Por Thiago Romero
Um jogo de computador que simula a criação de uma empresa, para sua administração dentro de um mercado também virtual, foi desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Engenharia (FE) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Bauru.
Idealizado para apoiar a aprendizagem em áreas como gestão de empresas, processo decisório, gestão da produção, contabilidade e processo competitivo de mercado, o jogo Mercado Virtual pode ser usado para apoiar o ensino de graduação, pós-graduação ou na atualização profissional.
De acordo com o autor do projeto, José de Souza Rodrigues, professor do Departamento de Produção da FE, o uso de jogos representa um apoio importante ao processo de ensino-aprendizagem.
“Trata-se de uma ferramenta que desempenha novas relações entre os alunos e os professores no âmbito das aprendizagens dos conteúdos programáticos. Ela cria um ambiente mais desafiador para todos e aumenta o interesse por aprender”, disse à Agência FAPESP
O jogo foi projetado para ser usado em laboratório com acesso à internet, podendo tanto apoiar aulas presenciais como servir de vivência em plataformas de educação a distância. Além de ser um meio pelo qual se facilita o processo de ensino-aprendizagem, a própria ferramenta é objeto de estudo para o grupo de pesquisa na Unesp.
“Queremos entender como as variáveis aluno, professor e ambiente interagem quando são usados jogos de empresas. A partir daí, a ideia é elaborar materiais didáticos de apoio aos usuários desse tipo de sistema”, explicou Rodrigues.
“No momento, estamos procurando analisar as decisões dos alunos com o objetivo de desenvolver novas habilidades para o jogo, fazendo com que o próprio sistema se torne capaz de detectar possíveis lacunas de aprendizagem no modo de decidir do aluno”, disse.
Com base em linguagens PHP e Delphi, de programação de computadores, o sistema foi desenvolvido por meio de uma parceria da FE com o Colégio Técnico Industrial Isaac Portal Roldán (CTI), com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa.
Mãos à obra
No sistema virtual o jogador, após seu cadastramento, toma as primeiras decisões, como a definição do tamanho de sua empresa, que é determinada por variáveis como capacidade de processamento de produtos, número de equipamentos adquiridos e quantidade de funcionários contratados.
“A primeira atividade do aluno consiste em montar a empresa, pois nesse momento ele tem apenas os recursos financeiros. Em seguida, o jogo apresenta as principais características do mercado em que a empresa irá atuar e dos produtos que ela deverá produzir e comercializar”, explicou Rodrigues.
A partir dessas informações o aluno configura a empresa e monta sua estratégia para melhorar seu desempenho no mercado, considerando que cada jogador é considerado uma empresa em competição direta com outras.
O ranking é formado pela análise de cinco indicadores: lucro da jogada, lucro acumulado, participação de mercado, investimento e endividamento. Ganha quem melhor combinar esses fatores.
Os cálculos necessários podem ser feitos com o auxílio de calculadoras que tenham as operações básicas. Rodrigues aguarda aprovação de um projeto submetido recentemente à Unesp que deverá permitir o acesso ao jogo sem custo por pelo menos 500 alunos de graduação.
“Neste projeto específico, o objetivo é ampliar nosso banco de dados de pesquisa e atender, principalmente, instituições de ensino públicas. Nos demais casos o acesso ao jogo terá um custo dependendo da finalidade e abrangência do interesse de uso. Mas a nossa ideia é cumprir a tarefa de oferecer uma opção gratuita de uso do software à comunidade acadêmica”, afirmou.
Integram a equipe de desenvolvimento do Mercado Virtual a analista de sistemas Kátia Lívia Zambon, coordenadora da área de habilitação, e a administradora de empresa Ariane Scarelli, coordenadora da área de estágio, ambas do Colégio Técnico Industrial Isaac Portal Roldán (CTI).
Mais informações
Fonte: Agência FAPESP
sábado, 28 de março de 2009
sábado, 7 de março de 2009
A Sociedade de Controle e o seu indiscreto olhar normativo
Por: Renato Nunes Bittencourt - Doutorando em Filosofia do PPGF-UFRJ/Bolsista do CNPq
Uma das principais características tecnológicas da era contemporânea consiste no uso social de instrumentos que permitem o registro imediato de nossos gestos e ações cotidianas. Se me for conveniente, posso registrar uma conferência ou uma aula através de um gravador de voz, a fim de que eu conserve as informações narradas para utilizar possivelmente numa outra circunstância. Esses exemplos são casos triviais da nossa vida cotidiana, que inúmeras pessoas também realizam de maneira desvinculada de qualquer finalidade normativa. Contudo, e se algum aparato oficial tivesse o poder de registrar todo tipo de ação, gestos, comportamentos e conversações dos cidadãos? Viveríamos numa espécie de inspeção contínua exercida pela “sociedade de controle” – por esse termo podemos compreender os aparatos utilizados pela organização da estrutura social (o Estado, as fábricas, as escolas, os aparatos militares, as instituições hierárquicas), para obter diversos níveis de domínio sobre a subjetividade dos indivíduos, controlando intimamente as ações, determinando padrões de gosto e modelos de conduta que devem ser seguidos pela massa social. Façamos então a partir deste momento uma espécie de investigação acerca do modo pelo qual se exerce esse poder de monitoração sobre a ordem social na qual estamos inseridos.
Pensemos numa sociedade na qual todos nós fossemos vigiados intermitentemente por um grande olhar onisciente, o “Panóptico”, que não deixaria escapar nenhum detalhe das nossas condutas, em especial as mais íntimas, aquelas que mais vão de encontro aos padrões estabelecidos do convívio social. Ora, certamente não haveria mais nenhum tipo de respeito pela manutenção da privacidade pessoal. Aliás, se existisse uma sociedade que se pautasse nesse modelo de conduta, talvez sequer existisse o termo “privacidade”, pois que todas as informações seriam consideradas de pleno domínio público, e todos saberiam dos detalhes e particularidades das vidas de cada indivíduo, de modo que a pretensão de se possuir o mínimo de privacidade e desfrute de uma vida íntima diante da esfera pública seria considerada coma uma grande chacota. Em tal tipo de ordenação social, não há espaço para o desfrute do espaço privado.
O Panóptico representa a contraparte social da idéia moral que prega a existência do olhar onisciente de Deus, que conhece de antemão o íntimo de todas as coisas. Por outras palavras, se há uma moral normativa que fiscaliza os comportamentos íntimos dos indivíduos, tal projeto de controle nada mais é do que uma espécie de concretização do ideal metafísico-normativo de submissão pessoal diante dos códigos religiosos caracterizados pelas disposições coercitivas sobre o rebanho de fiéis. Nietzsche, no parágrafo 4 do Prólogo de A Gaia Ciência, destaca ironicamente o quão impudico é o projeto de fiscalização das ações humanas através da legitimação da idéia de um Deus moral onisciente e onipresente, destacando justamente a contradição axiológica de tal projeto: “É verdade que Deus está em toda parte?”, perguntou uma garotinha à sua mãe; “não acho isso decente” [NIETZSCHE, 2003, p. 15]
Os organizadores de tal estrutura social acreditariam que, através da instauração desse grande sistema de observação das ações individuais, todos os grandes problemas sociais de violência e de desonestidade seriam banidos definitivamente do âmbito “civilizado”, pois os aparatos estabilizadores da ordem social, como as forças policiais, saberiam coibir com precisão os comportamentos que atentam contra os parâmetros normativos estabelecidos. Em favor da conservação de uma pretensa calmaria social, os indivíduos se encontrariam na necessidade de cederem os seus direitos pessoais de manterem as suas intimidades invioladas, para que a estrutura sócio-política efetivasse seu poder de controle sobre toda a esfera social, detectando de maneira precisa todos os tipos de comportamentos imputados como ilegais, e assim impedindo a ocorrência de distúrbios públicos violadores da “paz social”.
Negando a privacidade da sua vida particular, o indivíduo suprime imediatamente a sua liberdade de ação, pois que a ameaça de se expor ao atento olhar público o faria temer ser condenado moralmente pela coletividade e juridicamente pelo poder estabelecido, se por algum motivo os seus projetos particulares não correspondessem aos critérios propostos pelo organismo social e pela conservadora moralidade pública. Podemos afirmar que uma situação ainda mais drástica ocorreria se um dado indivíduo fosse praticante de comportamentos parcialmente toleráveis na esfera da vida social (sobretudo mediante a imposição das normas legais dos Estados que garantem a liberdade de expressão e bem-estar individual de cada um), mas que, veladamente, são motivos de críticas da parte de muitos indivíduos, conforme ocorre, por exemplo, no caso da discriminação contra os homossexuais, os quais, mesmo sendo relativamente amparados pelo código civil, sofrem continuamente as ações intolerantes de diversos segmentos sociais marcados pelo desprezo pela diferença, pelo respeito pela alteridade.
A definição do Panóptico como um instrumento direcionado para o controle das ações individuais fora adotada originalmente pelo filósofo Jeremy Bentham [2000, p. 11-74], no seu projeto de inserção dessa poderosa cadeia de controle social sobre as instituições européias do período incipiente do Iluminismo e da Revolução Industrial, como forma de obter sobre as disposições ativas dos indivíduos o máximo domínio, evitando-se as grandes convulsões sociais, a criminalidade e as revoltas contra a ordem estabelecida. Nessas condições, a formulação do Panóptico seria, originalmente, uma espécie de grande projeto utópico, cuja instauração, de acordo com o seu ideólogo, resolveria definitivamente o problema da segurança pessoal da sociedade urbana, ainda que, para tanto, fosse necessário invadir o direito de usufruto de intimidade de cada indivíduo; entretanto, analisado criticamente, o Panóptico representa na verdade uma distopia, pois o seu objetivo social se realizaria mediante o controle intrínseco do comportamento humano, gerando em cada indivíduo o florescimento de afetos neuróticos, diante da ameaça de punição a ser infligida em cada infrator. Aliás, de acordo com essa perspectiva, de que importa o que pensa ou sente o indivíduo, quando o interesse maior da instituição política consiste em manter a infra-estrutura do Estado com plena força? Nesse contexto, toda a coletividade deve se submeter sem pestanejar diante da autoridade política estabelecida.
A investigação sobre a natureza opressora do Panóptico seria retomada numa perspectiva crítica na era contemporânea por Michel Foucault (1984, p.173), de maneira que este pensador tinha em vista a explicitação dos mecanismos de imposição de poder que se encontram subjacentes na prática de controle social por meio da observação contínua da comunidade de indivíduos, desmascarando assim a arbitrariedade do poder instituído nas estruturas sociais da era da vertiginosa tecnologização da sociedade industrial. A aplicação desse sistema coercitivo de fiscalização social pelo olhar se dá em várias instâncias da vida coletiva, tais como os presídios, as fábricas, os espaços religiosos e as escolas. Em todos os casos citados, preconiza-se a adequação incondicional do indivíduo às regras estabelecidas, o que nada mais é do que uma submissão do sujeito aos imperativos dos detentores de poder das instituições sociais.
O que vamos citar nas linhas a seguir é uma situação padronizada e hipotética que ocorre no modelo coercitivo da sociedade de controle: o presidiário acata as ordens da polícia, o operário produz maquinalmente para o usufruto do patrão, o devoto fiel se inclina perante a autoridade eclesiástica, e o estudante ouve atentamente o discurso moralizador e normativo do diretor do instituto educacional. O que há em comum nesses acontecimentos? A necessidade de se desenvolver comportamentos disciplinados, mediante a imposição da compreensão da importância da manutenção da ordem e quietude, a fim de que as agitações pessoais se calem diante do discurso da autoridade. Para que esse objetivo seja realizado, geralmente se adota um conjunto de práticas de controle que automatizam a massa de indivíduos através da prescrição de uma série de medidas disciplinares, até o momento em que essa massa age de modo dócil, em decorrência da perda das capacidades pessoais de contestação. A sociedade de controle preconiza a domesticação dos impulsos singulares dos seres humanos, desmobilizando assim qualquer possibilidade de revolta social.
A educação disciplinar do corpo individual é o meio pelo qual se torna possível que a vida dos seres humanos seja transformada em força produtiva canalizada para objetivos práticos que proporcionam resultados concretos e úteis para a sua sociedade, tais como a correção do comportamento, a grande produção de gêneros diversos que serão consumidos pelo público, o apaziguamento íntimo e o reconforto moral dos cidadãos, ou ainda aprendizado do aluno para que ele possa no futuro perpetuar esse sistema normativo. Daí o valor concedido ao respeito rigoroso pelos horários estabelecidos, para que o tempo de produção seja aproveitado ao máximo pela classe dirigente da sociedade, que se apropria das capacidades produtivas dos seus subalternos. Entretanto, nenhum indivíduo é capaz de se envolver em intensas atividades físicas e mentais sem que venha a, em um dado momento, deixar de se sentir completamente extenuado. Como mecanismo que favorece ainda mais a dominação plena sobre as massas, o poder instituído concede folgas para os indivíduos que estão sob o seu comando, ou até mesmo, de acordo com as conveniências, forja diversos feriados, para que esses indivíduos utilizem esses momentos de descanso apenas para a reparação das forças de trabalho para o dia seguinte, sem que haja qualquer incentivo ao desenvolvimento do pensamento crítico através do cultivo da leitura e da apreciação estética das criações artísticas.
O que nos permite dizer que mesmo através dos dias de folga as instituições sociais continuam obtendo vantagens em relação aos indivíduos submissos? Justamente o fato de que a pessoa que se encontra em estado de cansaço, seja por excesso de trabalho ou estudo, já não consegue mais produzir de maneira adequada aos valores estabelecidos, de maneira que é muito mais interessante para os detentores do poder conceder esses agrados para a coletividade, pois que esta glorifica piedosamente os seus mandatários pela dádiva de lhes fornecerem esses instantes de alívio ao longo de uma intensa atividade produtiva. No contexto da sociedade de controle, o "dia livre" se torna um método primoroso para se obter a alienação da consciência crítica do indivíduo, pois que este, se dedicando rigorosamente aos imperativos da produtividade do trabalho, raramente vai se preocupar em cultivar as habilidades do discurso consistente e crítico nos seus momentos de lazer. Pelo contrário, nada mais interessante para a pessoa envolvida nos ardores do trabalho do que ficar no ócio, e é isso que os mecanismos de controle das ações individuais fazem com precisão, através do auxílio dos instrumentos midiáticos, que destilam na consciência individual a idéia da apatia que deve reinar no final de semana, no qual o único esforço que pode haver para essa massa social é o ato de se ligar e desligar o aparelho de TV, assim como fixar os olhos na sua tela.
A observação onisciente das atitudes individuais empreendida pelo organismo social de controle preconiza acima de tudo retirar dos corpos humanos a disposição para a ação e reação diante dos eventos cotidianos, minando intrinsecamente a sua força de contestação. Trata-se, nessas condições, de um projeto de tornar os ânimos individuais cada vez mais dóceis, com o objetivo de que essa massa humana se torne submissa diante das determinações legais, o que demonstra um paralelo com a domesticação de animais selvagens, os quais, mesmo que fisicamente poderosos, acabaram por ser subjugados pelas habilidades técnicas dos homens. Foucault considera que, ao enfraquecer as resistências individuais, o poder legal suprime pela raiz toda voz de dissensão diante das manifestações de arbitrariedade (1999, p. 103).
Uma vez que se encontra ao dispor dos aparatos do poder instituído, o sistema Panóptico é uma forma de coibir intimamente todo tipo de inclinação destoante das individualidades em relação às normas rigorosamente impostas, estabelecendo assim a adoção de comportamentos uniformes aos que se encontram imersos nessa realidade vigiada. A estrutura vigilante do Panóptico, segundo uma elucidativa explanação de Zygmunt Bauman (1999, p. 58) seria, de acordo com os critérios coercitivos da ordem política estabelecida, uma arma eficaz contra a diferença, a opção e a variedade dos comportamentos e dos valores. O controle social leva a um nivelamento equânime dos indivíduos, calando o desenvolvimento criativo das suas respectivas singularidades, justamente a qualidade axiológica necessária para que ocorram situações de exceção no âmbito do engenho humano no contexto da estrutura social na qual se encontra inserido.
Em nome da manutenção da estabilidade social, é mais pertinente que toda a coletividade de indivíduos viva massificada sob o anonimato, ainda que isso resulte em prejuízo para a inovação da cultura, do que conceder maiores liberdades aos seres potencialmente criativos, mas com o risco de haver convulsões sociais, se acontecesse de um membro dessa comunidade se singularizar de maneira excessiva em relação aos demais. Ora, poderia ocorrer a eventualidade dessa pessoa conquistar sobre a massa amorfa da sociedade a admiração e a veneração, circunstância que tornaria tal indivíduo libertário um exemplo de dissidência da ordem estabelecida, invitando muitos outros a imitar seu perfil singular. A sociedade de controle do Panóptico não necessita de maneira alguma que venham a ocorrer situações extraordinárias no seu espaço de domínio, pois todo tipo de informação, de criação e de mecanismos de interação social devem passar primeiramente pelo seu crivo, independentemente dos modelos existenciais das individualidades do grupo controlado, e para tanto, quanto mais medíocre, melhor.
O Panóptico exerce um poder de vigilância sobre a coletividade muito mais potente do que o mero olhar humano, limitado por sua própria condição natural, incapaz de perceber de modo pleno a totalidade simultânea dos acontecimentos. Nessas condições, o sufocante poder de controle das ações individuais, garantida pelo olhar integral, se encontra nas mãos do poder instituído verticalmente, isto é, imposto de maneira opressiva ao âmbito social sem que este tenha qualquer possibilidade de contestar a opressão dos parâmetros estabelecidos.
O elemento mais paradoxal desse mecanismo de controle das aspirações individuais, conforme efetivado pelos aparelhos normativos da sociedade certamente consiste na idéia de que o bem-estar que o indivíduo tanto deseja obter somente pode ser conquistado através da supressão de sua liberdade pessoal, pois que, segundo essa perspectiva, é justamente a flexibilidade das suas ações que motivam as circunstâncias que prejudicam a estabilidade social. Zygmunt Bauman retratou de forma nítida essa degeneração do sentimento de paz e tranqüilidade da nossa organização civilizatória, ao trazer a tona os contundentes sintomas de empobrecimento e dissolução das relações pessoais:
Você quer segurança? Abra mão de sua liberdade, ou pelo menos de boa parte dela. Você quer poder confiar? Não confie em ninguém de fora da comunidade. Você quer entendimento mútuo? Não fale com estranhos, nem fale línguas estrangeiras. Você quer essa sensação aconchegante do lar? Ponha alarmes em sua porta e câmeras de TV no acesso. Você quer proteção? Não acolha estranhos e abstenha-se de agir de modo esquisito ou de ter pensamentos bizarros. Você quer aconchego? Não chegue perto da janela, e jamais a abra. O nó da questão é que se você seguir esse conselho e mantiver as janelas fechadas, o ambiente logo ficará abafado e, no limite, opressivo (BAUMAN, 2003, p.10).
O livro 1984, de George Orwell, retrata de forma precisa a ditadura do olhar imposto pelo Estado normativo, situação que se encaixa perfeitamente em nossa sociedade midiática. Não existe ação individual que não seja conhecida pela estrutura do poder, que observa minuciosamente todo o conjunto de comportamentos da coletividade. Os aparatos que garantem a eficácia desse procedimento controlador são grandes telas de televisão alocadas em pontos estratégicos dos lares e das ruas, através dos quais os indivíduos podem receber imperativos do grande líder instituído, o Big Brother ("Grande Irmão"), aquele que determinada quais as ações que devem ser desempenhadas por cada um, tornando-se o substituto de toda ausência de relações pessoais nesse sistema normativo, pois que todo contato afetivo mais íntimo entre os indivíduos foi suprimido. Orwell, ao elaborar essa visão angustiante da era do controle individual através do registro onisciente de todas as ações, antecipou importantes questões sobre o advento da sociedade de controle, e de que maneira ela exerceria uma profunda modificação na forma pela qual o indivíduo constrói a sua existência. Quem poderia imaginar que essa criação literária, enunciadora de uma angustiante situação de controle contínuo das subjetividades, cuja instauração é possível em qualquer sociedade, viria a ser deturpado pelo uso vulgarizado do programa de TV homônimo? Trata-se de um demérito ao talento intelectual de Orwell, que pretendia alertar para o perigo dos sistemas totalitários de quaisquer orientações ideológicas, supressores das liberdades individuais. O “Big Brother” televisivo faz da possibilidade de se ver a vida alheia como algo apetecível, consumível.
Os meios de comunicação despertam na coletividade social o desejo de ter acesso àquilo que é escondido, privado, assim como insuflam a suposta possibilidade de qualquer um se tornar o alvo das atenções da consciência telespectadora, de modo que o participante de tal espetáculo passa então a ser vigiado avidamente pelo olhar anônimo da massa, na espera da realização de um gesto de lascívia, uma nudez fortuita, um descontrole emocional, um palavrão. Não há grande distância entre o voyeur e o Big Brother; na verdade, tal tipo de programa promove o voyeurismo em escala hiperbólica na nossa cultura imagética. Trata-se de uma situação curiosa: o voyeur é considerado uma pessoa imoral, pois viola o direito de privacidade do observado, mas os aparatos televisivos enaltecem o direito de vermos a intimidade de um grupo de desconhecidos confinados em um espaço monitorado, como se de fato participássemos da vida particular desses indivíduos, tornados meras coisas observáveis, meios de obtenção de prazer mediante o olhar concupiscente.
Vemos atualmente em nossa sociedade a proliferação dos instrumentos de monitoração das ações individuais, fenômeno esse decorrente do sentimento da coletividade de obter cada vez mais segurança no decorrer da atribulada vida cotidiana. Afinal, o controle social exercido através do registro do olhar das câmeras concede para muitos uma espécie de sensação de segurança diante de uma realidade cada vez mais marcada pelo descontrole, pela agitação, pela violência, pelo caos social. Em contrapartida, o indivíduo perde a sua tão cara privacidade, o momento de intimidade no qual ele poderia se isolar por determinado período de tempo do seu vínculo com a realidade externa, praticando ações que, do ponto de vista público, poderiam causar constrangimentos pessoais. Contudo, a comunidade social abdica do benefício da intimidade e do desfrute do espaço privado, em prol da garantia de estabilidade e da conquista da sensação de proteção, efetivada pelas estruturas de poder que efetivam esse mecanismo de observação de todo tipo de ação destoante do padrão estabelecido. Eis a sociedade de controle e suas armas, as câmeras oniscientes.
Referências bibliográficas
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade – A busca por segurança no mundo atual. Trad. de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
_________. Globalização – As conseqüências humanas. Trad. de Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
BENTHAM, Jeremy. O Panóptico. Trad. Tomas Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2000.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. de Eduardo Jardim e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Nau Editora, 1999.
___________. Vigiar e Punir. Trad. de Ligia M. Pondé Vassalo. Petrópolis: Ed. Vozes, 1984.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
ORWELL, George. 1984. Trad. de Wilson Velloso. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2004.
Fonte: Revista Espaço Acadêmico, 94, março de 2009.
Uma das principais características tecnológicas da era contemporânea consiste no uso social de instrumentos que permitem o registro imediato de nossos gestos e ações cotidianas. Se me for conveniente, posso registrar uma conferência ou uma aula através de um gravador de voz, a fim de que eu conserve as informações narradas para utilizar possivelmente numa outra circunstância. Esses exemplos são casos triviais da nossa vida cotidiana, que inúmeras pessoas também realizam de maneira desvinculada de qualquer finalidade normativa. Contudo, e se algum aparato oficial tivesse o poder de registrar todo tipo de ação, gestos, comportamentos e conversações dos cidadãos? Viveríamos numa espécie de inspeção contínua exercida pela “sociedade de controle” – por esse termo podemos compreender os aparatos utilizados pela organização da estrutura social (o Estado, as fábricas, as escolas, os aparatos militares, as instituições hierárquicas), para obter diversos níveis de domínio sobre a subjetividade dos indivíduos, controlando intimamente as ações, determinando padrões de gosto e modelos de conduta que devem ser seguidos pela massa social. Façamos então a partir deste momento uma espécie de investigação acerca do modo pelo qual se exerce esse poder de monitoração sobre a ordem social na qual estamos inseridos.
Pensemos numa sociedade na qual todos nós fossemos vigiados intermitentemente por um grande olhar onisciente, o “Panóptico”, que não deixaria escapar nenhum detalhe das nossas condutas, em especial as mais íntimas, aquelas que mais vão de encontro aos padrões estabelecidos do convívio social. Ora, certamente não haveria mais nenhum tipo de respeito pela manutenção da privacidade pessoal. Aliás, se existisse uma sociedade que se pautasse nesse modelo de conduta, talvez sequer existisse o termo “privacidade”, pois que todas as informações seriam consideradas de pleno domínio público, e todos saberiam dos detalhes e particularidades das vidas de cada indivíduo, de modo que a pretensão de se possuir o mínimo de privacidade e desfrute de uma vida íntima diante da esfera pública seria considerada coma uma grande chacota. Em tal tipo de ordenação social, não há espaço para o desfrute do espaço privado.
O Panóptico representa a contraparte social da idéia moral que prega a existência do olhar onisciente de Deus, que conhece de antemão o íntimo de todas as coisas. Por outras palavras, se há uma moral normativa que fiscaliza os comportamentos íntimos dos indivíduos, tal projeto de controle nada mais é do que uma espécie de concretização do ideal metafísico-normativo de submissão pessoal diante dos códigos religiosos caracterizados pelas disposições coercitivas sobre o rebanho de fiéis. Nietzsche, no parágrafo 4 do Prólogo de A Gaia Ciência, destaca ironicamente o quão impudico é o projeto de fiscalização das ações humanas através da legitimação da idéia de um Deus moral onisciente e onipresente, destacando justamente a contradição axiológica de tal projeto: “É verdade que Deus está em toda parte?”, perguntou uma garotinha à sua mãe; “não acho isso decente” [NIETZSCHE, 2003, p. 15]
Os organizadores de tal estrutura social acreditariam que, através da instauração desse grande sistema de observação das ações individuais, todos os grandes problemas sociais de violência e de desonestidade seriam banidos definitivamente do âmbito “civilizado”, pois os aparatos estabilizadores da ordem social, como as forças policiais, saberiam coibir com precisão os comportamentos que atentam contra os parâmetros normativos estabelecidos. Em favor da conservação de uma pretensa calmaria social, os indivíduos se encontrariam na necessidade de cederem os seus direitos pessoais de manterem as suas intimidades invioladas, para que a estrutura sócio-política efetivasse seu poder de controle sobre toda a esfera social, detectando de maneira precisa todos os tipos de comportamentos imputados como ilegais, e assim impedindo a ocorrência de distúrbios públicos violadores da “paz social”.
Negando a privacidade da sua vida particular, o indivíduo suprime imediatamente a sua liberdade de ação, pois que a ameaça de se expor ao atento olhar público o faria temer ser condenado moralmente pela coletividade e juridicamente pelo poder estabelecido, se por algum motivo os seus projetos particulares não correspondessem aos critérios propostos pelo organismo social e pela conservadora moralidade pública. Podemos afirmar que uma situação ainda mais drástica ocorreria se um dado indivíduo fosse praticante de comportamentos parcialmente toleráveis na esfera da vida social (sobretudo mediante a imposição das normas legais dos Estados que garantem a liberdade de expressão e bem-estar individual de cada um), mas que, veladamente, são motivos de críticas da parte de muitos indivíduos, conforme ocorre, por exemplo, no caso da discriminação contra os homossexuais, os quais, mesmo sendo relativamente amparados pelo código civil, sofrem continuamente as ações intolerantes de diversos segmentos sociais marcados pelo desprezo pela diferença, pelo respeito pela alteridade.
A definição do Panóptico como um instrumento direcionado para o controle das ações individuais fora adotada originalmente pelo filósofo Jeremy Bentham [2000, p. 11-74], no seu projeto de inserção dessa poderosa cadeia de controle social sobre as instituições européias do período incipiente do Iluminismo e da Revolução Industrial, como forma de obter sobre as disposições ativas dos indivíduos o máximo domínio, evitando-se as grandes convulsões sociais, a criminalidade e as revoltas contra a ordem estabelecida. Nessas condições, a formulação do Panóptico seria, originalmente, uma espécie de grande projeto utópico, cuja instauração, de acordo com o seu ideólogo, resolveria definitivamente o problema da segurança pessoal da sociedade urbana, ainda que, para tanto, fosse necessário invadir o direito de usufruto de intimidade de cada indivíduo; entretanto, analisado criticamente, o Panóptico representa na verdade uma distopia, pois o seu objetivo social se realizaria mediante o controle intrínseco do comportamento humano, gerando em cada indivíduo o florescimento de afetos neuróticos, diante da ameaça de punição a ser infligida em cada infrator. Aliás, de acordo com essa perspectiva, de que importa o que pensa ou sente o indivíduo, quando o interesse maior da instituição política consiste em manter a infra-estrutura do Estado com plena força? Nesse contexto, toda a coletividade deve se submeter sem pestanejar diante da autoridade política estabelecida.
A investigação sobre a natureza opressora do Panóptico seria retomada numa perspectiva crítica na era contemporânea por Michel Foucault (1984, p.173), de maneira que este pensador tinha em vista a explicitação dos mecanismos de imposição de poder que se encontram subjacentes na prática de controle social por meio da observação contínua da comunidade de indivíduos, desmascarando assim a arbitrariedade do poder instituído nas estruturas sociais da era da vertiginosa tecnologização da sociedade industrial. A aplicação desse sistema coercitivo de fiscalização social pelo olhar se dá em várias instâncias da vida coletiva, tais como os presídios, as fábricas, os espaços religiosos e as escolas. Em todos os casos citados, preconiza-se a adequação incondicional do indivíduo às regras estabelecidas, o que nada mais é do que uma submissão do sujeito aos imperativos dos detentores de poder das instituições sociais.
O que vamos citar nas linhas a seguir é uma situação padronizada e hipotética que ocorre no modelo coercitivo da sociedade de controle: o presidiário acata as ordens da polícia, o operário produz maquinalmente para o usufruto do patrão, o devoto fiel se inclina perante a autoridade eclesiástica, e o estudante ouve atentamente o discurso moralizador e normativo do diretor do instituto educacional. O que há em comum nesses acontecimentos? A necessidade de se desenvolver comportamentos disciplinados, mediante a imposição da compreensão da importância da manutenção da ordem e quietude, a fim de que as agitações pessoais se calem diante do discurso da autoridade. Para que esse objetivo seja realizado, geralmente se adota um conjunto de práticas de controle que automatizam a massa de indivíduos através da prescrição de uma série de medidas disciplinares, até o momento em que essa massa age de modo dócil, em decorrência da perda das capacidades pessoais de contestação. A sociedade de controle preconiza a domesticação dos impulsos singulares dos seres humanos, desmobilizando assim qualquer possibilidade de revolta social.
A educação disciplinar do corpo individual é o meio pelo qual se torna possível que a vida dos seres humanos seja transformada em força produtiva canalizada para objetivos práticos que proporcionam resultados concretos e úteis para a sua sociedade, tais como a correção do comportamento, a grande produção de gêneros diversos que serão consumidos pelo público, o apaziguamento íntimo e o reconforto moral dos cidadãos, ou ainda aprendizado do aluno para que ele possa no futuro perpetuar esse sistema normativo. Daí o valor concedido ao respeito rigoroso pelos horários estabelecidos, para que o tempo de produção seja aproveitado ao máximo pela classe dirigente da sociedade, que se apropria das capacidades produtivas dos seus subalternos. Entretanto, nenhum indivíduo é capaz de se envolver em intensas atividades físicas e mentais sem que venha a, em um dado momento, deixar de se sentir completamente extenuado. Como mecanismo que favorece ainda mais a dominação plena sobre as massas, o poder instituído concede folgas para os indivíduos que estão sob o seu comando, ou até mesmo, de acordo com as conveniências, forja diversos feriados, para que esses indivíduos utilizem esses momentos de descanso apenas para a reparação das forças de trabalho para o dia seguinte, sem que haja qualquer incentivo ao desenvolvimento do pensamento crítico através do cultivo da leitura e da apreciação estética das criações artísticas.
O que nos permite dizer que mesmo através dos dias de folga as instituições sociais continuam obtendo vantagens em relação aos indivíduos submissos? Justamente o fato de que a pessoa que se encontra em estado de cansaço, seja por excesso de trabalho ou estudo, já não consegue mais produzir de maneira adequada aos valores estabelecidos, de maneira que é muito mais interessante para os detentores do poder conceder esses agrados para a coletividade, pois que esta glorifica piedosamente os seus mandatários pela dádiva de lhes fornecerem esses instantes de alívio ao longo de uma intensa atividade produtiva. No contexto da sociedade de controle, o "dia livre" se torna um método primoroso para se obter a alienação da consciência crítica do indivíduo, pois que este, se dedicando rigorosamente aos imperativos da produtividade do trabalho, raramente vai se preocupar em cultivar as habilidades do discurso consistente e crítico nos seus momentos de lazer. Pelo contrário, nada mais interessante para a pessoa envolvida nos ardores do trabalho do que ficar no ócio, e é isso que os mecanismos de controle das ações individuais fazem com precisão, através do auxílio dos instrumentos midiáticos, que destilam na consciência individual a idéia da apatia que deve reinar no final de semana, no qual o único esforço que pode haver para essa massa social é o ato de se ligar e desligar o aparelho de TV, assim como fixar os olhos na sua tela.
A observação onisciente das atitudes individuais empreendida pelo organismo social de controle preconiza acima de tudo retirar dos corpos humanos a disposição para a ação e reação diante dos eventos cotidianos, minando intrinsecamente a sua força de contestação. Trata-se, nessas condições, de um projeto de tornar os ânimos individuais cada vez mais dóceis, com o objetivo de que essa massa humana se torne submissa diante das determinações legais, o que demonstra um paralelo com a domesticação de animais selvagens, os quais, mesmo que fisicamente poderosos, acabaram por ser subjugados pelas habilidades técnicas dos homens. Foucault considera que, ao enfraquecer as resistências individuais, o poder legal suprime pela raiz toda voz de dissensão diante das manifestações de arbitrariedade (1999, p. 103).
Uma vez que se encontra ao dispor dos aparatos do poder instituído, o sistema Panóptico é uma forma de coibir intimamente todo tipo de inclinação destoante das individualidades em relação às normas rigorosamente impostas, estabelecendo assim a adoção de comportamentos uniformes aos que se encontram imersos nessa realidade vigiada. A estrutura vigilante do Panóptico, segundo uma elucidativa explanação de Zygmunt Bauman (1999, p. 58) seria, de acordo com os critérios coercitivos da ordem política estabelecida, uma arma eficaz contra a diferença, a opção e a variedade dos comportamentos e dos valores. O controle social leva a um nivelamento equânime dos indivíduos, calando o desenvolvimento criativo das suas respectivas singularidades, justamente a qualidade axiológica necessária para que ocorram situações de exceção no âmbito do engenho humano no contexto da estrutura social na qual se encontra inserido.
Em nome da manutenção da estabilidade social, é mais pertinente que toda a coletividade de indivíduos viva massificada sob o anonimato, ainda que isso resulte em prejuízo para a inovação da cultura, do que conceder maiores liberdades aos seres potencialmente criativos, mas com o risco de haver convulsões sociais, se acontecesse de um membro dessa comunidade se singularizar de maneira excessiva em relação aos demais. Ora, poderia ocorrer a eventualidade dessa pessoa conquistar sobre a massa amorfa da sociedade a admiração e a veneração, circunstância que tornaria tal indivíduo libertário um exemplo de dissidência da ordem estabelecida, invitando muitos outros a imitar seu perfil singular. A sociedade de controle do Panóptico não necessita de maneira alguma que venham a ocorrer situações extraordinárias no seu espaço de domínio, pois todo tipo de informação, de criação e de mecanismos de interação social devem passar primeiramente pelo seu crivo, independentemente dos modelos existenciais das individualidades do grupo controlado, e para tanto, quanto mais medíocre, melhor.
O Panóptico exerce um poder de vigilância sobre a coletividade muito mais potente do que o mero olhar humano, limitado por sua própria condição natural, incapaz de perceber de modo pleno a totalidade simultânea dos acontecimentos. Nessas condições, o sufocante poder de controle das ações individuais, garantida pelo olhar integral, se encontra nas mãos do poder instituído verticalmente, isto é, imposto de maneira opressiva ao âmbito social sem que este tenha qualquer possibilidade de contestar a opressão dos parâmetros estabelecidos.
O elemento mais paradoxal desse mecanismo de controle das aspirações individuais, conforme efetivado pelos aparelhos normativos da sociedade certamente consiste na idéia de que o bem-estar que o indivíduo tanto deseja obter somente pode ser conquistado através da supressão de sua liberdade pessoal, pois que, segundo essa perspectiva, é justamente a flexibilidade das suas ações que motivam as circunstâncias que prejudicam a estabilidade social. Zygmunt Bauman retratou de forma nítida essa degeneração do sentimento de paz e tranqüilidade da nossa organização civilizatória, ao trazer a tona os contundentes sintomas de empobrecimento e dissolução das relações pessoais:
Você quer segurança? Abra mão de sua liberdade, ou pelo menos de boa parte dela. Você quer poder confiar? Não confie em ninguém de fora da comunidade. Você quer entendimento mútuo? Não fale com estranhos, nem fale línguas estrangeiras. Você quer essa sensação aconchegante do lar? Ponha alarmes em sua porta e câmeras de TV no acesso. Você quer proteção? Não acolha estranhos e abstenha-se de agir de modo esquisito ou de ter pensamentos bizarros. Você quer aconchego? Não chegue perto da janela, e jamais a abra. O nó da questão é que se você seguir esse conselho e mantiver as janelas fechadas, o ambiente logo ficará abafado e, no limite, opressivo (BAUMAN, 2003, p.10).
O livro 1984, de George Orwell, retrata de forma precisa a ditadura do olhar imposto pelo Estado normativo, situação que se encaixa perfeitamente em nossa sociedade midiática. Não existe ação individual que não seja conhecida pela estrutura do poder, que observa minuciosamente todo o conjunto de comportamentos da coletividade. Os aparatos que garantem a eficácia desse procedimento controlador são grandes telas de televisão alocadas em pontos estratégicos dos lares e das ruas, através dos quais os indivíduos podem receber imperativos do grande líder instituído, o Big Brother ("Grande Irmão"), aquele que determinada quais as ações que devem ser desempenhadas por cada um, tornando-se o substituto de toda ausência de relações pessoais nesse sistema normativo, pois que todo contato afetivo mais íntimo entre os indivíduos foi suprimido. Orwell, ao elaborar essa visão angustiante da era do controle individual através do registro onisciente de todas as ações, antecipou importantes questões sobre o advento da sociedade de controle, e de que maneira ela exerceria uma profunda modificação na forma pela qual o indivíduo constrói a sua existência. Quem poderia imaginar que essa criação literária, enunciadora de uma angustiante situação de controle contínuo das subjetividades, cuja instauração é possível em qualquer sociedade, viria a ser deturpado pelo uso vulgarizado do programa de TV homônimo? Trata-se de um demérito ao talento intelectual de Orwell, que pretendia alertar para o perigo dos sistemas totalitários de quaisquer orientações ideológicas, supressores das liberdades individuais. O “Big Brother” televisivo faz da possibilidade de se ver a vida alheia como algo apetecível, consumível.
Os meios de comunicação despertam na coletividade social o desejo de ter acesso àquilo que é escondido, privado, assim como insuflam a suposta possibilidade de qualquer um se tornar o alvo das atenções da consciência telespectadora, de modo que o participante de tal espetáculo passa então a ser vigiado avidamente pelo olhar anônimo da massa, na espera da realização de um gesto de lascívia, uma nudez fortuita, um descontrole emocional, um palavrão. Não há grande distância entre o voyeur e o Big Brother; na verdade, tal tipo de programa promove o voyeurismo em escala hiperbólica na nossa cultura imagética. Trata-se de uma situação curiosa: o voyeur é considerado uma pessoa imoral, pois viola o direito de privacidade do observado, mas os aparatos televisivos enaltecem o direito de vermos a intimidade de um grupo de desconhecidos confinados em um espaço monitorado, como se de fato participássemos da vida particular desses indivíduos, tornados meras coisas observáveis, meios de obtenção de prazer mediante o olhar concupiscente.
Vemos atualmente em nossa sociedade a proliferação dos instrumentos de monitoração das ações individuais, fenômeno esse decorrente do sentimento da coletividade de obter cada vez mais segurança no decorrer da atribulada vida cotidiana. Afinal, o controle social exercido através do registro do olhar das câmeras concede para muitos uma espécie de sensação de segurança diante de uma realidade cada vez mais marcada pelo descontrole, pela agitação, pela violência, pelo caos social. Em contrapartida, o indivíduo perde a sua tão cara privacidade, o momento de intimidade no qual ele poderia se isolar por determinado período de tempo do seu vínculo com a realidade externa, praticando ações que, do ponto de vista público, poderiam causar constrangimentos pessoais. Contudo, a comunidade social abdica do benefício da intimidade e do desfrute do espaço privado, em prol da garantia de estabilidade e da conquista da sensação de proteção, efetivada pelas estruturas de poder que efetivam esse mecanismo de observação de todo tipo de ação destoante do padrão estabelecido. Eis a sociedade de controle e suas armas, as câmeras oniscientes.
Referências bibliográficas
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade – A busca por segurança no mundo atual. Trad. de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
_________. Globalização – As conseqüências humanas. Trad. de Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
BENTHAM, Jeremy. O Panóptico. Trad. Tomas Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2000.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. de Eduardo Jardim e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Nau Editora, 1999.
___________. Vigiar e Punir. Trad. de Ligia M. Pondé Vassalo. Petrópolis: Ed. Vozes, 1984.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
ORWELL, George. 1984. Trad. de Wilson Velloso. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2004.
Fonte: Revista Espaço Acadêmico, 94, março de 2009.
sexta-feira, 6 de março de 2009
Gerenciamento digital
O Sistema de Bibliotecas da Universidade Estadual de Campinas (SBU/Unicamp) liberou o acesso do novo software de gerenciamento de seu acervo.
A substituição do software norte-americano Virtua pelo programa nacional Sophia representará, segundo a universidade, economia de recursos, além de oferecer uma interface mais amigável para busca dos materiais bibliográficos dos acervos das 25 bibliotecas do sistema.
Entre as facilidades com a implantação do novo software está o acesso simultâneo à base Acervus, composto por mais de 700 mil livros, 16 mil títulos de periódicos, 60 mil teses e dissertações, além de outros tipos de materiais como partituras, CD-ROM, vídeos, microfilmes e microfichas.
No software anterior havia restrição de 128 usuários simultâneos à base Acervus. O Sophia permite até 500 conexões simultâneas na estrutura cliente/servidor e acesso web ilimitado, com 50 novas conexões simultâneas por segundo.
O processo de substituição do software foi iniciado em dezembro de 2008, quando teve inicio a fase de migração de mais de 1,2 milhão de itens que compõem a nova base de dados.
O novo software fornece ainda outros serviços como o controle integrado de guarda-volumes nas bibliotecas e, em breve, oferecerá o acesso de serviços como a disseminação seletiva da informação (serviço de alerta que informa automaticamente a chegada de um livro do interesse do usuário que estiver cadastrado) e serviço de indicação de novos títulos para aquisição.
Mais informações: www.unicamp.br/bc
Fonte - Agência FAPESP
A substituição do software norte-americano Virtua pelo programa nacional Sophia representará, segundo a universidade, economia de recursos, além de oferecer uma interface mais amigável para busca dos materiais bibliográficos dos acervos das 25 bibliotecas do sistema.
Entre as facilidades com a implantação do novo software está o acesso simultâneo à base Acervus, composto por mais de 700 mil livros, 16 mil títulos de periódicos, 60 mil teses e dissertações, além de outros tipos de materiais como partituras, CD-ROM, vídeos, microfilmes e microfichas.
No software anterior havia restrição de 128 usuários simultâneos à base Acervus. O Sophia permite até 500 conexões simultâneas na estrutura cliente/servidor e acesso web ilimitado, com 50 novas conexões simultâneas por segundo.
O processo de substituição do software foi iniciado em dezembro de 2008, quando teve inicio a fase de migração de mais de 1,2 milhão de itens que compõem a nova base de dados.
O novo software fornece ainda outros serviços como o controle integrado de guarda-volumes nas bibliotecas e, em breve, oferecerá o acesso de serviços como a disseminação seletiva da informação (serviço de alerta que informa automaticamente a chegada de um livro do interesse do usuário que estiver cadastrado) e serviço de indicação de novos títulos para aquisição.
Mais informações: www.unicamp.br/bc
Fonte - Agência FAPESP
Informação, poder e política: novas mediações tecnológicas e institucionais
O seminário internacional "Informação, poder e política: novas mediações tecnológicas e institucionais" será realizado de 15 a 17 de abril, no Rio de Janeiro.
O objetivo é debater como as transformações sociais, políticas, econômicas e tecnológicas contemporâneas de produção e circulação da informação e do conhecimento engendram novas questões e novas abordagens nas relações entre informação, poder e política.
Promovem o evento o Centro de Altos Estudos em Ciência da Informação e Inovação (Ibict), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“Informação e a reconfiguração geopolítica e geoeconômica mundial”, “O regime global emergente de informação”, “Informação, cidadania e democracia” e “Publicização e privatização da informação: dialéticas contemporâneas” serão alguns temas em análise.
Mais informações: www.liinc.ufrj.br/seminario/index.html
Fonte: Agência FAPESP
O objetivo é debater como as transformações sociais, políticas, econômicas e tecnológicas contemporâneas de produção e circulação da informação e do conhecimento engendram novas questões e novas abordagens nas relações entre informação, poder e política.
Promovem o evento o Centro de Altos Estudos em Ciência da Informação e Inovação (Ibict), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“Informação e a reconfiguração geopolítica e geoeconômica mundial”, “O regime global emergente de informação”, “Informação, cidadania e democracia” e “Publicização e privatização da informação: dialéticas contemporâneas” serão alguns temas em análise.
Mais informações: www.liinc.ufrj.br/seminario/index.html
Fonte: Agência FAPESP
Acesso aberto aumenta citações
Agência FAPESP – Publicar artigos científicos em serviços de acesso livre e gratuito aumenta a quantidade de citações que os autores recebem. O aumento não é tão grande como se achava, mas ainda assim é significativo, particularmente nos países em desenvolvimento.
“A influência do acesso aberto (open access) é mais modesta do que foi estimado anteriormente. [O aumento] Está em torno de 8% para pesquisas publicadas recentemente, mas está clara a sua capacidade de ampliar o círculo global daqueles que podem participar e se beneficiar da ciência”, destacaram os autores em artigo publicado nesta sexta-feira (20/2) na revista Science.
James Evans e Jacob Reimer, da Universidade de Chicago, usaram dados dos índices de bases da Thomson ISI, incluindo artigos e citações associadas dos 8.253 periódicos científicos mais citados desde 1945. Os dados foram comparados com a disponibilidade dos periódicos conforme a serviço Information Today.
No total, os pesquisadores analisaram dados de cerca de 26 milhões de artigos, dos quais 88% foram publicados em inglês. Os 77% de artigos que continham informação a respeito das instituições às quais os autores estão ligados tiveram seus dados confrontados com informações econômicas dos países, obtidos do Banco Mundial e de agências da Organização das Nações Unidas.
Os resultados indicaram que a influência da publicação em acesso aberto foi mais do que duas vezes maior nos países em desenvolvimento em comparação com os mais ricos. Nas nações mais pobres a tendência não ocorreu, segundo os autores, devido à precariedade do acesso à internet.
O artigo Open access and global participation in science, de James Evans e Jacob Reimer, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org
Fonte: Agência FAPESP
“A influência do acesso aberto (open access) é mais modesta do que foi estimado anteriormente. [O aumento] Está em torno de 8% para pesquisas publicadas recentemente, mas está clara a sua capacidade de ampliar o círculo global daqueles que podem participar e se beneficiar da ciência”, destacaram os autores em artigo publicado nesta sexta-feira (20/2) na revista Science.
James Evans e Jacob Reimer, da Universidade de Chicago, usaram dados dos índices de bases da Thomson ISI, incluindo artigos e citações associadas dos 8.253 periódicos científicos mais citados desde 1945. Os dados foram comparados com a disponibilidade dos periódicos conforme a serviço Information Today.
No total, os pesquisadores analisaram dados de cerca de 26 milhões de artigos, dos quais 88% foram publicados em inglês. Os 77% de artigos que continham informação a respeito das instituições às quais os autores estão ligados tiveram seus dados confrontados com informações econômicas dos países, obtidos do Banco Mundial e de agências da Organização das Nações Unidas.
Os resultados indicaram que a influência da publicação em acesso aberto foi mais do que duas vezes maior nos países em desenvolvimento em comparação com os mais ricos. Nas nações mais pobres a tendência não ocorreu, segundo os autores, devido à precariedade do acesso à internet.
O artigo Open access and global participation in science, de James Evans e Jacob Reimer, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org
Fonte: Agência FAPESP
6° Congresso Internacional de Gestão de Tecnologia e Sistemas de Informação
De 3/6/2009 à 5/6/2009
Duração: 3 dias
O 6° Congresso Internacional de Gestão de Tecnologia e Sistemas de Informação (Contecsi) será realizado entre 3 e 5 de junho, em São Paulo. A promoção é do Laboratório de Tecnologia e Sistemas de Informação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo.
O evento discutirá os efeitos da Tecnologia da Informação e dos Sistemas de Informação nas organizações e na sociedade e reunirá professores e pesquisadores do Brasil e do exterior, especialmente das universidades conveniadas com a FEA, da Inglaterra, França, Espanha, Portugal, Chile, Argentina, Uruguai, México e Venezuela.
O objetivo principal do congresso – de caráter multidisciplinar – é promover o relacionamento entre as diversas comunidades envolvidas na tecnologia e nos sistemas de informação, na produção, implementação e utilização.
Mais informações: www.tecsi.fea.usp.br
Fonte: Agência FAPESP
Duração: 3 dias
O 6° Congresso Internacional de Gestão de Tecnologia e Sistemas de Informação (Contecsi) será realizado entre 3 e 5 de junho, em São Paulo. A promoção é do Laboratório de Tecnologia e Sistemas de Informação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo.
O evento discutirá os efeitos da Tecnologia da Informação e dos Sistemas de Informação nas organizações e na sociedade e reunirá professores e pesquisadores do Brasil e do exterior, especialmente das universidades conveniadas com a FEA, da Inglaterra, França, Espanha, Portugal, Chile, Argentina, Uruguai, México e Venezuela.
O objetivo principal do congresso – de caráter multidisciplinar – é promover o relacionamento entre as diversas comunidades envolvidas na tecnologia e nos sistemas de informação, na produção, implementação e utilização.
Mais informações: www.tecsi.fea.usp.br
Fonte: Agência FAPESP
Biblioteca Virtual da América Latina
Agência FAPESP – A Fundação Memorial da América Latina lançará na próxima sexta-feira (13/2) a Biblioteca Virtual da América Latina (BV@L). O projeto, que conta com apoio da FAPESP, traz já no início informações da coleção de vídeos e do acervo bibliográfico da Biblioteca Latino-Americana Victor Civita, cujo acervo especializado em artes e humanidades tem mais de 25 mil registros.
Assim como a Biblioteca Virtual do Centro de Documentação e Informação da FAPESP (BV-CDi) , a BV@L utiliza a tecnologia BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), desenvolvida pelo Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme).
De acordo com a coordenadora operacional do CDi da FAPESP, Rosaly Favero Krzyzanowski – que integrou a comissão consultiva responsável pela implantação do projeto –, a BV@L era há anos uma aspiração da Fundação Memorial, mas a instituição ainda não tinha à disposição a tecnologia de informação necessária para a implementação.
“Em 2007 foi estabelecida uma parceria com a FAPESP, com a finalidade de transferir à equipe do Memorial a experiência acumulada pela equipe da BV-CDi”, disse Rosaly à Agência FAPESP.
Segundo ela, o sistema BVS é voltado para a área médica, mas foi adaptado para o uso em ciência e tecnologia na ocasião da implantação da BV-CDi, permitindo a montagem de indexadores e planilhas capazes de incluir os dados necessários para a FAPESP.
“Essa experiência de customização permitiu que apoiássemos o Memorial na construção de sua biblioteca virtual. A função da BV@L será a promoção da integração dos países latino-americanos por meio da reflexão sobre a informação cultural disponível nos países do continente”, afirmou.
Com a conclusão da fase de desenvolvimento, o Memorial assumiu a gestão da biblioteca virtual. “A instituição tem uma equipe técnica que está fazendo a indexação dos conteúdos”, disse Rosaly. A coordenação técnica do projeto é de Marcia Rosetto, especialista em sistemas automatizados e que participou da implantação do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo (USP).
A BV@L está sendo lançada com algumas bases bibliográficas, sendo que todo o acervo da Biblioteca Victor Civita já está indexado. Uma série de diretórios indica o que está ocorrendo atualmente no continente na área cultural.
“O portal seguiu o conceito da BV-CDi: não é preciso que absolutamente todos os conteúdos informados estejam disponíveis e digitalizados. O ponto central é informar onde está o material e descrever seu conteúdo. Nossa intenção não é montar um acervo próprio, mas facilitar o acesso aos acervos institucionais”, explicou Rosaly.
Diretórios
Os mais de 25 mil registros do acervo bibliográfico da Biblioteca do Memorial consistem em livros, periódicos, folhetos de arte, catálogos e recortes de jornais. Há também mais 10 mil itens pertencentes à coleção André Franco Montoro, do Instituto Latino-Americano (Ilam), doada ao Memorial. Todo esse conteúdo pode ser consultado no local.
Além do acervo bibliográfico, a Biblioteca Victor Civita reúne mais de 2 mil registros de vídeos de ficção e documentários da produção cinematográfica mundial e, principalmente, latino-americana.
A Biblioteca Victor Civita possui ainda a Coleção Produção Científica – composta por cerca de 200 registros das publicações editadas pelo Memorial –, a Coleção Biblioteca Ayacucho – uma das principais coleções sobre a cultura latino-americana, editada na Venezuela desde 1974 – e a Coleção Brasiliana, série da Biblioteca Pedagógica publicada pela Editora Nacional e iniciada em 1931, que contempla ensaios sobre a formação histórica e social do Brasil.
De acordo com Rosaly, além do acesso a todo o acervo da Biblioteca Victor Civita, o portal BV@L também oferece os diretórios de países, de sites e de eventos, bem como as seções “Memorial na mídia”, “Acervos especializados”, “Bases de dados”, “Feiras de livros”, “Jornais eletrônicos” e “Revistas eletrônicas”.
O diretório de países contempla uma breve descrição sobre cada país integrante da biblioteca virtual, com suas listas de sites selecionados sobre Artes, Arquivos, Bibliotecas, Fundações, Governo, Instituições, Literatura, Museus, Publicações, Turismo e Universidades. Esses temas também correspondem à indexação do diretório de sites.
Já o diretório de eventos apresenta informações sobre os eventos do Memorial da América Latina desde a sua fundação, há 20 anos, em 1989, propiciando uma visualização geral das atividades realizadas sobre exposições, concertos, shows, mostras de filmes, lançamentos de publicações, cursos, oficinas, congressos, seminários, palestras, entre outros tipos de eventos e atividades.
Mais informações: www.bvmemorial.fapesp.br
Fonte: Agência Fapesp
Assim como a Biblioteca Virtual do Centro de Documentação e Informação da FAPESP (BV-CDi) , a BV@L utiliza a tecnologia BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), desenvolvida pelo Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme).
De acordo com a coordenadora operacional do CDi da FAPESP, Rosaly Favero Krzyzanowski – que integrou a comissão consultiva responsável pela implantação do projeto –, a BV@L era há anos uma aspiração da Fundação Memorial, mas a instituição ainda não tinha à disposição a tecnologia de informação necessária para a implementação.
“Em 2007 foi estabelecida uma parceria com a FAPESP, com a finalidade de transferir à equipe do Memorial a experiência acumulada pela equipe da BV-CDi”, disse Rosaly à Agência FAPESP.
Segundo ela, o sistema BVS é voltado para a área médica, mas foi adaptado para o uso em ciência e tecnologia na ocasião da implantação da BV-CDi, permitindo a montagem de indexadores e planilhas capazes de incluir os dados necessários para a FAPESP.
“Essa experiência de customização permitiu que apoiássemos o Memorial na construção de sua biblioteca virtual. A função da BV@L será a promoção da integração dos países latino-americanos por meio da reflexão sobre a informação cultural disponível nos países do continente”, afirmou.
Com a conclusão da fase de desenvolvimento, o Memorial assumiu a gestão da biblioteca virtual. “A instituição tem uma equipe técnica que está fazendo a indexação dos conteúdos”, disse Rosaly. A coordenação técnica do projeto é de Marcia Rosetto, especialista em sistemas automatizados e que participou da implantação do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo (USP).
A BV@L está sendo lançada com algumas bases bibliográficas, sendo que todo o acervo da Biblioteca Victor Civita já está indexado. Uma série de diretórios indica o que está ocorrendo atualmente no continente na área cultural.
“O portal seguiu o conceito da BV-CDi: não é preciso que absolutamente todos os conteúdos informados estejam disponíveis e digitalizados. O ponto central é informar onde está o material e descrever seu conteúdo. Nossa intenção não é montar um acervo próprio, mas facilitar o acesso aos acervos institucionais”, explicou Rosaly.
Diretórios
Os mais de 25 mil registros do acervo bibliográfico da Biblioteca do Memorial consistem em livros, periódicos, folhetos de arte, catálogos e recortes de jornais. Há também mais 10 mil itens pertencentes à coleção André Franco Montoro, do Instituto Latino-Americano (Ilam), doada ao Memorial. Todo esse conteúdo pode ser consultado no local.
Além do acervo bibliográfico, a Biblioteca Victor Civita reúne mais de 2 mil registros de vídeos de ficção e documentários da produção cinematográfica mundial e, principalmente, latino-americana.
A Biblioteca Victor Civita possui ainda a Coleção Produção Científica – composta por cerca de 200 registros das publicações editadas pelo Memorial –, a Coleção Biblioteca Ayacucho – uma das principais coleções sobre a cultura latino-americana, editada na Venezuela desde 1974 – e a Coleção Brasiliana, série da Biblioteca Pedagógica publicada pela Editora Nacional e iniciada em 1931, que contempla ensaios sobre a formação histórica e social do Brasil.
De acordo com Rosaly, além do acesso a todo o acervo da Biblioteca Victor Civita, o portal BV@L também oferece os diretórios de países, de sites e de eventos, bem como as seções “Memorial na mídia”, “Acervos especializados”, “Bases de dados”, “Feiras de livros”, “Jornais eletrônicos” e “Revistas eletrônicas”.
O diretório de países contempla uma breve descrição sobre cada país integrante da biblioteca virtual, com suas listas de sites selecionados sobre Artes, Arquivos, Bibliotecas, Fundações, Governo, Instituições, Literatura, Museus, Publicações, Turismo e Universidades. Esses temas também correspondem à indexação do diretório de sites.
Já o diretório de eventos apresenta informações sobre os eventos do Memorial da América Latina desde a sua fundação, há 20 anos, em 1989, propiciando uma visualização geral das atividades realizadas sobre exposições, concertos, shows, mostras de filmes, lançamentos de publicações, cursos, oficinas, congressos, seminários, palestras, entre outros tipos de eventos e atividades.
Mais informações: www.bvmemorial.fapesp.br
Fonte: Agência Fapesp
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