quarta-feira, 13 de maio de 2009

Redes digitais e movimentos sociais: perspectivas

INTRODUCCIÓN / RESUMEN

Neste texto se discutem algumas das exigências que as sociedades colocam às organizações e instituições que se propõem a realizar algum tipo de trabalho relacionado à identificação e encaminhamento de demandas sociais (materiais e/ou simbólicas). Pesquisas realizadas em organizações do Terceiro Setor possibilitaram a identificação de algumas estratégias de comunicação relevantes para os processos de mobilização social, com especial ênfase para a comunicação por meio de redes digitais.

Este trabalho é resultado de pesquisas em andamento já há alguns anos e que tratam, basicamente, do papel que as atividades de comunicação vêm desempenhando, ou do papel que se espera que venham desempenhar, nas organizações do Terceiro Setor (1) , tanto do ponto de vista das próprias organizações como também da literatura existente. Convém deixar claro que na perspectiva aqui adotada o chamado Terceiro Setor não pode ser visto como algo homogêneo ou coerente, e sim como uma heterogeneidade que comporta desde entidades filantrópicas, religiosas, grupos mais ou menos estáveis de assistência social, até instituições cujo caráter político e ideológico é mais definido e que optam por um maior comprometimento com transformações sociais radicais. Nas pesquisas realizadas, descartamos as instituições filantrópicas e/ou religiosas e dirigimos o foco para as organizações que se propõem, explicitamente, a proporcionar algum tipo de benefício e/ou transformação, material ou subjetiva, que implique também em algum compromisso com transformações culturais e sociais, isto é, com a possibilidade de construção de uma nova ordem social.

Além dessa heterogeneidade, talvez não seja redundante lembrar que o estilo de atuação das organizações tem mudado bastante, especialmente em função das exigências colocadas pelas instituições financiadoras, que passaram a avaliar os projetos levando em consideração principalmente a possibilidade de mensurar, quantitativamente, os objetivos a que aquelas se propõem e os resultados que apresentam. Para se adequar a essa realidade, as organizações tiveram de se adaptar e rever métodos e práticas de intervenção social, adaptação que não aconteceu sem custos, tanto em termos do sacrifício dos resultados mais propriamente subjetivos e, portanto, difíceis de serem convertidos em quantidades, quanto em termos de priorizar a capacidade de se reorganizarem internamente, em detrimento da possibilidade de se servir da militância como elemento central na colaboração e condução das políticas de intervenção social. Essa necessidade de especialização das funções e da qualificação da mão-de-obra abriu um amplo campo de atuação para profissionais de várias áreas, que muitas vezes não possuíam uma formação humanística adequada e/ou um maior comprometimento ideológico com os processos de transformação social.

Assim, não se trata aqui, exclusivamente, de avaliar as atividades de comunicação empreendidas pelas entidades pesquisadas, uma vez que tais apreciações já foram realizadas e apresentadas em trabalhos anteriores (2) , mas também de identificar outros elementos úteis para o desempenho mais eficaz das ações das organizações do Terceiro Setor, em especial aquelas em que a eficácia comunicativa é condição para alcançar os objetivos propostos. A intenção é contribuir para que os debates sobre a tendência crescente à profissionalização não caminhem na direção do engessamento e da burocratização, ou da adoção de estratégias meramente copiadas da gestão empresarial, em vista da importância que assumem essas formas de organização popular para o exercício mais pleno dos direitos da cidadania e para a diminuição das desigualdades.


Da difícil tarefa de resistir

Nas últimas décadas, as transformações políticas, sociais, econômicas e tecnológicas contribuíram tanto para a consolidação de uma ordem social em que viceja uma cultura em vários aspectos desfavorável às demandas pela redistribuição mais eqüitativa dos recursos e do resultado da produção social quanto para o reconhecimento das diferenças daí decorrentes.

Em um mundo em que prevalecem os valores da globalização neoliberal, são perceptíveis o esfacelamento dos ideais coletivos e a multiplicidade de interesses em cena, e a fragmentação do espaço público em segmentos variados, que disputam uma maior participação na distribuição de vantagens econômicas, políticas e simbólicas. Em decorrência, as formas tradicionais de encaminhamento das lutas propriamente políticas têm perdido fôlego e as ideologias autoritárias, ao contrário, ampliam seu alcance. As possibilidades de luta social, atualmente, giram em torno de organizações, associações, cujos objetivos e alcance são mais localizados. Esse tipo de (re)organização ou de (re)configuração das lutas sociais vem colocando em cena novos atores sociais em substituição ao proletariado como o grande ator coletivo. E no lugar da luta política global surgem novas demandas setoriais, parciais, em que as conquistas simbólicas constituem um avanço talvez maior do que a satisfação de privações materiais. E os processos de mobilização passam a ser, freqüentemente, organizados por meio das redes eletrônicas. Os exemplos das manifestações mundialmente organizadas que tiveram lugar em Seattle ou em Gênova são provas da capacidade de articulação dos movimentos contra-hegemônicos.

Ainda que existam críticas dirigidas em especial às organizações que buscam conquistas simbólicas, ou reconhecimento social, não se pode negar que os processos democráticos se estendem também à esfera cultural e social, não se concentrando apenas nas demandas de cunho econômico. Bauman (3) , por exemplo, afirma que as organizações que buscam a necessária visibilidade pública para sua própria sobrevivência, mantêm “75% dos americanos e 95% da população mundial ocupados com hostilidades étnicas e religiosas... Se os proletários puderem ser distraídos de seu próprio desespero por pseudo-eventos criados pela mídia, incluindo uma breve e sangrenta guerra ocasional, os super-ricos nada terão a temer”. Este autor também distingue duas diferentes formas de organização: aquelas cujos objetivos estão relacionados ao reconhecimento de diferenças e as que efetivamente têm em pauta as demandas por mais igualdade e justiça social. Ele também aponta o risco, sempre presente, de que essa identificação com objetivos representativos das classes populares, quando construída em torno de lutas pelo reconhecimento de diferenças, ser meramente o retrato da fragmentação social e da incapacidade de se concentrar naquilo que efetivamente importa: as questões relacionadas à desigualdade.

É por isso mesmo que, quando se abordam as organizações do Terceiro Setor como agentes privilegiados de reorganização de grupos e comunidades, elas passam a poder ser vistas como elemento de mobilização social, desde que sua atuação seja no sentido de proporcionar o surgimento das condições necessárias. Para Melucci (4) , algumas condições são a existência de “um ator que se define por sua própria identidade; uma relação de oposição em que ele é um dos pólos e a delimitação de um campo que dá significado à luta e ao objetivo”.

A relação entre identidade e mobilização social não é algo novo; já vem sendo apontada por diversos autores em termos de seu potencial contracultural e de criação e exercício de novas formas de relações sociais cotidianas, o que implica o estreitamento de laços com outros em condições semelhantes (5). As construções identitárias, entretanto, nas condições históricas atuais, tendem a ser múltiplas, frágeis e ostensivamente transitórias. Estabelecer e solidificar laços humanos toma tempo, requer comprometimento e se consolida com a visão de perspectivas futuras; mas as uniões tendem a ser de curto prazo e destituídas de perspectivas, condenando a possível comunidade de interesses a se dissolver antes mesmo de se reunir ou de se solidificar (6).

Assim, a forma de atuação das organizações deveria ser pensada, antes de tudo, no que diz respeito à identificação de objetivos representativos das necessidades das populações, em torno dos quais se pudessem articular identidades e sentimentos de pertencimento, de forma a construir um “nós” perante um “outro” reconhecível e localizável historicamente, sem que esses processos se extingam na rapidez da transitoriedade das modas, mesmo políticas. Uma excessiva mobilidade poderia comprometer a estabilidade e a permanência do comprometimento efetivo com projetos futuros e o engajamento necessário à luta política. Mas, ainda na visão de Bauman, as lutas por reconhecimento (das diferenças) se justificariam a partir do momento em que se

“tornam um terreno fértil para o comprometimento mútuo e o diálogo significativo, que poderão eventualmente levar a uma nova unidade [uma vez que] ... a única estratégia disponível para realizar o postulado da ‘sociedade justa’ é a eliminação dos impedimentos à distribuição eqüitativa das oportunidades uma a uma, à medida que se revelam e são trazidas à atenção pública graças à articulação, manifestação e esforço das sucessivas demandas por reconhecimento. Nem todas as diferenças têm o mesmo valor, e alguns modos de vida e formas de união são eticamente superiores a outras; mas não há forma de definir qual é o que, a menos que seja dada a todas a oportunidade de defender e fundamentar seu pleito” (7).
É exatamente nessa convergência entre luta cultural pela superação das diferenças e as lutas políticas por melhor redistribuição da produção social e por mais igualdade que se situa o grande desafio para as organizações da sociedade civil. A reconfiguração dos embates sociais, entretanto, os aspectos culturais ganham destaque, mesmo nas causas mais propriamente relacionadas às questões objetivas, ou seja, as demandas materiais são também, freqüentemente, revestidas de um matiz cultural (8) .

A partir dessas premissas tentou-se extrair das pesquisas empreendidas informações que permitissem identificar em que direção o trabalho das organizações poderia se encaminhar para que sua atuação possuísse um caráter mais inclusivo, no sentido de propiciar a reaproximação e o entendimento entre as diferentes modalidades de intervenção social.

A partir da análise das estratégias comunicativas adotadas por várias instituições do Terceiro Setor localizadas em Goiânia, bem como da análise do tratamento dado por jornais e revistas (9) e lista de discussão sobre os movimentos sociais, foi possível refletir sobre as formas de se conseguir fazer circular discursos alternativos.


Comunicar é mais que divulgar

Deve-se reconhecer que um dos grandes problemas identificados ainda é a avaliação do papel da comunicação nos processos de mudança social. As atividades comunicativas são percebidas, cada vez mais, como elementos decisivos para a obtenção de mudanças de atitudes, de comportamento e, sobretudo, dos padrões culturais mais profundos e expressivos, o que torna significativa a busca por modelos e estratégias mais eficazes e que dêem conta de equacionar problemas relativos à aceitação das mensagens e dos conteúdos dirigidos aos diferentes públicos das instituições.

Nas organizações do Terceiro Setor pesquisadas são poucas as que faze uso profissional da comunicação: tanto na comunicação imediata como mediada pelas tecnologias, muitas vezes valem-se de modelos que revelam uma concepção absolutamente instrumental de comunicação, isto é, como um conjunto de meios para atingir determinados fins.

Esses modelos apresentam perspectivas que vão desde o estritamente unidirecional, ao gosto das práticas preconizadas pelo modelo “difusão de inovações”, passando pelas técnicas empregadas pelo marketing social até os modelos mais sofisticados de mobilização popular, que apresentam várias etapas e instâncias de produção de sentido.

No que diz respeito à capacidade de colocar seus temas na agenda da grande mídia, a investigação, ainda que breve,identificou a dificuldade que as organizações do Terceiro Setor têm de “pautar” jornais e revistas. As exceções são as grandes ong’s, patrocinadas por grandes empresas ou fundações – como a ANDI, por exemplo, ou ong’a relacionadas aos direitos humanos que denunciam a violação desses direitos ou humanitárias, como a organização Médicos sem Fronteiras ou movimentos “pró-saúde” suportados por iniciativas de “responsabilidade social” de grandes empresas privadas que conseguem colocar, para um púbico maior, seu trabalho e suas conquistas, em especial quando sua clientela é formada por crianças ou idosos.

Como alternativa, despontam as redes digitais, a Internet. Devido ao fato de ser de fácil e teoricamente irrestrito acesso, de modo a permitir a circulação sem barreiras de todo tipo de informações, converte-se numa expectativa de tornar-se um espaço alternativo de circulação de opiniões como contraponto à grande mídia. No entanto, convém receber esta idéia com um misto de entusiasmo e cautela, pois algumas reservas devem ser feitas.

Em primeiro lugar pode-se objetar que, apesar da gratuidade, o acesso não é irrestrito e que vastas parcelas da população não conseguem, tanto por falta de meios econômicos quanto pela falta de um repertório de conhecimentos específicos, manter uma relação proveitosa com esta nova mídia. Pode-se objetar também que a Internet tem se desenvolvido no sentido de imitar um funcionamento televisivo, nas modalidades de patrocínio, de comercialização e nos conteúdos. A revista Veja informa que dos dez assuntos mais pesquisados nos serviços de busca brasileiros, oito tem a ver com sexo e não é mais novidade que os serviços mais procurados são os de bate-papo.

Em artigo sobre as (im)possibilidades das novas tecnologias, Lucien Sfez diferencia a liberdade de expressão da liberdade de pensar de forma autônoma e de nada serve esta pretensa liberdade se as mentes estão subordinadas aos cânones oficiais. Para o autor, “pensar não é qualquer coisa de inato, aprende-se, conduz-se segundo regras, refina-se; isto não tem nada a ver com a liberdade de expressão comercial (...). A livre expressão comercial é a expressão do consumidor; o pensar por si mesmo, ao contrário, é a liberdade de expressão do cidadão” (10).

Assim é que, paralelamente ao fato de as redes digitais possibilitarem efetivamente a circulação e o intercâmbio de idéias e de conteúdos alternativos, elas também percorrem caminhos em muitos aspectos semelhantes aos meios de comunicação tradicionais: comercialização do espaço, profusão de superficialidades, concentração da tecnologia, limitação das fontes produtoras de notícias, e por fim, a construção de mais um canal de exercício da influência do “modus vivendi” norte-americano sobre as outras culturas.

Em relação à existência de redes de comunicação entre os membros das organizações e entre estes e seu público, as entrevistas realizadas informam que existe pouco conhecimento sobre as possibilidades de utilização de redes, tanto as eletrônicas como as sociais. Em geral, verifica-se que não existe uma compreensão mais exata do que seja uma rede nem das implicações de sua existência na própria condução do trabalho. O conceito ainda presta-se a ambigüidades e interpretações estreitas.

Em relação à Internet, em geral utilizam-se apenas os recursos mais simples, sem um projeto específico que preveja a exploração eficiente das potencialidades dos espaços virtuais. Mesmo um simples mailing atualizado e devidamente segmentado é difícil de ser encontrado. A construção de sites parece ser compreendida como um importante recurso para atingir públicos diferenciados, mas sua atualização, a conexão com similares e as possibilidades de interação efetiva são pouco empregadas. Rede, nesse caso, refere-se mais à noção de fluxos de informação ou existência de conteúdos disponíveis do que propriamente de uma rede de comunicação em que a possibilidade de interatividade seja um fato concreto e conduza à construção de saberes e ao compartilhamento de objetivos.

Parece ser ainda muito pouco exploradas algumas das características principais das redes, como a flexibilidade, a pouca ou nenhuma hierarquia, a participação voluntária em torno de objetivos ou temáticas comuns podem conduzir a uma percepção de casualidade ou contingência, mas na verdade as redes podem ser estimuladas, monitoradas, avaliadas e se configuram como um importante recurso de mobilização. Por meio da rede transitam fluxos de informação que possibilitam a interação e a cooperação, capazes de alimentar a produção e a difusão de conhecimento, ampliando a capacidade de comunicação e intercâmbio de experiências entre as diferentes organizações, nos diversos estágios de desenvolvimento. Podem ser planejadas para que, na prática, possam funcionar como uma comunidade de interesse ou de afinidade, portadora de uma identidade coletiva reconhecida pelos seus membros e que possui objetivos e metas específicos, tanto em termos de produção e circulação de informações como em ampliação do número de participantes, entre outros critérios possíveis.

Simultaneamente, as listas de discussão, em especial a “TerceiroSetor” aqui analisada e da qual a autora é membro, faz com que circulem nesta mesma Internet os manifestos, os trabalhos realizados por diferentes grupos, publicações, convocações, listas de discussões e outras formas mais de comunicação não aceitas ou tecnicamente incompatíveis com os outros meios. Resta saber se estas iniciativas não se restringem e a um círculo de pequenos grupos de iniciados, uma vez que os textos são muitos, grandes e de demorada leitura. Falta identificar se serão capazes de fazer frente ao poder da mídia tradicionais e comerciais e dar visibilidade a questões e problema de interesse social e de expressar outras visões de mundo. Pois é na junção dessas formas alternativas de mobilização social que podem ser depositadas as expectativas de construção de um novo espaço público, como aconteceu durante a realização do Fórum Social Mundial, que não conseguiu ocupar, desta vez, as páginas dos jornais mais conservadores.

A se concordar com a afirmação de Walter Benjamin, que uma “tecnologia só pode ser absorvida por uma cultura quando esta lhe dá uma função social”, as redes eletrônicas só passariam a fazer sentido a partir do momento em que fossem utilizadas para a difusão de um discurso particular, de mais uma fala no conjunto dos discursos sociais. É quando se dá um cunho social à rede, ao permitir o intercâmbio de experiências e a construção, conjunta, de modos diferentes de ver, de compreender e de construir o mundo. Construção que permite vislumbrar novas formas de apropriação desse mundo.


Considerações Finais

Não foi intenção, nesse texto, fornecer modelos ou normas de condutas para organizações do Terceiro Setor, nem mesmo pretender que exista uma maneira única, especial e preferencial de organizar as atividades das instituições. Ao contrário, considera-se aqui que a singularidade de cada situação e de cada contexto histórico deve conduzir à recusa à utilização de modelos de qualquer natureza. O que não significa, também, a desqualificação das experiências acumuladas pelos diversos tipos de organização e movimentos sociais.

Assim, a contribuição se localiza na atenção que se deve dar aos processos de qualificação do trabalho na área. Ao mesmo tempo em que as habilidades técnicas não podem ter sua importância relativizada, não se pode abandonar, ou colocar em segundo plano os compromissos ideológicos que, se não chegam a constituir um projeto de vida, que ao menos tenham prioridade em determinado momento da existência particular de cada ator social.

As novas tecnologias oferecem um amplo campo de atuação para as organizações e movimentos sociais mas requerem, urgentemente, uma qualificação profissional específica de comunicador para que consigam, de forma leve, objetiva, sutil, irônica, transmitir mensagens outras.

Faz parte dessa necessária qualificação as redes se estendam também aos diferentes formatos de comunicação que não dispensem o local em favor global e nem, ao voltar-se para o local, desdenhem o poder do alcance da “grande mídia”. As diferentes formas de comunicação devem ocupar um papel privilegiado tanto no nível local, na reconstrução de subjetividades, quanto no nível global, aquele que vai permitir a identificação com outras lutas e ampliar a capacidade de mobilização social. Trabalhar para que as iniciativas locais, comunitárias, sejam viabilizadas e consigam realizar uma verdadeira democratização das comunicações neste País e que os diferentes meios de comunicação, especialmente os “de massa”, cumpram um papel que supere o incentivo ao consumo material e simbólico é, hoje, tarefa mais que necessária.

Será preciso, também, acompanhar o trabalho e avaliar se estas novas formas de organização social serão capazes de se enraizar nas práticas sociais e proporcionar o surgimento de novas matrizes culturais que se contraponham ao pensamento hegemônico. Apenas na medida em que conseguirem se entranhar na vida cotidiana, inserir nos discursos sociais os seus temas, sua agenda, seus princípios e valores, poderão criar condições para o surgimento de uma outra intersubjetividade, de uma cultura da cidadania, solidária, capaz de se contrapor à hegemonia mercadológica e, por fim, de realizar uma verdadeira revolução cultural.


Referências Bibliográficas

* BAUMAN,S. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
* CASTELLS, M. A sociedade em rede. S. Paulo: Paz e Terra, 2002.
* EVERS, Tilman. Identidade: a face oculta dos movimentos sociais. S. Paulo: Novos estudos CEBRAP, vol.2 n.4. abril, 1984.
* MARTIN-BARBERO, Jesus. Globalização comunicacional e transformação cultural. In: Denis de Moraes (org.) Por uma outra comunicação: mídia, mundialização cultural e poder. Rio de Janeiro: Record, 2003, p.69.
* MELUCCI, Alberto. A invenção do presente. Petrópolis: Vozes, 2001.
* PETRAS, James. Império e políticas revolucionárias na América Latina. S. Paulo: Xamã, 2002.
* SFEZ, Lucien. L’idéologie des nouvelles technologies. Le Monde Diplomatique,Dossier Manière de voir,n.46, juillet-août, 1999.
* SOUSA SANTOS, Boaventura. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitismo multicultural. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2003.


Notas

^ 1 A opção pelo termo Terceiro Setor é utilizado aqui para referir as OSCIPS (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público), denominação criada a partir da legislação, pelo fato de elas mesmas se identificarem e serem identificadas, em geral, como organizações do Terceiro Setor ou Organizações Não-Governamentais (ONGs).

^ 2 Essa crítica já foi realizada por mim em outros textos e também em trabalhos que orientei. Como exemplo, podem ser citados Processos comunicativos e subjetividade: desafios para o terceiro setor, texto apresentado no XII Congresso da Compós, Recife, junho de 2003 e Comunicação e terceiro setor: desafios e tendências, apresentado no XXVI Congresso da Intercom, Belo Horizonte, setembro de 2003.

^ 3 Bauman. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. p.95

^ 5 Melucci, Alberto. A invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas. p.61.

^ 5 Ver Tilman Evers. Identidade: a face oculta dos movimentos sociais.

^ 6 Ver Bauman, op.cit.

^ 7 Bauman, op.cit. p.73.

^ 8 É o que se verifica hoje no Brasil, com a questão das cotas para negros nas universidades públicas. Essa discussão toma lugar, nas pautas públicas, do real problema de distribuição de renda no país e de melhoria no sistema público de ensino fundamental e médio. A resolução dessas questões tornaria desnecessária, por ultrapassada, a discussão sobre cotas.

^ 9 Jornal O Globo; Folha de São Paulo (duas edições semanais), e Revista Veja (semanal) durante o mês de dezembro de 2007. A lista de discussão é a do Terceiro Setor. Algumas instituições em que a pesquisa foi realizada:: Fundação Pró-Cerrado (meio ambiente e educação de menores carentes) Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (crianças em situação de rua), Grupo Transas do Corpo (gênero), ARCA (meio ambiente), CEVAM (Centro de valorização da mulher), IBRACE (Instituto Brasil Central – meio ambiente), IFAS (Instituto de Formação e Assessoria Sindical Rural “Sebastião Rosa da Paz”), Grupo de prevenção ao uso indevido de drogas “Gente Livre” e outras mais.

^ 10 Sfez, Lucien. L’idéologie des nouvelles technologies. Le Monde Diplomatique, Dossier Manière de voir,n.46, juillet-août, 1999.

Fonte: CIbersociedad
Martins de Mendonça, Maria Luiza, 2009, Redes digitais e movimentos sociais: perspectivas, Revista TEXTOS de la CiberSociedad, 13. Temática Variada. Disponible en http://www.cibersociedad.net

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