Por Jussara Mangini
Uma equipe de profissionais de várias áreas da computação está desenvolvendo ferramentas para ajudar governos a implementar o conceito de crossmedia (uso cruzado de múltiplos meios de comunicação) em serviços eletrônicos de atendimento ao público, de modo a ampliar e facilitar a interação com os cidadãos.
Coordenado pela professora Lucia Vilela Leite Filgueiras, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), o Projeto X-Gov foi criado em outubro de 2007 no âmbito do Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research. Tem como proposta facilitar o processo de produção de aplicações de mídia cruzada pelo gestor público, para que ele desenvolva serviços mais rapidamente e se beneficie das novas tecnologias.
“Acreditamos que isso será melhor para o cidadão porque a diversidade de mídias dá maior alcance e disponibilidade no acesso ao governo. Sabemos que é difícil para o gestor público criar um serviço que use de forma integrada as várias mídias. Por isso, estamos desenvolvendo um software que facilitará esse processo”, explicou Lucia à Agência FAPESP.
Embora bastante usado na publicidade e em jogos, na esfera governamental os pesquisadores não viram ainda nenhuma outra abordagem semelhante, nem no Brasil nem no exterior. De acordo com a coordenadora do projeto, o trabalho está atento à maneira como as novas gerações, mais acostumadas com as mídias digitais, vão querer se relacionar com o governo e exercitar sua cidadania nos próximos anos.
“Essa geração nativa digital – que já nasceu com celular, televisão e internet – acha muito natural trabalhar com tudo isso ao mesmo tempo. Desejamos ajudar os gestores públicos a fazer um governo eletrônico para essa geração”, disse.
Com as novas tecnologias pode-se, por exemplo, mandar uma fotografia pelo celular para mostrar que uma obra está sendo mal feita ou fazer denúncias de desrespeito às leis. Da mesma forma, órgãos públicos podem substituir cartas ou mesmo o e-mail por mensagens de celular (SMS) para notificar as pessoas mais rapidamente sobre o andamento de determinados processos.
“O governo está começando a usar essas mídias, mas ainda de forma não integrada e com muito esforço, porque cada sistema tem que desenvolver tudo de novo. Uma prefeitura, por exemplo, tem que treinar um técnico de informática no desenvolvimento de software para celular, SMS, TV digital, etc. Queremos facilitar esse processo”, indicou Lucia.
O Projeto X-Gov permitirá transições entre mídias: e-mail, SMS, TV digital, web, códigos de barras bidimensionais, click to call e outros. A ideia é que o link entre celular e TV possibilite que um determinado conteúdo acessado por celular – um vídeo de instruções, por exemplo – seja exibido também na televisão, sem prejuízo ao que estava acontecendo no celular.
“Já a transição click to call possibilitará ao cidadão que estiver navegando pelo website solicitar ajuda via telefone, apenas clicando em um botão do navegador que, automaticamente, realizará uma ligação para o usuário”, disse Lucia.
No desenvolvimento do servidor que faz toda a orquestração dos usuários no crossmedia, os pesquisadores estão criando uma linguagem de programação específica e trabalhando na comunicação entre o sistema e o gestor público, para facilitar que esse crie o plano de seu serviço.
Processo de criação
Segundo a professora da Poli, uma das grandes vantagens para o gestor público é que no X-Gov a questão de compatibilidade foi muito bem resolvida, usando-se arquitetura de serviços web, que é um padrão bem aceito no governo e que dá muita flexibilidade na integração com os sistemas atuais.
Esse tipo de software é chamado de framework (arcabouço) e serve como um esqueleto sobre o qual os desenvolvedores do governo criarão seus projetos.
“Como não há serviços crossmedia disponíveis no governo para análise, o arcabouço está sendo construído a partir de sucessivas provas de conceito, cada uma focada em uma funcionalidade específica, de modo que cada ciclo contribua para a evolução da arquitetura final”, explicou Lucia.
Para chegar a isso, a equipe cria um serviço fictício, estuda como esse serviço funciona e congela uma parte dele no esqueleto. São os chamados padrões de tarefa – uma abstração de algo que todo mundo faz. Por exemplo, em comércio eletrônico um padrão de tarefa é o uso de um carrinho de compras. Todo site que tem um funciona mais ou menos do mesmo jeito.
No governo eletrônico também é assim. Foram definidos 18 padrões de tarefa e para cada um deles a equipe do X-Gov está criando softwares para três meios de comunicação: web, celular e TV digital. Isso significa que serão orquestrados em torno de 54 componentes. A cada semana, a equipe tem acrescentado cerca de três novos componentes ao conjunto.
A previsão é que o framework esteja funcionado até outubro, com os componentes dos blocos de construção das tarefas de governo e das transições entre mídias. A partir daí a equipe deseja realizar uma etapa de testes com usuários.
A implementação, na prática, dependerá da aceitação e interesse dos gestores públicos. A equipe do X-Gov estima que o uso será muito natural para os “nativos digitais”.
Instituto Virtual de Pesquisas
O Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research está com chamada aberta até o dia 4 de setembro para envio de propostas em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) com o objetivo de explorar a aplicação da ciência da computação aos desafios da pesquisa fundamental em áreas como educação, saúde e bem-estar, energia e ciências do meio ambiente, aí incluindo a ecologia, a biodiversidade e as mudanças climáticas.
Os recursos disponíveis para essa chamada são de R$ 1 milhão e a expectativa é selecionar em torno de cinco propostas, com valor individual entre R$ 100 mil e R$ 300 mil.
Poderão apresentar propostas pesquisadores de instituições de ensino superior e de pesquisa, públicas ou privadas, sem fins lucrativos, no Estado de São Paulo. Os projetos poderão prever a concessão de Bolsas de Iniciação Científica, Mestrado e Pós-Doutorado.
Com a chamada, a FAPESP e a Microsoft Research pretendem apoiar projetos multidisciplinares que buscam aplicação da ciência da computação para avançar o conhecimento nessas áreas. A chamada destaca o interesse particular das duas instituições em propostas relacionadas a instrumentos e técnicas computacionais na modelagem e/ou revisão de mudança climática, incluindo, por exemplo, clima, hidrologia, oceanografia e ecologia.
O Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research, resultado de um convênio assinado entre as duas instituições em abril de 2007, é uma iniciativa pioneira no Brasil que associa os setores público e privado de modo a estimular a geração e a aplicação de conhecimento em TIC.
A proposta do instituto é formar uma rede de pesquisadores capazes de criar novos conhecimentos que contribuam para expandir as capacidades da tecnologia de computação para atender mais e melhor questões-chave para beneficiar as pessoas, a sociedade e a sustentabilidade do mundo.
Mais informações sobre a chamada Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research: www.fapesp.br/convenios/microsoft
Fonte: Fapesp
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
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