quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Jovens podem ter que mudar nome para apagar passado na web

Os jovens de hoje podem ser obrigados no futuro a mudar seus nomes para se livrar dos rastros de suas atividades online passadas, advertiu o presidente da Google, Eric Schmidt, em uma entrevista a um jornal americano. Schmidt afirmou ao diário The Wall Street Journal que teme que os jovens não entendam as consequências de ter tanta informação pessoal sobre eles disponível na internet.

"Eu não acho que a sociedade entenda o que acontece quando tudo é disponibilizado, reconhecido e registrado por todos o tempo todo (...) Eu quero dizer que nós realmente temos que pensar sobre essas coisas como uma sociedade", disse ele.

Segundo o jornal, "ele (Schmidt) prevê, aparentemente sério, que todas as pessoas jovens um dia terão direito automaticamente a mudar de nome ao chegar à vida adulta para deixar para trás as travessuras da juventude guardadas nos sites de mídia social de seus amigos".

"Não estou nem falando sobre as coisas realmente terríveis como terrorismo e acesso a coisas ruins", disse Schmidt.

Apesar disso, ele admitiu que a Google guarda cada vez mais informações pessoais sobre seus usuários para ajudar em seus serviços. Segundo ele, no momento a empresa sabe "razoavelmente quem você é, razoavelmente o que você gosta e razoavelmente quem são seus amigos".

A Google, responsável pelo site de relacionamento social Orkut, recentemente vem buscando aumentar sua presença no setor, com a aquisição da Slide e da Jambool, duas empresas especializadas em prover serviços para redes sociais.

A Slide é uma empresa de jogos online, enquanto a Jambool fornece moedas virtuais e sistemas de pagamento. A Google também teria investido recentemente em outra empresa de jogos para redes sociais chamada Zynga.

Muitos acreditam que as aquisições são um sinal de que o gigante das buscas online está prestes a lançar outra rede de relacionamentos sociais. Alguns comentaristas de tecnologia já até aventaram um possível nome para o serviço: Google.me.

Em fevereiro, a empresa se envolveu em uma polêmica ao lançar o serviço de rede social chamado Google Buzz, ligado às contas de e-mail Gmail. O serviço foi criticado por ser ativado sem pedir o consentimento dos usuários, tornando visíveis ao público todos os contatos das pessoas.

Apesar do tom alarmista da entrevista de Schmidt, alguns especialistas em tecnologia consideram sua avaliação "exagerada". "A ideia de que tudo está registrado online não é verdade", disse à BBC a consultora de mídia social Suw Charman-Anderson.

"Deve levar bastante tempo até que isso se torne verdade, por causa da enormidade da internet." Arquivos como o Google Cache, que guardam versões antigas de sites, são seletivos, lembra ela.

"O Google Cache é um instantâneo tirado periodicamente de parte da internet. No momento, é algo incerto", diz. Algumas companhias já apareceram oferecendo serviços de "limpeza" de perfis na internet, mas Charman-Anderson argumenta que é necessária uma mudança de atitude em relação ao conteúdo pessoal na internet.

"Sempre há uma diferença de tempo entre a introdução de novas tecnologias e o desenvolvimento de uma série de normas sociais em torno do comportamento que essa tecnologia fomenta", diz ela.


Fonte: terra

Mesmo inseguras, jovens se encontrariam com amigo virtual

Por: Thais Sabino



Um levantamento realizado pela CPP Brasil (Parceria para a Proteção da Criança e do Adolescente) com a ONG Plan Brasil aponta que cerca de 80% das adolescentes brasileiras não se sentem seguras na internet. Apesar disso, o estudo apurou que 50% delas gostariam de se encontrar pessoalmente com alguém que tenham conhecido na internet.

O estudo faz parte da publicação "Fronteiras Digitais e Urbanas: Meninas em um ambiente em transformação", que mostra como as tecnologias de comunicação e informação têm potencializado o desenvolvimento de meninas e aponta os riscos enfrentados por elas no mundo digital.

A pesquisa mostrou que o uso das tecnologias da informação e comunicação está aumentando rapidamente entre os jovens. Entre 2005 e 2008 houve o maior aumento percentual de todos os setores da população, de 33,7% para 62,9%. Na internet, houve aumento de 75,3% no número de pessoas maiores de dez anos que se conectaram à rede nos últimos cinco anos. Mais pessoas passaram a ter celular, 54,9% a mais do que em 2005. Mais de 80% das meninas entrevistadas possuia telefone celular.

"As meninas ainda são aquelas que são menos privilegiadas, em questão de segurança, em relação aos meninos", afirmou o superintendente da Plan no Brasil, Moacir Bittencourt.

A adolescente A.L.B., 13 anos, passou por um problema de tentativa de abuso sexual. Ela contou que o namorado de sua prima já havia tentado tirar sua roupa quando ela visitava a prima. Porém, após a separação ele ligou para a adolescente, se passou por um amigo e marcou um encontro. "Quando cheguei lá, ele começou a abusar de mim, tirou a minha roupa e não me soltava", contou. A menina tentou informar a família, que "não acreditou na história", segundo ela.

A pesquisa aponta também que apenas um terço das meninas sabe como denunciar uma situação de perigo. Quase metade das meninas afirmou que os pais sabem que elas estão online. Porém, para a psicóloga e pesquisadora Silvia Losacco, "os pais precisam aprender a fazer a proteção, como fazer, porque mesmo que trabalhem com internet não sabem como lidar com os filhos que ficam sujeitos a isso". Ela sugere a troca de informações, em vez da repressão.

O método utilizado pelos pais de T.V., 13 anos, funcionam. "Eles trabalham com computador e instalaram um programa que grava todas as minhas conversas no MSN", disse a adolescente. Segundo ela, a mãe costuma ler as mensagens trocadas no comunicador e repreender quando discorda de algo.

Diante de qualquer sinal de abuso sexual pela internet, Bittencourt explica que a vítima pode denunciar pelo site da Polícia Federal ou pelo telefone pelo disque 100.

O problema, porém, não está concentrado no Brasil e acontece no mundo todo. De acordo com o consultor do IICDR, Michael Montgomery, "é um problema mundial e existe um silêncio em todos os países sobre este assunto".

Foram entrevistadas 400 adolescentes de diversos Estados através de uma pesquisa online e de grupos focais de discussão que contaram com a participação de 40 meninas de escolas públicas e privadas de São Paulo e Santo André. As entrevistadas afirmaram passar de uma a sete horas por dia conectadas.

Fonte: Terra

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Curso gratuito para professores de matemática

Estão abertas as inscrições para o curso “Materiais Virtuais Interativos para o Ensino da Matemática na Educação Básica”. O curso é destinado a professores de matemática da rede pública. O curso tem fluxo contínuo de entrada, mas com conclusão em junho ou novembro de cada ano. O Curso é “gratuito” e na modalidade EAD em ambiente virtual. O certificado será fornecido pela UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Para maiores informações acesse o endereço abaixo:

http://www.projetos.unijui.edu.br/matematica/oferta4.html


Tânia Michel Pereira
Coordenadora do curso

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Redes virtuais: da discussão teórica às potencialidades contemporâneas para a consolidação de redes sociais

Por: Elizabeth Oliveira & Marta Irving

Interpretando teoricamente o conceito de redes na era da Internet

Na perspectiva histórica, em estudo elaborado para o Núcleo de Pesquisas, Estudos e Formação da Rede de Informações para o Terceiro Setor (Nupef Rits), Aguiar (2006) discute algumas premissas associadas às redes que contribuem para a compreensão de importantes características do fenômeno de intercâmbio social, em permanente evolução no Brasil e no mundo. Segundo afirma a autora:

“Mais do que estruturas de relações, as redes sociais são métodos de interações que sempre visam algum tipo de mudança concreta na vida do indivíduo, no coletivo, e/ou na (s) organização (ões) envolvidos: isto significa que os elementos que compõem a sua estrutura (nós, elos, vínculos, papéis) são indissociáveis da sua dinâmica (freqüência, intensidade e qualidade dos fluxos entre os nós).” (AGUIAR, 2006, pp.11-12)
Segundo a autora, as redes sociais servem, acima de tudo, para facilitar as relações entre pessoas, que interagem tanto em causa própria, em defesa de outros, ou mesmo em nome de uma organização. Essas redes tendem a ser abertas à participação, de acordo com as afinidades de seus membros, e, mesmo podendo ser modificadas com o tempo, mantêm acesa a motivação que as gerou. A pesquisadora ilustra ainda algumas características que diferenciam redes sociais e sistema em rede:

“(...) um “sistema em rede” tende a ser fechado (delimitado por certos critérios formais de participação) e determinista (com funções pré-estabelecidas): é o que diferencia, por exemplo, uma rede de ambientalistas de uma rede de supermercados, de escolas ou de bibliotecas; mas tanto a rede social quanto o sistema em rede podem ser mediados ou não por tecnologias de informação e comunicação (TICs); ou ainda serem híbridos – quando parte dos seus participantes não tem acesso a essas tecnologias, formando “teias invisíveis” que se comunicam com a rede através de “indivíduos-ponte.” (AGUIAR, 2006, pp.11-12)
Ainda na perspectiva de discussão de redes, Castells (2003) compara a tecnologia da informação, na atualidade, à eletricidade que possibilitou os avanços da Era Industrial. Segundo o autor, tal qual a energia que induziu o funcionamento de máquinas e motores, revolucionando padrões de produção e consumo, a Internet representa, na atualidade, a força que movimenta a sociedade, interligando-a em redes, por intermédio da informação. Castells (op.cit) discute que:

“Uma rede é um conjunto de nós interconectados. A formação em redes é uma prática humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova em nosso tempo transformando-se em redes de informação energizadas pela Internet”. (CASTELLS, 2003, p.7)
Com essa concepção, a flexibilidade é mencionada por Castells como uma forte vantagem das redes, enquanto ferramentas de organização. No entanto, em contraste com as hierarquias centralizadas, o autor aponta como pontos negativos das redes, a dificuldade de coordenação de funções e de concentração de recursos em metas específicas.

Segundo o autor, no século passado, três processos independentes se desenvolveram e contribuíram para a formação de uma “nova estrutura social baseada em redes”. Esse impulso se deu a partir das exigências de flexibilidade administrativa e globalização do capital, produção e comércio, ditadas pela economia; além das demandas sociais; e dos avanços tecnológicos. O resultado desses processos permitiu o que o pesquisador denominou de “revolução microeletrônica”.

Nesse contexto, segundo o autor, a Internet tornou-se a principal ferramenta para uma nova sociedade, “a sociedade em rede”, impulsionando a criação de uma nova economia e quebrando antigos paradigmas da comunicação. Sendo assim,

“A Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global. Assim como a difusão da máquina impressora no Ocidente criou o que McLuhan chamou de a “Galáxia Gutemberg”, ingressamos agora num novo mundo de comunicação: a Galáxia da Internet”. (CASTELLS, 2003, p.8)
Construindo um contraponto em relação às reflexões de Castells (op.cit), Aguiar (op.cit) discute que, apesar de ter havido um forte incremento das redes sociais em função dos avanços da Internet comercial, existem também “elos invisíveis”, por meio dos quais circulam conhecimento e informação, de forma a permitir a expansão das redes para além dos meios digitalizados. A pesquisadora também problematiza que:

“Sob a perspectiva de seu globalismo economicista, Castells vê as redes como estruturas abertas que só tendem a se expandir. Mas a dinâmica das redes sociais é mais complexa: não obrigatoriamente evolutivas; também podem encolher e, muito frequentemente, ganham e perdem nós ao longo do seu percurso, sem perderem sua identidade, assim como ocorrem mudanças qualitativas nos vínculos entre esses nós. Isto sem contar que nem todas as ligações são intermediadas por tecnologias de informação e comunicação”. (AGUIAR, 2006, p.17)
Como a chamada “Galáxia da Internet” permitiu o avanço da “sociedade em rede”, fenômeno discutido por Castells (op.cit), o termo “rede”, passou a ser utilizado para definir quase todas as formas de organização, cujos elementos, se interligam e se relacionam a distância.

Para que as redes se mantenham é fundamental que existam conexões e trocas de informações permanentes, entre seus elementos. Mas, segundo Martinho (2003), nem todas as formas de organização, interligadas à distância por mecanismos de comunicação, podem ser interpretadas como rede. Como discute o autor:

“A figura da rede é a imagem mais usada para designar ou qualificar sistemas, estruturas ou desenhos organizacionais caracterizados por uma grande quantidade de elementos (pessoas, pontos-de-vendas, entidades, equipamentos etc) dispersos espacialmente e que mantém alguma ligação entre si. É uma metáfora comum à nossa época, que ainda pouco compreende a natureza do fenômeno da Internet e de seus efeitos e, portanto, tende a atribuir a toda situação de "interligação" características presentes na rede de computadores. Se antes, na sociedade industrial, os processos de trabalho eram bem representados pela metáfora da máquina (ou do mecanismo), agora o desenho da rede passa a ocupar lugar preponderante no imaginário da sociedade pós-industrial. Mas nem tudo o que representa esses três aspectos – quantidade, dispersão geográfica e interligação – é rede”. (MARTINHO, 2003, p.8)
O autor exemplifica que, uma estrutura empresarial, pela qual se mantêm interligadas uma matriz e inúmeras filiais, também integra elementos dispersos espacialmente, podendo até ser confundida como rede, e geralmente recebe essa denominação. Porém, a relação de subordinação das filiais à matriz, segundo Martinho (op.cit), faz com que essa estrutura empresarial, se enquadre na categoria de “cadeias”, às quais podem estar incluídos grupos lojistas, supermercadistas e franquias, de hierarquias distintas na conexão. Segundo resume:

“Essa estrutura, com base numa concepção meramente formal, poderia ser chamada de “rede”, mas não passa de uma organização tradicional em forma de pirâmide, com uma base muito ampla. Um velho desenho ao qual se dá um nome novo e em voga”. (MARTINHO, 2003, p.9)
Mas o problema, segundo o pesquisador, é que, quando tudo, indiscriminadamente, passa a ser interpretado como rede, essa vigorosa dinâmica “perde brilho e poder explicativo”, e perde algumas das características mais marcantes das redes: “o seu poder criador de ordens novas e seu caráter libertador”.

O autor observa que o conceito de rede, embora seja muito novo, e exija cada vez mais estudos em função dos avanços trazidos pela Internet, incorpora, o que ele define como “a natureza eminentemente democrática, aberta e emancipatória”.

Nessa perspectiva, segundo o autor, redes não podem ser confundidas com articulações de grupos centralizadores, já que estas remetem a um projeto deliberado de organização da ação humana, um padrão de integração que instiga atores sociais a empreenderem, na busca de resultados, e na promoção de transformação da realidade, com base no livre fluxo de informação, além de ações cooperativas e participativas, voltadas à realização de ideais coletivos.

Discutindo a visão de Castells, referência internacional em estudos de redes, Martinho (2003) menciona que as tecnologias da informação fornecem, na atualidade, a base material para a impregnação em toda a estrutura social de uma “lógica de redes”, o que seria determinante para a emergência de uma “sociedade em rede”.

Segundo Martinho, Castells também considera que, se por um lado, o desenvolvimento de tecnologias da informação permitiu o “desvairado e incontrolável” fluxo de capitais pelo planeta, fortalecendo cada vez mais os interesses financeiros do mercado, agilizou, por outro, a articulação de uma variedade enorme de movimentos sociais e organizações da sociedade civil, a começar pelo pioneirismo das redes ambientalistas.

Manifestações contra a Organização Mundial do Comércio (OMC), realizadas por movimentos sociais, nos últimos cinco anos, em cidades como Seattle, Praga e Gênova são usadas como exemplos do poder da sociedade em rede, fenômeno que também repercutiu positivamente nas edições do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Conforme Martinho discute a seguir:

“Tais redes que, anteriormente, emergiam do relacionamento entre atores sociais e das situações políticas que exigiam resposta coletiva, mas que mantinham uma existência episódica, transformaram-se, propriamente, numa das principais formas de organização permanente desses novos movimentos sociais. Uma multifacetada constelação de ONGs, pessoas e grupos de afinidade em cada uma das áreas da ação política e social humana – educação, saúde, cultura, assistência social, meio ambiente, gênero, defesa de direitos e economia solidária, entre outros – passou a existir”.(MARTINHO, 2003, p. 11)
Fazendo um resgate histórico da evolução do tema no Brasil, Martinho (op.cit) discute que a organização dos movimentos sociais em rede começou a ser observada, no País, nos anos 60, em função da necessidade de articulação entre os atores sociais que lutavam contra a ditadura militar, defendiam a democracia e os direitos humanos. Nos anos 80 e 90, com o uso de sistemas pioneiros de comunicação a distância, por meio de computadores, a articulação em rede ganhou novos contornos e dimensões.

Tendo como pano de fundo esse cenário de fortalecimento das redes sociais foi criado, em caráter pioneiro no Brasil, o Fórum Nacional Permanente de Entidades Não-Governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - (Fórum DCA), em 1988. Essa articulação resultou na aprovação pelo Congresso Nacional, do Estatuto da Criança e do Adolescente, no início dos anos 90.

Dessa experiência bem-sucedida da organização social em rede, segundo o autor, foi então implantada a Associação Brasileira de ONGs (ABONG), em 1991. Em seguida, nasceu o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, que realizou encontro paralelo durante a RIO-92. Essa articulação, entre outros desdobramentos, deu origem à Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA), em 1992. O autor recorda que:

“Em 1996, a liberação do uso comercial e doméstico da Internet no Brasil deu novo alento ao trabalho das redes que já existiam e proporcionou um ambiente favorável à constituição de listas de discussão e comunidades virtuais, que se tornaram embriões de várias articulações de rede que se seguiram. A criação da ONG Rede de Informações para o Terceiro Setor (RITS), em 1998, também merece destaque nesse ligeiro histórico por ter sido a primeira organização de âmbito nacional voltada especificamente para o fomento da organização em rede e do uso de ferramentas para o trabalho colaborativo a distância”. (MARTINHO, 2003 p.12)
Embora tenha havido, nos últimos anos, desde então, um crescimento vertiginoso dessas redes formadas pela sociedade civil, não há levantamentos capazes de quantificá-las. Segundo o autor, é possível encontrar esses grupos colaborativos pelas denominações de “fórum”, “articulação”, “movimento”, “coletivo”, entre outras.

No plano da pesquisa, o interesse pelo tema é evidenciado em um mapeamento realizado por Aguiar (2006) que identificou pesquisas acadêmicas sobre o fenômeno de redes sociais no Brasil, entre os anos de 1996 e 2006.

Neste período, foram identificados 78 pesquisadores doutores, vinculados a 44 instituições públicas e privadas, atuando em estudos sobre redes sociais. A autora que, utilizou o Sistema Eletrônico de Currículos da Plataforma Lattes para realizar o levantamento, também identificou 21 grupos, núcleos e centros de pesquisa envolvidos com essa temática no País. Parte dos estudos envolve discussão sobre o papel das novas tecnologias na mediação de relações sociais via Internet.

Potencialidades e desafios para a consolidação de redes sociais via Web

Marí Sáez (2005) afirma que é inegável o potencial de construção de redes organizativas, capazes de reunir múltiplos atores e organizações sociais, a partir de novas tecnologias de informação. Assim como outros pesquisadores do tema, o autor também menciona a importância da Internet para a atuação dos movimentos de contestação do atual modelo econômico mundial, que ganharam força pelo intercâmbio de inúmeras redes sociais, sobretudo na Europa, Canadá e Estados Unidos.

Apesar do fortalecimento do poder de articulação dos movimentos sociais em nível global, a organização da chamada sociedade em rede ainda encontra inúmeros obstáculos, conforme pondera Marí Sáez (op.cit). Essas dificuldades, segundo ele, interferem no esforço de transformação da realidade e impedem o pleno aproveitamento do potencial que oferecem os meios de comunicação ao processo de formação de redes.

O primeiro obstáculo, neste caso, apontado por Marí Sáez (op.ci,), é a influência das políticas neoliberais no processo de mobilização da sociedade. Baseado em Bordieu, o autor define o neoliberalismo como um modelo que tem como objetivo a fragmentação social e a destruição dos projetos coletivos. Segundo argumenta, para a correta reprodução desse sistema interessa que, os movimentos sociais permaneçam “ilhados”, sem capacidade de definição de estratégias e ações comuns.

O autor menciona como segunda grande dificuldade no processo de formação de redes sociais, “as relações viciadas com as administrações públicas”. A luta por recursos financeiros, (subvenções públicas) na maior parte das vezes, se converte em um fim em si mesmo, fazendo com que diferentes organizações se vejam competindo, quando deveriam estar estreitando laços de solidariedade e união. Segundo argumenta:

“Conocedoras de estas dependencias, las propias administraciones “administran” en su provecho esta situación de poder con el fin de tener controlado al movimiento asociativo; en la mayoría de las ocasiones se resisten a articular mecanismos transparentes de gestión de las subvenciones. La máxima de “divide y vencerás” es sistemáticamente aplicada”. (MARÍ SÁEZ, 2005, p.2)
Da mesma maneira, a tendência de se criar grupos fechados, que resistem à aproximação de outros segmentos, que desenvolvem uma espécie de sentimento de posse “sobre pessoas e territórios”, segundo o autor, também constitui um risco enfrentado pelos que buscam estabelecer mecanismos de trabalho em rede.

Neste contexto, o fortalecimento da articulação em rede, segundo o autor, depende de uma mobilização contra o que define como “inércia organizativa” e contra sistemas ditos de construção coletiva, que, na verdade, impedem a livre participação de seus membros. Marí Sáez (op.cit) pondera que esses são problemas que refletem ainda uma espécie de reprodução do modelo industrial, calcado na hierarquização e no controle do poder, pelo qual sujeitos não atuam como protagonistas.

Também segundo o autor, outro grande obstáculo à formação de redes, é a dificuldade dos movimentos sociais aproveitarem o pleno potencial das ferramentas audiovisuais. Os grupos sociais que já atuavam em rede, buscando o fortalecimento das interconexões uns com os outros, e que se formaram a partir de organizações flexíveis e horizontais, conforme observa o autor, são os que têm conseguido melhor aproveitar as possibilidades trazidas pelas novas ferramentas de circulação de informação, sobretudo, as que se baseiam na Internet.

Mas, pensar a comunicação, sob uma perspectiva crítica, na opinião de Marí Sáez (op.cit), exige uma análise das implicações econômicas, ideológicas e políticas, dos meios de comunicação de massa calcados no modelo capitalista. Para estimular tal olhar sobre a mídia, o autor argumenta que os movimentos sociais precisam se formar como gestores de comunicação “(...) que trabajen en el seno de sus organizaciones el diseño de planes de comunicación, para pensar estratégicamente en los modos en los que se dirigen a sus públicos, en los lenguajes utilizados, en la manera en que se apropian de las tecnologías de la información y la comunicación”. (p.5)

Pedro (2003) contribui também para esse debate, refletindo sobre as redes e suas reais potencialidades. A autora, valendo-se do enfoque de Latour, reforça que os elementos que trafegam em uma rede são capazes de transformá-la, ao transportar nos seus movimentos, para outros locais que não o de sua origem, toda uma história pessoal. Esse constitui, portanto, um processo constante de redefinições. Segundo discute a autora:

“Em termos topológicos, uma rede se caracteriza por suas conexões, seus pontos de convergência e de bifurcação; por sua heterogeneidade, admitindo a diferenciação, em seu interior, de subconjuntos articulados entre si. É a força desses agenciamentos internos que permite melhor defini-la, entendendo-se que não se trata de vínculos estáveis e perfeitamente estabelecidos, mas antes de relações meta-estáveis que implicam numa permanente redefinição. Cada agenciamento, que se estabelece de forma local e singular, repercute na rede inteira”. (PEDRO, 2003, p.33)
“Flexibilidade”, “caráter de permanente redefinição”, “dinâmica” e “certa capacidade de operacionalização” são expressões utilizadas pela autora para enfatizar como o conceito de rede pode contribuir para desfazer o que denomina de “embaraços” trazidos por outros conceitos tais como os de sistema, estrutura e complexidade:

“O conceito de rede é interessante na medida em que permite lidar com alguns embaraços trazidos por outros conceitos que lhe são aparentados, como por exemplo, os de sistema, estrutura e complexidade. Ao conceito de sistema, a noção de rede permitiria acrescentar uma certa flexibilidade e um caráter de permanente redefinição, não exigindo, portanto, totalização. Ao conceito de estrutura, a noção de rede parece conferir uma historicidade, na medida em que não se define apenas por sua forma mas, sobretudo, pela dinâmica que possibilita acompanhar a gênese dos movimentos que transformam os feitos em fatos. Com relação ao fértil e poderoso conceito de complexidade, a noção de rede pode oferecer uma certa capacidade de operacionalização, permitindo que nos debrucemos sobre a cotidianeidade dos acontecimentos e sobre as práticas que refletem o próprio movimento de hibridação”. (PEDRO, 2003, p.34)
Nas reflexões de Callon, Pedro busca ainda argumentos de que o fortalecimento das redes decorre do apoio que seus elementos conferem entre si, o que colabora para o entendimento do seu caráter de construção coletiva. Segundo a autora:

“(...) O que torna uma rede forte, diria Callon (1996) é que cada um de seus pontos se apóia em outros – a força deixa de ser um atributo individual para se tornar uma questão de relações e de alianças”. (PEDRO, 2003, p.34)
No entanto, a virtualidade, do mesmo modo que inspira a reflexão, pelas inúmeras possibilidades de difusão da informação e fortalecimento da “sociedade em rede”, parece estar longe de deixar de ser um tema polêmico. A questão se torna evidente no artigo Fóruns, Política e virtualidade no Horizonte da Comunicação, no qual Silveira (2001) afirma que os fóruns virtuais “estão pondo em questão os fundamentos da democracia”. Com base em reflexões de Phillipe Quéau e Tomás Maldonado, a autora conclui que as conseqüências de um novo patamar de comunicação conduzem a grandes incertezas:

“Alguns como P.Quéau argumentam que os mundos virtuais são ferramentas de representação revolucionárias, enquanto para outros, como Tómas Maldonado, o que se faz pode ser uma confirmação do caminho para a alienação do homem, com uma comunicação sem rosto, escondida atrás de aparatos eletrônicos”. (SILVEIRA, 2001, p.5)
Para Muniz Sodré (2005), as novas tecnologias da informação, geradoras de uma ideologia da comunicação universal, se adequaram muito bem à realidade atual, pela qual os mercados financeiros, constituem o principal modelo de funcionamento da vida social. Segundo uma avaliação crítica do autor:

“(...) velocidade, probabilidade e instabilidade ou o caos tornam-se parâmetros de aferição do mundo da vida. Entende-se o porquê da velocidade: é preciso integrar em todas as dimensões os centros mundiais de decisão financeira, desbloquear a circulação instantânea dos capitais e acelerar as informações.” (MUNIZ SODRÉ, 2005, p.29)
Para o autor, a velocidade circulatória dos capitais financeiros corresponde, na mesma proporção, à velocidade crescente dos mecanismos de informação e comunicação. Diz o estudioso que “velocidade e flexibilização são conceitos-chave para bem se entender o que está em jogo em todo esse processo”. (p. 24)

Porém, no artigo Comunicação Alternativa e Redes Virtuais: os movimentos sociais na Internet, Moraes (2002), observa que, embora as incertezas ainda dominem as discussões acerca da comunicação virtual, é preciso reconhecer que o avanço da Internet facilitou a difusão de informação, além da abertura do diálogo e o exercício da cidadania em esfera global. Tal reflexão também encontra ressonância nas discussões abertas por Castells e Martinho.

Para Moraes (op.cit), novas formas de ação, gestão e participação social estão sendo desenvolvidas por organizações e movimentos, via Web. Segundo afirma o autor, as potencialidades surgidas no âmbito da comunicação virtual são fundadas em práticas interativas e “não submetidas aos mecanismos de seleção e hierarquização da mídia”. Diz ele:

“As entidades civis valem-se da Internet enquanto canal público de comunicação, livre de regulamentações e controles externos, para disseminar informações e análises que contribuam para o fortalecimento da cidadania e para o questionamento de hegemonias constituídas”. (MORAES, 2002, p.4).
Moraes (op.cit) reforça, ainda, que a Internet não pode ser entendida como um “Eldorado digital” e que é impossível subestimar o poderio de grandes grupos empresariais em um cenário de “transnacionalização e oligopolização das indústrias de informação e entretenimento” que avançam sobre o universo virtual.

Embora reconheça também a inclusão digital como um grande desafio a ser superado pelo país, o autor discorda dos segmentos que deixam de debater o tema segundo ele, com argumentos do tipo: “Os principais beneficiários da Web são as mesmas forças políticas e econômicas que lucram com a ordem capitalista.”

Para o pesquisador, a Internet pode assegurar visibilidade à atuação dos movimentos sociais, além de possibilitar a constituição de comunidades virtuais por aproximações temáticas, anseios e atitudes.

No artigo Novos Paradigmas Éticos na Comunicação Virtual, o autor volta a refletir sobre as possibilidades de interação e mobilização asseguradas pela Internet. Para Moraes (op.cit), o avanço da difusão da informação, via Web, quebrou paradigmas no que se refere ao processo de emissão e recepção de mensagens.

O processo de difusão virtual, na avaliação do pesquisador, possibilitou a formação de uma nova inteligência coletiva, “desterritorializada e descentralizada”, que se contrapõe à cultura verticalizada à qual a sociedade estava habituada. Para o autor, a Internet está contribuindo para o rompimento da arquitetura dos espaços de comunicação e alterando “a imagem clássica” dos aparelhos de divulgação no topo da pirâmide e “dos receptores confinados na base”.

No centro de inúmeros debates que se multiplicam em escala global, a Internet para uso comercial e doméstico, é um fenômeno recente. Segundo Castells (2003), seu crescimento mais expressivo foi verificado nos últimos dez anos. De acordo com autor, em 1995 existiam cerca de 16 milhões de usuários no mundo, número que aumentou para 400 milhões de pessoas em 2001, devendo chegar, segundo estima, a dois bilhões no ano de 2010.

Embora tenham evoluído as condições de acesso à rede mundial de computadores, estudiosos como Castells, apontam, a exclusão digital como um dos grandes riscos trazidos pelo avanço da “sociedade em rede”. Segundo reflexões do autor:

“A influência das redes baseadas na Internet vai além do número de seus usuários: diz respeito também à qualidade do uso. Atividades econômicas, sociais, políticas e culturais por todo o planeta estão sendo estruturadas pela Internet e em torno dela, como por outras redes de computadores. De fato, ser excluído dessas redes é sofrer uma das formas mais danosas de exclusão em nossa economia e em nossa cultura”. (CASTELLS, 2003, p.8).
Considerações finais

São inúmeros, os desafios relativos ao acesso à informação, via Internet, no sentido de fortalecimento das redes sociais. Entre eles, há que se pensar em alternativas de avanço no processo de inclusão digital. Mas, nesse debate, é importante não perder de vista as possibilidades de consolidação das ações de cooperação entre grupos sociais que defendem interesses comuns pelas redes virtuais.

Grande parte dessas alianças, ou parcerias, tem sido garantida a partir das interconexões das redes via Web, como discutem Moraes (2002) e Martinho (2003). Para os autores, independentemente de qualquer controvérsia, a Internet tem conseguido garantir a visibilidade dos movimentos sociais que se articulam em rede no Brasil e no mundo.

Vale ressaltar, ainda, que o intercâmbio de idéias, as formações de alianças, interconexões e reconfigurações constantes, são fenômenos permitidos pelas redes, extremamente dependentes da comunicação, segundo Martinho(op.cit). “A comunicação nesse processo, não só é o meio pelo qual, se dá a interação, mas, sobretudo, insumo necessário à organização da rede”.

Segundo o autor, a diversidade de integrantes de uma rede virtual, aliada à sua dispersão espacial, exige um trabalho de comunicação permanente para que se assegure a organicidade ao conjunto. Conforme discute:

“Só quando há comunicação é que o conjunto se torna orgânico. Nesse sentido, a rede depende dos processos de comunicação para constituir-se como tal. A articulação das múltiplas lideranças e a devida coordenação de suas ações diferenciadas só é possível mediante a troca de informação. Este é o elemento regulador do sistema”. (MARTINHO, 2003, p.40)
Enquanto Pearce (1996) ressalta que a Internet representa o mais novo paradigma da comunicação, depois da invenção da escrita, e da criação da imprensa, Trivinho (2005) considera o fortalecimento do ciberespaço como o fenômeno comunicacional mais significativo desde os estudos da Indústria Cultural dos pesquisadores Adorno e Horkheimer, em meados do século passado, considerado um período de grandes questionamentos a respeito do papel da comunicação na sociedade. Ao conceituar o ciberespaço, Trivinho discute que:

“O conceito de ciberespaço diz respeito a uma estrutura infoeletrônica transnacional de comunicação de dupla via em tempo real, multimídia ou não, que permite a realização de trocas (personalizadas) com alteridades virtuais (humanas ou artificial-inteligentes); ou, numa só expressão conceitual, a uma estrutura virtual transnacional de comunicação interativa. Além de pontuar a mudança de suporte dos processos sócio-culturais e políticos (agora marcado pela imaterialidade informática), a abolição do território geográfico e a interatividade prévia com a máquina, com o software e com a imagem virtual (...)”. (TRIVINHO, 2005, p.168)
Assim, compreender tanto a dinâmica das redes sociais como a sua capacidade de estabelecer novas conexões por meio da Internet são desafios que exigirão cada vez mais estudos sobre o alcance social dos processos de comunicação, sobretudo, os mediados pelas novas tecnologias da informação.

O tema ainda é alvo de inúmeras controvérsias, e, embora venha suscitando mais questionamentos, do que encontrando respostas, há que se pensar no desenvolvimento de novas pesquisas capazes de evidenciar os potenciais e obstáculos que envolvem as “interconexões dos nós”, criadas com objetivo de facilitar o diálogo entre inúmeros atores sociais e favorecer construções coletivas capazes de transformar realidades.

Referências bibliográficas

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