aos aspectos de sua coexistência e mutação.

A desenfreada aceleração tecnológica deste final de século tem procurado alterar essa concepção materialista do espaço, a partir de uma “queima do espaço e da experiência de um tempo em intensificação”. É o que Harvey (1993) chama de compressão espaço-temporal. A velocidade dos media eletrônicos instaura uma nova forma de experienciar o tempo, substituindo a noção de tempo-duração por tempo-velocidade e a instantaneidade das relações sociais. O tempo advindo das novas tecnologias eletrônico-comunicacionais é marcado pela presentificação, ou seja, pela interatividade on-line, fato constatado nas tecnologias de telepresença em tempo real que alteram nosso sentido cultural de tempo e espaço.

Na verdade, há toda uma falácia de que o espaço geográfico, enquanto expressão material das práticas sociais no seu contínuo movimento de transformação, perde importância diante da revolução da telemática. Alguns autores sugerem o fim da geografia, afirmando que se toda prática social é acompanhada por uma grafia deixada no espaço, o domínio das relações sociais via imagens em tempo real tende a abolir o espaço. Entretanto, a concepção materialista da sociedade sugere a impossibilidade de existência do tempo sem o espaço e a matéria em movimento. Acreditamos que qualquer alteração nos sistemas de interação social será sempre precedida por uma materialidade espaço-temporal representativa de um movimento de mutação e permanência de uma forma específica de sociabilidade.

É neste sentido que entendemos o ciberespaço. Para nós, o ciberespaço é uma dimensão da sociedade em rede, onde os fluxos definem novas formas de relações sociais. Ao contrário do censo comum em torno do aniquilamento do espaço pelo tempo, parece-nos que, tal como afirma Castells (1999, p.490), é o espaço material que organiza o tempo, “estruturando a temporalidade em lógicas diferentes e até contraditórias de acordo com a dinâmica socioespacial”. Entretanto, se o espaço material organiza o tempo, a emergência de um tempo-real das redes comunicacionais colabora para uma sensação de aniquilamento do espaço pelo tempo, na forma de um espaço virtual. De um modo geral, podemos dizer que o tempo-real também implica a organização de novas relações sociais que se expressam na formação de um espaço virtual e na reestruturação do espaço concreto preexistente, provocando intenso processo de inclusão e exclusão de lugares e pessoas na rede.

Neste estudo, o ciberespaço será analisado enquanto um conjunto de diversas redes comunicacionais informatizadas, tais como a Internet, Kidsphre, Zamir etc. O espaço de fluxos de imagem, som, informação e de socialidade definido pelo ciberespaço expressa uma “organização material das práticas sociais de tempo compartilhado que funciona por meio de fluxos” (Castells, p.436). Cabe apenas lembrar que tais redes não estão somente no espaço de fluxos. De acordo com Levy (1993, p.26), elas constituem o próprio espaço.

Se o ciberespaço é parte integrante da sociedade contemporânea, logo é uma realidade que a Geografia deve buscar compreender, enquanto uma nova forma de materialização dos avanços da sociedade capitalista. Neste sentido, o artigo em tela procura dar uma contribuição acadêmica, ao responder a seguinte questão: Qual é a geograficidade do ciberespaço, visto que o espaço geográfico é normalmente entendido como uma forma territorial de organização material da sociedade? Para tanto, a análise estará assentada nas discussões teóricas sobre a cidade real e cidade eletrônica enquanto expressão de uma nova totalidade social imposta pelas tecnologias comunicacionais. No final, buscaremos elucidar alguns aspectos do ordenamento implícito nas cidades eletrônicas como extensão virtual da cidade concreta e real. Enfim, não pretendemos alcançar uma resposta conclusiva sobre o tema, e sim possibilitar a abertura de um canal de discussão sobre a temática proposta.



2) A Geograficidade do Ciberespaço



Giddens (1994) ao analisar as conseqüências da modernidade, no final do século XX, apresenta um conceito importante para nossa análise. Para ele, os avanços tecnológicos da sociedade moderna têm permitido um distanciamento progressivo dos indivíduos de suas referências de tempo e espaço, chamado de “desencaixe”. Hoje em dia, na rede telemática, o tempo tem se esvaziado e perdido, cada vez mais, relação com a experiência prática da vida dos homens num determinado lugar. O espaço concreto cria seu oposto, o espaço virtual, e novas formas de contatos interpessoais. Baseado nestas concepções de tempo e espaço, o desencaixe seria o deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de extensões indefinidas de tempo-espaço. Daí emerge o que denominamos de ciberespaço, isto é, um dos processos contemporâneos de desencaixe, promovido pela telemática.

Quando se fala em ciberespaço é comum pensar em algo que não nos é palpável, imaterial, um lugar distante de nossa realidade, onde relações sociais, culturais, econômicas ao se estabelecerem se fazem no imaginário, “algo de outro mundo”, um ambiente futurístico, um divertido desenho animado dos Jetsons. Essa é uma visão idealista do tempo e do espaço. Algumas tentativas de explicar o ciberespaço esbarram numa postura idealista, com todos os seus matizes, ou seja, procuram negar a realidade objetiva do espaço como forma de existência da matéria.

Um dos principais filósofos idealistas, partidário de uma concepção subjetiva do espaço e do tempo foi Emanuel Kant. Para ele, tempo e espaço eram duas formas de representação sensitiva, ou seja, uma forma de contemplação dos sentidos. No entanto, o ciberespaço não é somente uma sucessão de imagens e sensações experienciadas pelo indivíduo que teleinterage com a máquina, a fim de manter contatos com um “mundo mágico”, é também uma nova expressão material dos avanços da sociedade contemporânea.

Mas que mundo é este que muda a nossa noção de tempo e espaço?

Willian Gibson (1991), em seu livro “Neuromancer”, foi o primeiro autor a utilizar o termo para designar este ambiente artificial, onde dados e relações sociais trafegam (ou navegam?) indiscriminadamente. Para ele, o conceito de ciberespaço é o de um espaço não físico ou territorial no qual uma alucinação consensual pode ser experimentada diariamente pelos usuários. O ciberespaço é a “MATRIX”, uma região abstrata invisível que permite a circulação de informações na forma de imagens, sons, textos etc. Este espaço virtual está em vias de globalização planetária e já constitui um espaço social de trocas simbólicas entre pessoas dos mais diversos locais do planeta.

Cabe lembrar que a dinâmica imaterial do ciberespaço é apoiada no avanço das forças produtivas do sistema capitalista, na sua busca incessante de aumentar a velocidade de rotação do capital e das transações mercantis e financeiras em escala planetária e é também resultante das tecnologias voltadas para a Guerra, como a Internet. Para tanto, todo um investimento em tecnologia de informação se apresenta. As grafias deixadas pelas técnicas no atual estágio de produção social do espaço se expressam nos sistemas de satélites, cabos de fibra ótica, teleportos, rede de computadores com inovações constantes em softwares, hardwares etc.

Atualmente, o ciberespaço pode ser compreendido a partir de duas perspectivas: 1) como via expressa de informação através da conexão de computadores em rede e 2) como realidade virtual”.

Para que se possa ter acesso à via expressa de informação, é necessário que sejam estabelecidas as “condições ambientais” do ciberespaço. O ambiente construído é a expressão material que permite conexão com um novo sistema de relações sociais. Tais condições só nos é possível a partir de um arranjo espacial que inclui o computador, monitor, teclado, mouse, linha telefônica, provedor de acesso, redes telemáticas e outros meios eletrônicos capazes de nos conectar com o ciberespaço. Estas formas estáticas, aos quais estamos fisicamente ligados, nos transportam, através da virtualidade, para um mundo onde prevalecem as nossas sensações. A experiência de tempo e espaço não existe “nas coisas visíveis do ciberespaço”, mas sim aparecem somente na zona do subjetivo. Desse modo, o ciberespaço é uma veleidade, no sentido de abrir alguma possibilidade de enfoque idealista da materialidade social da sociedade moderna.

Para que possamos prosseguir se faz necessário esclarecer o que entendemos por “realidade virtual”. Trata-se, claramente de uma revolução. Uma alteração radical na forma de conceber o tempo e o espaço, e mesmo os relacionamentos. Segundo Pierre Levy (1996, p.16),” o virtual não se opõe ao real e sua efetivação material, mas sim ao atual”. Filosoficamente, o virtual é entendido como o que existe em potência e não em ato. O virtual é extensão do real, ou seja, é um real latente. As imagens virtuais fazem mediação da realidade. O tempo instantâneo e espaço virtual são os novos vetores que se inserem e se articulam ao ambiente construído pela sociedade em rede telemática.

O ciberespaço é, então, um ambiente que permite inúmeras possibilidades do mundo real. O mundo virtual caracteriza-se não propriamente pela representação, mas pela simulação. Esta simulação é ,na verdade, apenas uma das possibilidades do exercício do real. Desse modo, podemos afirmar que o ciberespaço não está desconectado da realidade.

No ciberespaço o espaço de fluxos realiza um processo de desmaterialização das relações sociais conectadas em rede. O que antes era concreto, palpável e material adquire uma dimensão imaterial na forma de impulsos eletrônicos. Ao mergulhar no ambiente do ciberespaço, o usuário experimenta uma sensação de “abolição do espaço” e circula em um território transnacional, desterritorializado, no qual as referências de lugar e caminhos que ele percorre para se deslocar de qualquer ponto a outro modificam-se substancialmente.

Na rede do ciberespaço surgem pontos de fixação de relações sociais acessados por uma chave eletrônica. Quando enviamos uma correspondência por e-mail, ou visitamos um determinado site ou link, desconhecemos o caminho ou rota pelo qual se realiza o encontro. A guisa de exemplificação, podemos dizer que ao enviar um e-mail do Rio de Janeiro para Niterói, não sabemos qual é a infovia percorrida. Não podemos descrever a paisagem pela qual a comunicação percorre. Os provedores de acesso são inúmeros, podemos até imaginar que para sair do Rio de Janeiro e chegar a Niterói o percurso possa ser via São Paulo. Logo, as referências de lugar desaparecem.

Estamos, então, diante do debate entre lugar e “não-lugar” (Marcondes Filho: 1996, p.146-7). O lugar normalmente é associado a uma materialidade definida por relações simbólicas, míticas, identitárias e históricas do grupo social que ali reside. O não-lugar, por sua vez, seria marcado por uma relação com o espaço sem tais pressupostos (Augé:1994, p.73-77). Como exemplo de não-lugar, Augé inclui os lugares de passagens, de não fixação e da ausência de identidade sentida pelas pessoas que os freqüentam, tais como os aeroportos, shopping-centers, auto-estradas etc[3]. No ciberespaço, o não-lugar é caracterizado como passagem e momento de fixação de uma consciência individual e solitária assentada em relações identitárias que o usuário da rede constrói, em sua memória, diante da tela do computador e dos movimentos de imagens aí registrados. Esse lugar, que propomos chamar de “lugar virtual”, diverge da definição de Augé, pois na rede é possível uma relação de convivência de pessoas, produzindo identidades expressas nas tribos eletrônicas. Temos, portanto, um novo referencial do espaço vivido enquanto produto das relações humanas mediatizadas pela revolução telemática, impondo novas formas de pertencimento destituída da materialidade dos lugares, tal qual até então concebemos. Ou seja, na rede o indivíduo pode pertencer a um lugar que não existe, já que este se apresenta como simulacro.

Embora possa ser esvaziado de afetividade e sem história, esse “lugar” dá sentido a um tipo de relação social através de uma localização virtual cujo acesso é via chave eletrônica, ou seja, de um endereço (www, @, FTP, ICQ, etc) que identifique o domínio de onde o usuário está inserido. De acordo com Cardoso (1997), tal conexão difere do uso de um telefone ou fax, visto que na localização virtual as locações são materialmente indeterminadas.

As características do “lugar virtual” residem na territorialidade, imaterialidade, tempo-real e interatividade. Tais aspectos possibilitam relações sociais simultâneas e acesso imediato a qualquer parte do mundo, inaugurando uma nova percepção do tempo e das relações sociais.

É no anonimato do “lugar virtual” que se experimenta solitariamente uma nova sociabilidade. O viajante pode caminhar por diversas infovias até encontrar o grupo ou tribo que mais se assemelha, ou informações. Ao encontrar sua tribo, o indivíduo fixa-se neste endereço eletrônico e passa a experienciar e compartilhar de um lugar simbólico e marcado por relações de pertencimento de caráter ideológico, afetivo, sexual ou racial.

Por que o ciberespaço tem atraído tanto info-sociedade, ou seja, os grupos de pessoas conectadas em redes de comunicação via telemática? Acreditamos que as comunidades virtuais estão atreladas a uma nova efervescência social construída a partir do anonimato. No ciberespaço, as pessoas são capazes de interagir sem, no entanto, necessitar divulgar sua identidade. É possível adquirir múltiplas faces, utilizar diferentes máscaras, e revelar os seus desejos mais íntimos. Ser o que gostaria de ser no “mundo real” e o que não é devido às leis sociais.

Logo, o ciberespaço possibilita a emergência de uma socialidade que se contrapõe a uma sociabilidade do mundo real. Para Michel Maffesoli (1984), a socialidade é um conjunto de práticas quotidianas que escapam ao controle social rígido e, ao mesmo tempo, um verdadeiro substrato de toda vida em sociedade. De acordo com Lemos (1998, p.2), a socialidade do ciberepaço é uma forma de contracultura. Diversas tribos eletrônicas buscam uma maneira não convencional de ser ou pertencer a um imaginário coletivo no qual as pessoas compartilham suas ideologias, fantasias e anarquias. Este imaginário coletivo pode tomar diferentes formas e criar grandes movimentos de massa com uma força capaz de definir revoluções políticas e econômicas a ponto de interferir diretamente na realidade de um espaço concreto, real. Como exemplo, podemos citar os grupos de hackers que atacam sistemas de defesa e financeiros e a formação de grupos de solidariedade que buscam interferir em diversos momentos da vida política e econômica de um país em escala global, bem como defender apoio às diversas territorialidades como as dos seringueiros e índios da Amazônia brasileira. A sociabilidade, por sua vez, caracteriza-se por relações institucionalizadas e formais de uma sociedade, isto é, uma maneira convencional de “estar em sociedade”, de pertencer a uma determinada sociedade (Maffesoli, 1984). A comunicação entre os integrantes de um grupo de pessoas reside na utilização de um conjunto de simbologias pré-determinadas. As relações de sociabilidade, às vezes, retrata um “ser” artificial, estereotipado enquanto a socialidade retrata o ser como ele é.

A socialidade eletrônica incide diretamente na pós-modernidade, provocando uma transformação do caráter social em função dos novos tempos e uma nova agregação social. É nela que os valores tribais se socializam e crescem para o conjunto do corpo social; é uma identificação e união das “consciências iguais”, criando uma solidariedade e cumplicidade. A tribo envolve um caráter ativista, de uma sociabilidade perdida. Muitas das tribos existentes no ciberespaço são grupos de minorias no mundo real, que devido à exclusão social, se sentem renegados a uma falsa identidade na sociedade formal. O isolamento do mundo real via Internet encontra compensação e reforços nas infinitas possibilidades de trocas e de interações em diferentes níveis nas comunidades virtuais. Não se pode dizer que o computador isola o indivíduo, muito pelo contrário ele permite toda essa inserção no mundo virtual. Desse modo, muitas tribos têm sido criadas, algumas bem conhecidas como os Pherakes (piratas do telefone), os Hackers (a elite da informática), os crackers (Cyberpunks – a versão negra dos Hackers), os Ravers e Zippies (herdeiros da contra-cultura dos anos 70), estes últimos particularmente interessantes porque utilizam o que os seus primos hippies deixaram de lado como inimigo: a tecnologia. Os ciber-rebeldes expressam todo o seu cotidiano utilizando formas de descarregar um vitalismo, para melhor ou para pior, e, ultimamente, há tribos que disseminam pedofilia, neo-nazismo, anarquismos, homossexualismo, terrorismo, tráfego de drogas, ONGs, ajuda comunitária etc.

A socialidade eletrônica simula a via do real e caracteriza-se pela inexistência do face-a-face, permitindo mais fôlego para que a sociedade possa investir na sua individualidade. A sua existência deixa marcas no nosso cotidiano e no local onde vivemos. Os usuários da rede estão modificando os seus hábitos pessoais e a forma de interação com a cidade onde mora. Segundo Virilio (1993), a velocidade na rede é igual ao divórcio social e a tendência na cidade real é dessocializar, provocando uma diminuição do universo socializante real. Fica claro então que na rede a sociabilidade se transfere, se desenraíza do solo para virar uma socialidade eletrônica que não utiliza diretamente o espaço concreto. O social que sempre foi vinculado a um território, a um espaço onde as pessoas se localizam, pode passar a um campo abstrato (não-lugar, chave eletrônica) mas que se reveste de uma forma concreta na vida das pessoas.

É neste espaço que encontramos pluralidade e complexidade. É visível que os ideais da modernidade estão dando vazão a valores alternativos. Além do anonimato, busca-se no ciberespaço um grande desejo de não estar só. Esta possibilidade real do ciberespaço também está associada, além de muitos outros fatores, ao medo da violência urbana, à possibilidade de encurtamento das distâncias, ao poder “estar” em diversos “locais” ao mesmo tempo, desafiando qualquer lei da física conhecida por nós até hoje.

É importante também mencionar que no cotidiano de uma cidade, as pessoas não têm tanta disponibilidade de se dedicar a uma conversa de alguns minutos face a face. É cada vez menos possível dispor de tempo para investir em relacionamento futuro. No ciberespaço acontece o contrário. Quando entramos num bate-papo na rede dedicamos integralmente o nosso tempo frente a tela do computador e aos nossos relacionamentos virtuais, às nossas tribos.

De acordo com Levy (1996), o ciberespaço é um meio onde será possível se consolidar a tecnodemocracia, ou seja, uma nova formação política onde a tecnologia da eletrônica tornará viável o desenvolvimento de comunidades inteligentes capazes de se autogerir. A autogestão estará ligada aos grupos que se formariam através das preferências individuais, dando origem a territórios imaterializados. O grande perigo é que, atualmente, existe um pequeno grupo de pessoas privilegiadas que detém a “senha de acesso” à tecnologia de informação. Logo, o ciberespaço faz surgir sociedades marginalizadas, os info-excluídos. A era tecnológica cria ou recria uma nova divisão social, uma redistribuição de saberes, poderes, dois mundos que se separam de acordo com a participação ou não na telemática.



3) O ordenamento das telecidades no ciberespaço



A análise da sociedade moderna até aqui desenvolvida sugere que estamos diante de um nova forma de produção social do espaço. Curioso é que a concepção materialista da geograficidade, deste final de século, apresenta um sistema de relações sociais, expressas no ciberespaço, no qual o tempo real-instantâneo é um tempo sem tempo e a nova cotidianidade é destituída de espaço e matéria. A imagem-fluxo, a presentificação, a realidade virtual e as diversas possibilidades de comunicação on-line sugerem um novo ambiente, que alguns chamam de cidade eletrônica ou cidade digital, derivada das redes comunicacionais e informáticas.

Tais redes são o suporte estrutural para a duplicação da cidade real nas redes, a que Virilio (1993) chamou de telecidades. A cidade eletrônica é resultado de um conjunto de máquinas que interagem simultaneamente via rede de informática (internet, por exemplo), provocando um esvaziamento do espaço urbano e um investimento no tempo. Mas é, antes de tudo, não um lugar, e sim um processo caracterizado pelo predomínio do espaço de fluxos (Castells, 1999, p.423). Apesar de a economia e das relações sociais se processarem, majoritariamente, nas cidades reais (a produção, as trocas e a cultura de massa), cada vez mais, temos a expansão de uma “cidade eletrônica” colocada pelas redes. Isso porque a telecidade incrementa a materialidade da economia capitalista via redes e sistemas interativos diversos. Logo, as redes e as telecidades possibilitam, não só uma desterritorialização da sociabilidade, mas também uma desmaterialização de processos capitalistas de produção, circulação e consumo.

A estrutura organizacional desta cidade lembra um rizoma, ou seja, uma multiplicidade de conexões sem sujeito e objeto. Os rizomas se ramificam e se reticulam, num intenso processo de desterritorialização e reterritorialização das relações sociais (Guattari e Deleuze, 1982). Isso porque, a cidade digital é um corredor de movimentação de informações e imagens que demanda organizar zonas de fixação. De acordo com Levy (1996, p.152), “o deslocamento não elimina a fixação: ele a setoriza, codifica, tornando-a dispersa, internamente fragmentada”. A concepção desta cidade formada por rede de fluxos possibilita vislumbrar um ordenamento da imaterialidade das relações sociais. A análise desta cidade implica uma concepção de espaço deslocada do movimento de matérias (átomos) e do tempo-duração.

De acordo com Silva (1998), a materialização da cidade digital é um simulacro, não é cópia de nada. Ele afirma que a cidade eletrônica é um “simulacro do espaço, mas é espaço”. Entendemos que esta definição só pode ser compreendida a partir de uma concepção materialista das transformações estruturais por que passa a sociedade, em face do paradigma da velocidade, da supressão do espaço-tempo e da interatividade absoluta entre as pessoas através das infovias. O simulacro da cidade digital só pode ser espaço, no sentido de estar calcado numa realidade objetiva e material. O que ocorre no ciberespaço é apenas uma potencialização das relações sociais na forma de um simulacro de cidade. No entanto, para se vivenciar uma realidade virtual deslocada da geografia é necessário um espaço material e mutável. A realidade virtual que se apresenta no ciberespaço não é somente fruto de contemplação sensorial das imagens e troca de informações, mas antes de tudo, uma forma objetiva de ser da nova materialidade do arranjo social em redes comunicacionais.

Enfim, os avanços nas forças produtivas sob a égide do capitalismo sugerem maiores investimentos na velocidade como vetor de uma nova cultura e a implantação de um ciberespaço, ou cidade eletrônica, onde a geografia, ou seja, os grafias deixadas pelas relações sociais desaparecem, pois não são mais materiais, articulando-se e dinamizando-se em redes rizomáticas. Por outro lado, os investimentos no tempo (teleporto, cabos de fibra ótica, satélites, etc) têm sido acompanhados por desinvestimento do Estado na dimensão do espaço físico-social da cidade (melhorias nos sistemas de transporte, hospitais, escolas, etc).

Paul Virilio (1993) afirma que à medida que as tecnologias de comunicação estão cada vez mais velozes e ligadas ao tempo real, destroem-se as geograficas, obliterando-se os territórios através de uma transferência do espaço real das cidades e dos territórios para as imagens, ou seja, para a tela dos computadores.

Apesar das considerações de Virilio, enfatizamos que mesmo sem ser um espaço material, a cidade eletrônica é parte integrante da concepção materialista da sociedade contemporânea conectada nas infovias. Entender o domínio das técnicas de criação de novos sistemas de relações sociais, e desses novos espaços, é abrir um verdadeiro leque das aplicações possíveis para a Geografia, já que o fim da geografia é uma veleidade.





4- Para não concluir



A dinâmica da cidade eletrônica implica um ordenamento complexo, interativo, instável e auto-organizante que conta com a desordem expressa no acesso à rede e às diversas socialidades que ali se apresentam. A estrutura dessa cidade é rizomática (Guattari e Deleuze, 1982), isto é, ramificada e reticulada permitindo estratificações e territórios das tribos dos zipppies (neo-hippies cibernautas), hackers, cyberpunks, tecno-anarquistas, neonazistas, pedófilos e de muitos outros grupos. Entretanto, tal arranjo cria linhas de fuga e de desterritorialização sucessivas de diversas tribos na rede. Desse modo, ordem e desordem são parte integrante dos processos de territorialização, desterritorialização e reterritorialização, já que a existência da cidade eletrônica não implica um controle centralizado, e sim uma desordem expressa em múltiplas conexões heterárquicas.

A socialidade da telecidade se contrapõe a sociabilidade real, inaugurando uma socialidade eletrônica, conforme já explicamos anteriormente. A cultura das redes aí instalada não tem vinculação com qualquer tipo de regionalidade, já que é uma cultura do imediato, sem referências nacionais específicas. Na verdade, poderíamos também nos referir às redes comunicacionais informatizadas como cultura. Há uma cultura se firmando fora dos espaços materiais através das telecidades cuja “estrada principal” é via satélite e cabo de fibra ótica. Apesar da dificuldade de caracterizar essa socialidade eletrônica, é notório que estamos diante de um outro tipo de produção cultural, no qual a referência identitária a um lugar desaparece. É necessário, portanto, uma renovação conceitual sobre a definição de um território a partir dos limites reais da identidade cultural de um grupo social. Na rede não há fronteiras para as territorialidades expressas pelas tribos eletrônicas. Na rede, diversos grupos de pessoas se identificam e passam a ter uma relação afetiva com um espaço virtual que não deixa de ser uma forma de territorialização. A idéia do territorialismo associado ao enraizamento às fronteiras físicas e ao controle político desaparece. A chave eletrônica dá acesso à rede e a novos territórios culturais imaterializados que se colocam no limiar do próximo século.

Essa nova cultura em rede ou vice-versa instala uma forma de ver o real, na qual a segregação emerge da seleção de diversos tipos de relações societárias que desejamos vivenciar. Na verdade, o ordenamento das cidades eletrônica implica a sua partilha por diversas tribos que se juntam por laços de afetividade cultural, sexual, racial etc. Nesse sentido, mais uma vez, podemos observar o virtual como extensão do real.

Um outro aspecto importante da cidade eletrônica é a ausência de mobilidade das pessoas e dos serviços, de modo a evitar as barreiras físicas impostas pela cidade real. Através do correio eletrônico podemos enviar uma carta sem uso do correio tradicional. Não precisamos mais ir ao banco para realizar uma série de serviços. A cidade do ciberespaço nos permite evitar o tráfego, a violência urbana, a fila dos bancos, a demora da entrega das cartas.

A revolução tecnológica das telecomunicações via informática criou não só um ambiente artificial – a cidade eletrônica- como também tem impactado na cidade real. As principais cidades do país e do mundo já estão reestruturando seu espaço, em face das grandes empresas transnacionais que demandam a inserção dos lugares em um espaço de fluxos globais, como é o caso da Volkswagem, em Resende (RJ). Do ponto de vista da força de trabalho, a cultura da rede já altera a geografia dos trabalhadores. Tradicionalmente, a cidade real é diferenciada internamente entre o local de trabalho e a residência. Hoje alguns empresários já promovem a utilização da própria casa do trabalhador como um pequeno escritório acessado à rede central da empresa e ao mundo.

É neste sentido, que podemos afirmar que a inserção de um grupo maior de pessoas, empresas e outras organizações políticas no ciberespaço pode provocar um esvaziamento da cidade real, tal como afirma Levy (1996), e um povoamento de uma cidade eletrônica sem fronteiras políticas, em que o ordenamento não se realiza pela disposição de formas espaciais materiais, e sim por uma organização lógica do acesso à rede que possui uma ética própria para quem ali deseja vivenciar.

Enfim, apesar de muita desconfiança por parte dos geógrafos em analisar o ciberespaço e de seu caráter altamente de exclusão social para grande parte da população mundial, tudo indica que a sociedade moderna do próximo milênio estará cada vez mais conectada à rede mundial de computadores. Neste sentido, cabe à Geografia problematizar a revolução tecnológica das telecomunicações enquanto impacto e reflexo das mudanças qualitativas do capitalismo, levando-se em conta a emergência de uma ciber-socialidade inserida na cidade eletrônica e a multiplicidade de territórios culturais e empresariais ali localizados, ou melhor, fora de lugar.





5- Bibliografia

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CARDOSO, Cláudio. Notas sobre a Geografia do Ciberespaço. página da web (não identificada), 1997.

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HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 1993.

LEMOS, André L. M. Estruturas antropológicas do ciberespaço. Salvador: Texto produzido para os seminários do grupo Cyberepesquisa/Facom-Ufba (inédito), 1996.

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LEVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo, Ed. 34 Literatura. 1996.

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MARCONDES FILHO, Ciro (coord). Pensar – pulsar: Cultura Comunicacional, tecnologias e velocidade. São Paulo: Edições NTC, 1996.

MAFFESOLI, M. A conquista do presente. Rio de Janeiro:Rocco, 1984.

RELPH, Edward. Place and Placelessness. London:Pion, 1976.

SÊGA, Christina Maria Pedrazze. Globalizando o Virtual. In Log-in Revista Eletrônica do Centro de Estudo e Pesquisa em Novas Tecnologias, Comunicação e Cultura:Brasília http://www.geocities.com/paris/Bistro/5657/cs001.html

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SILVA, Paulo Celso da. Geobservação: da Cidade à Cidade Eletrônica. página da Web. http://www.open-school.com, 1999.

VIRILIO, Paul. O espaço crítico. Rio de Janeiro:Editora 34, 1993.



Textos produzidos em workshop e localizados na Internet

O Visual Urbano e a Cidade Digital; workshop in Atrator Estranho; página da web; http://www.eca.usp.br/nucleos/ntc/ntc.htm.

Redes Comunicacionais– web:http://www.eca.usp.br/nucleos/ntc/ntc.htm.

[1] Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense.

[2] Aluna do Curso de Pós-Graduação em Organização Espacial do Rio de Janeiro do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense.

[3] Relph, Edward (1976) já havia proposto o conceito de placelessness (deslugar) para as paisagens monótonas, clonadas e desprovidas de identificação, tais como auto-estrada, os viadutos, conjuntos habitacionais etc. Relph, todavia, ressalta que para os usuários de tais localidades é possivel que elas assumam um sentido de lugar.

WILLIAM GIBSON E O CIBERESPAÇO

Por: Autor Desconhecido.

"Ciberespaço. Uma alucinação consensual diariamente experimentada por biliões de operadores legítimos, em cada país, por crianças a quem são ensinados conceitos matemáticos... Uma representação gráfica de dados extraídos de bancos de cada computador do sistema humano. Complexidade impensável. Linhas de luz alinhadas no não-espaço da mente, clusters e constelações de dados. Como luzes da cidade, afastando-se..." - William Gibson, Neuromancer

Wiiliam Gibson é um autor de ficção científica americano que vive em Vancouver, Canadá. Desde os anos 70 que escreve contos e o seu primeiro romance Neuromancer, livro em que o conceito de Ciberespaço nasceu, foi publicado em 1984. Esta obra ganhou um estatuto de culto, ao criar um novo género de ficção científica, apelidado de Ciberpunk, paradigma de que Gibson é considerado o pai. A literatura ciberpunk tem uma visão muito pessimista do futuro, predizendo o aparecimento de corporações capitalistas multinacionais, e mostrando os efeitos negativos que as novas tecnologias poderão ter na vida quotidiana. Embora se considere que o ciberpunk, enquanto género literário, está morto, as ideias que Gibson apresentou nos seus romances alastraram a outros contextos, tanto artísticos, como sociológicos ou técnicos. Os seus detractores criticam a sua posição de, enquanto utilizador da Internet, declarar que "não sou um técnico. Não sei como é que estas coisas trabalham. Mas gosto do que fazem e dos novos processos humanos que geram". Como escritor de ficção científica, diz que as pessoas não deveriam olhar para este género como prospectiva, mas antes como o modo como os escritores lhes apresentam algumas ideias sobre o futuro, que poderão vir a resultar ou não.

William Gibson escreveu, para além do já citado Neuromancer (1984), Count Zero (1986), Mona Lisa Overdrive (1988), The Difference Engine (1991), Agrippa (a Book ok The Dead) (1992), Virtual Light (1993), Idoru (1996) e uma colectânea de contos chamada Burning Chrome (1986).

O Ciberespaço e a Cibereducação: Novas Relações e Novas Linguagens

Por: Wagner Antonio Junior



Ao longo da história da humanidade, os avanços tecnológicos sempre foram responsáveis por transformações nos mais diversos campos de atividades. Hoje, o desenvolvimento informacional e técnico está modificando a sociedade sob diversos ângulos, e a educação não poderia ficar alienada neste processo. As novas tecnologias da informação e da comunicação vêm desafiando a humanidade pelas transformações econômicas, sociais e políticas globalizadas, em um processo irreversível e cada vez mais acelerado. Para melhor visualizarmos os impactos das tecnologias na cultura contemporânea devemos dirigir nosso olhar para a educação como um processo complexo, inacabado e em permanente evolução.

Na atual sociedade, denominada “sociedade da informação”, constituída por influência decisiva dos meios de comunicação, as culturas, os processos educacionais e as competências requeridas passam por uma crise de significados sem precedentes. Neste contexto, damos destaque à rede mundial de computadores, que possibilita um fluxo de informações em diversos níveis. Tais informações não se atém somente à palavra escrita, mas constituem grande diversidade. São elas: textos, gráficos, som ou imagens, arquivos de áudio ou vídeo. Elas transformam nossa relação com o espaço e com o tempo numa velocidade nunca antes vivenciada, dando-nos uma nova percepção de mundo, no qual nossos relacionamentos, inclusive com os saberes, convertem-se em espaços de fluxos, criando e desfazendo verdades, competências e habilidades.

O progresso atual em que se encontram as tecnologias da informação e da comunicação apresentam um novo posicionamento tanto cultural quanto educacional. A grande quantidade de informações disponíveis e sua conversão em conhecimento, que permeiam nossas relações com o saber, estão adquirindo um novo ordenamento, caminhando para o ciberespaço. Este pode ser identificado como interconexões entre redes de computadores, o que se manifesta em maior alcance na Internet. Trata-se de um território eletrônico, onde se trabalha com informações, dados e memória compartilhada através da interação, onde o espaço e o tempo não têm referência.

Este novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século. (LÉVY, 1999, p.93).

A partir do rompimento dos padrões espaciais em redes interativas, o “espaço de fluxos” passou a substituir o “espaço de lugares” (CASTELLS, 2000). A inovação reside na organização corporal das seqüências de intercâmbio e interações intencionais, suporte das práticas sociais de tempo compartilhado. Este espaço imaterial de fluxos realiza um processo de desmaterialização das relações sociais e educacionais conectadas em rede. O que antes era concreto e palpável adquire uma dimensão imaterial na forma de impulsos eletrônicos.

O virtual é uma nova modalidade de ser, cuja compreensão é facilitada se considerarmos o processo que leva a ele: a virtualização. “O real seria da ordem do ‘tenho’, enquanto o virtual seria a ordem do ‘terás’, ou da ilusão, o que permite geralmente o uso de uma ironia fácil para evocar as diversas formas de virtualização” (LÉVY, 1996, p. 15).

O “lugar virtual” está apoiado em quatro eixos primordiais, que são: o tempo-real, a desterritorialidade, imaterialidade e interatividade. Tais aspectos possibilitam relações sociais simultâneas e acesso imediato a qualquer parte do mundo, inaugurando uma nova percepção do tempo, do espaço e das relações sociais. É no lugar virtual que se pode experimentar, solitariamente, uma nova sociabilidade, compartilhando um lugar simbólico e marcado por novas relações.

Neste novo século, a sociedade se caracteriza pela vasta quantidade de informação em fluxo e por seu conseqüente acesso, bem como a acelerada alteração e atualização da informação. Neste contexto, a familiarização com novas tecnologias da informação e a contínua atualização de conhecimentos serão necessários, potencializando ainda mais a influência da tecnologia sobre diversos aspectos da atividade humana relacionados à aprendizagem.

A educação contemporânea mostra que os atuais paradigmas não atendem mais o momento atual, visto a velocidade e quantidade de informações. Como o conhecimento tornou-se dinâmico, precisamos fazer novas conexões de fatos e informações, pois tudo está sistematizado. Os meios de produção mudaram para o paradigma da produção enxuta em lugar da produção em massa. Essa nova visão mostra a necessidade de um perfil diferenciado de cidadão para conviver na sociedade da informação e da tecnologia.

Torna-se importante, então, distinguirmos informação e conhecimento. A informação é a matéria-prima ainda não processada. Já o conhecimento seria a sistematização destas informações em saberes. Na segunda parte do século XX houve uma crescente especialização nas escolas, fazendo com que os conhecimentos fossem menos amplos que no passado, mas com uma maior profundidade. Hoje, é necessária uma menor preocupação com a acumulação do conhecimento, com sua construção a partir de informações que devem ser pesquisadas dentro de contextos significativos e reflexões críticas.

Atualmente, a velocidade com que circulam e são produzidas as informações, os conhecimentos passam a ser constantemente revistos, modificados ou sistematizados. O avanço das técnicas de comunicação ampliou notavelmente o alcance de conhecimentos compartilháveis.

Na sociedade da informação, a disseminação de novos paradigmas científicos aliados à presença de uma economia globalizada, assim como o crescente avanço das tecnologias digitais, exigem respostas coerentes de todo segmento educacional. Percebemos que o ato pedagógico precisa ser analisado e revisto de forma estrutural em suas concepções epistemológicas, na reformulação dos currículos e, principalmente, nas abordagens didáticas.

As tecnologias intelectuais da pós-modernidade – com seus suportes hipertextuais, interconectados, reticulares, interativos e múltiplos – questionam a escola e sua compartimentalização disciplinar, suas grades curriculares tão pouco propícias ao diálogo entre os saberes. O mundo digital no qual cada navegante é um autor de seus próprios percursos, questiona a escola e sua incapacidade de personalização... (RAMAL, 2002, p. 15).

Assim a internet, conectada a outras possibilidades digitais permite o acesso a bancos de informação que se proliferam geometricamente no ciberespaço. Nesse contexto, os professores devem assumir posturas novas e diferenciadas, ensinando e levando o educando à aprendizagem de forma colaborativa, na investigação e na pesquisa às informações existentes na rede.

A abordagem pedagógica da aprendizagem colaborativa e a distância vem ganhando força cada vez maior, constituindo-se na modalidade educacional apropriada, para atividades coletivas em redes de produção de conhecimento nos meios digitais de comunicação, como a Internet. Como conhecimento é visto como uma construção social, o processo educativo via ciberespaço é favorecido pela participação social em um ambiente que propicia a colaboração, a avaliação e o acesso a infinitos saberes universais, não totalizáveis e ricos em possibilidades que propiciam uma visão mais ampla do objeto de estudo, amplificando, assim, a aprendizagem individual de cada membro do grupo.

O aprendizado colaborativo, mediado pelas tecnologias interativas de informação e comunicação, vem de encontro à sociedade da informação como possibilidade no atendimento às demandas advindas das novas relações e percepções da realidade e produção de conhecimento. Os desafios, as ameaças e as possibilidades características da contemporaneidade exigirão, cada vez mais, o desenvolvimento de abordagens pedagógicas capazes de desenvolver competências e habilidades e, conseqüentemente, resoluções de problemas.

Atualmente, as demandas educacionais não estão sendo atendidas a contento pela relação da prática didático-pedagógica tradicional com as novas formas de comunicação. Todos no sistema escolar devem estar preparados para dominar os meios técnicos e incorpora-los a uma prática pedagógica transformadora, cujo principal objetivo é formar um cidadão autônomo e participativo com capacidade crítica e criadora diante dos desafios que se apresentam a cada dia, de forma mais dinâmica e veloz. Devemos pensar em uma formação docente que considere a existência do ciberespaço e sua influência na disseminação de informações. Partindo dessa formação, a reflexão dos novos contornos que a escola vem adquirindo e o papel do educador diante desta realidade.

Acredita-se que esse tema deve ser refletido pelos educadores, uma vez que a inserção das tecnologias na sociedade contemporânea já é uma realidade imposta e que vai além das formas tradicionais e estáticas de produção de conhecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 3.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

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RAMAL, Andréa Cecília. Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002.