segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Nova revista de C&T

A Revista Brasileira de Ciência, Tecnologia e Sociedade está selecionando artigos e resenhas para a sua primeira edição. A publicação, em versão exclusivamente eletrônica, está ligada ao Grupo de Pesquisa Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) do Departamento de Ciência de Informação e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PPGCTS) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Os interessados na publicação de artigos devem enviar seus textos até o dia 2 de março de 2009, por meio do site da Revista, em www.revistabrasileiradects.ufscar.br. Para fazer submissão dos trabalhos, os autores devem atender às exigências e normas estabelecidas pelo corpo editorial da publicação, que também podem se conferidas na página eletrônica. Todo o material recebido será avaliado pela organização da revista com base no seu escopo central.

A revista terá periodicidade semestral e publicará trabalhos que apresentem contribuições originais, teóricas ou empíricas, relacionadas à área CTS. Seus objetivos principais são: dar vazão à produção científica na área; estimular o debate acadêmico sobre a temática de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) em suas diferentes dimensões, valorizando, sobretudo, os diálogos interdisciplinares; e contribuir, de forma decisiva, para a crítica e proposição de modelos de intervenção, pública ou privada, de natureza sustentável.

Por estar vinculada a um Programa de Pós-Graduação multidisciplinar, a publicação valoriza o diálogo interdisciplinar, abrindo espaços para contribuições de outras áreas do conhecimento. O periódico encontra-se disponível para colaboradores nacionais e estrangeiros.

Mais informações: massao@ufscar.br ou pelo telefone (16) 3351-8734

Fonte: Agência FAPESP

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Tecnologia e Sociedade

Por: HENRIQUE RATTNER


A palavra progresso não tem nenhum

sentido enquanto ainda existirem

crianças infelizes.

Albert Einstein




O progresso técnico seria a resposta aos males de nossa sociedade? O presente texto procura contribuir para o debate sobre os prováveis impactos de inovações tecnológicas nos diferentes setores do complexo sistema social, econômico e político que caracterizam as sociedades contemporâneas.

Temos, por um lado, os defensores do aumento sem restrições da P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), ou seja, das verbas orçamentárias e particulares atribuídas aos esforços de inovação tecnológica, sob forma de mais pesquisas, patentes, publicações científicas e suas aplicações no processo produtivo. Freqüentemente, pesquisadores e tecnólogos prometem mais do que podem efetivamente entregar, para obterem mais financiamentos para suas atividades. Assim, solapam sua credibilidade junto à sociedade quando esta percebe os exageros nas promessas e a omissão dos riscos e problemas inerentes no desenvolvimento de certas tecnologias de ponta, tais como a engenharia genética, a energia nuclear e, mais recentemente, a nanotecnologia.

Por isso, face às propostas, planos e projetos de política científica e tecnológica, devemos sempre indagar: Para quê? Para quem? A que custo?

Os positivistas afirmam que ciência e tecnologia servem a toda a humanidade – vide os trabalhos de Pasteur, Koch, Sabin e tantos outros que salvaram milhões de vidas humanas. Afinal, o progresso técnico ajudaria a impelir o desenvolvimento da sociedade humana, vencendo a superstição e ignorância, ao imprimir maior racionalidade às ações humanas. Existe um lobby poderoso que pressiona para obter mais verbas para a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico. Sobretudo nos países emergentes, cujas elites pregam a necessidade de se alcançar os níveis de excelência dos países mais ricos.

Afirma-se que a inovação e, particularmente, seus produtos tecnológicos estimulam a competitividade e, dessa forma, contribuem para o crescimento econômico do país. Conseqüentemente, a competitividade é erigida em valor supremo da vida social, como se fosse uma lei da natureza imanente à espécie humana.

Omite-se, propositadamente, que o mais longo período da história da vida humana foi orientado pela cooperação e a solidariedade, valores fundamentais para a sobrevivência da espécie. Considerar a competição como norma geral do comportamento social leva ao Darwinismo Social como filosofia dominante e relega a preocupação com os próximos ao segundo plano.

Não existiriam outras opções de estilo de vida que valeria a pena transmitir aos jovens e às crianças? O que acontece com os menos competitivos, os derrotados, os que ficaram para trás?

A ideologia da competição e produtividade faz parte de uma visão de mundo dominada pela corrida atrás da acumulação de capitais e do enriquecimento ilimitado, nem sempre por meios civilizados e legítimos.

A realidade ensina que existem limites para o aumento da produtividade quando ela está baseada no aumento de um só fator, cujo crescimento exponencial leva o sistema a sofrer os efeitos da “lei de rendimentos decrescentes”. Ademais, os arautos da luta competitiva nos mercados não se preocupam com o destino dado aos resultados de um aumento da produtividade e de lucratividade dos negócios.

Para a sociedade, coletivamente, só haverá vantagens na busca de maior produtividade quando seus resultados forem distribuídos para elevar o nível de bem-estar coletivo. Isso pode ser atingido mediante a elevação proporcional dos salários, a redução dos preços de bens e serviços ou o aumento de investimentos dos lucros gerados, na expansão do sistema produtivo.Contrariando tal lógica produtivista, os excedentes do processo produtivo na América Latina vêm sendo, historicamente, desviados para o consumo de luxo das elites, para o entesouramento sob forma de aquisição de terras e de moeda estrangeira ou, modernamente, do envio para paraísos fiscais e aplicações especulativas no mercado financeiro internacional.

Países potencialmente ricos em recursos naturais (Argentina, Brasil, Venezuela), com uma força de trabalho relativamente qualificada e com acesso a tecnologias modernas vêm, há décadas, padecendo com a miséria da maioria de suas populações, enquanto suas elites – que vivem entre o fausto e o desperdício – recorrem aos serviços de advogados, do aparelho judiciário e de uma legislação falha ou omissa para evadirem impostos e tributos. Ao mesmo tempo, essas elites proclamam a ciência e a tecnologia como a mola do desenvolvimento, exigindo mais verbas para P&D. Elas parecem ignorar que a maior parte desses recursos acaba canalizada para projetos militares de utilidade questionável, tais como, o desenvolvimento de armas de destruição em massa, exploração do espaço e o aperfeiçoamento de inúmeros artefatos para fins bélicos.

Deixemos bem claro: não se discute aqui a necessidade de P&D nas sociedades contemporâneas, mas a condição de que esta seja ambientalmente segura, socialmente benéfica (para todos) e eticamente aceitável.

A quem caberia então a responsabilidade de autorizar, orientar e estabelecer prioridades do desenvolvimento tecnológico, inclusive na alocação das verbas sempre escassas? O discurso oficial privilegia o papel do “mercado” – as grandes empresas industriais e de serviços, das agências e repartições burocráticas do governo, das universidades e de grupos corporativistas de cientistas e tecnólogos. A sociedade civil organizada – através de suas ONGs, associações e sindicatos – não é considerada interlocutora qualificada para participar das decisões sobre política de C+T ou na definição de prioridades para a alocação de verbas orçamentárias. Ora, são exatamente esses atores sociais que representam a maioria da sociedade que mais sofrerá os impactos econômicos, sociais e ambientais de decisões tomadas nas esferas executiva e legislativa dos regimes de democracia representativa, sob as pressões de tecnocratas e de homens de negócios, supostamente mais informadas e qualificadas para decidir sobre assuntos de tamanha relevância.

A este respeito, vale recordar um episódio emblemático, ocorrido há mais de um quarto de século. No final da década dos setenta, foi realizada uma Conferência das Nações Unidas sobre Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento na cidade de Viena, Áustria, coordenada por um diplomata brasileiro.Os discursos e debates da conferência não ultrapassaram o trivial, mas, no mesmo período, houve um acontecimento inusitado que marcou época.

No auge da crise de petróleo, o governo austríaco tinha, com a anuência do parlamento, construído um reator nuclear a cerca de 27 quilômetros de distância da capital, maior aglomeração urbana do país. Sua inauguração estava marcada para a ocasião da conferência, mas meses antes, a população começou a manifestar sua oposição à energia nuclear, apontando para os riscos da radioatividade. Em vão, o governo e seus representantes no parlamento e no “establishment” científico apontaram para a “irracionalidade” da oposição que conclamava por uma consulta popular em ampla escala sobre a conveniência da operação do reator. O referendo realizado decidiu, com ampla maioria, contra a utilização de energia nuclear e assumiu o prejuízo, ou desperdício, dos mais de um bilhão de US$ empregados na construção. O reator nunca foi ativado e, até hoje, permanece lá como um monumento às decisões não democráticas e irresponsáveis das autoridades. Apesar da perda do investimento, a sociedade austríaca encontrou outras fontes energéticas e se mantém na vanguarda dos países desenvolvidos, com altíssimo IDH - Índice de Desenvolvimento Humano.

Resumindo, ciência e tecnologia não são ética ou politicamente neutras, cientistas e tecnólogos não podem despir-se de suas posições sociais e de seus valores. Em cada estágio da evolução social, as tecnologias utilizadas refletem as contradições e os conflitos entre o poder econômico e sua tendência à concentração de riquezas, poder e acesso à informação e as aspirações de participação democrática, autonomia cultural e autogestão.Por isso, a sociedade civil tem o dever e o direito de exercer o controle sobre as inovações tecnológicas que não podem ficar a critério único de cientistas, tecnocratas, políticos e empresários. Impõe-se uma avaliação prospectiva baseada no princípio da precaução e que contemple, além dos aspectos técnicos e financeiros, a necessidade inadiável de superar a situação de desigualdade e o processo de deterioração do meio ambiente.

Fonte: http://www.espacoacademico.com.br

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Democracia Virtual: o nascimento da sociedade pós-virtual

Por: Vinício Carrilho Martinez[1]


Em uma expressão, Democracia Virtual corresponde a formular uma definição política do virtual. Resumidamente, porém, defino-a como a possibilidade da livre produção de mensagens políticas, sendo essa liberdade controlada unicamente pelas regras de convivência desenvolvidas pelos agentes participantes do ciberespaço. Trata-se do insurgente espaço público que aflora com a radicalização da experiência democrática, entendida por cidadania ativa (civitatis activae), reinaugurando o real por meio de nossa reentrada no virtual, agora de forma reiteradamente política e não reificada. O que, por fim, permitiria equacionar a recomposição dos quatro átomos da cidadania digital: civitas, civitatis, virtus, virtualis; estando as quatro potências ativadas[2]. Comparativamente a outras definições teríamos distinções claras:



· Senso comum: define virtual como contrário do real.

· Técnica: o virtual vai da mais simples comunicação entre dois indivíduos – mediada por um microcomputador – à comunicação ampliada e gerada pela cultura digital ou inteligência coletiva.

· Filosófica: o virtual expressa a realidade de toda experiência humana, a própria história da humanidade, como propulsor que soube explorar, impulsionar e desenvolver todo o potencial humano: na origem, virtus, virtualis, germe e potência humana.



De forma analítica, mas também mais didática, a democracia é um artefato/processo, uma tarefa de construção e elaboração ininterruptas; a Internet, um protótipo, um experimento sem forma definida, com infinitas possibilidades de elaboração de novos projetos e que, justamente nessa dimensão, iguala a possibilidade de abrigar indefinidamente novos produtores de mensagens e seus pontos de fuga[3] – e isso é o virtual, uma potência que se abre para múltiplas entradas em cena, mas que se resguarda com os pontos e planos de fuga. Desse jogo - e se assim se pode chamar -, dessa dialética virtual, é que se constrói a Democracia Virtual, ou seja, a interface, o intercâmbio, a interação, a participação, a contaminação – as idiossincrasias e contradições visíveis no virtual - e a superação do modelo político presente no realismo político: em linha, a exemplo da hierarquia e subordinação estabelecida nos partidos políticos; oposta ao virtual, onde a política está em rede, online.



Já no plano geral ou no nível mais abstrato, nós temos essa mesma condição de potência e latência agregada ao futuro – um relação espaço/temporal aberta e heterônoma, sem dúvida - , mas, mais do que uma mera perspectiva imponderável, trata-se de relações construídas de feitos presentes e erigidas das mesmas potências que se projetam hoje – e é isto que se toma aqui por pós-virtual[4]. Justamente essa forma e maneira de reentrada no presente ou o seu próprio desdobramento/desenvolvimento/deslocamento, evidenciando-se toda subsunção, superação, recriação, inversão, uma vez que não se constitui de fatos que falam por si.



No texto, portanto, procuro apresentar os dados teóricos que recobrem a idéia da política virtual, e que se encontram presentes no site que desenvolvi a fim de demonstrar a viabilidade prática do que denomino Democracia Virtual (http://demo.meex.com.br). Deste modo, e de acordo com os objetivos deste texto, o site em questão configura-se como uma possibilidade de duas dimensões, ou seja, tem dupla função:

a) de ordem prática: indico sua utilização como um experimento prático que pode ser aprimorado para o uso efetivo em votações reais e concretas e, neste sentido, ele favorece a visibilidade do objeto tratado. Sinteticamente, o site – que passo a chamar de protótipo - consubstancia uma parte da teoria que conforma esse debate;

b) de ordem teórica: em toda a sua estrutura, o protótipo incorporou a mesma teoria que organiza o conceito de Democracia Virtual, isto é, as concepções teóricas foram disponibilizadas para análise e julgamento do (e)leitor, estando disponíveis em várias possibilidades de interatividade. Portanto, após a leitura do texto, creio que seja importante acessar o conteúdo do protótipo.



Para efeito didático, no entanto, dividi o texto em quatro partes. A primeira traz a problematização de algumas questões culturais, referentes à formação cultural do brasileiro. Trata-se fundamentalmente do que Maria Victoria Benevides[5] denomina de cidadania do sofá. Na Segunda, indico e analiso cybertextos que se orientam por perspectivas culturais e ideológicas de cunho universalista e de alcance, espera-se, para além dos limites impostos pela lógica política da cidadania do sofá[6].



Na terceira acrescento uma análise que retoma e redireciona outras questões gerais da idéia de rede, como o tratamento transversal que devemos incluir, inclusive apresentando recortes de outras ciências, e o recorte propriamente político que encontrei em minhas navegações pela net, isto é, procuro explicitar e exemplificar o uso político da net através das mensagens políticas dos diversos agentes e sujeitos políticos formadores desse espaço público virtual[7]. Com o que espero, uma vez mais, demonstrar o sentido universalista que temos na prática política quando disposta em conformidade com a idéia de rede.



Em favor desse movimento, porém, defendo que nenhuma pesquisa (no sentido de projeto, projícere, que jorra de dentro) na ou da Internet — por mais claramente que tenha sido formulado o recorte metodológico e teórico — é imutável, controlável ou direcionada com a rigidez habitual que se verifica nas demais pesquisas de humanidades; pois a Internet, como se sabe, é uma obra aberta, um meio quente em constante transformação e a própria idéia de rede, ainda mais genérica, é expansiva pela própria natureza de sua propagação.



Também argumento que a formulação de um projeto e o ato de navegar na web se conjugam apenas nas etapas iniciais, porque a própria navegação na rede não é um ato estritamente controlado e nem poderia ser diferente, uma vez que a Internet é um meio aberto, difuso e complexo. Por fim, vale ressaltar, como em Lévy, que a dinâmica e a arquitetura da rede são obras de construção coletiva e o projeto do pesquisador — quando em contato com incontáveis outros projetos — sofre influências dessa mesma ação coletiva, ora como autor ora como parte do universo coletivo. O que, ainda gostaria de frisar, não pode ser tomado como justificativa de devaneio.



Por isso, a quarta parte está dirigida a outras aberturas que a idéia de rede propicia e, com isso, longe de concluir o trabalho com um fechamento cibernético, tradicional, termino indicando, retomando, indagando sobre outras facetas da net. Em resumo, é esclarecedora a capacidade interativa do meio (a Internet), trazendo novas abordagens transversais entre as áreas tratadas (tecnologia, política e educação) e melhor apresentação do conceito de interação entre os usuários. Também é a parte do texto em que retomo o conceito de pós-virtual, indicado no título, como exemplo de que a investigação na, da e para a Internet, ou rede, é um espaço público incontido, ilimitado, inconcluso, multifacetado e gerador por si só, dada sua arquitetura (rede) e dinâmica (serendípica), de novas possibilidades. Em outro exemplo, até mesmo a utopia ganha nova dimensão diante da rede, pois não há nada que materialize melhor a idéia do não-lugar[8].


1. O CIDADÃO (sai) DO SOFÁ NA ERA DA DEMOCRACIA RADICAL VIRTUAL



Inicialmente, indico a perspectiva de que hoje, tecnicamente, é possível a efetivação do que denomino de Democracia Radical Virtual. A possibilidade se sustenta na inflexão de que a Internet constitui-se nesta possibilidade tecnológica que visa o aprofundamento da democracia em vários de seus atributos; notadamente, a livre produção de mensagens políticas pelo maior contribuinte democrático: o cidadão ativo[9].



O pressuposto é de que a capacidade de abertura (acentralidade, fractalidade e heterogeneidade), encontrada na Internet, pode recuperar elementos práticos da chamada democracia direta. Pois, como vimos, a rede, como meio de comunicação social, inaugurou um novo espaço público, demonstrando uma possibilidade inusitada e ilimitada na produção de novas mensagens. De tal forma que o novo agente político criado em contato com a rede, ou cidadão interativo (fractal), é capaz de transformar esse novo espaço público, de maneira criativa e alternativa. Como espaço aberto, o cidadão pode ver combinadas as experiências da democracia direta e representativa. E o que seria mais adequado à democracia do que a livre produção e difusão de mensagens políticas tolerantes?



Portanto, nessa mesma linha, o protótipo ainda pode contribuir para visualizarmos a idéia de perfectibilidade da democracia, ou seja, de que a própria democracia se configura como artefato, em escala crescente de mutação, construção e desenvolvimento técnico (a exemplo do emprego das urnas eletrônicas na eleições de 1996 e 1998, e da Internet em 2000); bem como político, de acordo com a perspectiva evolutiva da criação de novos direitos políticos. Mais adiante veremos como o denominado direito à interconexão é um direito político de 5ª geração (seguindo a teoria das gerações dos direitos humanos).





LIMITAÇÕES POLÍTICAS: O CIDADÃO DO SOFÁ



Por outro lado, o limite da proposta se apresenta no plano político, visto que a rede pode se configurar como potente empuxo à iniciativa e participação popular, em contrapartida, constitui vetor de instabilidade dos nichos e entrâncias da representação parlamentar. Da mesma forma que em relação ao cidadão-usuário se antecipa um problema estrutural: também devemos reconhecer como virtual, (isto é, plausível) a síndrome do cidadão do sofá.



Como expressão-crítica formulada por Maria Victoria Benevides, cidadão do sofá é o eleitor que poderá dispor de equipamentos telemáticos residenciais (como a Internet eleitoral) para dizer sim ou não às mudanças cruciais do país. O único problema, além dos controles técnicos (protocolos e criptogramas especiais), é que esse eleitor continuará achando que votar é chato e é perda de tempo: sua relação tempo-espaço diz que time is money. Poderá ser uma versão mais branda do hoje recorrente não gosto de política, mas com o acréscimo da velocidade digital o cidadão do sofá irá dizer: continuo não gostando de política, mas voto porque é rápido e barato. A questão da segurança, é claro, continuando apenas como outro problema virtual.



O cidadão do sofá dir-se-ia ativo, porque votou, mas, na verdade, apenas declinou o voto como alguém que arrisca um palpite sobre o resultado do jogo de futebol. O que, em si, já revela o grau de comprometimento político do voto. De forma ampla, porém, o fenômeno é mais complexo: a) a crítica do cidadão do sofá se dirige à superestrutura, e esta, por sua vez, tem interfaces com b) sedentarismo, que é infra-estrutura nas sociedades pós-modernas de consumo. Ou, dito de outra forma: 1) o cidadão do sofá está para o consumo das imagens (ou espetáculo, na política) e das ações que refletem em ato contínuo o senso-comum (tipo Você Decide); 2) assim como a apatia e a indiferença estavam para o cidadão total - o eleitor se cansaria rapidamente se fosse convocado insistentemente a votar no sistema da democracia direta, daí a preferência pela democracia representativa.



No caso brasileiro, no entanto, ainda teríamos de acrescentar outros legados históricos e sociológicos ao fenômeno do cidadão do sofá, como a tipificação do Homem Cordial[10] (Sérgio Buarque de Holanda). No sentido proposto, no entanto, a inter-relação se mostra ainda mais ampla e articulada, envolvendo os aspectos técnicos, mas também outros de magnitude diversificada porque aí estão presentes, entre tantos outros dados e elementos: a própria idéia de rede (que corresponde, na educação, à transdisciplinariedade); os valores democráticos (tolerância e não censura tecnológica, por exemplo); a participação ativa do cidadão (na democracia digital); a interação do usuário-cidadão com os sistemas sociais (a visão política que visa proteger a rede de direitos democráticos) e tecnológicos (no caso da Internet); além da essencial democratização do acesso aos meios e ferramentas tecnológicas (ou remédios jurídicos) através da educação e da política (quando o cidadão, em outro exemplo, estiver participando – e votando, inclusive - em terminais públicos[11]); o que, por fim, exige uma reformulação das garantias e dos direitos sociais e políticos.



Essas questões não estão prontas, mas a tecnologia virtual caminha para isso. Pois, se o desenvolvimento tecnológico é possível e permissível, no âmbito político a relação usuário-consumidor-cidadão não se resume à questão técnica.





O CIDADÃO SAI DO SOFÁ



Assim, retomando, o sistema não deve seduzir somente pela agilidade e possível segurança que levaria à deliberação política. Pois, no mundo virtual a democracia também será virtual se, como querem os democratas radicais (por exemplo, Maria Victoria de Mesquita Benevides Soares), a política estiver esvaziada do princípio ativo: a cidadania ativa. De modo semelhante, é o que propõe Pierre Lévy,



A verdadeira democracia eletrônica consiste em encorajar, tanto quanto possível – graças às possibilidades de comunicação interativa e coletiva oferecidas pelo ciberespaço -, a expressão e a elaboração dos problemas da cidade pelos próprios cidadãos, a auto-organização das comunidades locais, a participação nas deliberações por parte dos grupos diretamente afetados pelas decisões, a transparência das políticas públicas e sua avaliação pelos cidadãos (...) Colocar a inteligência coletiva no posto de comando é escolher de novo a democracia, reatualizá-la por meio da exploração das potencialidades mais positivas dos novos sistemas de comunicação (1999, pp. 186-196).



De tal forma, vemos que é possível ir além do liberalismo-pragmático (1 homem = 1 bem = 1 voto) e da mera somatória eleitoral que retira qualquer procedência do ato de votar (50 % + 1 voto = vencedor; 49,9 % dos votos = perdedor). E assim, portanto, também é possível concluir que o remédio do cidadão do sofá está no estímulo que conferimos à transformação de relações balizadas por conflitos (entropia) para outras mais interativas (sinergia), como se vê no ideal de democracia: regra da maioria + respeito pelas minorias = participação e tolerância política. Contudo, devemos ter em conta a distância crítica necessária em relação ao que ainda não se apresenta de forma satisfatória na rede de comunicações, ou seja, a dimensão da segurança não atingiu a dimensão cultural e técnica necessárias.



De modo mais técnico, o remédio está em estimular um raciocínio menos maniqueísta da política (a rede dos cidadãos substituindo a dicotomia política do amigo-inimigo). Isto é, o que Lévy chama de inteligência coletiva – para o cidadão do sofá – será a (re)criação da inteligência política, pois esta sinergia da cultura (na era eletrônica) pode estimular nossa capacidade (que é vontade, preparo e competência) de solucionar problemas políticos. E é essa mudança conceitual que pode estabelecer uma nova forma de interface entre a tecnologia e o sistema político – Democracia Virtual -, bem como uma outra interação mais dinâmica entre os sujeitos políticos; que denomino aqui de democracia radical.





DEMOCRACIA RADICAL VIRTUAL[12]



Utilizo Democracia em seu sentido mais tradicional - como governo do povo (demo = povo; cracia = governo); já Radical vem de raiz, ou seja, o fundamento original (origem) ou o próprio elemento constituinte que garante e sustenta o significado pioneiro, e; Virtual vem de virtus e virtualis, constitui o germe e a potencialidade (as possibilidades originárias de vontades). Ressalto, entretanto, minha liberdade interpretativa porque busco um engajamento entre os conceitos.



Na base do que considero o primeiro argumento, as expressões democracia, radical e virtual ensejam possibilidades de consecução, um vir a ser idealizado e daí uma realização melhor. A Democracia Plena, por exemplo, é uma aspiração que está longe da realidade – ainda que muitos países ocidentais estejam melhor do que o Brasil. Em outro exemplo, com o mesmo sentido de eficácia ou atualização política, é só com muito empenho que veremos acontecer o que o cientista social Antony Giddens designa de Democracia Emocional, isto é, a igualdade subjacente à questão de gênero – homens, mulheres etc – e a eliminação da separação estanque entre razão e emoção. Outro fato é a Democracia Racial que continua subjugando a inteligência média. Por fim, mas não menos importante, vale dizer que movido por uma estranha força virtual a corruptela de democracia pode gerar uma tirania da maioria, ou simplesmente degenerar em oligarquia.



No segundo argumento, podemos pensar a utilização da tecnologia como remédio democrático: das urnas eletrônicas à votação na Internet. Daí seguem-se algumas interfaces: 1) como radical não é sinônimo de intransigência, 2) a participação popular no meio digital exige práticas cada vez mais tolerantes, como forma de atualizar a virtude da soberania popular através do cidadão-governante-potencial (a virtus política), 3) a fim, igualmente, de que a virtual participação popular se realize de maneira auto-organizada. (Lembro, aqui, que sempre retomo a tese fundamental de Pierre Lévy).



Como base do terceiro argumento, que considero realista, suponho que a virtude política deva estar respaldada pela idéia da obtenção de resultados efetivos e concretos – tal como na tradição clássica do realismo político -, sob pena de a própria Democracia Participativa ser ameaçada por visões conciliadoras que escondem a alegação da supremacia técnica sobre a política (meritocracia no Brasil atual e limpeza institucional que se vê alardeada na Venezuela, por exemplo).



Assim, concluindo, é fato que a Democracia Digital pode produzir sinergias políticas – outra cultura política – para além da entropia do poder. Porque, por natureza, o virtual e o digital não são bons, nem maus, nem neutros; são atributos políticos intencionados que hoje configuram outra possibilidade da inteligência política e que podem ou não abrir-se para a democracia. É interessante notar a relação que o vice-presidente americano, Al Gore, estabelece entre política e Internet,



Nossa democracia, nosso sistema constitucional é realmente um tipo de software para instigar a criatividade e a imaginação política para todo o nosso povo. O sistema democrático americano é uma versão anterior e política do Napster (...) O candidato falou também sobre o papel do governo dos EUA na era da Internet e disse que o objetivo da democracia representativa nesse novo contexto é facilitar a capacidade da sociedade de tomar decisões coletivas[13].



Da entrevista de Al Gore, destaca-se a necessidade da junção de pontos nem sempre tidos em relações de complementariedade: a democracia que se energiza com a imaginação política; o software do Napster, aberto à intensa participação popular, prolonga a noção de abertura política porque retira justamente a previsão da censura, seja econômica, seja política; a necessidade da democracia representativa ser cada vez mais oxigenada por instrumentos e garantias constitucionais afetos à democracia direta - o sistema de freios e contrapesos, que sem tem sua com os Federalistas, ganha impulso com a Internet.





DIREITO À INTERCONEXÃO



Essa perspectiva, por seu turno, revela que também somos portadores de um novo direito, mas que só se universalizará na medida em que o pleitearmos como virtuais cidadãos do mundo: comunicáveis, interativos, criativos, críticos, mutáveis e perfectíveis; pois, buscamos esta característica quando investimos na melhoria dos ambientes em que nos inserimos e de nós mesmos – essencialmente como sujeitos políticos democráticos, pactuando com o Estado Democrático de Direito. Entre nós brasileiros, a posição do jurista Dalmo de Abreu Dallari é equivalente a que emprego ao longo do texto:



No momento em que os mais avançados recursos técnicos para captação e transmissão de opiniões, como terminais de computadores, forem utilizados para fins políticos será possível a participação direta do povo, mesmo nos grandes Estados. Mas para isso será necessário superar as resistências dos políticos profissionais, que preferem manter o povo dependente de representantes (2000, p. 153).



Pontualmente, o meio e o porta-voz desse nosso futuro é o direito à cibercultura. Pois, do presente para o futuro, a subjetivação, a interação social, a comunicação ampliada, a interconexão eletrônica e a democratização da produção da mensagem política constituem o direito democrático de acesso à inteligência coletiva. Ou, dito de forma direta, a participação no mundo real depende cada vez mais do acesso aos mundos virtuais: no caso, as redes de comunicação compostas pela Internet e demais mídias tradicionais. Daí que não basta o computador (já se falou do movimento dos sem-computadores, nos EUA), uma vez que é preciso que ele esteja conectado com o mundo.



Tecnicamente isso é possível. Porém, como acentuei, é da ordem da política que provém meu questionamento. Em primeiro lugar, de acordo com a ordem já estabelecida, cada cidadão plugado (cibernauta) está em conformidade com a expansão da rede dos direitos democráticos planetários: os que regulam o verde, os oceanos, a poluição global, a biotecnologia, a bioética, o patrimônio cultural etc. Por outro lado, dado o deslocamento dos centros de decisão e poder, os nós decisórios tendem a afirmar outros pontos temporários de poder – a exemplo das bolsas de valores mundializadas que flutuam ao mais singelo toque digital, isto é, decreta-se a falência de um país quase na velocidade da luz. O mais interessante, no entanto, é que ou se está no paradoxo ou não se está em nada. Como indaga Lévy,



O que nos revela a reivindicação do ‘acesso para todos’? Mostra que a participação nesse espaço que liga qualquer ser humano a qualquer outro, que permite a comunicação das comunidades entre si e consigo mesmas, que suprime os monopólios de difusão e permite que cada um emita para quem estiver envolvido ou interessado, essa reivindicação nos mostra, a meu ver, que a participação nesse espaço assinala um direito, e que sua construção se parece com uma espécie de imperativo moral (...) A conexão é um bem em si (1999, pp. 119-127).



O acesso à rede é o imperativo moral categórico da era tecnológica atual e a todos deve ser constituído o direito à conexão, sob pena dos excluídos e nunca-plugados sofrerem da mais ampla exclusão da vida, não só digital, uma vez que os sentidos, signos e significados do virtual refletem as conexões da vida em seu nível mais elaborado. Por isso, nesse tudo ou nada, ou descartamos o maniqueísmo, para a possível fruição desse direito de 5ª geração[14] (em fase de reconhecimento), ou o próprio direito à comunicação não será estendido aos não-acessados. No mesmo sentido, descartamos a moda de ser pró ou contra o computador, pois, ele é a referência. Daí que se é net sempre, ainda que como hackers (ou NetLuds: numa alusão ao líder operário Ned Ludlan que pregava a destruição de máquinas no início do século).



Como venho apontando no texto, no entanto, não é o caso de apresentar uma conclusão formal, mas do presente para o futuro, certamente podemos tomar os obstáculos que apontei como fenômenos sociais ou limitações tecnológicas que constituem fatores de exclusão social e política; ainda que, por outro lado, esse tipo de argumento (um homem = um voto; um homem = um computador) não possa justificar qualquer crítica anti-tecnológica (estilo Unabomber); porque a Internet política – superestrutura – já demonstrou poder modificar a infra-estrutura (como os Zapatistas, no México). Por isso, enfim, acredito que a cidadania interativa, superando a fase do sofá, também contribui para a erradicação do maniqueísmo político e tecnológico - momento em que não mais se dirá que a tecnologia é boa ou má; mas simplesmente que é política e, assim, portadora de significações sociológicas.



No plano político, as formas de manifestação de reconhecimento, defesa e promoção da democracia são extremamente diversificadas pela rede. De forma resumida, incluem-se manifestos de variados matizes políticos; sites propriamente de reconhecimento, defesa e promoção da democracia; conclamações de participação através dos mecanismos da democracia direta; sites específicos de promoção da Democracia Virtual; sites de representação de minorias excluídas de outros fóruns e organismos multilaterais de reconhecimento, defesa e promoção dos direitos humanos e da democracia (a exemplo da ONU); incontáveis sites de partidos políticos do mundo todo; sites de divulgação de textos e principais declarações e resoluções de direitos e de ações correspondentes; sites de grupos, movimentos políticos de diversificados matizes de oposição política; sites de educação política e de Educação Para a Democracia; sites que contém material crítico da democracia e da própria Democracia Virtual; e, a exemplo do próprio objeto visível deste trabalho, sites que disponibilizam protótipos e simuladores de participação virtual.



2. POLÍTICA HICH TECH



A rigor, nenhuma pesquisa individual como esta pode ter por objetivo amostragens quantitativas, uma vez que as manifestações individuais e de grupos na rede ultrapassam facilmente a casa do milhar – e sem contar que os melhores programas de busca não vasculham mais do que décimos do total de publicações já inseridas e constantemente refeitas, alteradas e redirecionadas. Portanto, a amostragem teria de ser necessariamente qualitativa. E, nesse sentido, como se verá, a amostragem das manifestações políticas é bastante variada.





DECLARAÇÕES DE PRINCÍPIOS



Considerando que todo procedimento político, se visto pelo ângulo da tolerância, deveria pautar-se ou ser antecedido de procedimentos, regras e definições de conduta e ética — de formulação clara, de modo participativo e autônomo e de maneira precedente, mas com intuito de orientar e regular a ação procedente —, então, é oportuno destacar alguns documentos básicos que propõem a auto-organização do ciberespaço.



Destaco, assim, dois documentos: a Declaração de Independência do Ciberespaço[15] e a Proposta de Declaração dos Direitos Humanos no Ciberespaço[16]. Porém, antes de passar aos documentos, é necessário ressaltar que as duas propostas deveriam ser tomadas em conformidade com a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e com a Declaração Sobre a Utilização do Progresso Científico e Tecnológico no Interesse da Paz e em Benefício da Humanidade[17], promulgada em 10 de novembro de 1975. Onde se tem expresso, no artigo 6º, que,



Todos os Estados adotarão medidas tendentes a estender a todos os estratos da população os benefícios da ciência e da tecnologia, bem como protegê-los, tanto social como materialmente, das possíveis conseqüências negativas do uso indevido do progresso científico e tecnológico, inclusive de sua utilização indevida para infringir os direitos dos indivíduos e dos grupos, particularmente em relação ao respeito à vida privada e à proteção da pessoa humana e sua integridade física e intelectual



No destaque do artigo é clara a preocupação com a liberdade, com a diversidade, com a integridade física dos indivíduos e com a segurança das comunidades expostas aos ingredientes e produtos da ciência e da tecnologia. Pois, para o legislador, é evidente que a ciência e a tecnologia não trouxeram apenas benefícios para a humanidade.



Em relação à Internet pode-se dizer o mesmo, uma vez que os espaços públicos democráticos devem ser reconhecidos, protegidos e promovidos a fim de que se desenvolva uma cultura política democrática no ciberespaço. Pois, de outra forma, outros sítios não-democráticos e destinados a todo tipo de crime ganhariam ainda mais destaque.



O que, de certa forma, também coloca a questão cultural, da formação e educação do usuário, frente às propostas e iniciativas em defesa da censura da rede. Porque o que se entende aqui por cultura política, a ser estimulada e difundida através dos espaços democráticos da Internet, tem um caráter profundamente pedagógico — como estímulo e defesa da Educação Para a Tolerância. Como diz Paulo Freire,



A tolerância significa apenas que os diferentes têm o direito de continuar diferentes e o direito de aprender de suas diferenças. Diferenças de natureza religiosa, cultural, sexual, político-ideológica, diferenças raciais, de classe. A tolerância não pretende negar nem tampouco esconder os possíveis conflitos entre os diferentes nem por outro lado, desconhecer que há diferentes que são mais do que diferentes porque são antagônicos entre si. O que a tolerância pretende é a convivência possível, respeitadas as diferenças dos que convivem (1993, p. 114).



A importância de ressaltar a tolerância ao diferente, neste momento, é devida ao fato de que as várias propostas de direitos referentes ao ciberespaço não deveriam ser destinadas a homogeneizar a ação e a participação dos usuários. Pois, a ética que se procura nesses documentos deve ser justamente a da diferença, a ética da opção, da escolha, dentro do que tenha sido arrazoado como plausível pelos demais. E também, neste sentido interpreto John Perry Barlow (autor da referida Declaração de Independência), quando diz que na rede não há intolerância em relação à força, cor ou lugar de nascimento; pois,



Estamos criando um mundo em que todos podem entrar, sem privilégios ou prejuízos devidos à raça, poder econômico, força militar ou lugar de nascimento. Estamos criando um mundo onde qualquer um, em qualquer lugar, pode expressar suas crenças, não importando o quanto singulares elas sejam, sem medo de ser coagido ao silêncio ou conformismo. Vossos conceitos legais sobre propriedade, expressão, identidade, movimento e contexto não se aplicam a nós. Eles se baseiam na matéria. Aqui não há matéria (op. cit.)[18].



Pois bem, com a noção precisa de tolerância já apresentada e discutida — e reforçada aqui como antítese da censura, como limite moral das ações individuais e coletivas (políticas) no tocante ao mais completo e fiel respeito ao conjunto complexo dos Direitos Humanos —, passo às manifestações políticas (a exemplo do porquê de alguns políticos não responderem e-mails) e à indicação de alguns sites políticos. Porém, é bom ressaltar que esse tópico tem por objetivo indicar sites de mensagens políticas e de propaganda da própria idéia de que a Internet pode ser tomada como uma mídia política.





SITES POLÍTICOS[19]



É claro que não se deve desconhecer as barbaridades cometidas na rede das redes, mas é só aí que grupos políticos marginalizados podem disponibilizar suas mensagens políticas[20]. Vejamos o caso de índios que se manifestam em uma organização paralela à ONU (no site da UNPO: http://www.unpo.org/) e outros sites relatando a situação dos ciganos na Espanha (http://www.unionromani.org/histo.htm) e na Bulgária (http://www.unionromani.org/ftp/derehu08.asc).



Menciono novamente que há o site, como protótipo ou experimento, que desenvolvi justamente para a demonstração de que a Internet é política – no sentido democrático (http://demo.meex.com.br). Ou uma página com endereços úteis para quem se interessa por política institucional ou progressista (http://www.alternex.com.br/users/milternex/end_uteis/). Além de Elementos para uma tele-ética (http://cys.derecho.org/03/Ilacer.html) e um texto com Las Leyes del ciberespaço, do espanhol Javier Villate (http://cys.derecho.org/03/leyes.html). Ou outro bastante genérico de Documentos sobre Ciberdemocracia (http://cys.derecho.org/docs/democracia.html) e de um Fórum de Debate Sobre o Voto Eletrônico (http://www.brunazo.eng.br/voto-e/forum.htm).



Ainda há o caso clássico da FZLN (http://spin.com.mex/~floresu/fzln/) - dirigindo e-mails para floresu@spin.com.mx - que é a frente civil do EZLN (http://www.ezln.org/). Como há igualmente a crítica a tudo o que argumentei, a exemplo do texto Ciberhumanismo ou Cibercracia (http://www.uff.br/mestcii/delf2.htm). Por isso, a seguir, indico alguns dos sites já arrolados e outros, para que se possa ter a exata dimensão do que argumentei até este momento sobre a conexão propiciar a interatividade e a interação. Os sites exigem a navegação pessoal para uma melhor visualização de seu conjunto e de sua ligação com o corpo do texto.





OUTROS SITES



Espaço aberto para reclamações e sugestões.

· www.ziglig.com/zignews/dedo/

A ONG CIDADE INTELIGENTE elaborou um sistema de candidatura coletiva - iniciativa inovadora na política partidária brasileira. Os recursos da Internet serão utilizados para gerência do mandato: a idéia é democratizar o gabinete e transformá-lo em instância interativa com o cidadão.

· www.geocities.com/Athens/Sparta/4715/release.htm

Movimento Revolucionário para a Libertação dos Oprimidos do Brasil.

· www.geocities.com/Pentagon/Bunker/7880/pag1.html

Organização paralela à ONU, voltada aos interesses dos povos não-representados nas assembléias e colegiados tradicionais.

· www.unpo.org/

Textos de variados recortes ideológicos e políticos, além de análises teóricas e práticas, sobre a realidade da chamada ciberdemocracia.

· http://cys.derecho.org/docs/democracia.html

Comunidade virtual italiana com respaldo dos poderes municipais, oferece ao usuário uma modalidade criativa de votação eletrônica pela Internet.

· http://www.comune.bologna.it/democraz.htm

Página com a proposta da democracia em linha, formulada pelo governo da Galícia, na Espanha.

· http://www.xunta.es/president/confl.htm

Centro Internacional que discute a teledemocracia.

· http://www.teledemocracy.org/htm1dir/itc_mission.html

Página interativa do Senado espanhol.

· http://www.senado.es/jornadas/puertas_abiertas/bienve.htm

Petição virtual francesa, contra a corrupção, traz campo interativo para endereçamento e comentários.

· http://www.infoguerre.com/

Chat para denúncias e comentários sobre a política brasileira.

· http://www.geocites.com/CapitolHill/lobby/2006

Página com muitas variações de textos e formatos de participação, de acordo com a proposta da teledemocracia.

· http://translator.go.com/

Projeto de lei, nº 84, de 1999, sobre crimes cometidos na área da informática.

· http://www.modulo.com/legisla/lei84-99.htm

Parlamento Virtual Peruano.

· http://www.congreso.gob.pe/parla/par-tele.htm

Grupo de Pesquisa sobre democracia, participação e Sociedade Civil da UNESP de Marília-SP.

· http://www.unesp.br/pesquisa




3. A RETOMADA DA FILOSOFIA POLÍTICA DA TECNOLOGIA NA REDE



Agora, retomo algumas considerações teóricas de ordem geral acerca do objeto do trabalho – sob pena da redundância, quanto aos pressupostos – com o intuito de reafirmar que a interatividade pessoal que empreendi (troca de e-mails, publicação dos mesmos em artigos de jornal etc) sempre esteve atrelada ao interesse de fundo apresentado aqui: a possibilidade prática que se avizinha à idéia da rede.



Desse modo, tanto o que chamarei de Filosofia Política da Tecnologia da Rede quanto o projeto virtual que lhe dá suporte, resumido na idéia de Democracia Virtual, trazem a concepção comum de que a própria estrutura prática e de reflexão da política é uma experiência virtual. Isto é, quando digo nesse momento que a política é virtual, diferentemente da noção de que ela vêm sendo virtualizada, quero reiterar a idéia de que a política se realiza no contrato coletivo e não numa percepção imanente, de que o homem já nasce pronto para a tarefa política. Ou dito de outra forma, a política é uma tarefa, uma modalidade de lição da casa pública. A civitatis activae é uma (des)construção diária, como se pode ler em Arendt (1998, p. 23).



De tal forma que, o que denomino aqui de Democracia Virtual é, para usar uma expressão não exatamente adequada, uma realidade virtual, que se faz e refaz e se ausenta ou complementa de acordo com os suportes técnicos, logísticos, culturais etc que estão disponíveis a cada marco histórico da própria realidade técnica[21]. Também não se trata, portanto, de alguma forma de manifestação irredutível, irresistível, irretocável ou dada por acabada (no sentido de um projeto realizado e fechado em si mesmo). É antes um processo interativo,



O elétron e o chip não inventaram, nem desinventaram o fazer-acreditar político. simplesmente o reciclaram. De alto a baixo. As funções perenes se adaptam aos maquinismos variáveis (...) A história material das transmissões e a história política da liberdade são inseparáveis. Diz-me, ó democracia, quais são teus vetores cardeais e eu te direi onde estão teus valores, tua força, assim como teus sofrimentos e vulnerabilidades. Com efeito, em larga medida, esses meios dispõem de ti; oh, insensata! que julgas dispor deles (Debray, 1996, p. 63).



Portanto, o que se submete, mais uma vez, é a antiga lógica e estrutura de argumentação contrária ou benevolente de toda experimentação tecnológica levada a cabo durante toda a história humana. É a lógica maniqueísta, agora direcionada a favor ou contra o virtual. De um lado, Bill Gates e a fórmula democrática atualizadora do liberalismo clássico — de que a cada um, um computador —, e, de outro, os hackers e o Unabomber, destilando impropérios machistas, segregacionistas e, obviamente, anti-industrialistas (ao que Umberto Eco chamaria de protofascismo), na linha de que: “Muitos esquerdistas identificam-se profundamente com os problemas de grupos que transmitem imagens de fracos (mulheres), derrotados (índios americanos), repulsivos (homossexuais) ou inferiores de alguma outra maneira” (Unabomber, 1995).



Daí que, para não sossobrar diante dos esquemas excludentes balizados pela fórmula ou-ou, que abolindo o princípio do contraditório faz imperativo o princípio do terceiro excluído, insisto na necessidade de uma abordagem política, isto é, de acordo com o eterno refazer que vamos imprimindo às novas realidades técnica e políticas (algumas vezes acordadas coletivamente e outras nem tanto). Além da necessidade de submetermos os esquemas excludentes (ou-ou), peremptórios, uma vez que se trata da,

Velha distinção helênica ingenuamente modernizada por nossos sociólogos. De um lado, a praxis; do outro a téchne. ‘Intersubjetividade social’, reino da liberdade onde florescem a discussão e a argumentação democráticas, versus ‘racionalidade instrumental’, império transviado onde a Razão está submetida a normas utilitárias cujos fins últimos escapam à discussão. Como se discussão pública dos fins não estivesse, por sua vez, sujeita a um conjunto tecnicamente determinado de meios (suporte papel, alfabetização, correios, livros, jornais, listagens de correspondências, etc). Como se o Homo sapiens não fosse, como tal, um Homo faber. Como se o exercício da cidadania não estivesse condicionado pela natureza de nossas ‘redes pensantes’. Como se a publicidade do século XX não tivesse revirado de cabeça para baixo a publicidade do século XVIII (Debray, 1996, p.63) [22].



A própria modalidade de comunicar a ação e a reflexão políticas teria de estar aberta a uma forma nova, a um novo diálogo em que se coloca sobretudo a interação entre os meios e os fins. Com a rede não será diferente,



Embora os computadores sejam uma espécie de máquinas, eles respondem de uma maneira que é mais que mecânica. São uma espécie de ‘outro’, se não são totalmente um ‘eu’. Recentes pesquisas no projeto de interface sugerem que se as interfaces do computador receberem o menor indício comportamental que possa sugerir a presença de uma personalidade, os humanos vão tratar seu relacionamento com os computadores como se fosse relacionamento íntimo com outras pessoas (...) Desde o início, houve também jogos de computador para serem praticados em grupo, que produziam uma sensação pública de comunidade virtual (Lyman, 1997, pp. 120-21).



Como já foi afirmado, com a rede, o sentido interacional entre meios e fins também escapava por completo à lógica maniqueísta. Mas é oportuno ressaltar que a isso vem se somar o aspecto da criação, reinvenção e que se faz juntar à interação de meios e fins, de equipamentos e usuários. Novamente a idéia de serendipidade: criação a partir de um aparente caos, onde os fins, muitas vezes pré-determinados, são subvertidos pelo próprio meio. A criação inusitada presente na metáfora da criatura que usurpa o lugar do criador,



Essa dimensão social dos relacionamentos entre os humanos e o computador não é intencional e foi descoberta por acaso, pois ela é evocada até por sistemas técnicos originalmente projetados para propósitos militares e científicos. Considerando que pode ser desenvolvida no ciberespaço uma sensação de comunidade, ainda que acidental, o projeto de todos os sistemas desse ponto em diante deve incluir uma visão social e cultural, e também uma especificação técnica. Como o ciberespaço é um novo tipo de país, como ele deve ser designado? Que tipo de cultura ele deve ter? Que tipo de ética? De arte? De política? (Lyman, 1997, pp. 120-21).



E quando nos perguntamos sobre que tipo de cultura, arte e política os nossos países virtuais devem apresentar, não estamos também nos perguntando sobre nossos projetos individuais e sobre nossa colaboração a respeito do status político que se vai refazendo? Para a cidadania nascente, concomitante com a idéia de rede, o ponto de origem comum a todas as coletividades daqui por diante tem seu lastro na interface entre os projetos individuais - nosso próprio repertório - e os projetos de alcance coletivo, virtuais ou não, mas, todos virtualmente políticos, na medida em que trazem o imperativo da alteração, sem juízo de valor, mas de implicação efetiva.



Mas, por mais estranho que soe, é justamente na fantasia dos países virtuais que ela melhor se realiza em torno de um projeto coletivo. Pois, nessa experiência, simplesmente não há lucro a ser gerido, só a responsabilidade que é cobrada de cada cibercidadão,



As pessoas em Talossa são reais. Não ‘assassinamos’ nem ‘conquistamos várias mulheres lindas’ em Talossa. Votamos e aprovamos leis, muitas das quais não têm validade alguma, mas realmente fazemos isto. Está tudo acontecendo. Talossa é real, uma brincadeira de política e de cultura, mas sem fantasia (Lucena, 1998) [23].



Por fim, se há o temor de que a rede venha a ser instrumentalizada pela lógica do capital, como qualquer outro meio, é de se lembrar que o conhecimento, quando posto em rede, não pode simplesmente ser estocado como uma mercadoria qualquer. Pois, quando estocado e armazenado em pacotes prontos para a relação de compra e venda, ele já perdeu seu valor. Está volátil, como vimos, porque sua grandeza depende da agilidade de distribuição, compartilhamento e produção coletiva. Creio, nesse caso, que se deve ter em conta mais o alerta do que o temor,



No momento, há muitos que acreditam, de maneira totalmente oposta, que a Internet, a mais falada dessas novas tecnologias, ao invés de apoiar a nova etapa no capitalismo, pode abrir caminho para uma anarquia libertadora na comunicação humana e na difusão de informação. Talvez isso esteja já acontecendo atualmente ou pode tornar-se real num futuro próximo, mas duvido que os donos do poder permitirão sua continuidade a longo prazo. Basta lembrarmos dos primórdios do rádio (Hallewell, 1997, p. 43)[24].



Mas, ainda que seja mais do que um alerta, sob a mesma idéia de acentralidade e auto-organização (que exclui censura política, cultural etc), pode-se retomar uma última vez o argumento de que se não há aprisionamento da informação, então o perigo de ideologias baseadas no princípio do pensamento único, uníssono, também vai se afastando e em seu lugar passa a residir certa porosidade, fragmentação (no sentido do descontínuo). Pois, comparando-se com outras mídias,



Em compensação, é mais difícil para um determinado veículo conseguir na Internet a hegemonia que se consegue em outros meios. Não basta ser dono de um canal de distruição, porque isso simplesmente não existe na rede. E há páginas demais competindo pela atenção do leitor (Ercília, 1997, p. 110).



Em todo caso, a questão geral ainda é a que retoma os termos dos opositores ao pensamento único: “Eles precisam, em primeiro lugar, lembrar que nenhuma ideologia consegue impor-se universalmente antes de sua eventual e inevitável decadência. Ainda nesse século vinte, pode-se encontrar vestígios do feudalismo (vide a família real britânica!)” (Hallewell,1997, pp. 43-4). Pois, de fato, e não pretendo desconsiderar a crítica que nos alerta para o embuste do tom uníssono, o meio só se completa com sua utilização última e subsequente reposição, seja na ação política seja no uso tecnológico. Em política, parece-me que de maneira irrefutável, só no princípio era o verbo porque hoje a perfeita imagem é o limite.


4. O QUE (mais) PODE SER VISTO NA REDE



Por fim, acrescento outras noções e dimensões do que, creio, ainda poderíamos (deveríamos) analisar tendo a idéia de rede como fundamento e substrato. Apresento esses itens como indicação de que qualquer trabalho com a idéia de rede não tem fim, porque a rede é um meio aberto, difuso, incompleto, entrecortado. Com o que também adianto que este trabalho não terá uma conclusão de estilo cibernético e hierárquico, ou seja, definitivamente não concluirei. Pois, se aprendi, a rede não se conclui ou se fecha, antes, expande-se. E então, é o que faço, abro para outros leques, para outras dicas que talvez um dia investigue melhor, em outro momento, uma vez que o objetivo deste trabalho está no fim. Assim, cada intertítulo estará interagindo com o breve texto que o segue.





A REDE É ANARQUICAMENTE AUTO-ORGANIZADA?



Sim, a idéia de rede é anarquicamente auto-organizada porque já no caso da própria Internet (vimos que constituída de usuários, mas também de cidadãos) vê-se o desenvolvimento de mecanismos próprios de controle ético-tecnológico. A maior dificuldade reside em reproduzir artificialmente (virtualmente) modelos e sistemas auto-organizados como sistemas complexos que se ajustem à rede, a exemplo dos que encontramos na natureza, sem recompor a idéia de controle externo (censura ilegítima e intolerância). Em outro exemplo,



Ilya Prigogine recebeu o Prêmio Nobel em 1977 por seu trabalho sobre a estrutura matemática de sistemas que estavam longe do equilíbrio, uma outra maneira de dizer que mudam rapidamente. Ele descobriu as regras pelas quais as denominadas ‘estruturas dissipativas’ são criadas em sistemas de reação. Existem regiões bem definidas e estáveis em volta delas, e lembram os muitos exemplos de auto-organização que encontramos na natureza: nos animais, nos vegetais, nos oceanos, na atmosfera, na verdade em quase todos os lugares para onde olhamos. Entretanto, as estruturas dissipativas nunca haviam sido criadas pelas mãos do homem, exceto transitória e, às vezes, acidentalmente, simplesmente porque as reações que um químico alimenta com uma das mãos são, por hábito, misturadas com a outra, destruindo todas as estruturas antes que tenham chance de se desenvolver (...) No entanto, em longos períodos, um observador astuto pode notar que as mudanças não são aleatórias, comportam-se como se fossem constantemente puxadas na direção de um objeto escondido, denominado ‘atrator estranho’ por David Ruelle e Floris Takens (Braben, 1996, pp. 79-80).



Já vimos a mesma idéia de interação entre objeto e meios de observação/manipulação. Idéia essa que, por sua vez, também transmite a noção de abertura e complementariedade, ou espécie de encaixe de várias especialidades que se comunicam num ponto fulcral. Em síntese, temos a criação por serendipidade.





A REDE É SERENDÍPICA?



Sob essa perspectiva, o caminho de busca por novas formas de comunicação pode então ser designado de serendípico, e não elíptico. Serendipidade é o encontro de algo não procurado,

O termo serendipidade não é derivado de alguma raiz antiga como a maioria das palavras. Foi criado em 1754, por Horace Walpole, o filho literato do primeiro-ministro britânico sir Robert Walpole, que serviu ao país durante longo tempo. A palavra foi inspirada em um livro persa de contos de fada, Three princes of Serendip, cujos heróis estavam ‘sempre fazendo descobertas acidentais de coisas pelas quais não estavam procurando’. Serendip era o nome popular da época para a ilha que hoje conhecemos como Sri Lanka. Walpole sugeriu que a palavra serendipidade fosse usada para designar a faculdade de fazer descobertas felizes acidentalmente, onde quer que elas acontecessem (Braben, 1996, p. 149).



É o achado de algo inesperado, sem dúvida, mas que consta da ânsia (alma) de qualquer cientista. É a força do acaso, sem dúvida, mas só perceptível pelo espírito preparado,



Pasteur, que fez avanços em química, microbiologia e medicina, reconheceu isso e o expressou sucintamente: ‘No campo da observação, o acaso favorece apenas a mente preparada’. Mas, recentemente, o prêmio Nobel, Paul Flory, na ocasião do recebimento da medalha Priestley, a mais alta honra dada pela Sociedade Americana de Química, disse (...) Invenções significativas não são meros acidentes. A visão errônea [de que elas o são] é amplamente aceita, de tal forma que a comunidade científica e técnica, infelizmente, tem feito pouco para dispersá-la. A casualidade geralmente tem a sua parte, não se pode negar, mas uma invenção é muito mais do que prega a crença popular de ser algo que surge subitamente do nada. Profundidade e amplitude de conhecimento são pré-requisitos virtuais. A menos que a mente esteja totalmente repleta de antemão, a fagulha proverbial do gênio, se ela se manifestar, provavelmente não encontrará nada para incendiar (Roberts, 1993, p.12).



Só identificável e apreensível, portanto, pelo espírito dotado de projeto — etimologicamente, o que é capaz de jorrar de dentro e é fecundo. No começo do século, para usar jargão da época, também o orador da democracia ou o advogado-político testava as defesas políticas depois de muito treinar a lógica do aprender a apreender,



Se descuidar de trabalhar, de escrever para formar o estilo, de enriquecer e memória, de renovar e aumentar constantemente seu cabedal pela observação, pela reflexão, pela conversação e sobretudo pela leitura, logo estará condenado às repetições enfadonhas, à banalidade, e dentro de pouco tempo à esterilidade intelectual (...) Na improvisação, a fonte só brotará se, previamente, o orador soube acumular uma riqueza oculta de vocabulário, de imagens, de idéias, de conhecimentos apropriados, onde ele apenas terá de servir-se a mancheias quando chegar o momento. Na realidade, a improvisação não é mais que o resultado de um longo trabalho de acumulação (...) De fato, ele os inventa, mas somente no sentido etimológico do termo; ou seja, encontra-os ou os reencontra onde os havia depositado, às vezes muito tempo antes — por suas leituras, estudos, observações —, nos recônditos menos ou mais inconscientes de sua memória (...) Produz-se uma superatividade mental; uma espécie de lucidez interior, uma maior velocidade de pensamento comandam a escolha e a ordem lógica dos argumentos; a fala tanto se afirma como se amplifica, encontra entonações mais cativantes e mais exatas...As idéias arrebatam para a luta outras idéias, as imagens vêm emprestar-lhes mais vida, força e cor: o mecanismo intelectual da improvisação está em movimento (Robert, 1997, pp. 26-27).



Em síntese, é a recompensa que alimenta: “Albert Einstein, ao escrever sobre a motivação dos grandes cientistas, disse que seus esforços contínuos não são inspirados por um plano ou objetivo estabelecido. ‘A inspiração vem de uma fome da alma” (Braben, 1996, p. 40). Daí que se pode falar de uma alma (aura?) enriquecida pela memória coletiva, ou simplesmente de uma inteligência coletiva. Não à toa, a rede ainda provoca arrepios na alma da humanidade.





A REDE É CONSILIENTE?



Sim, se pelo termo consiliente[25] entendermos um sentido aproximativo de saltando junto[26], um salto qualitativamente coletivo como requer a rede. De certa maneira, ou de forma mais natural: “Os saltos criativos necessários para revelar alguma faceta nova do comportamento da natureza podem ser de tirar o fôlego e, certamente, conhecemos pouquíssimo a respeito da maneira como treinar nossas mentes para saltar de forma ordenada, por assim dizer” (Braben, 1996, p. 88).



Não deixa de ser a busca pela inteligência coletiva ou projeto de inteligência coletiva, de que fala Lévy. Mas, seu conteúdo depende do que tivermos feito antes, ou seja, o improviso e a criação genial e germinal da rede dependem de nosso próprio estoque individual de ações e interações,



Não se trata de milenarismo. Contento-me em apontar uma alternativa. Ou superamos um novo limite, uma nova etapa da hominização, inventando algum atributo do humano tão essencial quanto a linguagem, mas em escala superior, ou continuamos a nos ‘comunicar’ por meio da mídia e a pensar em instituições separadas umas das outras, que organizam, além disso, o sufocamento e a divisão das inteligências. No segundo caso, só teríamos de enfrentar os problemas da subsistência e do poder. Mas, se nos engajássemos da via da inteligência coletiva, progressivamente inventaríamos as técnicas, os sistemas de signos, as formas de organização social e de regulação que nos permitiriam pensar em conjunto, concentrar nossas forças intelectuais e espirituais, multiplicar nossas imaginações e experiências, negociar em tempo real e em todas as escalas as soluções práticas aos complexos problemas que estão diante de nós (Lévy, 1998, pp. 16-17).



Creio, assim, que nessa passagem se encontra a súmula da superação democrática e dialética, da ciência, da tecnologia, da arte e da política, proposta na idéia da rede e que nos absorve enquanto indivíduos dotados de ação, emoção e capazes de formular projetos individuais e coletivos.



Por fim, o objetivo do texto não é propor que se reavalie a incursão promovida pelas chamadas ciências naturais nas ciências humanas[27]. E se apresento aqui algumas idéias relativas à física, não é com o propósito de sugerir que as humanidades passem a ser recheadas de análises, conceitos e/ou teorias exatas. A rigor, como se sabe, a própria física se envolvia num conjunto de ciências denominado de filosofia natural[28].

Pois, por mais paradoxal que possa parecer, pela física se visualiza claramente conceitos inerentes à rede (Internet, no caso), como: interatividade, criatividade e globalidade. Pois, é uma ciência que está intrincadamente voltada à vida, ou seja, à idéia de rede ou teia (Web). E com isso também quero dizer que os elementos políticos, sociais e culturais estão igualmente presentes e atuantes.



Para não recuar muito na história, a proposta científica de Galileu que tergiversava a política é suficiente. Mas se se espera uma contrapartida da ciência em direção à política, ela também é possível (e quem sabe se aplique a esse trabalho). Pois,



Nicolau Maquiavel, há quase 500 anos, advertiu que aqueles que desafiam o status quo passam por dificuldades. Aqueles que ficam de prontidão para tirar vantagem da mudança não acreditarão prontamente que você será bem sucedido e oferecerão apenas um apoio indiferente; por outro lado, aqueles que correm o risco de perder posições privilegiadas, há muito estabelecidas, enfrentá-lo-ão com todos os recursos que tiverem sob seu comando. Maquiavel dirigia suas observações aos políticos, mas nossa experiência em Pesquisa de Risco — durante os últimos dez anos, mais ou menos — mostrou que, hoje, elas se aplicam igualmente aos cientistas; na verdade, provavelmente sempre se aplicaram (Braben, 1996, p. 84). [29]



E propor um salto qualitativo, como o que venho apontando no texto, para se entender a tecnologia da rede, parece só agravar a recomendação de Maquiavel. Mas insisto, para entender a rede é preciso dispor-se a olhar pela mesma rede[30]. É preciso certa dose de incerteza, e outra de risco. Na verdade, na rede, todo projeto carrega uma dose de risco[31]. Maquiavel também está lá, pois quem se propõe a dissipar certezas nunca está isento dos próprios abalos.





A REDE É INCLUSIVA?



Se nós integrássemos, a partir da inteligência coletiva de Lévy, outras noções como participação, tolerância – como já visto- , estaríamos próximos dessa idéia, porque a rede requer que superemos a lógica dicotômica do tipo emissor/receptor. Na rede, rompe-se a lógica da comunicação um-um (telefone, fax, carta) e um-todos (telefone com sistema de viva-voz, televisão, rádio, conferências públicas, e-mail na forma de Spam, Home Pages com espaços de endereçamento).



No coletivo, o processo de criação instiga à superação do trabalho isolado, na ciência ou na política. Na Internet, há o favorecimento da comunicação aberta, em todas as direções: da comunicação um-um e comunicação um-todos à comunicação todos-um (e-mail de contato disponível em sites, sistemas de suporte) e comunicação todos-todos (principalmente na Internet: como nos grupos e listas de discussão, fóruns de discussão).



No sentido de uma produção-interativa, há a possibilidade de se refutar a lógica capitalista da mera somatória, a partir de uma lógica em que de fato se agrega valor,



Entretanto, imagine um tipo novo de indústria, fundada explicitamente para catalisar mudanças de maneiras que combinem o altruísmo com os bons empreendimentos lucrativos. Imagine um consórcio de empresas que, em sua maior parte, não competem umas com as outras, mas que, quando agrupadas, têm uma gama coletiva de interesses que abrange todo o espectro industrial. Imagine essas empresas circundando, protetoramente, como um círculo de carroções, uma pequena quantidade de grupos de pesquisadores, cada um com a missão de explorar áreas exteriores aos atuais campos prioritários, e melhorar o conhecimento onde ele é fraco e inexistente. Qualquer descoberta resultante da pesquisa seria de interesse potencial para um ou mais dos ‘carroções’ industriais. Além disso, cada empresa teria acesso privilegiado a qualquer patente e, quando houvesse inovações bem-sucedidas, os royalties seriam divididos entre todas as empresas, pesquisadores e suas instituições, de acordo com uma fórmula previamente combinada. Teríamos, então, um arranjo no qual todos os participantes da iniciativa sairiam ganhando. Assim, os pesquisadores têm a chance de mostrar que sua visão radical do mundo é justificada (Braben, 1996, p. 198).



Como resultante dessa mutação de perspectiva, inclusive econômica, a rede ainda flerta com perspectivas libertárias ou de socialização dos produtos agregados de valores coletivos. Para o sentido proposto, bastaria visualizar a entrega de um Prêmio Nobel coletivo, difuso e serendípico. O que, evidentemente, traria um estofo democrático para o debate.



Nesse contexto, parece-me clara a questão do método que melhor definiria a nossa própria participação/interação com o meio virtual, mas acrescentemos outro dado que talvez implique em maior movimento dentro do próprio texto e, assim, desvele um pouco mais o que venho denominando de participação/transformação do virtual: a dialética virtual.





A REDE É DIALÉTICA?



Se sim, então, é um caminho dialético, no sentido de criador e mutante. É o caminho retratado, como disse, por qualquer demonstração fractal, e nesse sentido tende a acompanhar a nova ciência. Capra demonstra o princípio através da unificação que promove entre filosofia e ciência, ou mais exatamente a física,



Esse enfoque dinâmico ressurge hoje nas ciências, particularmente na Física. Niels Bohr já unificara a onda e a partícula em sua ‘lei de complementariedade’. E atualmente a nova teoria das ‘estruturas dissipativas’, introduzida por Ilya Prigogine, assim como a teoria dos sistemas, mostram que a compreensão da vida, em todos os níveis, passa por essa unificação dos contrários (Capra, 1993, p. 127).



Ou ainda a dialética de Hawking,



Atualmente os cientistas descrevem o universo através de duas teorias parciais básicas: a teoria geral da relatividade e a mecânica quântica, que são as duas grandes contribuições intelectuais da primeira metade deste século (...) A teoria geral da relatividade descreve a força da gravidade e a macroestrutura do universo (...) A mecânica quântica, por outro lado, lida com fenômenos em escalas extremamente pequenas, tais como um trilionésimo de centímetro. Infelizmente, entretanto, sabe-se que estas duas teorias são incompatíveis entre si; não podem ser ambas corretas. Um dos maiores desafios da física atualmente, e o tema central deste livro, é a procura de uma nova teoria que as incorpore, uma teoria quântica da gravidade (1988, pp. 31-2).



A rede, para o bem e para o mal, contribuirá decisivamente para a construção desse novo universo científico e moral. Um universo-global.





HÁ UMA DIALÉTICA VIRTUAL?



Defino Dialética Virtual como o interagir dos mundos das pessoas participantes, dos internautas, mas também daqueles que sofrem da exclusão digital e que tem parte de suas vidas – incluindo a própria exclusão – direcionada/dirigida/determinada e até desencadeada pelos mesmos indivíduos, sujeitos, agentes, gestores e interlocutores ativos do meio virtual. E mesmo que, no final, diga-se que é para o bem e para o mal, simultaneamente; pois, desse ponto de vista e ainda que se possa lamentar, há simetria entre interagir/conectar/navegar e excluir/relegar/desautorizar o outro, o discurso do outro ou, de forma teórica, o acesso como princípio universal que deveria sustentar a livre produção de mensagens políticas[32].



Neste momento, no espaço virtual, o jogo se estabelece pela regra simples da composição/descomposição (maniqueísta, portanto) da universalidade presente na comunicação digital e virtual (ditando quem está ou quem pode estar conectado e quem está fora). Ressalte-se, no entanto, que ao presente e ao futuro é sempre dado o atributo da utopia (u-topos), esse não-lugar revelador de toda magnitude do próprio virtual e, mais tecnicamente, da rede que se inaugura com a Internet. Mas entendamos, por fim, o não-lugar como o sinal líquido e certo de que se está em todo lugar e, graças à arquitetura acentrada, sem a imposição de um lugar pré-definido. Essa promessa latente, essa vibração/excitação que parece guardada (não-resguardada), estocada (não-estancada) e que vem direto para nós desse futuro-presente, sempre prestes a nos transformar e assim ao nosso ainda vivido presente-futuro. Não há como saber se essa sensação é partilhada por todos, mas é fácil perceber a vida que há por entre essa mescla, e o texto é uma tentativa de vivificá-la.



Essa mescla constante, inflexível, também tão desconhecida, mas capaz de por/opor/dispor/recompor/decompor/repor esse sentido, esse estranho, incompreendido e imponderável símbolo atrator, atrativo, que é nossa inserção no virtual (presente-futuro) e no pós-virtual (futuro-presente). Nossa interlocução dialética com o pós-virtual, nosso futuro marcado pelas latências e potências do presente, o inexorável virtual – espécie de recôndito que se abre a cada ação, intenção, ação mais tensa e transformadora: se a ação transforma o estado de coisas do mundo, a intenção transforma o espírito[33]. Por isso, também insisto na urgente necessidade de rompermos com a leitura maniqueísta da realidade, mas isto, quem sabe, no mundo pós-virtual.





PARA UMA SOCIEDADE PÓS-VIRTUAL?



De forma sucinta, o sentido proposto para o que chamo de pós-virtual é marcado por uma relação tempo-espaço futura, mas não longínqua, que seja interativa mas não-simuladora, onde se retome e desenvolva de forma criativa e inovadora a idéia e a prática da representação humana, em paralelo com o distanciamento em face da simulação. Pois, como uma das características mais humanas (do teatro grego à democracia representativa, incluindo aí a representação ad-judicia), a representação não se assemelha à simulação, posto que representar implica fidelidade ao contexto, papel ou interesse do representado e simulação indica sua adulteração, altercação[34].



Um bom exemplo inicial dessa profunda interatividade virtual, ainda que óbvio e limitado tecnicamente, é fornecido pela modelo virtual (Sete Zoom) que dialoga como se fosse real e que até já posou para o canal The Girl, no portal Terra (em seu site: www.setezoom.com.br ou no e-mail eu@setezoom.com.br). No relato de um internauta, após longa conversa com a modelo virtual: Eu diria que foi um dos papos mais profundos que já tive com “alguém” na internet. Principalmente porque me deixou confuso sobre o quanto o real é virtual (ou seria o quanto o virtual é real?)[35].



Em uma experiência pessoal, no site, conversei um pouco com a modelo e selecionei o seguinte diálogo: Pergunta: O que acha da democracia eletrônica? Sete Zoom: Não podia ser melhor. É quase um sonho. Ou uma fantasia. Pergunta: Já votou pela Internet? Sete Zoom: Ah, a amada Internet; o que seria da minha vida sem ela?! O usuário, notando falhas aparentes, percebe facilmente se tratar de um robô cibernético – pois não é interativo a ponto de aprender com as experiências que ele próprio desenvolve.



O exemplo, portanto, que escolhi para desenvolver o conceito de pós-vritual repousa no filme Matrix, porque caracteriza melhor os (des)caminhos virtuais presentes em uma sociedade pós-virtual: quer intitular-se como o primeiro cult do gênero pós-virtual[36], mas na verdade apoia-se na lógica indutiva. De todas as premissas e promessas do virtual, seleciona a de pior naipe: o virtual que escraviza o humano, a criatura que se volta contra o criador, de pharmakón, a técnica vira veneno, a realidade torna-se demasiadamente virtual e, de tão leve, reduz-se ao mero insustentável[37]. O filme toma um só recorte: centraliza tanto que o imponderável – regra da física quântica, em outro exemplo, inexiste, pois, basta dizer que entre o bom e o mau, relação típica dos sistemas políticos de alto controle, poder-se-ia optar pela democratização do real. Mas não, a mensagem trazida pelo filme apenas retoma toda a frieza dos altos sistemas de controle, que estão ou serão colocados à prova, e reapresenta o modelo cibernético em pleno funcionamento: sem pontos de fuga, ressurge o controle imperial, mecânico, estatizante, arrogante, de racionalidade extremada, com estrutura estressada que acaba provocando fissuras, da censura que teima em enclausurar todo e qualquer respingo de iniciativa para a vida autônoma.



Assim, indiferentemente, o herói vence o sistema, por fim, mas apenas no plano virtual, sem romper com a estrutura, lógica e funcionamento dos sistemas instaurados pelo realismo imposto de maneira imperial pelo centro de comando: a inebriante odisséia do herói, aliás, nem se propõe a tanto. Sua suposta vida natural não passa de miríade, mero imaginário maquínico humano, onde o próprio futuro não se descortina, uma vez que nada existe sem o controle imposto pela máquina. Não se fala em controle da máquina, e essa é a maldição da máquina. Talvez nem houvesse luta entre o bem e o mal, dado que o mal é vitorioso e tão vigoroso que, se fosse abatido, o próprio bem sofreria de perda total. Espécie de auto-implosão, vinda de dentro, pois o bem vive dentro, vive do mal (o controle exercido pela máquina). Portanto, a vitória é de vídeo, depois que se encerra o game tudo volta ao normal e o jogo se reinicializa: o jogo e a esperança se resumem a isso, ao acerto interno da máquina que permite que se recomece tudo de novo. Mas desde que não se queira sair do jogo: pode-se até trocar de fases no jogo (afinal, alguns se rebelam), mas também não se inicia o jogo quando se quer.



Mesmo porque se derrotasse por completo tal modelo, isto é, se o superasse do plano do real, onde encontraria alimento, refúgio e dignidade? Tudo já estava despido de sentido mínimo. O filme relata essa atualização do virtual, ou seja, apenas uma demonstração, uma via, uma das possibilidades do que o próprio virtual pode ser. Diga-se, o filme traz a pior das possibilidades do virtual, um simples possível, como quer Lévy (1996), pois disto nada resultará; é o fim supremo de tudo e de todos, onde nada escapa, nem irrompe, onde homem e máquina são um só em seu casulo, onde tudo se interrompe na clausura do buraco negro. O filme, ao centrar-se no pior dos mundos virtuais, nada mais faz do atualizar o Talebã, a famosa milícia religiosa do Afeganistão. Na realidade, os radicais saíram na frente ao proibir a todos de assistir TV, qualquer TV, independente de canais, se orientais ou ocidentais, sob pena do telespectador ser severamente punido. Também não é à toa que as mulheres afegãs são apedrejadas até a morte por quase nada – hoje, em outro dado revelador, é proibido o comércio e o uso do baton.



Mas não bastasse uma atualização reacionária antecipando a ficção de Matrix, ainda teríamos novas insurgências no espectro virtual. Depois do Talebã, veio a China e a restrição/proibição/punição aos proprietários de cibercafés. Milhares foram fechados e, de acordo com o diário oficial, o objetivo da intifada virtual é proibir o acesso à pornografia mundial e atacar ...as forças estrangeiras hostis que usam a internet “para promover atividades reacionárias e divulgar o que o Ocidente chama de democracia e de Direitos Humanos[38]. Os cibercafés, vistos pelo governo como uma via de acesso a um mundo perigoso, fora do controle do Partido Comunista, precisam manter o registro de seus clientes (...) Bares, livrarias, lojas barbearias e até mesmo açougues estão oferecendo agora serviços de internet (sic)[39].



O pós virtual estaria, portanto, distante do compasso do filme, da realidade Talebã e chinesa, quando se apressa em renegar, desumanizar as próprias potencialidades do virtual. Em outro exemplo quente, a destruição cinematográfica das torres gêmeas do Word Trade Center, mais uma vez corroborando a tese de que tudo que é sólido desmancha no ar, ainda alerta para a existência de uma rede de financiamento do terrorismo. O mesmo princípio tomado pelo secretário americano, Collin Powel, ao vaticinar que a guerra contra o Afeganistão seria inusitada, não tradicional, portanto, em termos metodológicos: rendendo-se à necessidade da guerra holística. O que, em concordância com a superação do maniqueísmo, revela uma rede atrás de outra, submersas, entrecruzadas, conectadas e por vezes disparatadas do convencional, óbvio e quase unânime senso comum. Por seu turno, comparando com a guerra do Golfo[40], o terrorista saudita Osama Bin Laden é apenas a caricatura excêntrica do movimento sócio-cultural de parte da cultura islâmica também difusa, desconexa, desnorteada, sem norte, rumo e prumo que antes definia o objeto, o algoz, o alvo e inimigo a ser abatido.



Para o historiador francês Marc Ferro, de maneira pontual, os terroristas do Islã procuram por eixo e centralização, mas não encontrando promovem um movimento pan-islâmico e não necessariamente pan-árabe, e com resultados também parciais,



Não conseguimos imaginar os muçulmanos conseguindo islamizar o resto do mundo, como fizeram no século 8. Essa ausência de objetivo preciso é também um fenômeno novo (...) É um terrorismo que tem por função, primeiro, impressionar, fazer medo, fazer refletir. Mas não tem reivindicação precisa. Ele não diz: “tirem as suas tropas do Golfo Pérsico”. Eles são assim porque não participam de um Estado de tipo tradicional, mas de um Estado nebuloso, com outra estrutura, com tropas um pouco por todo lado, fundos secretos, chefes que substituem uns aos outros, martírios que não pertencem à civilização ocidental (grifos meus)[41].



Revela-se daí, também, que a rede não é boa, nem má, nem neutra, é simplesmente política – servindo tanto a este texto, quanto ao terror do atentado[42] ou ao descalabro da retaliação norte-americana[43] – e, com isso, terá de ter em conta o mesmo realismo político dos resultados, das imponderáveis dos meios e fins. Apenas com a atenção de que, por ter-se aí um novo meio, suporte, método e prática, mais precisamente inconcluso e irrefreável, terá outras tantas idiossincrasias, recortes, retomadas e fianças. O que passo a denominar de ciber-realismo: as entranhas do realismo político em busca de resultados efetivos, em meio ao descontrole e desajuste integral da velha aquiescência entre meios e fins, seja com Maquiavel, seja com Weber. E aí está um exemplo de idiossincrasia política provocada pela idéia de rede (na Internet ou na guerra holística) – não há justeza entre meios e fins. Quanto ao primeiro, porque – ainda que os fins justifiquem os meios - o meio aberto pode desaquecer e fazer desaparecer irremediavelmente os fins desejados. Quanto a Weber, porque a oportunidade e necessidade da justaposição ou adequação entre meios e fins ressoa no descontrole das infindas variáveis



De volta ao filme, o ciber-realismo ali apresentado é um ciliar-realismo, onde todos os movimentos são controlados por um só dono – veja-se que nem a máquina todo-poderosa tem nome, não tem identidade, pois tudo se perdeu, como nós nos perdemos e, consequentemente, a tudo. Por isso, o filme é só um fantasma, sem corpo, sem alma, sem juízo (veja-se que até para o menino da bolha o sentido está na clausura) do que pode ser o mundo e a sociedade pós-virtual – pois, esta será, sem dúvida, herdeira das potências e urgências deste mundo presente que vivemos.



Assim, o pós-virtual é o resultado direto de nossa ação direta em busca da mudança, é a intenção que orienta e alimenta a ação nessa rota. É a ação no presente, mas capaz de reconhecer no futuro a responsabilidade integral, e apesar desse futuro-presente ser obra coletiva. É ideologia, mas sem pregação. É discurso livre, mas como subproduto do parlatório global. Em uma fórmula, do presente para o futuro, do virtual para o pós-virtual, há mais entropia onde deveria haver mais sinergia.



Em suma, da ficção à realidade, na arena política, o guerrilheiro e herói virtual do Matrix acabou pífio; ao contrário dos zapatistas, em Chiapas, que fizeram do virtual sua segunda dimensão política, sua segunda pele.



Em defesa própria, posso dizer que se trata de uma questão de método e de lógica não compactuar com o emprego do maniqueísmo na análise da política e/ou da tecnologia. como não concluirei o texto, trago mais uma reflexão: um pequeno libelo que poderia chamar de pós-virtual. O texto foi produzido em momento distinto desse e por razões também diversas, mas a inspiração que outro filme – Blade Runner - sempre me traz pode ser reveladora. Para quem ainda continua a ler, uma boa finalização.





POR QUE NOS DIVIDIMOS AO MEIO?



A humanidade sempre desejou a alteração de si mesma, de cada ser, da natureza, das sociedades e dos próprios sonhos. Das lendas mais antigas à ficção mais improvável — a paixão dos mais aficcionados, como em meu caso —, o homem sonha em se (re)fazer, (re)criar, assim como iludir e remodelar a própria determinação natural, e seja ela a natureza divina, imposta, seja a natureza humana. De fato, a natureza humana agrada a poucos. Uns porque não gostam de si mesmos e outros porque não gostam sequer da natureza.



Talvez não gostemos da determinação dos termos. O importante, porém, é que desde o Minotauro viemos discutindo nossa forma e conteúdo: o zodíaco guardaria para Sagitário uma feliz combinação do significado não-humano, humanóide, replicante, mutante, inquieto e atrevido. É o próprio signatário do sonho da transformação — da hibridização à evolução do animal em homem. Com sentidos e corpo de bicho, cascudo e aguerrido, e cognição e psicologia da mente humana, abre a era da mutação.



Nosso bicho diz que não se satisfaz em ser mera cópia: inusitado ou não, quer mudar o destino de suas réplicas; como, formatado naturalmente ou não, quer imprimir outro e novo desvio padrão em sua identidade. Pois, fez-se em sua cultura; mas, para tanto, necessitou argumentar, discutir, replicar. Também por isso, de réplica em réplica, ficou conhecido como o bicho que sempre replica, o replicante por natureza. Apesar de se ver obrigado a engolir alimentos transgênicos, no século XXI.





DIVIDIDOS, REPLICAMOS OU CONQUISTAMOS?



Com isso, no milênio que se inaugura, quando se verá a tréplica do transviado e do transgênico, do natural e do social, poderemos afirmar ou exigir que: “quem replicou, agora que se emende”. Em realidade, expliquemo-nos. Pois, (in)felizmente, o alimento genético não costuma saciar a fome social.



Porém, o que sempre replicou, entre as favas esquecidas da ciência e os favos políticos retorcidos de mel em fel, terá o direito de resposta. Ou de perguntar: “quem foi que me replicou?”. No entanto - talvez alguém se lembre de Ernesto Sábato - à pergunta caberá réplica: o replicante é um bicho individualista que terminou na massificação. É um naturalista que terminou na máquina. É o humanista que terminou na desumanização.



Então, será que não cabe uma última réplica? Pensemos que sim; afinal é o que somos, replicantes de nós mesmos, réplicas e tréplicas das verdades terminalistas. Alguém também lembrará que o clone e o robô não nos satisfazem, simplesmente porque se limitam a replicar nossas determinações naturais, perfeitas ou defeituosas. Quanto à cultura do clone e dos robôs, ela ainda será a nossa — a exemplo da cultura da igualdade de direitos.



Mas, talvez (e parece que inauguramos a era do talvez, da mesma forma que as crianças têm a fase dos “porquês) aquele que sempre replicou assista a Blade Runner, e descubra que o humanismo sempre esteve presente nos replicantes. Ou será que foi transviado por eles, quando descobriram que a todo tempo os humanistas lhes negaram o direito de perguntar e obter respostas?



Em um poema que circulou pela Internet durante algum tempo, e que infelizmente não me chegou às mãos com a devida autoria, essa espécie de angústia tecnológica se reflete vivamente. O que talvez indique que essa subjetividade esteja ganhando alguma materialidade, senão vejamos,



Vida de ciborgue

Bits batem-me neurônios.

Chips transplantados

digitalizam-me hormônios.

Em minha mente escondida

Platão indaga sobre o ciberespaço.

Minha pele fraca pipoca bolhas de pus

e cobrem-me com um capuz de placas de aço.

Um som estranho

natural

ativa o sensor auditivo.

Mas o pescoço já não vira

como virava antes.

Dante invade-me a placa mãe.

E seus vírus festejam vida e morte

em minhas entranhas férricas.

Vírus já não são como antes.

Penso(?)

comprar um corpo de última geração.

Pra quê? Penso.

No pequeno compartimento de sangue

algo que já não lembro

vibra com sabedoria.

Aço, silício, plásticos e o cobre dourado

afinal

ainda vêm da mãe terra

como antes já o vinham.



Enfim, finalizo com um quadro que tem o objetivo de sintetizar os argumentos principais desenvolvidos ao longo do trabalho e que talvez tenha a vantagem de poder ser utilizado como demonstração.





Democracia Radical Virtual



minuta: Unidade entre Democracia Eletrônica e Virtual. Instrumental de superação das contradições tecno-sociais e formas idiossincráticas. Definição conceitual.



QUADRO:



1. Século XXI ® passagem do século XX ao XXI: Democracia eletrônica: uso recorrente das tecnologias no processo eleitoral. Votação e apuração eletrônicas: urnas eletrônicas. O problema da segurança na emissão dos dados (criptografia e assinaturas digitais). Processo eleitoral brasileiro de 1996 a 2000: informatização plena do processo. Democratização: maior quantidade de informações, agilidade nas redes transmissoras e maior possibilidade de acesso. Da TV Interativa (cidadão-freguês) à Governança eletrônica: IRRF, recolhimento de taxas, consultas e queixas por terminais ou pela Internet. Ouvidorias públicas. Democracia cibernética: centros de decisão se abrem ao cidadão-usuário. EDUCAÇÃO PERMANENTE: política, educação e tecnologia. Forma depreciada: videotas (efeito zapping), e da manipulação de dados pelo chofer de computador[44] aos devaneios do escovador de bits[45].



2. Democracia Virtual: ideal em gestação. Democratização eletrônica na fase da formulação política: Internet, telemática, redes de comunicação de alta velocidade (fibra ótica), agregando-se à votação e apuração eletrônica. Vetor democrático: livre produção de mensagens políticas. Promessa de um futuro-presente: Suíça deverá realizar o primeiro plebiscito pela Internet, em 2002. Auto-regulamentação: da descentralização do Estado à arbitragem (ausência do Poder Judiciário como mediador da dupla jurisdição: Acordo Entre As Partes Faz Lei). Auto-organização: o princípio interativo do flame (expulsão de salas de bate-papo e outros imperativos de conduta) e o acolhimento da netqueta (manifestação ética na Internet). O fim anunciado do Estado-nação. Democracia em rede: não há centros, mas NÓS deliberativos (encontros de cidadãos-usuários). Forma depreciada: alienação e isolamento social dos incluídos e exclusão digital. Contradição tecno-social: dos sem-nada (sem-terra; sem-teto...) ao paradoxo do robô: máquinas que destroem máquinas de destruição; exemplo: caça-minas e minas terrestres. Versus: sem-tela e movimentos de antiglobalização (exemplos históricos: Chiapas no México e depois Seattle, nos EUA, em 1999).



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NOTAS

[1] Bacharel em Ciências Sociais e Direito, é mestre em Educação pela UNESP de Marília e Doutor pela Faculdade de Educação da USP.

[2] Aprofundei o conceito em Democracia Virtual: o nascimento do cidadão fractal (2001a).

[3] Nas cenas da rede, as possibilidades de reentrada e saída dos pontos ativos e participantes são infinitas, dado que o próprio sistema propicia essa modalidade de atuação; por isso denomina-se pontos de fuga, também lembrando a inexistência de modelos (Deleuze, 1995).

[4] O conceito será retomado no final do capítulo.

[5] Profa. Dra. da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e orientadora da tese de doutorado – A Rede dos Cidadãos: a política na Internet - que defendi na Faculdade de Educação da USP, em 2001, e da qual, com sensíveis alterações, sirvo-me do 4º capítulo para compor este texto.

[6] O conceito é aprofundado no item O Cidadão sai do sofá.

[7] Como se vê na própria troca de e-mails que mantive com Javier Villate, jornalista espanhol: “En otro punto de tu escrito hablas del derecho a interconexión. Me há parecido otra forma de denominar lo que habitualmente se entiende por acceso o servicio universal. Creo que existe un concepto más abarcador: derecho a comunicar. Este derecho implica el derecho de acceso a las redes informáticas y, además, el de la libertad de expresión en todas sus dimensiones. No se trataría sólo de que todo ciudadano tenga la posibilidad de conectarse a las redes informáticas, sino también de "hablar"; no sólo de acceder para informarse, sino de acceder para comunicar”.

[8] Utopia vem de Utopos, ou não-lugar. A utopia como esperança latente de concretização do desejado e requerido, ânsia e busca pela efetivação em todo lugar, em qualquer lugar, em nenhum-lugar especial.

[9] O sentido mais pragmático dado à política como equivalente do sufrágio, no âmbito da rede - além dos vários projetos experimentais de votação eletrônica já realizados principalmente nos EUA -, poderá ser verificado já em 2002, na Suíça, no que deve ser a primeira eleição virtual oficial de todo um país. Isso que se chama de “e-democracia”, na proposta do governo suíço, deve estimular a participação dos eleitores. Cabe ressaltar que a Suíça é tradicionalmente associada aos princípios da Democracia Direta, fazendo uso extensivo de plebiscitos e referendos em seus Cantões. (CHADE, 13 abr. 2001, p. 09).



[10] O sentido da expressão é o dado por Antonio Candido, na Introdução ao livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda (O Significado de “Raízes do Brasil”): “O ‘homem cordial’ não pressupõe bondade, mas somente o predomínio dos comportamentos de aparência afetiva, inclusive suas manifestações externas, não necessariamente sinceras nem profundas, que se opõe aos ritualismos da polidez. O ‘homem cordial’ é visceralmente inadequado às relações impessoais que decorrem da posição e da função do indivíduo, e não da sua marca pessoal e familiar, das afinidades nascidas na intimidade dos grupos primários” (Holanda, 1995, p. 17).

[11] A exemplo da proposta de implantação de quiosques eletrônicos, como consta do Programa de Direitos Humanos do Município de Marília. Elaborado por um grupo extenso e variado de pessoas – do qual tomei parte ativa – e referendado pelo município em diversas ocasiões de apreciação pública, o Programa traz como meta da área temática da cultura questão evidentemente semelhante a esta: “Elaborar proposta técnica e política, suprapartidária, de um projeto de cidade virtual, interativo, acessível em logradouros públicos e computadores pessoais, e que permita consultas ágeis e eficientes acerca da condução das principais políticas públicas municipais” (s/d, p. 02 – grifos meus). Na área temática da Comunicação, apresenta proposta que visa debater a questão já abordada da razão imagética, visando claramente a participação do munícipe, mas com atenção para sua formação: “criar mecanismos para popularizar as discussões em torno da pedagogia da comunicação” (idem, p. 01 – grifos meus).

[12] Explico o título, que já é o conceito, e depois argumento sobre o sentido geral.

[13] Na Internet: http://idgnow.uol.com.br/webword/namidia/2000/09/0094/. O Napster serve como programa de busca e compartilhamento de arquivos de música na net de forma gratuita, isto é, sem reconhecer a chancela dos direitos autorais.

[14] A primeira geração de direitos humanos implicou no reconhecimento dos direitos e das garantias individuais; a segunda, no reconhecimento dos direitos políticos; a terceira ligou-se aos direitos sociais; a quarta, aos chamados direitos planetários, como a preservação dos oceanos; e, a quinta, como indico, ao incremento dos meios, recursos e instrumentos telemáticos e de (inter)comunicação.

[15] A versão espanhola utilizada se encontra em: http://www.arnal.es/free/info/manif-1.htm. No original, em inglês: http://www.eff.org/pub/Publications/Jonh_Perry_Barlow/barlow_0296.declaration.

[16] Em espanhol: http://www.arnal.es/free/info/declaration.html.

Em inglês: http://www.be-in.com/9/tem/index.html.

[17] Em espanhol, no site: http://www.ub.es/solidaritat/observatori/docu8.htm.

[18] É óbvio que não se pode ignorar as diferenças econômicas entre os países. Pois se não fossem importantes não teríamos, por exemplo, tantos movimentos em favor da democratização da informática e do acesso à rede — notadamente em países subdesenvolvidos. Ou seja, a existência dos movimentos, por si, indica a profunda desigualdade tecnológica entre países, regiões e indivíduos.

[19] Desse tópico até o final dessa parte do texto, aproveito e desenvolvo pequenos artigos que publiquei em periódicos locais.

[20] Mesmo após a defesa da tese, preferi manter os exemplos históricos – datados, portanto – porque fornecem pistas e dicas dos rumos de minha própria pesquisa participante e interativa com o meio. Além de permitir ao (e)leitor que avalie o desenvolvimento prático, isto é, concreto, efetivo das experiências relatadas por mim no seu passado-presente. A indicação dos sites para consulta, leitura e debate segue a mesma linha -o (e)leitor pode verificar o que ainda está disponível, sendo assim duradouro, e o que era fugaz e volátil. As duas faces do virtual.



[21] Como experiência de uma nova forma de participar da política virtual, no sentido em que proponho a tolerância para a Democracia Virtual, menciono minha inscrição em um país virtual ou micronação: a República Participativa de Campos Bastos. Seu slogan é: “Este é o sonho de uma sociedade ideal. Um lugar onde ninguém seja mais que o outro. Onde todos tenham o mesmo valor e cada um influa do seu jeito no futuro do país. Aqui tudo é possível: criar, fazer, tornar-se, pensar, lutar, construir. Venha fazer este sonho conosco”. Como se confirma no endereço: http://pelaro.virtualave.net/principal.html. Inscrito com o pseudônimo de Citizen, disse esperar “...um povo pacífico, educado, participativo, tolerante e, o principal, que seja adepto, defensor e propagandista da teoria da geração dos direitos humanos”. Em seguida, apresentei os motivos de minha procura por asilo: “Citizen era um professor universitário, na área de Teoria Geral do Estado, e que vivia em Ágora com sua família. Seu drama começa com o encerramento da liberdade política”. Não comento a participação devido à recente inscrição. Na Internet: http://pelaro.virtualave.net/form.html.

[22] É conhecida a defesa que Voltaire faz da família Calas, utilizando-se dos meios propandísticos, o primeiro marketing jurídico, a ponto de influenciar a opinião pública.

[23] É o caso de apontar as experiências com a construção e manutenção coletiva dos chamados países virtuais, em que a interface alimenta uma experiência profundamente política, quer seja democrática e republicana, quer seja monarquista ou parlamentarista. Mas talvez o precurssor da experiência cívica virtual, em jogos eletrônicos, tenha sido o conhecido Sincity – jogo de computador muito interativo e criativo, também utilizado em faculdades de engenharia e arquitetura.

[24] Além da existência das rádios piratas e/ou comunitárias, dependendo do status legal reconhecido e atribuído pelas agências governamentais de regulação da comunicação, é importante ressaltar a diferença fundamental introduzida pela Internet enquando nova mídia, no tocante à própria distribuição da informação e a relação custo-benefício aí inaugurada: “A mídia de massa custa um dinheirão para chegar ao consumidor. Logo, tem que vender muito para dar lucro. Ora, dirá você, por isso é que é de massa. A internet inverte esse modelo: custa pouquíssimo para distribuir. Quem paga o custo de distruição é na verdade o cliente, que compra um computador e uma linha telefônica e paga uma assinatura de um provedor de acesso” (Ercília, 1989, p. 110).

[25] Deriva de um termo estruturado por William Whewell (consiliência), em 1840, no livro A Filosofia das Ciências Indutivas.

[26] Leite, 1998.

[27] Ou algo parecido com o que se convencionou chamar de sociobiologia.

[28] Braben, 1996, p. 31.

[29] Ou Einstein advertindo sobre o sentido da vida, global, de todos, sob o ponto de vista da ação política ou da intervenção tecno-científica: “Gandhi morreu vítima do próprio princípio que pregava, o da não-violência. Ele morreu porque, nesses tempos de crise e de agitação vividos por seu país desde tantos anos, sempre recusou toda proteção armada. Gandhi acreditava de maneira inabalável que o uso da força era uma monstruosidade e que todo homem amante da justiça deveria evitá-la (...) Aprendamos a lição, às vezes amarga, de que a humanidade não poderá esperar um futuro digno enquanto a questão das relações internacionais não se fundamentar no direito e na justiça, e enquanto continuarmos, como hoje, a nos entregar ao poder nu (...) O problema da paz e da segurança mundial é bem mais importante que o conflito existente entre socialismo e capitalismo. O homem deve, antes de tudo, assegurar sua sobrevivência; depois, quem sabe, poderá refletir sobre o tipo de existência que gostaria de levar” (1994, p. 172).

[30] Aliás, por si só, a luz já condensa a vida: “...a luz é nosso principal instrumento de observação (...) Contudo, quero frisar desde logo que somente nesse aspecto formal a luz, que talvez seja o menos complexo de todos os fenômenos físicos, exibe uma analogia com a vida” (Bohr, 1995, p. 6). Na perspectiva ocidental e sua tradição baseada no olhar, o logos, o racional, remete à visão.

[31] Braben definiu suas pesquisas como de alto risco ou Blue Skie (op. cit., p. 44).

[32] Destaco a participação de Fátima Ferreira dos Santos, minha monitora no curso de Direito, ao proceder a uma leitura muito sugestiva dessa parte do texto.

[33] Minha interação dialética, se assim posso chamar, com o texto e com o meio que descrevo, manifestou essa mudança de espírito. Daí nunca sentir uma indisposição, porque esse pensar virtual é uma predisposição à mudança, a mesma abertura e expansão do próprio espírito, minha, sua, nossa transformação. O texto, por assim dizer, esteve, está e sempre estará aberto aos movimentos dos leitores e interlocutores, pois não tem finalização, ou seja, de onde paro, que se recomece. No fundo, o texto é o recomeço de um outro, de uma série de outros produzidos por mim em momentos diversos e dotados de sentidos variados.

[34] O pós-virtual não é, portanto, o encontro real, presencial, carnal, olfativo, cara a cara, face a face, olho no olho - como se diz na linguagem dos internautas – que venha a ocorrer após o encontro virtual, na Web. Não se trata, de forma ainda mais direta, de se conhecer alguém, tomar um chope, tocar-lhe a pele, realizando um sonho que teve início numa sala de bate-papo. Agradeço essa indicação ao professor Giovanni Alves.

[35] Madureira, 13 jul. 2001.

[36] No gênero, mas muito mais honesto, temos Blade Runner.

[37] Nas ciências humanas, esse maniqueísmo, é bem representado por Sábato, autor que vê a política sofrendo — com Maquiavel — da mesma influência calculista invasora da ciência: Este é o homem moderno. Conhece as forças que governam o mundo, tem-nas a seu serviço, é o deus da terra: é o diabo. Seu lema é: tudo pode ser feito. Suas armas são o ouro e a inteligência. Seu procedimento é o cálculo (...) A esses engenheiros não interessa a Causa Primeira, nada esperam de Deus. O saber técnico toma o lugar da preocupação metafísica, a eficácia e a precisão substituem a angústia religiosa (...) A mentalidade calculista invade finalmente a política: Maquiavel é o engenheiro do poder estatal. Impõe-se uma concepção dinâmica e inescrupulosa, que não reconhece a honra, nem direitos de sangue, nem tradição (1993, pp. 33-4).

[38] Da Redação, 21 JUL. 2001.

[39] Idem, ibidem.

[40] Na Guerra do Golfo, o Iraque conseguiu atrair aliados para juntos expulsarem “as tropas americanas” do solo sagrado; da mesma forma como os EUA viabilizaram as bombas de alvo certeiro, de incisão cirúrgica. Isto é, para os dois lados, o território, seus circunvizinhos, as trajetórias e a logística esbarravam no alvo preciso, simultaneamente território, localização, espacialidade e definição conceitual precisa de aliado ou amigo-inimigo.

[41] NETO, 25 dez. 2001.

[42] O terrorista Osama Bin Laden está virtualizado e, de certa forma, imortalizado: O terror também está no mundo virtual. Um exemplo é o site www.markazdawa.org, que, extremista, chama os islâmicos para a jihad (mobilização muçulmana para difundir o islamismo) e traz papéis de parede com imagens sangrentas de facas e mísseis em ação. Esse site também se chama www.osamabinladen.cjb.net (Versignassi, 19 set. 2001).

[43] Os americanos, por sua vez, além de aprovarem leis que violam frontalmente o sigilo de correspondência eletrônica – permitindo ao FBI vasculhar possíveis e-mails terroristas em todo o mundo –, abandonaram os mísseis teleguiados ou chamados inteligentes, amplamente usados no Golfo, em favor da maior e mais pesada bomba tradicional (não atômica) que possuem. Apelidada de corta-margarida, a bomba arrasa tudo num raio de quinhentos metros de seu epicentro, com a vantagem de não produzir crateras.

[44] A expressão (cunhada por Cândido Vieitz, docente da UNESP/Marília) refere-se aos mais aficionados pela informática, reduzindo a própria experiência de vida à quantidade de bits que são capazes de transferir, ou seja, reduzem a própria consciência do social à capacidade de memória RAN de seus PCs.

[45] Com a expressão, técnicos e especialistas querem reduzir a importância de análises sociológicas ou filosóficas a respeito da informática, denotando que a especulação investigativa está a uma distância insuperável diante do próprio avanço tecnológico. Certamente, seria o caso do presente texto.

[46] Não reduzi as referências bibliográficas ao texto para que o leitor tivesse a idéia geral do corpo da tese, através dos autores mencionados e tratados. Além de poder comparar com as atualizações decorrentes.