Por Thiago Romero
Uma rede de fibras ópticas com capacidade de transmissão de 10 gigabits por segundo (Gbps) está à disposição dos pesquisadores baseados no Estado de São Paulo. Essa nova infraestrutura abre novas possibilidades de estudos colaborativos para cientistas paulistas, nas mais variadas áreas do conhecimento, além de conectá-los virtualmente à rede acadêmica mundial.
O físico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Luis Fernandez Lopez, coordenador do Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia) da FAPESP, explica que, no âmbito da rede acadêmica do Estado de São Paulo, a fundação paulista apoia dois projetos de internet: o projeto Kyatera e a rede ANSP (Academic Network at São Paulo, na sigla em inglês).
O projeto Kyatera mantém uma rede de fibras ópticas que conecta todos os laboratórios de pesquisa do Estado que precisem de acesso com mais capacidade de banda à internet e desenvolvem estudos científicos em redes.
“O Kyatera conta com links de 1 a 10 Gbps que interligam todos os laboratórios com capacidade para desenvolver pesquisas científicas de alto nível, especialmente em fotônica e aplicações em redes”, disse Lopez, que também é professor do Center for Internet Augmented Research and Assessment (Ciara) da Florida International University, nos Estados Unidos, à Agência FAPESP.
“Os links do projeto Kyatera também são utilizados por outros projetos apoiados pela FAPESP para a transferência dos mais diversos tipos de arquivos”, explica.
A elevada capacidade de banda, prossegue o pesquisador, é importante em casos que envolvam a troca de arquivos muito pesados, como imagens em alta resolução, em programas como o Cooperação Interinstitucional de Apoio a Pesquisas sobre o Cérebro (CInAPCe) e o Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.
Na 10ª edição do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File), que ocorreu no mês de julho, em São Paulo, foi realizada uma transmissão que serviu como teste prático definitivo do novo link que funciona nas redes de fibras ópticas do KyaTera com taxas de até 10 Gbps.
Na ocasião foi transmitido de São Paulo para San Diego e Tóquio um filme digital em alta definição, com streaming de vídeo de 3,5 Gbps contínuo, por mais de uma hora. No dia seguinte foi realizada ainda uma videoconferência de três pontos em full HD (alta definição) entre as três cidades.
“Trata-se de uma infraestrutura valiosa que a FAPESP disponibiliza para a comunidade acadêmica do Estado e que vem sendo cada vez mais utilizada por projetos de pesquisa, principalmente nas áreas de física de partículas de alta energia, fotônica, engenharia de redes, clima, telemedicina e neurologia”, disse.
“É importante destacar que pesquisadores de outras áreas do conhecimento, além dos físicos e astrônomos, também podem utilizar essa infraestrutura corriqueiramente”, aponta Lopez.
Rede ANSP
O outro projeto financiado pela FAPESP é a rede ANSP (Academic Network at São Paulo, na sigla em inglês), que faz o provimento do acesso da comunidade acadêmica do Estado à internet comercial e à internet acadêmica nacional e internacional, sendo que as universidades se conectam à ANSP por meio de conexões próprias para receber seus serviços.
Segundo Lopez, dentro do Estado de São Paulo, a rede ANSP interconecta hoje praticamente todas as universidades que desenvolvem algum tipo de pesquisa científica e tecnológica.
“As conexões pertencem às universidades e, portanto, variam muito em capacidade. Mas, em geral, vão de 10 megabits por segundo (Mbps) para algumas instituições privadas menores a 1 Gbps para as instituições públicas estaduais. Essas conexões são usadas principalmente para acesso à internet comercial”, explicou.
Com relação às conexões entre São Paulo e os demais Estados brasileiros, a rede ANSP mantém um acordo para a troca de tráfego com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) para a internet acadêmica, cujo tráfego também é de 10 Gbps.
“Com isso, as universidades paulistas estão conectadas virtualmente a todas as universidades públicas e privadas que fazem algum tipo de pesquisa científica e tecnológica no país”, aponta Lopez.
Dados do LHC
Na América Latina, que tem baixa conectividade entre seus países e com o resto do mundo, atualmente os pesquisadores paulistas contam com um link de 155 Mbps que interliga São Paulo a Santiago do Chile para atender aos estudos com os telescópios Gemini e Soar (Southern Observatory for Astrophysical Research, na sigla em inglês), este último com apoio da FAPESP, ambos situados no norte do Chile.
“Esse link é utilizado para a transferência de arquivos e a realização de algumas tarefas por controle remoto, mas a banda ainda é muito estreita para que possam ser dados passos importantes na direção do controle remoto de todas as atividades dos telescópios. Por isso, atualmente há grandes esforços para a ampliação do link de 155 Mbps entre São Paulo e Santiago para 1,2 Gbps”, indicou Lopez.
A conexão do Estado de São Paulo com Miami, nos Estados Unidos, ocorre por meio de um ponto de troca de tráfego acadêmico localizado na capital paulista, nomeado de Southern Light, e o novo link de 10 Gbps no cabo submarino da empresa Latin American Nautilus.
“Deve-se destacar que o Southern Light é um dos dois únicos pontos de troca de tráfego de pesquisa no hemisfério Sul. O outro é conhecido como Southern Cross e se localiza na Austrália”, explicou o coordenador do Tidia.
Além disso, a expectativa é que a RNP adquira também outro link de 10 Gbps, para que o Southern Light passe a operar com capacidade total de 20 Gbps a partir do início de 2010. “Com a cooperação entre ANSP e RNP, os pesquisadores brasileiros poderão contar com uma banda de acesso às redes acadêmicas internacionais do mesmo nível das americanas e europeias”, destacou.
Segundo Lopez, com uma banda de 20 Gbps será possível participar de qualquer projeto internacional, como no processamento de dados a ser gerado pelo Large Hadron Collider (LHC), o maior acelerador de partículas do mundo, sem que seja necessário se preocupar com a banda disponível.
“O link de 10 Gbps que já está funcionando, no entanto, é importante porque oferece a capacidade necessária para todas as experiências e projetos que a comunidade científica do Estado de São Paulo necessita neste momento”, explica Lopez.
Em abril, a FAPESP enviou à Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern), que controla o LHC, um memorando de entendimento para formalizar a participação de pesquisadores paulistas no Worldwide LHC Computing Grid (WLCG), uma colaboração global que reúne mais de 140 centros de computação científica em 35 países.
O objetivo do WLCG é fornecer e manter a infraestrutura de análise e armazenamento de dados de toda a comunidade de física de altas energias que participa dos experimentos do LHC. O acordo entre FAPESP e Cern também envolve a Universidade Estadual Paulista (Unesp) por meio do Programa de Integração da Capacidade Computacional da Unesp, mais conhecido como GridUnesp, que foi lançado no dia 25 de setembro, em São Paulo.
Trata-se de um conjunto de clusters (aglomerados de computadores interconectados) formado por, além do núcleo principal instalado na capital paulista, estruturas paralelas em outros seis diferentes campi, nas cidades de Araraquara, Bauru, Botucatu, Ilha Solteira, Rio Claro e São José do Rio Preto. A conexão do GridUnesp entre os clusters no interior de São Paulo ocorre por meio da rede KyaTera.
Rede aberta a pesquisadores
A ANSP, por meio do Southern Light, também é membro do Global Lambda Integrated Facility (GLIF), que reúne redes acadêmicas com conexões de 10 Gbps, permitindo o acesso dos pesquisadores paulistas a todas as demais redes desse tipo no mundo para experimentos científicos e tecnológicos compartilhados.
A ANSP mantém ainda acordos de troca de tráfego com diversas outras redes de institutos de pesquisa dos Estados Unidos e de países da Europa, Ásia e Oceania, além de acordos especiais com três outras redes que são consideradas “irmãs” da ANSP e do Kyatera.
São elas a Florida Lambda Rail, a Cenic (Corporation for Education Network Initiatives in California, na sigla em inglês) e a C Wave. Esta última foi utilizada para fazer o percurso de Miami a Los Angeles pelo projeto KyaTera na primeira transmissão de cinema em superalta definição da América Latina para os Estados Unidos e Japão, realizada em 30 de julho na capital paulista.
Os recursos da rede ANSP são utilizados automaticamente sempre que uma rede de computadores é usada nas universidades do Estado de São Paulo. Para utilizar ou fazer parte da rede Kyatera, o pesquisador deve entrar em contato com o coordenador do projeto, professor Hugo Fragnito, do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pelo endereço http://kyatera.incubadora.fapesp.br/portal/contact-us.
FONTE: Agência FAPESP
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
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