quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O impacto desconhecido da implementação dos cursos superiores em Técnologia no Brasil

Impacto desconhecido

Por Alex Sander Alcântara

Os cursos superiores de tecnologia (CST) já foram vistos como mera alternativa para quem não tinha condições de ir à universidade. Hoje, eles superaram o preconceito e, graças a uma série de ações públicas, tornaram-se fundamentais.

De acordo com um estudo publicado na revista Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, o que falta é criar indicadores que permitam um acompanhamento sistemático a fim de incrementar os resultados dos CST.

O artigo, assinado pelos professores Adriana Roseli Wünsch Takahashi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Wilson Aparecido Costa de Amorim, da Universidade São Judas Tadeu, é parte da tese de doutorado de Adriana, defendida na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com Adriana, o objetivo do estudo foi discutir o papel organizador do Estado e as políticas públicas implementadas nos últimos anos para a reformulação e expansão do sistema profissional de educação, especialmente nos CST, com a finalidade de melhorar suas formas de avaliação de impacto.

“O desafio da educação tecnológica superior é o preenchimento ágil, com qualidade, de lacunas de mão-de-obra criadas no mercado de trabalho pela disseminação de novas tecnologias. Tendo em vista o tempo em que tais cursos estão em funcionamento e a tendência de expansão, é justamente neste momento que se faz necessário avaliar as políticas públicas a fim de confrontar os resultados atuais com seus propósitos de implementação”, disse a pesquisadora à Agência FAPESP.

O Brasil registrou nos últimos anos, segundo o estudo, um crescimento exponencial dos cursos de educação profissional, principalmente na graduação. Entre 2000 e 2002, os cursos tecnológicos registraram um crescimento de 74% (de 364 para 636), segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), contra 36% dos cursos de graduação tradicionais.

Apesar da importância da disseminação dos CST, o artigo alerta para os problemas relacionados à expansão sem controle. A deficiência de atos regulatórios comprometeria, segundo os autores, a qualidade da educação profissional, aumentando o risco de oferta de cursos com baixa efetividade educacional. Por isso, é importante a discussão e análise das políticas públicas de controle e avaliação.

“Como as conseqüências dessas iniciativas no âmbito educacional geram resultados de médio e longo prazos, elas requerem acompanhamento sistemático e contínuo. Nos últimos anos, a cultura de avaliação foi implantada no sistema educacional brasileiro, trazendo significativos benefícios à implementação dos cursos tecnológicos. Mas o Brasil ainda carece de avançar na criação e melhoria de uso dos seus indicadores a fim de incrementar seus resultados”, afirmou Adriana.

Segundo ela, a trajetória da educação profissional no Brasil conviveu ao longo do tempo com o preconceito que marcou essa modalidade de ensino, uma vez que sempre esteve associada à formação de classes menos favorecidas. Mas essa situação vem mudando desde 1996, com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

“A estratégia governamental de fomentar esses cursos não constitui uma novidade quanto à criação de uma nova modalidade de ensino, mas sim quanto à reorganização, reformulação e expansão de tais cursos. Os alunos com formação tecnológica estão conquistando espaço no mercado de trabalho e garantindo cada vez mais aceitação, o que tem atenuado o preconceito existente”, disse.

Aceitação no mercado

Embora o estudo identifique a crescente importância dos CST, segundo Adriana, ainda é difícil avaliar como os egressos desses cursos vêm sendo aceitos no mercado de trabalho, uma vez que o ensino tecnológico de nível superior é uma inovação recente na estrutura educacional brasileira.

“Algumas pesquisas mostram que em determinadas áreas há inclusive carência de tecnólogos. Porém, futuras pesquisas nesse sentido podem auxiliar ao investigar o papel das Instituições de Ensino Superior, das agências de fomento, das organizações públicas de regulamentação, ou mesmo da sociedade na forma de pesquisa com discentes e egressos”, destacou.

A pesquisadora afirma que as dificuldades dessa modalidade de cursos estão inseridas na mesma problemática da educação brasileira. “Em algumas áreas há poucos docentes e, em outras, a dificuldade é a qualificação técnica e pedagógica. Há também a insuficiência de oferta de vagas no setor público, além dos problemas de estrutura física e materiais.”

Segundo ela, a educação profissional não se limita à inserção no mercado de trabalho e à inclusão social. A retomada dos investimentos públicos nesse setor tangencia outros importantes tópicos, como o desenvolvimento da Economia Baseada no Conhecimento (EBC) e a difusão de um Sistema Nacional de Inovação.

“As pesquisas mostram que não há exemplos de países que tenham ingressado na categoria de EBC ou simplesmente no grupo dos países mais desenvolvidos sem uma população com nível educacional mais elevado e sem investimentos em pesquisa. E para um país participar competitivamente no mercado internacional, precisa de formação geral de qualidade, preparo técnico e cidadania”, afirmou.

Atualmente, a educação profissional em vigor no Brasil é constituída por três níveis: o primeiro de formação inicial e continuada de trabalhadores; a educação profissional técnica de nível médio; e a educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação.

“Os principais atributos dos CSTs são o foco, a rapidez, a inserção no mercado de trabalho e a metodologia. Ou seja, a formação em um campo de trabalho definido, aliada às necessidades atuais, com carga horária de dois a três anos, visando à rápida inserção do aluno no mercado de trabalho de acordo com as tendências da demanda”, disse.

Para ler o artigo Reformulação e expansão dos cursos superiores de tecnologia no Brasil: as dificuldades da retomada da educação profissional, de Adriana Roseli Wünsch Takahashi e Wilson Aparecido Costa de Amorim, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), neste link:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362008000200004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

São Paulo ganha rede acadêmica de fibras ópticas

Agência FAPESP– Será inaugurada nesta terça-feira (19/8) a Rede Metropolitana de São Paulo (MetroSampa), infra-estrutura de fibras ópticas que possibilitará a ativação de conexões com capacidade de 1 gigabit por segundo (Gbps) para os principais centros de ensino e pesquisa da Grande São Paulo.

Segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a MetroSampa estará interligada às instituições que fazem parte da rede acadêmica nacional, a Rede Ipê, e será usada em aplicações avançadas e na troca de grandes quantidades de dados.

O lançamento será na Sala do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP) às 14h. Na ocasião, a capacidade da rede será demonstrada por meio de uma videoconferência com os núcleos de telemedicina que serão inaugurados.

No mesmo dia, serão inaugurados quatro núcleos de telemedicina e de telessaúde, sendo dois na Universidade de São Paulo (USP), um na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e um no Instituto Dante Pazzanese.

A MetroSampa é fruto do projeto Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa (Redecomep), iniciativa do MCT coordenada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), organização responsável pela internet acadêmica no Brasil.

Redes semelhantes à de São Paulo já estão em operação em Belém, Manaus, Vitória, Florianópolis, Distrito Federal e Natal. Segundo a RNP, até o fim do ano serão 27 redes ópticas metropolitanas operacionais em todo o país e interligadas pela Rede Ipê, operada pela instituição.

Com 145 quilômetros de extensão, a MetroSampa foi implantada pela RNP com R$ 3,2 milhões de investimentos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Núcleo de Informação e Coordenação (NIC.br), do Comitê Gestor da Internet no Brasil, que custeou 49 quilômetros de rede.

Sete instituições fazem parte da rede: Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo (Cefet-SP), Instituto do Coração (Incor), Hospital das Clínicas, NIC.br, USP, Unifesp e as universidades Estadual Paulista e Federal do ABC.

A rede facilitará e ampliará a divulgação de estudos científicos e a integração entre universidades e unidades de pesquisa. Instituições que participam da rede poderão, inclusive, compartilhar iniciativas de educação a distância e interagir por meio de videoconferência.

Um dos principais projetos beneficiados pela MetroSampa é o da Integração da Capacidade Computacional da Unesp (GridUnesp). Primeiro Grid universitário da América Latina, o GridUnesp foi criado para atender à demanda de docentes e pesquisadores por grande capacidade de processamento e armazenamento de dados em áreas como física de altas energias, engenharia mecânica, meio ambiente e geociência.

Telemedicina

A Rede Universitária de Telemedicina (Rute) é outra iniciativa do MCT coordenada pela RNP. O objetivo é aprimorar a infra-estrutura para telemedicina presente nos hospitais universitários e promover a integração dos projetos existentes nessa área. A Rute é apoiada pela Finep e pela Associação Brasileira de Hospitais Universitários (Abrahue).

Em sua primeira fase, a Rute interconectava 19 instituições. Com sua expansão, anunciada em agosto de 2007, a rede passou a incluir 57 instituições, distribuídas em todos os estados do Brasil.

Os núcleos paulistanos da Rute, que serão inaugurados na terça-feira (19/8), ficam localizados nos hospitais São Paulo (da Unifesp), Universitário da USP, das Clínicas (da Faculdade de Medicina da USP) e Instituto Dante Pazzanese, sendo os três primeiros integrantes também da MetroSampa.

Por meio da Rute, as instituições a ela pertencentes estarão conectadas entre elas e com outras iniciativas de telessaúde no Brasil e no mundo, podendo realizar atividades que vão desde a teleducação de profissionais da área médica e a discussão de casos, até o atendimento a distância (segunda opinião formativa). Com a integração das unidades em São Paulo aumenta para nove o número de núcleos da Rute no país. A expectativa é que até o final do ano outros dez núcleos sejam inaugurados.

Mais informações: www.rnp.br

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Aprendizado eletrônico

Agência FAPESP – O Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia) da FAPESP acaba de lançar uma plataforma inovadora para aprendizado e colaboração científica destinada às instituições de ensino e pesquisa de todo o país, do ensino básico ao superior.

Batizada como Ae, a plataforma eletrônica pode ser utilizada gratuitamente por professores, pesquisadores, estudantes e demais interessados no auxílio ao gerenciamento de cursos on-line, no suporte ao ensino presencial e à pesquisa colaborativa.

A versão inicial do sistema, criada no âmbito do projeto Tidia Aprendizado Eletrônico (Ae), disponibiliza ferramentas de gerenciamento de cursos e projetos colaborativos, de repositório de informações e de interatividade entre os usuários.

"O objetivo de ensino e pesquisa da plataforma está na exploração, em um ambiente de aprendizagem eletrônica com fartura de banda, das características da internet avançada que facilitam grandemente a interação e a colaboração entre pesquisadores, docentes e estudantes", disse Wilson Vicente Ruggiero, coordenador geral do Tidia Ae, à Agência FAPESP.

No âmbito das atividades de pesquisa colaborativa, Ruggiero, que é professor do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP), exemplifica uma aplicação da plataforma Ae.

"As ferramentas de aprendizado eletrônico da plataforma podem ser adaptadas para interações mais genéricas entre os usuários. Imaginemos cientistas de localidades distintas trabalhando à distância em qualquer área do conhecimento. Pelo Ae pode-se definir uma sessão de trabalho para o início de uma reunião, por exemplo, em que é possível entrar em uma sala virtual e escolher uma das cadeiras disponíveis na mesa do ambiente virtual", explicou.

Segundo ele outro pesquisador, em outra parte do mundo, pode entrar na mesma sala de reunião e também se posicionar em um dos lugares da mesa para começar a dialogar com os companheiros, com o auxílio de recursos de voz, vídeo e compartilhamento de documentos.

"O ambiente oferece sensações próximas à realidade. Um colega que esteja sentado à minha esquerda escutará o som da minha voz vindo da direita dele, o que aumentará a sensação de presença, o potencial de interação e, conseqüentemente, a colaboração", disse o professor da Poli.

Apesar da distância, nesse caso é possível elaborar, por meio de vídeos de alta resolução, um documento escrito por todos os participantes da reunião. "Os participantes podem escrever um documento em conjunto e fazer, em outra interface, rascunhos ou desenhos para explicar o que cada um está querendo dizer, como se todos estivessem sentados em uma mesa de reunião presencial", descreveu.

"Esse compartilhamento de dados e idéias em ambientes virtuais é conhecido como realidade aumentada. É a tecnologia aplicada para minimizar a barreira da distância", explicou Ruggiero.

Educação compartilhada

Do ponto de vista do ensino, no ambiente Ae o usuário pode manter um perfil pessoal, uma agenda compartilhada, delimitar e acompanhar o plano de estudos de uma disciplina ou o plano de atividades de um projeto, além de disponibilizar e compartilhar conteúdo didático e técnico.

Os professores e monitores de um determinado curso podem ainda disponibilizar exercícios no ambiente virtual, recebê-los e corrigi-los, sendo que as notas de cada aluno podem ser disponibilizadas para consulta em uma espécie de boletim virtual. "Além de elaborar uma aula a distância, o professor consegue registrar uma aula presencial salvando no ambiente suas apresentações didáticas e arquivos de áudio e vídeo", disse Ruggiero.

Segundo ele, o Ae pode ser integrado com as plataformas administrativas das instituições brasileiras para garantir maior sincronismo com os sistemas acadêmicos de ensino e aprendizagem.

"O educador consegue puxar os dados de uma determinada turma e criar um ambiente de trabalho com todos os alunos matriculados na instituição, que automaticamente passam a ter acesso à nova disciplina no ambiente virtual", afirmou.

Ruggiero destaca que à medida que iniciativas tecnológicas como o ambiente Ae começam a diminuir as distâncias entre produtores e disseminadores do conhecimento, aumenta o potencial de colaborações eficientes entre os pares e o efeito de escala no processo de aprendizagem passa a ser cada vez maior.

"Em um país continental como o Brasil, essas plataformas deverão contribuir para a maior distribuição do conhecimento no país, de modo a ter também enorme repercussão social. Na atual sociedade da informação em que o conhecimento é algo que deve ser perseguido continuamente pela população, o número de aprendizes é muito maior e transcende o número de alunos na escola. E só a tecnológica conseguirá suprir as necessidades de aprendizado em larguíssima escala", disse.

Do Brasil para o mundo

Outra novidade é que a plataforma Ae representa o Brasil na comunidade internacional de pesquisadores em aprendizagem eletrônica por ser membro do Global Learning Consortium, uma iniciativa do Sakai (www.proyectosakai.org), projeto que reúne cientistas de todo o mundo na área de ensino colaborativo.

"As ferramentas da plataforma Ae, desenvolvidas com código livre, estão em total sintonia com os padrões de interoperabilidade definidos internacionalmente para a área de aprendizado eletrônico, também podendo ser utilizadas em sistemas de outras partes do mundo", disse Ruggiero.

Por outro lado, funcionalidades desenvolvidas por pesquisadores estrangeiros e que também seguem esses padrões podem ser adicionadas ao Ae, de modo a alavancar o esforço de desenvolvimento brasileiro em cima do esforço mundial, e vice-versa.

"Os códigos-fonte do Ae não foram criados para funcionar apenas em ambientes colaborativos específicos. Os padrões internacionais permitem a elaboração de uma conectividade combinada entre desenvolvedores de diferentes países", disse o coordenador do Projeto Tidia Ae, que reúne mais de 20 laboratórios paulistas e 150 pesquisadores de universidades do Estado de São Paulo.

A primeira versão do ambiente Ae foi apresentada durante a 60ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho, em Campinas. "Qualquer instituição do país que desejar implantar a plataforma pode baixar o código fonte do Ae, instalá-los em seus servidores e usar o ambiente para fins de ensino e pesquisa", afirmou Ruggiero.

Para utilizar o sistema é preciso fazer o download em http://tidia-ae.usp.br/download e acessar os tutorias no site http://tidia-ae.usp.br.

É possível conhecer suas funcionalidades assistindo a um vídeo em: http://tidia-ae.usp.br/video.

Mais informações sobre o Projeto Tidia Ae: www.tidia-ae.incubadora.fapesp.br

A Contrubuição das Ciências Sociais na Atualidade.

Teoria e aplicação

7/8/2008

Por Fábio Reynol, de Campinas (SP)

Agência FAPESP – Muitas vezes encarada como uma grande área do conhecimento “pouco científica”, as ciências sociais têm muito a contribuir para o desenvolvimento científico no Brasil e no mundo, tanto por suas construções teóricas como por suas aplicações práticas.

Essa foi a tônica de uma mesa-redonda que reuniu especialistas no assunto no 6º Encontro da Sociedade Brasileira de Ciência Política, realizado na semana passada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IELTS), abriu o debate apresentando uma pesquisa realizada em quatro países, entre eles o Brasil. Foi um levantamento entre grupos de pesquisa em ciências sociais sobre a possibilidade de combinar pesquisa acadêmica de qualidade com pesquisa aplicada relevante do ponto de vista social. A resposta foi negativa na maior parte dos casos.

Para Schwartzman a ciência pura não resulta necessariamente em ganhos práticos para a sociedade. “É freqüente que se invista na pesquisa acadêmica esperando que ela um dia vá gerar resultado prático, mas isso traz dificuldades”, afirmou.

Entre os fatores responsáveis pela falta de efeitos práticos de muitas pesquisas, Schwartzman apontou o sistema de avaliação da produção científica que, para ele, apesar de importante, precisa ser revisto. “Como a avaliação dá ênfase à abordagem acadêmica, acabamos deixando a desejar no lado da aplicação prática”, disse.

Para ele, o modelo de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por exemplo, deve ser repensado, uma vez que “o imenso crescimento da produção científica brasileira não tem se traduzido em benefício para a sociedade”.

Um dos problemas com o modelo de avaliação da Capes, segundo Schwartzman, é que ele está associado às ciências “mais puras”, como química ou física, e “há distorções quando é aplicado às ciências humanas”.

Outro ponto a ser revisto, segundo ele, é o fato de o modelo em vigor não conseguir abranger a multidisciplinaridade vigente na pesquisa científica atual. “Não podemos usar uma camisa-de-força para abarcar tudo o que temos hoje”, destacou.

Realidade mais complexa

Rubem George Oliven, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), chamou a atenção para o aumento da complexidade do mundo contemporâneo, o que torna o trabalho das ciências sociais muito mais difícil.

“Há algumas décadas os cursos de ciências sociais conseguiam dar conta da realidade. Hoje isso não é mais possível, porque a realidade ficou bem mais complexa”, disse o também professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Oliven apontou uma internacionalização da pesquisa brasileira em ciências sociais. África, países vizinhos e até o distante Timor Leste, na Oceania, já são alvos dos cientistas sociais brasileiros. Mas apontou uma barreira para a internacionalização da pesquisa brasileira em ciências humanas: a língua.

Se, por um lado, a maioria dos cientistas sociais brasileiros escreve em português, limitando a disseminação de seu trabalho pelo mundo, de outro, escrever em inglês poderia afetar o estilo próprio, o que é muito mais determinante nas ciências sociais do que nas outras. “Um artigo de física ou química é muito diferente de um de sociologia. Poderíamos perder o nosso estilo ao escrever em inglês”, disse.

Wrana Maria Panizzi, vice-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), concordou com a queixa dos pesquisadores presentes em relação aos poucos recursos para a área. “Os recursos para as ciências sociais são realmente menores, mas crescentes”, disse.

Panizzi apresentou os projetos e visões da entidade e revelou pontos que considera importantes para o desenvolvimento do país e que dependem do trabalho do cientista social, como as novas relações de trabalho, o problema da educação, a violência, as novas estruturas rurais, as organizações sociais, a emancipação feminina e a inclusão social.


Missão da universidade

Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, salientou que o modelo da universidade pública é muitas vezes visto com um certo “utilitarismo tecnológico” com duas vertentes básicas: uma de direita, que defende o papel das universidades como geradoras de inovação para as empresas; e outra de esquerda, que vê a instituição pública como geradora de conhecimento para redução da pobreza.

“Não devemos perder de vista que o grande impacto que uma universidade tem em uma sociedade não vem das descobertas científicas feitas lá, mas dos estudantes que são educados na instituição”, afirmou.

Brito Cruz criticou um ranking de universidades chinesas que contabiliza números de artigos, prêmios recebidos, impactos das pesquisas, mas não cita quantos alunos são formados por aquelas instituições. Para ele, as instituições de pesquisa governamentais com missão dirigida, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e o Instituto Agronômico de Campinas, por exemplo, são os locais mais privilegiados para o desenvolvimento da pesquisa aplicada.

“A missão das universidades é a educação com apoio da pesquisa. Claro que é importante que essa pesquisa tenha aplicações quando puder, mas não podemos avaliar a universidade pelas descobertas que ela vai gerar”, afirmou.

Brito Cruz apontou três relevâncias da ciência moderna que são importantes para a sociedade e chamou a atenção para a última. “A ciência, por meio de suas descobertas, pode deixar o cidadão mais rico. Ela também pode deixar o cidadão mais saudável. Mas a terceira relevância, mais significativa e freqüentemente esquecida, é fazer o ser humano ficar mais sábio”, disse.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Mulheres na tecnologia

Fonte: Agência Fapesp

Agência FAPESP – O prêmio Brazil Women in Technology está com as inscrições abertas até o dia 8 de setembro. Realizado pela empresa Google, é voltado para mulheres de todo o país que estejam cursando graduação, mestrado ou doutorado em ciência da computação ou engenharias.

O objetivo é incentivar a participação das mulheres nas produções e inovações tecnológicas, além de estimular a formação de uma rede de relacionamentos entre a nova geração de mulheres em áreas ligadas à computação.

Dez estudantes serão premiadas com laptops e uma visita ao escritório de engenharia do Google, em Belo Horizonte (MG), onde assistirão a palestras e participarão de workshops.

De acordo com a empresa, a iniciativa, que tem apoio da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), surgiu quando foi constatado que existem poucas mulheres formadas na área de tecnologia na América Latina. A inspiração foi o prêmio Anita Borg, que em diversos países premia mulheres envolvidas com tecnologia.

Mais informações: www.google.com/jobs/brazilwomen

Um país cada vez mais digital

Fonte: Revista Fapesp

O número de brasileiros que acessam a internet cresceu seis pontos percentuais em relação a 2006, chegando a 34% em 2007. Dos domicílios no país, 24% já contam com computador.

Os dados são da Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil 2007, publicada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br) do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

Iniciada em 2005, a nova edição da pesquisa apontou pela primeira vez que mais da metade (53%) da população consultada disse ter usado computador, dos quais 40% nos últimos três meses. Foram feitas entrevistas em 17 mil domicílios em zonas urbanas, com pessoas a partir de 10 anos de idade.

O crescimento mais expressivo da aquisição de computadores ocorreu em domicílios com renda entre três e cinco salários mínimos, nos quais a penetração passou de 23% para 40% no período. A proporção de domicílios com computador aumentou em todas as regiões do país.

Mais da metade dos domicílios com acesso à internet têm banda larga, um aumento de 10 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Mas 42% ainda têm acesso discado. Das casas com acesso rápido, em 12% a conexão é usada por mais de um computador.

A pesquisa também ressalta o expressivo crescimento no uso de centros de acesso pago, como as lan houses ou internet cafés, que pulou de 30% em 2006 para 49% no ano seguinte. Quanto menor a renda da população, maior é a utilização desses espaços. Dos usuários de internet com renda de até um salário mínimo, 78% disseram utilizar a rede por meio desses centros de acesso pago. O acesso no trabalho foi apontado por 24% dos entrevistados.

“Se por um lado, a ausência do computador em casa não impede o uso das tecnologias da informação, também é evidente que a disponibilidade do computador no domicílio pode influenciar a freqüência e a intensidade de seu uso”, apontou Rogério Santanna dos Santos, secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento e conselheiro do CGI.br, em artigo no relatório.

O secretário destacou o programa Banda Larga nas Escolas, lançado em abril e que pretende oferecer, até o fim de 2010, acesso rápido à internet a todos os alunos das escolas públicas do ensino fundamental e médio situadas na área urbana das cinco regiões do Brasil.

A publicação do Cetic.br destaca também o elevado uso das tecnologias de informação pelo setor privado brasileiro, especialmente entre empresas de grande porte, das quais 95% têm computadores e 92% têm acesso à internet. Destaque para o crescimento das redes sem fio nas empresas, que passou de 18% em 2006 para 28% no ano seguinte. O número de companhias que usou a internet para aquisição de bens e serviços chegou a 64%.

Dos entrevistados, 66% disseram ter usado telefone celular nos três meses anteriores. O uso foi alto em todas as faixas de renda, com 48% entre os que ganham menos de R$ 380 por mês e 84% entre os acima de R$ 3,8 mil.

A Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil 2007 pode ser baixada em formato pdf no endereço www.cetic.br/tic/2007/indicadores-cgibr-2007.pdf.