quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Portinari na internet e para todos

Por Fábio de Castro

Pesquisador das áreas de engenharia de telecomunicações e de matemática, João Candido Portinari deixou a carreira acadêmica de lado há 35 anos, quando decidiu se dedicar integralmente a um projeto grandioso: localizar, digitalizar e catalogar as mais de 5 mil obras de seu pai, Candido Portinari (1903-1962), um dos principais artistas brasileiros.

O Projeto Portinari conseguiu disponibilizar em forma digital praticamente toda a obra do artista. De acordo com João Candido, a iniciativa é uma forma de corrigir uma consequência perversa da importância e do reconhecimento da obra de seu pai: com a maior parte de seus quadros dispersa em coleções privadas de todo o mundo, o pintor que dedicou sua vida a retratar o povo tem sua obra inacessível ao público geral.

Depois de 20 anos de pesquisas, qualificadas por João Candido como “um verdadeiro trabalho de detetive”, toda a obra foi catalogada. Nos últimos 13 anos, o Projeto Portinari tem divulgado a obra do pintor por todo o Brasil, realizando exposições itinerantes em comunidades afastadas, com foco especial nas crianças.

O próximo passo do projeto será grandioso: trazer de volta ao Brasil, temporariamente, a obra Guerra e Paz: dois painéis de 14 metros de altura que foram concebidos especialmente para a sede das Nações Unidas, em Nova York.

Com a sede passando por uma grande reforma, o Projeto Portinari conseguiu a guarda dos dois painéis até 2013. A obra, concluída em 1956, foi a última de Portinari e causou sua morte. Durante os cinco anos em que trabalhou nos painéis de 140 metros quadrados, o pintor já estava intoxicado pelo chumbo das tintas a óleo. Ele morreria no início de 1962 em decorrência do envenenamento.

Considerada pelo próprio Portinari como sua melhor obra, os painéis de Guerra e Paz serão apresentados em dezembro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, cidade onde foram apresentadas ao público brasileiro por uma única vez antes de serem embarcados para os Estados Unidos, há 53 anos. Em seguida, serão submetidos a uma restauração que poderá ser acompanhada pelo público, em processo que levará alguns meses. Após o restauro, passarão por diversas cidades, acompanhados de 120 estudos preparatórios executados por Portinari entre 1952 e 1956.

No dia 21 de outubro uma exposição com reproduções das 25 obras de Portinari que ilustram o Relatório de Atividades FAPESP 2009 foi inaugurada na sede da Fundação, em São Paulo. Na ocasião, João Candido concedeu à Agência FAPESP a seguinte entrevista:

Agência FAPESP – O Projeto Portinari fez a digitalização de praticamente todas as obras de seu pai. Quais foram as dificuldades encontradas para realizar o levantamento de uma obra tão extensa?
João Candido Portinari – De fato é uma obra extensa. Conseguimos catalogar mais de 5 mil obras. Esse número correspondia à estimativa que tínhamos, antes de iniciar o trabalho, de que ele teria produzido um trabalho a cada três dias, em média, durante cerca de 40 anos, incluindo os grandes painéis e murais que levavam vários meses ou anos para ser realizados. Quando começamos o levantamento, a situação era dramática, pois o paradeiro da maioria das obras era desconhecido, não havia nenhum museu, nenhum catálogo e os livros sobre sua vida e obra estavam esgotados.. Foi um trabalho de detetive que consumiu muitos anos, porque se trata de uma obra dispersa não só em coleções privadas do Brasil, mas em vários países. Encontramos obras nas Américas, na Finlândia, na antiga Tchecoslováquia, no Canadá, na África do Sul, em Israel, no Haiti e em muitos outros países.

Agência FAPESP – Quanto tempo levou esse processo?
João Candido– Essa fase de atividade de rastreamento, localização, catalogação e digitalização consumiu inteiramente os primeiros 20 anos do projeto. Foi uma aventura que só teve sucesso graças à solidariedade da sociedade brasileira. Esse trabalho imenso não se restringiu apenas ao levantamento das obras, conseguimos também reunir mais de 30 mil documentos.

Agência FAPESP – Qual é a natureza dessa documentação?
João Candido – Todo tipo de documento, incluindo 9 mil cartas que Portinari trocou com intelectuais e artistas de sua época, como Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Luís Carlos Prestes, Heitor Villa-Lobos, Cecília Meirelles, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e muitos outros. É um tesouro extraordinário. Além disso, temos 12 mil recortes de periódicos que vão de 1920 até os dias de hoje. Além de compilar esse material, também produzimos novos documentos. Fizemos um programa de história oral que, ao longo de anos, entrevistou 74 contemporâneos de Portinari. Disso resultaram 130 horas gravadas em vídeo, que não se restringem a comentar sobre Portinari ou arte, mas também abordam preocupações estéticas, culturais, sociais e políticas daquela geração. Tudo isso está consubstanciado em um site, onde qualquer um pode encontrar toda a documentação.

Agência FAPESP – O Projeto Portinari tem uma sede física ou se concentra no universo virtual?
João Candido– Nossa sede fica na PUC-RJ, no Rio de Janeiro, mas você tem razão em dizer que se trata de algo primordialmente virtual. O projeto poderia estar em qualquer lugar, pois não temos nenhuma obra original, apenas reunimos os conteúdos e a pesquisa sobre o artista. Projetamos criar, no futuro, um Museu Portinari, no qual o público pudesse ter contato, em um só lugar, com toda a obra do artista. Faríamos isso com reproduções impressas em alta definição. Avaliamos que reunir reproduções de alta qualidade das 5 mil obras sairia mais barato do que fazer um museu com apenas dez obras originais. Foi o que a FAPESP fez com a exposição de reproduções atualmente em sua sede.

Agência FAPESP – Podemos dizer que, em relação ao tamanho de sua obra, Portinari é pouco conhecido?
João Candido – Sim, essa foi uma das principais motivações para o projeto e é também o que nos inspira o sonho de um dia ter um Museu Portinari. Meu pai dizia que sua obra era dedicada ao povo, mas o destino dela foi vítima de uma ironia perversa: hoje, o povo não tem acesso à sua obra, que está dispersa em coleções privadas e museus em várias partes do planeta. Isso motivou o questionamento de Antonio Callado: "segregado em coleções particulares, em salas de bancos, Candinho vai se tornando invisível. Vai continuar desmembrado o nosso maior pintor, como o Tiradentes que pintou?".

Agência FAPESP – Com a conclusão da catalogação e digitalização das obras, o Projeto Portinari cumpriu sua missão?
João Candido – Não, pelo contrário, consideramos que o verdadeiro trabalho começou a partir do momento em que tivemos todos os conteúdos levantados, catalogados, cruzados entre si e pesquisados minuciosamente. Desde então, passamos a desenvolver uma série de ações. A mais importante delas é o trabalho com crianças, realizado nos últimos 13 anos: o Brasil de Portinari.

Agência FAPESP – Como é desenvolvido esse trabalho?
João Candido– Percorremos escolas, centros culturais e prefeituras em todos os estados brasileiros. Visitamos também hospitais, populações ribeirinhas e presídios. Mas a prioridade é apresentar o trabalho às crianças. Realizamos, por exemplo, uma excursão no Pantanal recebendo crianças para uma exposição em um barco. Em 2009, fizemos uma parceria com a Marinha e percorremos o Amazonas e seus afluentes, ficando 19 dias no rio Purus. Nos navios, moradores de povoados muito precários têm contato com a obra de Portinari e recebem assistência médica e odontológica, tiram documentos, entre outras atividades.

Agência FAPESP – Como é a reação das crianças?
João Candido – Às vezes as crianças têm uma percepção visual bem mais aguçada que a dos adultos. Eles se envolvem muito e entendem imediatamente o que diz o pintor. O resultado tem sido de um sucesso extraordinário. Procuramos incentivar a criança a uma reflexão crítica sobre a realidade do mundo. A ideia é colocá-los em contato com a obra de Portinari e sua poderosa mensagem de não-violência, de fraternidade, de solidariedade, de compaixão e de respeito pelo sagrado da vida. Nada disso seria possível com uma obra que não tivesse a força do trabalho de Portinari.

Agência FAPESP – Podemos dizer que a força do trabalho de Portinari vem da preocupação com a questão social?
João Candido – Sim e isso é muito interessante. O trabalho do meu pai foi caracterizado por um experimentalismo incessante – a ponto de críticos dizerem que em sua obra há uma dezena de pintores diferentes. Mas a temática é sempre a mesma: a profunda preocupação social. Ele foi mudando o estilo e a forma de expressão. Dava importância à técnica, dizia que sem ela é impossível expressar o que vai na alma, mas destacava que seu tema era o homem. Está presente invariavelmente em sua obra esse desejo profundo de solidariedade e de compaixão.

Agência FAPESP – O excluído é o personagem central da obra do pintor?
João Candido – O excluído é um personagem absolutamente central. Ele vivia em uma região cafeeira do interior paulista que era passagem de retirantes que vinham do Nordeste. Isso impressionou de forma indelével as retinas daquele menino que presenciou a tragédia das famílias que viajavam em condições desumanas. Essa experiência despertou nele, de forma muito precoce, um sentimento de solidariedade incondicional com o excluído. Eu diria que esse sentimento solidário – e de revolta e denúncia contra a violência e as injustiças – é uma das características mais fundamentais para compreender Portinari. Esse foco na exclusão encontraria sua síntese máxima em sua última obra, os monumentais painéis Guerra e Paz. Ali, o excluído é a espécie humana inteira, submetida ao flagelo da guerra e excluída da paz.

Agência FAPESP – Quais são os outros temas importantes em Portinari?
João Candido – A partir desse eixo da preocupação com a exclusão social, a temática dele é muito abrangente, abordando questões universais e trazendo também um grande retrato do Brasil. Algo que pouca gente sabe, por exemplo, é que Portinari foi um dos maiores pintores sacros do mundo. É extraordinário como pintou tantas vezes o Cristo e as cenas bíblicas. Uma produção sacra que levou Alceu Amoroso Lima – grande pensador católico – a levantar um intrigante paradoxo: como um pintor comunista como Portinari fazia a pintura sacra com tanto fervor.

Agência FAPESP – Trata-se de fato de um paradoxo?
João Candido – O próprio Amoroso Lima concluiu que não havia paradoxo quando foi a Brodowsky, cidade natal de Portinari, visitar sua casa. Conhecendo a mãe, a avó e as tias do pintor, compreendeu que se tratava de uma típica família matriarcal italiana, de católicas fervorosas. E percebeu que não havia contradição: Portinari era um homem de um misticismo ancestral e nunca abandonou isso. Ele se recusou a seguir as diretivas do Partido Comunista Russo, de que os pintores socialistas deviam seguir os cânones do realismo socialista. Luis Carlos Prestes, que era seu amigo, teve a grandeza de perceber essa dimensão e não fazer qualquer restrição ao meu pai no Partido Comunista.

Agência FAPESP – Além da temática religiosa, o que é mais presente em sua obra?
João Candido – Por tomar para si o partido do desfavorecido, Portinari se tornou um dos maiores pintores de negros das Américas. Isso foi dito por Assis Chateaubriand, que escreveu um texto sobre a presença da África na obra de meu pai: "Portinari é o maior e mais fantástico pintor de negros que ainda viu a espécie humana. Ele sente a África com sua magia, os seus mistérios, a sua volúpia, como nenhum outro artista do pincel". A infância também é um tema recorrente. A infância está em sua obra poética, lírica. Porque é uma infância do interior do Brasil, que, apesar de ser pobre é passada sob as estrelas, no mato, brincando na rua, com animais. Isso está na obra dele de forma riquíssima, impregnada de poesia. Outro elemento é o trabalho. O trabalhador é um tema que percorre toda a sua trajetória. Tudo isso foi abordado de uma forma que apresenta sempre uma dialética entre o drama e a poesia, entre a fúria e a ternura e entre o trágico e o lírico. Em qualquer ponto da trajetória de Portinari veremos essa dialética.

Agência FAPESP – O senhor é pesquisador do ramo de engenharia de telecomunicações. Como foi sua carreira acadêmica? Ainda atua na área?
João Candido – Estudei matemática na França e lá prestei concurso para escolas de engenharia e me formei em telecomunicações. Fiz o doutoramento no Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), ainda na área de engenharia elétrica, mas já com meu interesse todo voltado, novamente, para matemática. Terminando o doutoramento, depois de dez anos fora do Brasil, em 1966 fui convidado pela PUC do Rio de Janeiro para ajudar a criar seu Departamento de Matemática. Eu tinha 28 anos. No ano seguinte fui diretor do departamento e fiquei 13 anos totalmente absorvido na pesquisa, ensino e administração. Em 1979 concebemos o Projeto Portinari. Rapidamente vi que seria impossível conciliar as duas atividades, porque o projeto ia se desdobrando e, infelizmente, tive que abrir mão da matemática.

FONTE: Agência FAPESP

domingo, 31 de outubro de 2010

Mediações tecnosociais e mudanças culturais na Sociedade da Informação

Por: Marco Antônio de Almeida

Resumo

O texto discute as interações entre seres humanos e aparatos tecnológicos e as mudanças socioculturais decorrentes desses processos. Parte do conceito de ciborgue desenvolvido por Donna Haraway, mostrando suas convergências e diferenças em relação a outras formas de pensar a conexão tecnologia-cultura. Posteriormente, acompanha o desdobramento histórico das mudanças sociais, culturais e cognitivas proporcionadas pelas tecnologias de comunicação e informação (TICs). Em seguida, reflete acerca das formas de sociabilidade em curso na atual sociedade da informação mediadas pelos aparatos tecnológicos. Finalmente, tece algumas considerações em torno da relação entre inclusão digital e inclusão social nesse contexto.

versão completa
Resumo

Este ensaio tem por objetivo perceber como a sociabilidade em tribos virtuais se constrói a partir da diversidade cognitiva dos atores sociais presente nas interações
online, observando a prática discursiva que se estabelece a partir da inter-relação entre os conceitos de ethos, logos e pathos (MAINGUENEAU, 2005) que dá forma as subjetividades dos atores sociais envolvidos no processo de comunicação. Para tal, será
observada a interação entre os membros do site Tornadeiros, de modo a identificar tais
práticas como nodos de uma rede complexa que é tecida por meio da sociação (SIMMEL, 2006) entre indivíduos que partilham de um mesmo afeto.

ARTIGO COMPLETO

A produção morfológica do ciberespaço e a apropriação dos fluxosinformacionais no Brasil

Por: Hindenburgo Francisco Pires

A temática desse trabalho representa um novo campo de estudo e pesquisa na área de Geografia e faz parte da linha de pesquisa: ¿Ciberespaço e Sociedade da Informação¿, no curso de Pós-graduação em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ¿ UERJ. Os objetivos deste trabalho são: em primeiro lugar, evidenciar historicamente como foram empreendidas as políticas públicas de produção, planejamento morfológico e de gestão do ciberespaço no Brasil; em segundo lugar, analisar a atuação e a interferência dos atores urbanos que empreendem um conjunto de atividades econômicas e sociais, que influenciam e interferem na produção e na apropriação dos fluxos informacionais, no desenvolvimento tecnológico local e no aperfeiçoamento de formas de gestão específicas da era da informação, como é o caso da governança eletrônica. Através dessa análise pode-se enunciar que: um novo sistema de estratégias, promovido por esses atores, está emergindo, impulsionado pela expansão da rede mundial de computadores; este sistema consolida um processo que interfere e altera as novas formas de composição do capital dos lugares, cidades e regiões, que possuem fluxos e conexões em rede. Esta composição está permitindo, no ciberespaço, a formação de espaços de comando e de administração dos fluxos de informação, que facilitam e propiciam o crescimento do capital informacional. o risco da expansão desse sistema de estratégias é a ênfase em políticas públicas que promovem a morfologia econômica do ciberespaço em detrimento de ações sociais que privilegiem uma morfologia social do ciberspaço, através de políticas de ¿inclusão digital¿. Este trabalho evidenciará também como esses atores (Estado, empreendedores privados, instituições de fomento e universitárias e organizações da sociedade civil ¿ ONGs) promovem essa transformação morfológica das estruturas territoriais em estruturas virtuais de acumulação. Através dessa análise pode-se apreender que a expansão da rede mundial de computadores é um processo que interfere e altera as novas formas de composição do capital dos lugares, cidades e regiões, que possuem fluxos e conexões em rede. Esta composição está permitindo, no ciberespaço, a formação de espaços de comando e de administração dos fluxos de informação.



Texto na íntegra

O principe eletrônico

Por: OCTAVIO IANNI

Resumen

CON BASE EN LAS CARACTERÍSTICAS Y ATRIBUTOS QUE CONFIGURARA EL ESTADISTA FLORENTINO MAQUIAVELO, EN SU OBRA EL PRÍNCIPE, Y QUE EN EL SIGLO XX GRAMSCI RETOMARA PARA ELABORAR EL MODERNO PRÍNCIPE, EL AUTOR ELABORA LA NOCIÓN DE EL PRÍNCIPE ELECTRÓNICO, CONSISTENTE EN UNA FIGURA POLÍTICA NUEVA Y DIFERENTE DE TODAS AQUELLAS QUE HUBIESEN EXISTIDO, QUE SE ERIGE Y ALIMENTA EN RAZÓN DE LOS MEDIOS DE COMUNICACIÓN. AL DECIR DEL AUTOR, EL PRÍNCIPE ELECTRÓNICO PUEDE SER VISTO COMO ”EL INTELECTUAL ORGÁNICO DE LOS GRUPOS, CLASES O BLOQUES DE PODER DOMINANTES, EN ESCALA NACIONAL O MUNDIAL”. DE ESTA MANERA, SI SE CONSIDERA LA DEMOCRACIA ELECTRÓNICA Y LA MOVILIZACIÓN DEL MERCADO, EL ”POLÍTICO” APARECE COMO UN PRODUCTO EVALUADO CON CRITERIOS MAS PRÓXIMOS A LOS DEL MUNDO DEL CONSUMO. NO PUEDE DEJAR DE INDICARSE QUE EL PRÍNCIPE ELECTRÓNICO TAMBIÉN PRESENTA RASGOS COMUNES AL HOMO VIDENS DE GIOVANNI SARTORI.

Abstract

BASED ON THE CHARACTERISTICS AND ATTRIBUTES SET DOWN BY THE FLORENTINE STATESMAN MACHIAVELLO IN HIS WORK THE PRINCE, AND DEALT WITH AGAIN IN THE TWENTIETH CENTURY BY GRAMSCI IN PREPARING THE MODERN PRINCE, THE AUTHOR PUTS FORWARD THE NOTION OF THE ELECTRONIC PRINCE, CONSISTING OF A POLITICAL FIGURE WHICH IS NEW AND DIFFERENT FROM ALL PREVIOUS FIGURES, AND WHICH ORIGINATES FROM AND NOURISHES ITSELF THROUGH THE COMMUNICATION MEDIA. IN THE AUTHOR´S WORDS, THE ELECTRONIC PRINCE CAN BE SEEN AS ”THE ORGANIC INTELLECTUAL OF DOMINATING GROUPS, CLASSES OR POWER BLOCKS ON A NATIONAL OR WORLDWIDE SCALE”. THUS, IF ONE CONSIDERS ELECTRONIC DEMOCRACY AND MARKETING MOBILIZATION, THE ”POLITICIAN” TAKES SHAPE AS AN EVALUATED PRODUCT WITH CRITERIA

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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Jovens podem ter que mudar nome para apagar passado na web

Os jovens de hoje podem ser obrigados no futuro a mudar seus nomes para se livrar dos rastros de suas atividades online passadas, advertiu o presidente da Google, Eric Schmidt, em uma entrevista a um jornal americano. Schmidt afirmou ao diário The Wall Street Journal que teme que os jovens não entendam as consequências de ter tanta informação pessoal sobre eles disponível na internet.

"Eu não acho que a sociedade entenda o que acontece quando tudo é disponibilizado, reconhecido e registrado por todos o tempo todo (...) Eu quero dizer que nós realmente temos que pensar sobre essas coisas como uma sociedade", disse ele.

Segundo o jornal, "ele (Schmidt) prevê, aparentemente sério, que todas as pessoas jovens um dia terão direito automaticamente a mudar de nome ao chegar à vida adulta para deixar para trás as travessuras da juventude guardadas nos sites de mídia social de seus amigos".

"Não estou nem falando sobre as coisas realmente terríveis como terrorismo e acesso a coisas ruins", disse Schmidt.

Apesar disso, ele admitiu que a Google guarda cada vez mais informações pessoais sobre seus usuários para ajudar em seus serviços. Segundo ele, no momento a empresa sabe "razoavelmente quem você é, razoavelmente o que você gosta e razoavelmente quem são seus amigos".

A Google, responsável pelo site de relacionamento social Orkut, recentemente vem buscando aumentar sua presença no setor, com a aquisição da Slide e da Jambool, duas empresas especializadas em prover serviços para redes sociais.

A Slide é uma empresa de jogos online, enquanto a Jambool fornece moedas virtuais e sistemas de pagamento. A Google também teria investido recentemente em outra empresa de jogos para redes sociais chamada Zynga.

Muitos acreditam que as aquisições são um sinal de que o gigante das buscas online está prestes a lançar outra rede de relacionamentos sociais. Alguns comentaristas de tecnologia já até aventaram um possível nome para o serviço: Google.me.

Em fevereiro, a empresa se envolveu em uma polêmica ao lançar o serviço de rede social chamado Google Buzz, ligado às contas de e-mail Gmail. O serviço foi criticado por ser ativado sem pedir o consentimento dos usuários, tornando visíveis ao público todos os contatos das pessoas.

Apesar do tom alarmista da entrevista de Schmidt, alguns especialistas em tecnologia consideram sua avaliação "exagerada". "A ideia de que tudo está registrado online não é verdade", disse à BBC a consultora de mídia social Suw Charman-Anderson.

"Deve levar bastante tempo até que isso se torne verdade, por causa da enormidade da internet." Arquivos como o Google Cache, que guardam versões antigas de sites, são seletivos, lembra ela.

"O Google Cache é um instantâneo tirado periodicamente de parte da internet. No momento, é algo incerto", diz. Algumas companhias já apareceram oferecendo serviços de "limpeza" de perfis na internet, mas Charman-Anderson argumenta que é necessária uma mudança de atitude em relação ao conteúdo pessoal na internet.

"Sempre há uma diferença de tempo entre a introdução de novas tecnologias e o desenvolvimento de uma série de normas sociais em torno do comportamento que essa tecnologia fomenta", diz ela.


Fonte: terra

Mesmo inseguras, jovens se encontrariam com amigo virtual

Por: Thais Sabino



Um levantamento realizado pela CPP Brasil (Parceria para a Proteção da Criança e do Adolescente) com a ONG Plan Brasil aponta que cerca de 80% das adolescentes brasileiras não se sentem seguras na internet. Apesar disso, o estudo apurou que 50% delas gostariam de se encontrar pessoalmente com alguém que tenham conhecido na internet.

O estudo faz parte da publicação "Fronteiras Digitais e Urbanas: Meninas em um ambiente em transformação", que mostra como as tecnologias de comunicação e informação têm potencializado o desenvolvimento de meninas e aponta os riscos enfrentados por elas no mundo digital.

A pesquisa mostrou que o uso das tecnologias da informação e comunicação está aumentando rapidamente entre os jovens. Entre 2005 e 2008 houve o maior aumento percentual de todos os setores da população, de 33,7% para 62,9%. Na internet, houve aumento de 75,3% no número de pessoas maiores de dez anos que se conectaram à rede nos últimos cinco anos. Mais pessoas passaram a ter celular, 54,9% a mais do que em 2005. Mais de 80% das meninas entrevistadas possuia telefone celular.

"As meninas ainda são aquelas que são menos privilegiadas, em questão de segurança, em relação aos meninos", afirmou o superintendente da Plan no Brasil, Moacir Bittencourt.

A adolescente A.L.B., 13 anos, passou por um problema de tentativa de abuso sexual. Ela contou que o namorado de sua prima já havia tentado tirar sua roupa quando ela visitava a prima. Porém, após a separação ele ligou para a adolescente, se passou por um amigo e marcou um encontro. "Quando cheguei lá, ele começou a abusar de mim, tirou a minha roupa e não me soltava", contou. A menina tentou informar a família, que "não acreditou na história", segundo ela.

A pesquisa aponta também que apenas um terço das meninas sabe como denunciar uma situação de perigo. Quase metade das meninas afirmou que os pais sabem que elas estão online. Porém, para a psicóloga e pesquisadora Silvia Losacco, "os pais precisam aprender a fazer a proteção, como fazer, porque mesmo que trabalhem com internet não sabem como lidar com os filhos que ficam sujeitos a isso". Ela sugere a troca de informações, em vez da repressão.

O método utilizado pelos pais de T.V., 13 anos, funcionam. "Eles trabalham com computador e instalaram um programa que grava todas as minhas conversas no MSN", disse a adolescente. Segundo ela, a mãe costuma ler as mensagens trocadas no comunicador e repreender quando discorda de algo.

Diante de qualquer sinal de abuso sexual pela internet, Bittencourt explica que a vítima pode denunciar pelo site da Polícia Federal ou pelo telefone pelo disque 100.

O problema, porém, não está concentrado no Brasil e acontece no mundo todo. De acordo com o consultor do IICDR, Michael Montgomery, "é um problema mundial e existe um silêncio em todos os países sobre este assunto".

Foram entrevistadas 400 adolescentes de diversos Estados através de uma pesquisa online e de grupos focais de discussão que contaram com a participação de 40 meninas de escolas públicas e privadas de São Paulo e Santo André. As entrevistadas afirmaram passar de uma a sete horas por dia conectadas.

Fonte: Terra

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Curso gratuito para professores de matemática

Estão abertas as inscrições para o curso “Materiais Virtuais Interativos para o Ensino da Matemática na Educação Básica”. O curso é destinado a professores de matemática da rede pública. O curso tem fluxo contínuo de entrada, mas com conclusão em junho ou novembro de cada ano. O Curso é “gratuito” e na modalidade EAD em ambiente virtual. O certificado será fornecido pela UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Para maiores informações acesse o endereço abaixo:

http://www.projetos.unijui.edu.br/matematica/oferta4.html


Tânia Michel Pereira
Coordenadora do curso

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Redes virtuais: da discussão teórica às potencialidades contemporâneas para a consolidação de redes sociais

Por: Elizabeth Oliveira & Marta Irving

Interpretando teoricamente o conceito de redes na era da Internet

Na perspectiva histórica, em estudo elaborado para o Núcleo de Pesquisas, Estudos e Formação da Rede de Informações para o Terceiro Setor (Nupef Rits), Aguiar (2006) discute algumas premissas associadas às redes que contribuem para a compreensão de importantes características do fenômeno de intercâmbio social, em permanente evolução no Brasil e no mundo. Segundo afirma a autora:

“Mais do que estruturas de relações, as redes sociais são métodos de interações que sempre visam algum tipo de mudança concreta na vida do indivíduo, no coletivo, e/ou na (s) organização (ões) envolvidos: isto significa que os elementos que compõem a sua estrutura (nós, elos, vínculos, papéis) são indissociáveis da sua dinâmica (freqüência, intensidade e qualidade dos fluxos entre os nós).” (AGUIAR, 2006, pp.11-12)
Segundo a autora, as redes sociais servem, acima de tudo, para facilitar as relações entre pessoas, que interagem tanto em causa própria, em defesa de outros, ou mesmo em nome de uma organização. Essas redes tendem a ser abertas à participação, de acordo com as afinidades de seus membros, e, mesmo podendo ser modificadas com o tempo, mantêm acesa a motivação que as gerou. A pesquisadora ilustra ainda algumas características que diferenciam redes sociais e sistema em rede:

“(...) um “sistema em rede” tende a ser fechado (delimitado por certos critérios formais de participação) e determinista (com funções pré-estabelecidas): é o que diferencia, por exemplo, uma rede de ambientalistas de uma rede de supermercados, de escolas ou de bibliotecas; mas tanto a rede social quanto o sistema em rede podem ser mediados ou não por tecnologias de informação e comunicação (TICs); ou ainda serem híbridos – quando parte dos seus participantes não tem acesso a essas tecnologias, formando “teias invisíveis” que se comunicam com a rede através de “indivíduos-ponte.” (AGUIAR, 2006, pp.11-12)
Ainda na perspectiva de discussão de redes, Castells (2003) compara a tecnologia da informação, na atualidade, à eletricidade que possibilitou os avanços da Era Industrial. Segundo o autor, tal qual a energia que induziu o funcionamento de máquinas e motores, revolucionando padrões de produção e consumo, a Internet representa, na atualidade, a força que movimenta a sociedade, interligando-a em redes, por intermédio da informação. Castells (op.cit) discute que:

“Uma rede é um conjunto de nós interconectados. A formação em redes é uma prática humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova em nosso tempo transformando-se em redes de informação energizadas pela Internet”. (CASTELLS, 2003, p.7)
Com essa concepção, a flexibilidade é mencionada por Castells como uma forte vantagem das redes, enquanto ferramentas de organização. No entanto, em contraste com as hierarquias centralizadas, o autor aponta como pontos negativos das redes, a dificuldade de coordenação de funções e de concentração de recursos em metas específicas.

Segundo o autor, no século passado, três processos independentes se desenvolveram e contribuíram para a formação de uma “nova estrutura social baseada em redes”. Esse impulso se deu a partir das exigências de flexibilidade administrativa e globalização do capital, produção e comércio, ditadas pela economia; além das demandas sociais; e dos avanços tecnológicos. O resultado desses processos permitiu o que o pesquisador denominou de “revolução microeletrônica”.

Nesse contexto, segundo o autor, a Internet tornou-se a principal ferramenta para uma nova sociedade, “a sociedade em rede”, impulsionando a criação de uma nova economia e quebrando antigos paradigmas da comunicação. Sendo assim,

“A Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global. Assim como a difusão da máquina impressora no Ocidente criou o que McLuhan chamou de a “Galáxia Gutemberg”, ingressamos agora num novo mundo de comunicação: a Galáxia da Internet”. (CASTELLS, 2003, p.8)
Construindo um contraponto em relação às reflexões de Castells (op.cit), Aguiar (op.cit) discute que, apesar de ter havido um forte incremento das redes sociais em função dos avanços da Internet comercial, existem também “elos invisíveis”, por meio dos quais circulam conhecimento e informação, de forma a permitir a expansão das redes para além dos meios digitalizados. A pesquisadora também problematiza que:

“Sob a perspectiva de seu globalismo economicista, Castells vê as redes como estruturas abertas que só tendem a se expandir. Mas a dinâmica das redes sociais é mais complexa: não obrigatoriamente evolutivas; também podem encolher e, muito frequentemente, ganham e perdem nós ao longo do seu percurso, sem perderem sua identidade, assim como ocorrem mudanças qualitativas nos vínculos entre esses nós. Isto sem contar que nem todas as ligações são intermediadas por tecnologias de informação e comunicação”. (AGUIAR, 2006, p.17)
Como a chamada “Galáxia da Internet” permitiu o avanço da “sociedade em rede”, fenômeno discutido por Castells (op.cit), o termo “rede”, passou a ser utilizado para definir quase todas as formas de organização, cujos elementos, se interligam e se relacionam a distância.

Para que as redes se mantenham é fundamental que existam conexões e trocas de informações permanentes, entre seus elementos. Mas, segundo Martinho (2003), nem todas as formas de organização, interligadas à distância por mecanismos de comunicação, podem ser interpretadas como rede. Como discute o autor:

“A figura da rede é a imagem mais usada para designar ou qualificar sistemas, estruturas ou desenhos organizacionais caracterizados por uma grande quantidade de elementos (pessoas, pontos-de-vendas, entidades, equipamentos etc) dispersos espacialmente e que mantém alguma ligação entre si. É uma metáfora comum à nossa época, que ainda pouco compreende a natureza do fenômeno da Internet e de seus efeitos e, portanto, tende a atribuir a toda situação de "interligação" características presentes na rede de computadores. Se antes, na sociedade industrial, os processos de trabalho eram bem representados pela metáfora da máquina (ou do mecanismo), agora o desenho da rede passa a ocupar lugar preponderante no imaginário da sociedade pós-industrial. Mas nem tudo o que representa esses três aspectos – quantidade, dispersão geográfica e interligação – é rede”. (MARTINHO, 2003, p.8)
O autor exemplifica que, uma estrutura empresarial, pela qual se mantêm interligadas uma matriz e inúmeras filiais, também integra elementos dispersos espacialmente, podendo até ser confundida como rede, e geralmente recebe essa denominação. Porém, a relação de subordinação das filiais à matriz, segundo Martinho (op.cit), faz com que essa estrutura empresarial, se enquadre na categoria de “cadeias”, às quais podem estar incluídos grupos lojistas, supermercadistas e franquias, de hierarquias distintas na conexão. Segundo resume:

“Essa estrutura, com base numa concepção meramente formal, poderia ser chamada de “rede”, mas não passa de uma organização tradicional em forma de pirâmide, com uma base muito ampla. Um velho desenho ao qual se dá um nome novo e em voga”. (MARTINHO, 2003, p.9)
Mas o problema, segundo o pesquisador, é que, quando tudo, indiscriminadamente, passa a ser interpretado como rede, essa vigorosa dinâmica “perde brilho e poder explicativo”, e perde algumas das características mais marcantes das redes: “o seu poder criador de ordens novas e seu caráter libertador”.

O autor observa que o conceito de rede, embora seja muito novo, e exija cada vez mais estudos em função dos avanços trazidos pela Internet, incorpora, o que ele define como “a natureza eminentemente democrática, aberta e emancipatória”.

Nessa perspectiva, segundo o autor, redes não podem ser confundidas com articulações de grupos centralizadores, já que estas remetem a um projeto deliberado de organização da ação humana, um padrão de integração que instiga atores sociais a empreenderem, na busca de resultados, e na promoção de transformação da realidade, com base no livre fluxo de informação, além de ações cooperativas e participativas, voltadas à realização de ideais coletivos.

Discutindo a visão de Castells, referência internacional em estudos de redes, Martinho (2003) menciona que as tecnologias da informação fornecem, na atualidade, a base material para a impregnação em toda a estrutura social de uma “lógica de redes”, o que seria determinante para a emergência de uma “sociedade em rede”.

Segundo Martinho, Castells também considera que, se por um lado, o desenvolvimento de tecnologias da informação permitiu o “desvairado e incontrolável” fluxo de capitais pelo planeta, fortalecendo cada vez mais os interesses financeiros do mercado, agilizou, por outro, a articulação de uma variedade enorme de movimentos sociais e organizações da sociedade civil, a começar pelo pioneirismo das redes ambientalistas.

Manifestações contra a Organização Mundial do Comércio (OMC), realizadas por movimentos sociais, nos últimos cinco anos, em cidades como Seattle, Praga e Gênova são usadas como exemplos do poder da sociedade em rede, fenômeno que também repercutiu positivamente nas edições do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Conforme Martinho discute a seguir:

“Tais redes que, anteriormente, emergiam do relacionamento entre atores sociais e das situações políticas que exigiam resposta coletiva, mas que mantinham uma existência episódica, transformaram-se, propriamente, numa das principais formas de organização permanente desses novos movimentos sociais. Uma multifacetada constelação de ONGs, pessoas e grupos de afinidade em cada uma das áreas da ação política e social humana – educação, saúde, cultura, assistência social, meio ambiente, gênero, defesa de direitos e economia solidária, entre outros – passou a existir”.(MARTINHO, 2003, p. 11)
Fazendo um resgate histórico da evolução do tema no Brasil, Martinho (op.cit) discute que a organização dos movimentos sociais em rede começou a ser observada, no País, nos anos 60, em função da necessidade de articulação entre os atores sociais que lutavam contra a ditadura militar, defendiam a democracia e os direitos humanos. Nos anos 80 e 90, com o uso de sistemas pioneiros de comunicação a distância, por meio de computadores, a articulação em rede ganhou novos contornos e dimensões.

Tendo como pano de fundo esse cenário de fortalecimento das redes sociais foi criado, em caráter pioneiro no Brasil, o Fórum Nacional Permanente de Entidades Não-Governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - (Fórum DCA), em 1988. Essa articulação resultou na aprovação pelo Congresso Nacional, do Estatuto da Criança e do Adolescente, no início dos anos 90.

Dessa experiência bem-sucedida da organização social em rede, segundo o autor, foi então implantada a Associação Brasileira de ONGs (ABONG), em 1991. Em seguida, nasceu o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, que realizou encontro paralelo durante a RIO-92. Essa articulação, entre outros desdobramentos, deu origem à Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA), em 1992. O autor recorda que:

“Em 1996, a liberação do uso comercial e doméstico da Internet no Brasil deu novo alento ao trabalho das redes que já existiam e proporcionou um ambiente favorável à constituição de listas de discussão e comunidades virtuais, que se tornaram embriões de várias articulações de rede que se seguiram. A criação da ONG Rede de Informações para o Terceiro Setor (RITS), em 1998, também merece destaque nesse ligeiro histórico por ter sido a primeira organização de âmbito nacional voltada especificamente para o fomento da organização em rede e do uso de ferramentas para o trabalho colaborativo a distância”. (MARTINHO, 2003 p.12)
Embora tenha havido, nos últimos anos, desde então, um crescimento vertiginoso dessas redes formadas pela sociedade civil, não há levantamentos capazes de quantificá-las. Segundo o autor, é possível encontrar esses grupos colaborativos pelas denominações de “fórum”, “articulação”, “movimento”, “coletivo”, entre outras.

No plano da pesquisa, o interesse pelo tema é evidenciado em um mapeamento realizado por Aguiar (2006) que identificou pesquisas acadêmicas sobre o fenômeno de redes sociais no Brasil, entre os anos de 1996 e 2006.

Neste período, foram identificados 78 pesquisadores doutores, vinculados a 44 instituições públicas e privadas, atuando em estudos sobre redes sociais. A autora que, utilizou o Sistema Eletrônico de Currículos da Plataforma Lattes para realizar o levantamento, também identificou 21 grupos, núcleos e centros de pesquisa envolvidos com essa temática no País. Parte dos estudos envolve discussão sobre o papel das novas tecnologias na mediação de relações sociais via Internet.

Potencialidades e desafios para a consolidação de redes sociais via Web

Marí Sáez (2005) afirma que é inegável o potencial de construção de redes organizativas, capazes de reunir múltiplos atores e organizações sociais, a partir de novas tecnologias de informação. Assim como outros pesquisadores do tema, o autor também menciona a importância da Internet para a atuação dos movimentos de contestação do atual modelo econômico mundial, que ganharam força pelo intercâmbio de inúmeras redes sociais, sobretudo na Europa, Canadá e Estados Unidos.

Apesar do fortalecimento do poder de articulação dos movimentos sociais em nível global, a organização da chamada sociedade em rede ainda encontra inúmeros obstáculos, conforme pondera Marí Sáez (op.cit). Essas dificuldades, segundo ele, interferem no esforço de transformação da realidade e impedem o pleno aproveitamento do potencial que oferecem os meios de comunicação ao processo de formação de redes.

O primeiro obstáculo, neste caso, apontado por Marí Sáez (op.ci,), é a influência das políticas neoliberais no processo de mobilização da sociedade. Baseado em Bordieu, o autor define o neoliberalismo como um modelo que tem como objetivo a fragmentação social e a destruição dos projetos coletivos. Segundo argumenta, para a correta reprodução desse sistema interessa que, os movimentos sociais permaneçam “ilhados”, sem capacidade de definição de estratégias e ações comuns.

O autor menciona como segunda grande dificuldade no processo de formação de redes sociais, “as relações viciadas com as administrações públicas”. A luta por recursos financeiros, (subvenções públicas) na maior parte das vezes, se converte em um fim em si mesmo, fazendo com que diferentes organizações se vejam competindo, quando deveriam estar estreitando laços de solidariedade e união. Segundo argumenta:

“Conocedoras de estas dependencias, las propias administraciones “administran” en su provecho esta situación de poder con el fin de tener controlado al movimiento asociativo; en la mayoría de las ocasiones se resisten a articular mecanismos transparentes de gestión de las subvenciones. La máxima de “divide y vencerás” es sistemáticamente aplicada”. (MARÍ SÁEZ, 2005, p.2)
Da mesma maneira, a tendência de se criar grupos fechados, que resistem à aproximação de outros segmentos, que desenvolvem uma espécie de sentimento de posse “sobre pessoas e territórios”, segundo o autor, também constitui um risco enfrentado pelos que buscam estabelecer mecanismos de trabalho em rede.

Neste contexto, o fortalecimento da articulação em rede, segundo o autor, depende de uma mobilização contra o que define como “inércia organizativa” e contra sistemas ditos de construção coletiva, que, na verdade, impedem a livre participação de seus membros. Marí Sáez (op.cit) pondera que esses são problemas que refletem ainda uma espécie de reprodução do modelo industrial, calcado na hierarquização e no controle do poder, pelo qual sujeitos não atuam como protagonistas.

Também segundo o autor, outro grande obstáculo à formação de redes, é a dificuldade dos movimentos sociais aproveitarem o pleno potencial das ferramentas audiovisuais. Os grupos sociais que já atuavam em rede, buscando o fortalecimento das interconexões uns com os outros, e que se formaram a partir de organizações flexíveis e horizontais, conforme observa o autor, são os que têm conseguido melhor aproveitar as possibilidades trazidas pelas novas ferramentas de circulação de informação, sobretudo, as que se baseiam na Internet.

Mas, pensar a comunicação, sob uma perspectiva crítica, na opinião de Marí Sáez (op.cit), exige uma análise das implicações econômicas, ideológicas e políticas, dos meios de comunicação de massa calcados no modelo capitalista. Para estimular tal olhar sobre a mídia, o autor argumenta que os movimentos sociais precisam se formar como gestores de comunicação “(...) que trabajen en el seno de sus organizaciones el diseño de planes de comunicación, para pensar estratégicamente en los modos en los que se dirigen a sus públicos, en los lenguajes utilizados, en la manera en que se apropian de las tecnologías de la información y la comunicación”. (p.5)

Pedro (2003) contribui também para esse debate, refletindo sobre as redes e suas reais potencialidades. A autora, valendo-se do enfoque de Latour, reforça que os elementos que trafegam em uma rede são capazes de transformá-la, ao transportar nos seus movimentos, para outros locais que não o de sua origem, toda uma história pessoal. Esse constitui, portanto, um processo constante de redefinições. Segundo discute a autora:

“Em termos topológicos, uma rede se caracteriza por suas conexões, seus pontos de convergência e de bifurcação; por sua heterogeneidade, admitindo a diferenciação, em seu interior, de subconjuntos articulados entre si. É a força desses agenciamentos internos que permite melhor defini-la, entendendo-se que não se trata de vínculos estáveis e perfeitamente estabelecidos, mas antes de relações meta-estáveis que implicam numa permanente redefinição. Cada agenciamento, que se estabelece de forma local e singular, repercute na rede inteira”. (PEDRO, 2003, p.33)
“Flexibilidade”, “caráter de permanente redefinição”, “dinâmica” e “certa capacidade de operacionalização” são expressões utilizadas pela autora para enfatizar como o conceito de rede pode contribuir para desfazer o que denomina de “embaraços” trazidos por outros conceitos tais como os de sistema, estrutura e complexidade:

“O conceito de rede é interessante na medida em que permite lidar com alguns embaraços trazidos por outros conceitos que lhe são aparentados, como por exemplo, os de sistema, estrutura e complexidade. Ao conceito de sistema, a noção de rede permitiria acrescentar uma certa flexibilidade e um caráter de permanente redefinição, não exigindo, portanto, totalização. Ao conceito de estrutura, a noção de rede parece conferir uma historicidade, na medida em que não se define apenas por sua forma mas, sobretudo, pela dinâmica que possibilita acompanhar a gênese dos movimentos que transformam os feitos em fatos. Com relação ao fértil e poderoso conceito de complexidade, a noção de rede pode oferecer uma certa capacidade de operacionalização, permitindo que nos debrucemos sobre a cotidianeidade dos acontecimentos e sobre as práticas que refletem o próprio movimento de hibridação”. (PEDRO, 2003, p.34)
Nas reflexões de Callon, Pedro busca ainda argumentos de que o fortalecimento das redes decorre do apoio que seus elementos conferem entre si, o que colabora para o entendimento do seu caráter de construção coletiva. Segundo a autora:

“(...) O que torna uma rede forte, diria Callon (1996) é que cada um de seus pontos se apóia em outros – a força deixa de ser um atributo individual para se tornar uma questão de relações e de alianças”. (PEDRO, 2003, p.34)
No entanto, a virtualidade, do mesmo modo que inspira a reflexão, pelas inúmeras possibilidades de difusão da informação e fortalecimento da “sociedade em rede”, parece estar longe de deixar de ser um tema polêmico. A questão se torna evidente no artigo Fóruns, Política e virtualidade no Horizonte da Comunicação, no qual Silveira (2001) afirma que os fóruns virtuais “estão pondo em questão os fundamentos da democracia”. Com base em reflexões de Phillipe Quéau e Tomás Maldonado, a autora conclui que as conseqüências de um novo patamar de comunicação conduzem a grandes incertezas:

“Alguns como P.Quéau argumentam que os mundos virtuais são ferramentas de representação revolucionárias, enquanto para outros, como Tómas Maldonado, o que se faz pode ser uma confirmação do caminho para a alienação do homem, com uma comunicação sem rosto, escondida atrás de aparatos eletrônicos”. (SILVEIRA, 2001, p.5)
Para Muniz Sodré (2005), as novas tecnologias da informação, geradoras de uma ideologia da comunicação universal, se adequaram muito bem à realidade atual, pela qual os mercados financeiros, constituem o principal modelo de funcionamento da vida social. Segundo uma avaliação crítica do autor:

“(...) velocidade, probabilidade e instabilidade ou o caos tornam-se parâmetros de aferição do mundo da vida. Entende-se o porquê da velocidade: é preciso integrar em todas as dimensões os centros mundiais de decisão financeira, desbloquear a circulação instantânea dos capitais e acelerar as informações.” (MUNIZ SODRÉ, 2005, p.29)
Para o autor, a velocidade circulatória dos capitais financeiros corresponde, na mesma proporção, à velocidade crescente dos mecanismos de informação e comunicação. Diz o estudioso que “velocidade e flexibilização são conceitos-chave para bem se entender o que está em jogo em todo esse processo”. (p. 24)

Porém, no artigo Comunicação Alternativa e Redes Virtuais: os movimentos sociais na Internet, Moraes (2002), observa que, embora as incertezas ainda dominem as discussões acerca da comunicação virtual, é preciso reconhecer que o avanço da Internet facilitou a difusão de informação, além da abertura do diálogo e o exercício da cidadania em esfera global. Tal reflexão também encontra ressonância nas discussões abertas por Castells e Martinho.

Para Moraes (op.cit), novas formas de ação, gestão e participação social estão sendo desenvolvidas por organizações e movimentos, via Web. Segundo afirma o autor, as potencialidades surgidas no âmbito da comunicação virtual são fundadas em práticas interativas e “não submetidas aos mecanismos de seleção e hierarquização da mídia”. Diz ele:

“As entidades civis valem-se da Internet enquanto canal público de comunicação, livre de regulamentações e controles externos, para disseminar informações e análises que contribuam para o fortalecimento da cidadania e para o questionamento de hegemonias constituídas”. (MORAES, 2002, p.4).
Moraes (op.cit) reforça, ainda, que a Internet não pode ser entendida como um “Eldorado digital” e que é impossível subestimar o poderio de grandes grupos empresariais em um cenário de “transnacionalização e oligopolização das indústrias de informação e entretenimento” que avançam sobre o universo virtual.

Embora reconheça também a inclusão digital como um grande desafio a ser superado pelo país, o autor discorda dos segmentos que deixam de debater o tema segundo ele, com argumentos do tipo: “Os principais beneficiários da Web são as mesmas forças políticas e econômicas que lucram com a ordem capitalista.”

Para o pesquisador, a Internet pode assegurar visibilidade à atuação dos movimentos sociais, além de possibilitar a constituição de comunidades virtuais por aproximações temáticas, anseios e atitudes.

No artigo Novos Paradigmas Éticos na Comunicação Virtual, o autor volta a refletir sobre as possibilidades de interação e mobilização asseguradas pela Internet. Para Moraes (op.cit), o avanço da difusão da informação, via Web, quebrou paradigmas no que se refere ao processo de emissão e recepção de mensagens.

O processo de difusão virtual, na avaliação do pesquisador, possibilitou a formação de uma nova inteligência coletiva, “desterritorializada e descentralizada”, que se contrapõe à cultura verticalizada à qual a sociedade estava habituada. Para o autor, a Internet está contribuindo para o rompimento da arquitetura dos espaços de comunicação e alterando “a imagem clássica” dos aparelhos de divulgação no topo da pirâmide e “dos receptores confinados na base”.

No centro de inúmeros debates que se multiplicam em escala global, a Internet para uso comercial e doméstico, é um fenômeno recente. Segundo Castells (2003), seu crescimento mais expressivo foi verificado nos últimos dez anos. De acordo com autor, em 1995 existiam cerca de 16 milhões de usuários no mundo, número que aumentou para 400 milhões de pessoas em 2001, devendo chegar, segundo estima, a dois bilhões no ano de 2010.

Embora tenham evoluído as condições de acesso à rede mundial de computadores, estudiosos como Castells, apontam, a exclusão digital como um dos grandes riscos trazidos pelo avanço da “sociedade em rede”. Segundo reflexões do autor:

“A influência das redes baseadas na Internet vai além do número de seus usuários: diz respeito também à qualidade do uso. Atividades econômicas, sociais, políticas e culturais por todo o planeta estão sendo estruturadas pela Internet e em torno dela, como por outras redes de computadores. De fato, ser excluído dessas redes é sofrer uma das formas mais danosas de exclusão em nossa economia e em nossa cultura”. (CASTELLS, 2003, p.8).
Considerações finais

São inúmeros, os desafios relativos ao acesso à informação, via Internet, no sentido de fortalecimento das redes sociais. Entre eles, há que se pensar em alternativas de avanço no processo de inclusão digital. Mas, nesse debate, é importante não perder de vista as possibilidades de consolidação das ações de cooperação entre grupos sociais que defendem interesses comuns pelas redes virtuais.

Grande parte dessas alianças, ou parcerias, tem sido garantida a partir das interconexões das redes via Web, como discutem Moraes (2002) e Martinho (2003). Para os autores, independentemente de qualquer controvérsia, a Internet tem conseguido garantir a visibilidade dos movimentos sociais que se articulam em rede no Brasil e no mundo.

Vale ressaltar, ainda, que o intercâmbio de idéias, as formações de alianças, interconexões e reconfigurações constantes, são fenômenos permitidos pelas redes, extremamente dependentes da comunicação, segundo Martinho(op.cit). “A comunicação nesse processo, não só é o meio pelo qual, se dá a interação, mas, sobretudo, insumo necessário à organização da rede”.

Segundo o autor, a diversidade de integrantes de uma rede virtual, aliada à sua dispersão espacial, exige um trabalho de comunicação permanente para que se assegure a organicidade ao conjunto. Conforme discute:

“Só quando há comunicação é que o conjunto se torna orgânico. Nesse sentido, a rede depende dos processos de comunicação para constituir-se como tal. A articulação das múltiplas lideranças e a devida coordenação de suas ações diferenciadas só é possível mediante a troca de informação. Este é o elemento regulador do sistema”. (MARTINHO, 2003, p.40)
Enquanto Pearce (1996) ressalta que a Internet representa o mais novo paradigma da comunicação, depois da invenção da escrita, e da criação da imprensa, Trivinho (2005) considera o fortalecimento do ciberespaço como o fenômeno comunicacional mais significativo desde os estudos da Indústria Cultural dos pesquisadores Adorno e Horkheimer, em meados do século passado, considerado um período de grandes questionamentos a respeito do papel da comunicação na sociedade. Ao conceituar o ciberespaço, Trivinho discute que:

“O conceito de ciberespaço diz respeito a uma estrutura infoeletrônica transnacional de comunicação de dupla via em tempo real, multimídia ou não, que permite a realização de trocas (personalizadas) com alteridades virtuais (humanas ou artificial-inteligentes); ou, numa só expressão conceitual, a uma estrutura virtual transnacional de comunicação interativa. Além de pontuar a mudança de suporte dos processos sócio-culturais e políticos (agora marcado pela imaterialidade informática), a abolição do território geográfico e a interatividade prévia com a máquina, com o software e com a imagem virtual (...)”. (TRIVINHO, 2005, p.168)
Assim, compreender tanto a dinâmica das redes sociais como a sua capacidade de estabelecer novas conexões por meio da Internet são desafios que exigirão cada vez mais estudos sobre o alcance social dos processos de comunicação, sobretudo, os mediados pelas novas tecnologias da informação.

O tema ainda é alvo de inúmeras controvérsias, e, embora venha suscitando mais questionamentos, do que encontrando respostas, há que se pensar no desenvolvimento de novas pesquisas capazes de evidenciar os potenciais e obstáculos que envolvem as “interconexões dos nós”, criadas com objetivo de facilitar o diálogo entre inúmeros atores sociais e favorecer construções coletivas capazes de transformar realidades.

Referências bibliográficas

* AGUIAR, Sonia. Redes Sociais e tecnologias digitais de informação e comunicação. Relatório final de pesquisa. Núcleo de Pesquisas, Estudos e Formação da Rede de Informação para o Terceiro Setor (Nufep Rits). Rio de Janeiro, 2006.
* CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2003.
* MARÍ SÁEZ, Victor Manuel. El deseo de enredarse y el peligro de liarse. Un autodiagnóstico sobre los procesos de apropiación de Internet por parte de los movimientos sociales y la ciudadania activa. Revista Textos de la CiberSociedad, 9, 2005. Temática variada. Disponível em: http://www.cibersociedad.net.
* MARTINHO, C. Redes: Uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organização. WWF-Brasil, Brasília, 2003.
* MORAES, Dênis de. Novos Paradigmas Éticos da Comunicação Virtual (disponível emhttp://www.infoamerica.org/articulos)
* _________ Comunicação Alternativa e Redes Virtuais: os movimentos sociais na internet, Semiosfera, Número 03, dezembro de 2002 (disponível em http://www.wco.ufrj.br/semiosfera/anteriores).
* PEARCE, B.W. In: SCHNITMAN, D.F. (org). Novos Paradimas: Cultura e Subjetividade. Porto Alegre, Artmed, 1996. (pp. 172-187).
* PEDRO, Rosa. Redes na Atualidade: Refletindo sobre a Produção de Conhecimento). In: Tecendo o Desenvolvimento: saberes, gênero, ecologia social. Maria Inácia D´Avila e Rosa Pedro (org). Rio de Janeiro, Mauad: Bapera Editora, 2003. Coleção EICOS (Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social). (pp.29-47).
* SILVEIRA, Ada Cristina Machado. Fóruns, Política e Virtualidade no Horizonte da Comunicação, Revista Pensamento Comunicacional Latino Americano (PCLA), Volume 3, número 1, outubro, novembro e dezembro de 2001.
* SODRÉ, Muniz. O globalismo como neobarbárie. In: MORAES, Dênis de (org) Por uma outra comunicação: Mídia, mundialização cultural e poder. Editora Record, Rio de Janeiro e São Paulo, 2005.
* TRIVINHO, Eugênio. Epistemologia em ruínas: a implosão da Teoria da Comunicação na experiência do ciberespaço. In: MARTINS, M.F; e SILVA, M.J. Sulina/Edipucrs. 2003. (pp.167-180).

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Máquinas científicas

Há décadas os computadores eletrônicos têm ajudado os cientistas a armazenar, processar e analisar dados. Mas, à medida que uma explosão de novos conhecimentos tem mudado o panorama científico, a tecnologia também está ampliando o poder dos computadores.

Nesse novo contexto, as máquinas passam da simples análise para a formulação de hipóteses, entrando em uma área até então exclusiva aos humanos. De acordo com um artigo publicado na edição desta sexta-feira (23/7) da revista Science, em breve os computadores serão capazes de gerar hipóteses úteis sem ajuda dos humanos.

Segundo James Evans e Andrey Rzhetsky, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, o fato é que os computadores estão se tornando cada vez menos dependentes de seus criadores.

“Com base em abordagens de inteligência artificial, programas de computadores estão se tornando cada vez mais capazes de integrar conhecimento publicado com dados experimentais, de buscar por padrões e relações lógicas e de permitir o surgimento de novas hipóteses com menos intervenção humana”, disseram.

Segundo eles, novas e poderosas ferramentas computacionais entrarão em cena na próxima década para conduzir experimentos maiores e mais complexos, permitindo um grande avanço em áreas como física, química, biomedicina e ciências sociais.

“No passado, abordagens computacionais foram mais bem-sucedidas em sistemas pequenos e bem definidos do que em maiores, menos conhecidos e mais complexos. A explosão de dados de experimentos de alto desempenho, entretanto, tem apresentado aos pesquisadores sistemas muito complexos”, disseram.

“Encarar esse volume de dados com questões tão grandes quanto em escala e complexidade será crítico porque, como disse Mark Twain, ‘você não pode depender de seus olhos quando sua imaginação está fora de foco’”, destacaram os autores.

O artigo Machine Science (doi: 10.1126/science.1189416), de James Evans e Andrey Rzhetsky, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

Agência FAPESP

Jogo sobre Aids tem nova versão

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou uma versão atualizada do jogo digital Zig-Zaids, cujo objetivo é fornecer informações a jovens sobre o vírus da Aids e doenças sexualmente transmissíveis. O jogo pode ser baixado gratuitamente pela internet.

Desenvolvido pelo Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, o jogo é indicado para maiores de 12 anos e pode ser utilizado em escolas, no ambiente familiar, em espaços não formais de ensino, nos serviços de saúde e em espaços de lazer.

Segundo a Fiocruz, o conteúdo da nova versão é resultado de um conjunto de análises críticas sobre as limitações das ações restritas à informação biomédica sobre Aids e avaliações sobre o alcance e adequação do material.

O processo de revisão incluiu avaliação em escolas da rede pública de ensino do Estado do Rio de Janeiro e parecer do Ministério da Saúde. Na nova edição há mais informações sobre diagnóstico, dados epidemiológicos e direitos sexuais e reprodutivos de portadores de HIV.

A Fiocruz desenvolve alguns jogos educativos voltados para crianças e adolescentes, como o Jogo da Onda, que procura esclarecer dúvidas e promover reflexões sobre a prevenção da Aids, e o Trilhas, que realiza um passeio cultural e científico pelo Estado do Rio de Janeiro, além de um CD interativo sobre dengue.

A entidade faz doação de cópias do Zig-Zaids para instituições públicas e órgãos da sociedade civil mediante o recebimento de solicitação pelo e-mail zigzaids@ioc.fiocruz.br ou por carta encaminhada à: Fundação Oswaldo Cruz, Pavilhão Lauro Travassos LEAS, sala 22, Avenida Brasil 4.365, 21045-900, Rio de Janeiro - RJ.

Para fazer download do jogo acesse a página: www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=44

Agência FAPESP

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Máquinas científicas

Há décadas os computadores eletrônicos têm ajudado os cientistas a armazenar, processar e analisar dados. Mas, à medida que uma explosão de novos conhecimentos tem mudado o panorama científico, a tecnologia também está ampliando o poder dos computadores.

Nesse novo contexto, as máquinas passam da simples análise para a formulação de hipóteses, entrando em uma área até então exclusiva aos humanos. De acordo com um artigo publicado na edição desta sexta-feira (23/7) da revista Science, em breve os computadores serão capazes de gerar hipóteses úteis sem ajuda dos humanos.

Segundo James Evans e Andrey Rzhetsky, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, o fato é que os computadores estão se tornando cada vez menos dependentes de seus criadores.

“Com base em abordagens de inteligência artificial, programas de computadores estão se tornando cada vez mais capazes de integrar conhecimento publicado com dados experimentais, de buscar por padrões e relações lógicas e de permitir o surgimento de novas hipóteses com menos intervenção humana”, disseram.

Segundo eles, novas e poderosas ferramentas computacionais entrarão em cena na próxima década para conduzir experimentos maiores e mais complexos, permitindo um grande avanço em áreas como física, química, biomedicina e ciências sociais.

“No passado, abordagens computacionais foram mais bem-sucedidas em sistemas pequenos e bem definidos do que em maiores, menos conhecidos e mais complexos. A explosão de dados de experimentos de alto desempenho, entretanto, tem apresentado aos pesquisadores sistemas muito complexos”, disseram.

“Encarar esse volume de dados com questões tão grandes quanto em escala e complexidade será crítico porque, como disse Mark Twain, ‘você não pode depender de seus olhos quando sua imaginação está fora de foco’”, destacaram os autores.

O artigo Machine Science (doi: 10.1126/science.1189416), de James Evans e Andrey Rzhetsky, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

Fonte: Fapesp

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Comunicação e cultura organizacional em contextos de transição tecnológica

Autor: Renato Dias Baptista

As novas tecnologias redesenham o cenário organizacional e impactam sobre a cultura e os sistemas de trabalho. Atrelado a essas transformações, estão a globalização e as imposições da velocidade dos métodos produtivos, da pressão pela renovação contínua e da rápida obsolescência. Nesse cenário, a comunicação possibilita um redesenho dos processos evolutivos das empresas e passa a ocupar um espaço de elevada importância para a elaboração de estratégias organizacionais.

Introdução

Somos capazes de resistir às informações que não adaptam à nossa ideologia, percebendo essas informações não como informações, mas como trapaças ou mentiras. Edgar Morin, Para sair do século XX

A evolução tecnológica fomenta intensas transformações organizacionais que provocam impactos sobre os valores humanos. As interações sociais, as concepções sobre o trabalho, o lazer, entre outros, são arremessados num turbilhão movimentado pela globalização e apoiados por robôs, sistemas especialistas, tecnologias da informação e técnicas de gestão.

Nesse cenário, a comunicação organizacional redescobriu seu papel, mas como todo conhecimento, pode ser um instrumento de esclarecimento ou manipulação. O fator esclarecimento está associado com outros métodos éticos e socialmente responsáveis que se vinculam às mudanças. Na outra extremidade, quando a comunicação é manipulativa, ela alimenta as novas formas de tortura no trabalho; em ambientes tirânicos, ela é concebida como uma mera “ferramenta” para o controle organizacional, além de amparar discursos vinculados à lógica da auto-exclusão. Há programas corporativos que apresentam a tese de que não seriam as empresas que excluem, a exclusão é causada pelos próprios empregados que não se adaptam ao ritmo acelerado das mudanças.

A propósito, esse é um dos maiores impactos contemporâneos; a imposição de velocidade aos métodos de trabalho. Esse deslocamento está presente nos sistemas produtivos, nas estratégias e na informação instantânea. Não há sintonia com as subjetividades num contexto em que as tecnologias incitam a reordenação e desprezam as culturas (BAPTISTA, 2006).

As organizações criaram a tortura do imediatismo; uma ardileza do conceito de flexibilização empresarial, um recurso subserviente ao mercado global.

Outras conseqüências dessas mudanças direcionam-se aos estreitamentos no ciclo de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo, há uma contraposição aos métodos da assimilação tradicional de conceitos. Todos devem aprender rapidamente e, na mesma velocidade, renunciarem ao passado. Rompem-se os conhecimentos que são considerados, rapidamente, obsoletos na sociedade contemporânea.

Diante desses pressupostos, o objetivo principal deste artigo é apresentar uma visão panorâmica sobre os contextos organizacionais contemporâneos e as interdependências com a comunicação e a cultura. Para essa consecução, buscamos os pressupostos e pesquisas de autores como; Adler (2002), Antunes (2000), Aubert (2003), Baptista (1997, 2006, 2007), Bueno (2005), Chesneaux (1996), Trivinho (2001), Walton (1998), entre outros, para caracterizar essa tríplice influência.

Comunicaçao, cultura e tecnología

O intenso redesenho tecnológico gera impactos na cultura organizacional que, por sua vez, requerem estratégias comunicacionais para amenizar rejeições às mudanças. Há um aspecto fundamental nesse processo; a comunicação deve ser ética. Ela é mais do que uma simples informação ou um instrumento de controle e disciplina; necessita associar-se às transformações gradativas, respeitar os múltiplos clientes e vincular-se à Responsabilidade Social.

Entendemos que as empresas visam o lucro, portanto, a comunicação não será um mecanismo de benevolência, mas é capaz de garantir, juntos com as ações de gestão de pessoas e planejamento macro-estratégico, a continuidade de uma empresa e o apreço em direção de uma evolução no ambiente de trabalho. Assim, consideramos que uma organização avança, quando ela gere pessoas de forma inteligente, associa seus colaboradores com as tecnologias, investe em treinamento contínuo, abre os canais comunicacionais de forma efetiva e busca os pressupostos da participação no trabalho.

A importância da comunicação e cultura pode ser observada em todos os processos de aquisição tecnológica. Uma pesquisa realizada em empresas no Estado de São Paulo possibilitou a comprovação dessa tríplice dependência. Nas ações de reestruturação de tecnologias ocorrida nos finais dos anos 90, foram encontrados dois procedimentos em diferentes companhias: no primeiro, caracterizado como desenvolvimento contínuo, havia uma preocupação em relação à capacitação ininterrupta dos recursos humanos, nesse caso, possibilitava-se que os trabalhadores estivessem cognitivamente preparados para transições tecnológicas. No segundo, constituído de empresas mais lentas, as “estratégias” mais comuns eram as imposições para a mudança e a não observância da cultura estabelecida (BAPTISTA, 1997, 2007).

Em relação às empresas que respeitaram os valores, havia um estudo de clima e dos pressupostos culturais antes de se proceder as mudanças. Com apoio de dados sobre essas variáveis, tornaram-se estrategistas, éticas e responsáveis socialmente.2 Nesse tipo de ambiente, há uma absorção gradativa que garante a efetiva transformação. Em situação oposta, aquelas que utilizaram a mudança autoritária, foram morosas e demandaram maiores investimentos, pois seus métodos requeriam um rígido controle que, a propósito, destruíam as relações humanas.

A rigidez na mudança pode fomentar conflitos que estimulam as resistências comportamentais. Baptista (2006) cita, como exemplo, uma empresa que apregoava o slogan “nossos trabalhadores são o nosso principal patrimônio” porém, o local estava em alto nível de pressão e essa frase falaciosa ocasionava, na verdade, muitas dissonâncias contraproducentes.

Como a tentativa de exercer controle autoritário nem sempre garante o êxito, a percepção de engodo que os funcionários possuem pode comprometer a veracidade dos planos futuros. Concordo com Adler (2002) em relação à idéia de que, ao fazemos suposições sobre o que percebemos, tendemos em não redescobrir significados cada vez que encontramos uma situação similar. Nesse aspecto, o erro ou a falácia, torna “infecundo” o ambiente; a equipe amplia suas concepções aversivas e tornam-se poucos predispostos às estratégias comunicacionais sobre as necessárias mudanças.

Uma gestão competente é capaz de gerir a verdade

Para efetivamente gerir esse contexto, é essencial assimilar que há uma categórica confluência da comunicação com a cultura organizacional; ambas inter-relacionam-se devido às características sistêmicas (Littlejohn, 1988), orgânicas (Mattelart, 1994), e de processos, mas é com o desenvolvimento da microinformática e da automação que a cultura arraigou-se como base para a transição empresarial.

Mas onde está a cultura? Inicialmente, devemos buscar os conceitos fundamentais para dissecar essa complexidade. Para Hofstede (2003), dentre os muitos termos usados para descrever as manifestações da cultura, podemos reter quatro deles que cobrem o conceito de forma minuciosa: símbolos, heróis, rituais e valores. Para o autor, os símbolos são palavras, gestos, figuras ou objetos que transportam um significado particular que é apenas reconhecido pelos que partilham a cultura. Os heróis são pessoas, que possuem características altamente valorizadas numa determinada cultura e que por isso servem de modelo de comportamento. Os rituais são atividades coletivas, tecnicamente supérfluas, para atingir fins desejados, mas considerados essenciais em determinada cultura; formas de cumprimentar ou transmitir respeito aos outros, constituem alguns exemplos.

Conforme Deal e Kennedy (1992), os valores, por sua vez, são a essência de uma filosofia da empresa para alcançar o sucesso, eles provêem um senso de direção comum para todos os empregados e as diretrizes para o comportamento do dia-para-dia deles. São fórmulas que determinam (e ocasionalmente resultam disso) os tipos de heróis corporativos, os mitos, os rituais e as cerimônias da cultura.

Valendo-nos dos pressupostos Adler (2002) e Hofstede (2003) destacamos que as diferentes manifestações da cultura são decodificadas, assimiladas, questionadas e absorvidas mediante estratégias de gestão da imagem corporativa, a integração ao trabalho, as regras e suas formas de implementação, o fluxo de tarefas, a acessibilidade entre a base e o topo da hierarquia, os veículos de informação interna e suas formas de linguagem, ou seja, comunicação.

Portanto, são os sistemas comunicacionais que permitem que os funcionários percebam as dissonâncias, que por sua vez, deterioram as relações com a empresa. O que se vê pode refutar aquilo que se diz e resultar em desmotivação, ansiedade e conflitos intergrupais (BAPTISTA, 2006).

Conforme Bueno (2005),É preciso mudar o perfil da comunicação interna para que ela efetivamente assuma o seu caráter libertador. Isso não significa tornar mais eficazes os canais para a consolidação da hegemonia das chefias, como preconiza a literatura comprometida com a velha ideologia institucional, mas criar espaços de interação democráticos, verdadeiramente participativos, onde a divergência, com responsabilidade, seja assumida (BUENO, 2005, p. 24).

Diante desse conjunto de elementos, se as organizações não desenvolverem sistemas consonantes com os valores humanos, promoverão as novas torturas do trabalho caracterizadas pela velocidade imperativa.

Vivemos num mundo caracterizado por uma ditadura do tempo real, pela sociedade do zapping e dos clips nos quais vivem intensamente sem duração na busca de resultados de eficácia imediata (AUBERT, 2003). É uma corrida do mundo fugaz (CHESNEAUX, 1996), uma obsessão pela automatização e pela racionalização organizacional (LACOSTE, 2005).

O indivíduo “deve” absorver as idéias de uma organização que gera ansiedade através da velocidade de trabalho mensurada pelas oscilações do mercado. No entendimento de Aubert (2003) vivemos de ações mais imediatas numa aliança que se operaram entre a lógica do lucro e os métodos de gerenciamento associados à urgência.

Essas confluências de impactos tecnológicos levam Trivinho (2001) a afirmar que, Os novos códigos se caracterizam, sociologicamente, como dispositivos tecnoculturais de acesso à práxis instrumental na sociedade tecnológica. Em outras palavras, como uma senha geral de permissões, de direitos enfim, essas linguagens funcionam como gerenciadores da entrada tanto no mercado de trabalho, quanto na vivencia dos demais processos, como, por exemplo, a fruição dos novos bens culturais, que já proliferam de modo ostensivo, igualmente sem uma avaliação satisfatória por parte da reflexão teórica. Isso representa, no fundo, o acesso a uma nova simbólica, ou melhor, a um novo mundo tecnosimbólico, que envolve uma tecnoaculturação especifica do psiquismo humano, correspondente à era da informatização (TRIVINHO, P. 91, 2001).

Nessas circunstâncias, ressalta Chesneaux (1996), todos cedem à pressão estressante do imediato e somos agarrados pelo efêmero. A pressão da informação transforma a vida cotidiana em antecipação angustiada do dia seguinte, perdendo cada dia sua realidade viva e específica. As novas tecnologias se propõem a aumentar quase ao infinito nossas capacidades de produzir e de reproduzir, de gerar a paz e fazer guerra, de divertir-se ou de pensar” (CHESNEAUX, p. 110, 1996).

Na opinião de Chesnais (1996), a convergência das tecnologias de informática e de telecomunicações, bem como a introdução de tecnologias ligadas às comunicações por satélite, ao comando numérico e das fibras óticas, criaram condições para o estabelecimento de um sistema verdadeiramente mundial. Ainda segundo o mesmo autor, as transformações advindas, desde fins da década de 70, nas relações entre ciência, tecnologia e atividade industrial fizeram da tecnologia um fator de competitividade cujas características afetam praticamente todo o sistema.

Homem-máquina no cenário organizacional

Há inúmeros elementos que engendram os domínios das máquinas num contexto que, de acordo com Walton (1998), engloba robôs, movimentação de materiais, engenharia e planejamento de processos assistidos por computador, planejamento e controle, e gestão de sistemas de suporte e decisão.

No pretexto da sobrevivência num mercado global, valorizam-se as qualidades daqueles capazes de se adequarem aos preceitos atuais. As tecnologias redefinem as concepções nas organizações e contrapõem o cenário iniciado com a primeira Revolução Industrial. O termo revolução, a propósito, traz consigo, a essencial revisão daquilo que é vigente e estimula a geração de prognósticos, nem sempre pertinentes, sobre o futuro do trabalho. Landes (1998) ressalta que a palavra revolução pode evocar visões de mudança rápida, até brutal ou violenta. Pode significar também transformação fundamental ou profunda. Para alguns, destaca o autor, tem conotações progressistas, para outros as revoluções são intrinsecamente destrutivas. Todos esses e outros significados dependem de uma palavra que outrora significava simplesmente uma rotação no sentido literal.

Um breve olhar sobre a história mostra que as primeiras máquinas que alavancaram as fábricas do passado apresentaram estágios de evolução técnica mais longa em comparação aos fundamentados na microeletrônica. A distância entre um invento e outro favoreceu amplas adequações dentro e fora das organizações.

Segundo Landes (1998), o primeiro engenho a usar vapor para criar um vácuo e fazer funcionar uma bomba foi patenteado na Inglaterra por Thomas Savery em 1698; a primeira máquina a vapor propriamente dita (com pistão) foi a de Thomas Newcomen em 1705. Um longo período transcorreu antes de James Watt inventar uma máquina com condensador separado do cilindro (1768) cuja eficiência era suficientemente boa para produzir vapor fora das minas, nas novas cidades industriais; e mais de 15 anos foram necessários para adaptar a máquina ao movimento rotativo, de modo a poder impulsionar as rodas da indústria.

Esses fatos caracterizaram a primeira revolução, situada entre o final do século XVII e o início do século XIX que, conforme Schaff (1996) teve o grande mérito de substituir na produção a força física do homem pela energia das máquinas; primeiro pela utilização do vapor e mais adiante pela utilização da eletricidade.

Concordo com Vonnegut (1999) quando diz que estamos em meio ao processo de desvalorizar o pensamento humano, pois o ritmo das máquinas fundamentadas na microeletrônica e seus conseqüentes impactos nas técnicas de trabalho, não permitem espaços adequados de absorção e recomposição de novas subjetividades (BAPTISTA, 2006). A analogia com a primeira revolução está no salto qualitativo operado no desenvolvimento da tecnologia de produção que acabou por romper a continuidade dos avanços quantitativos que se iam acumulando nas tecnologias já existentes (SCHAFF, 1996, p. 22).

Mas as empresas não são ambientes de quietude, a despeito de todo o discurso de valorização humana, o lucro não cede espaço. A história, segundo Womack et al (1992), também revela que as primeiras modificações desenvolvidas por Ford no processo de trabalho não se limitaram a aperfeiçoar a peça intercambiável, como também aperfeiçoou o operário intercambiável.

A estratégia, mais dinheiro com menos pessoas, prosseguir-se-á nas novas etapas dos sistemas produtivos em que se implantam tecnologias com um ímpeto que causa rupturas nas tradicionais formas do desenvolvimento das tarefas. Para Chesneaux (1996) nem a máquina a vapor, nem o telefone, nem a eletricidade, muitas vezes invocados para celebrar a continuidade segura do progresso técnico, provocaram, na sua época, tal choque visceral e difuso.

Diante de tal situação, a classe que vive do trabalho sofre uma aguda crise que atinge não só a sua materialidade, mas tem profundas repercussões na sua subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento destes níveis, afetou a sua forma de ser (ANTUNES, 2000). O computador, por exemplo, é evidenciado por Chesneaux (1996) como algo que surge, contando em pico-segundos e nano-segundos, na plenitude do controle racional dos ritmos e das seqüências de trabalho que aspiraram o fordismo e o taylorismo.

Assim, essas tecnologias impelem a reordenação, extrapolam espaços que antes eram considerados privados, controlam o tempo de lazer, criam o trabalho portátil, cingem os que são tragados e incitam a culpa de forma unilateral aos que são excluídos (Baptista, 2006).

Nesse novo darwinismo (Kurz, 1992), é preciso absorver tudo de forma rápida além de, conforme Lacoste (2005), exigir a mobilização de conhecimento e saberes múltiplos; os recursos cognitivos são condições essenciais para o êxito.

Considerações finais

A comunicação e a cultura devem ser repensadas num ambiente de alta tecnologia. É necessário redescobrir seu papel diante da intensa velocidade. Vivemos num sistema de mútuas interferências, mas que não auto-regula-se com a mesma rapidez da tecnologia; para efeito de evolução, nenhuma sociedade ou empresa poderia esperar por uma auto-regulação.

É fato que as novas tecnologias formam a “paisagem corporativa” e, a despeito de todos os problemas, não haverá retrocesso. Diante disso, o estudo dos impactos humanos que estão associados nesse processo, não devem funcionar como espasmos do pensamento, como a crítica pela crítica, como deleite intelectual.

Por fim, a integralidade do sistema comunicacional deve ser efetiva; afastar-se do discurso, da dissonância, da manipulação, da subserviência às empresas ausentes de Responsabilidade Social. Uma comunicação ética é possível, primeiramente, é preciso associá-la à cultura e à gestão competente de pessoas.

Bibliografia

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# ANTUNES, R. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho.Cortez-UNICAMP: Campinas, 2000.
# AUBERT, N. Le culte de l´urgence. Paris: flamarion, 2003.
# BAPTISTA, R. D O processo de comunicação e clima organizacional na entrada de novas tecnologias. 1997, 157f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 1997.
# _________Trabalho e transitoriedade tecnológica: as compressões da mudança num contexto de globalização. In. ENCONTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA, 2006, Assis. Disponível em:http://www.assis.unesp.br/encontrosdepsicologia. Acesso em: 30 de ago. 2006.
# _________Será que a estagnação é um mecanismo de absorção e de recomposição da subjetividade? Disponível em: http://netart.incubadora.fapesp.br/portal/Members/rdbap/ guattari, Acesso em: 31 de ago. 2006.
# _________As dimensões da comunicação e da cultura organizacional em um contexto de renovação tecnológica. Revista Comunicação e Sociedade, São Bernardo do Campo, n. 46, p. 33-41, 2006.
# _________Comunicação e cultura organizacional: interfaces com as novas tecnologias. In: Anais do Encontro da União Latinoamericana de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006.
# _________ Involuções Corporativas: perspectivas críticas sobre a gestão de pessoas, comunicação e cultura nas organizações. São Paulo: AllPrint, 2007.
# BUENO, W. C. Comunicação empresarial no Brasil: uma leitura crítica. São Paulo: All Print, 2005.
# CHESNAIS, F. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.
# CHESNEAUX, J. Modernidade-Mundo. Petrópolis: Vozes, 1996.
# DEAL, T. E; KENNEDY, A. A. Corporate cultures: The rites and rituals of corporate life. New York: Addison-Wesley, 1992.
# HOFSTEDE, G. Cultures and organizations: software for the mind. New York: McGraw-Hill, 2004.
# KURZ, R. O colapso da modernização: da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 5º edição revista, 1999.
# LANDES, D. S. A riqueza e a pobreza das nações: por que algumas são tão ricas e outras tão pobres. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
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# LITTLEJOHN, S. W. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.
# MORIN, E. Para sair do século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
# MATTELART, A., MATTELART, M. A invenção da comunicação. Lisboa: Instituto Piaget, 1994.
# PIGNON, D., QUERZOLA, J. Ditadura e democracia na produção. IN: GORZ, A. Crítica da divisão do trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
# SCHAFF, A. A Sociedade Informática. São Paulo: Unesp/Brasiliense, 1996.
# TRIVINHO, E. O mal-estar da teoria: a condição crítica na sociedade tecnológica atual. Rio de Janeiro: Quartet, 2001.
# VONNEGUT, K. Jr. Player Piano. New York: Dial Press, 1999.
# WALTON, R. E. Tecnologia de informação: o uso de TI pelas empresas que obtêm vantagem competitiva, São Paulo: Atlas, 1998.
# WOMACK, J. P. et al. A máquina que mudou o mundo. Rio de Janeiro: Campus, 1992.


Fonte: Cibersociedade.net

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ciência em realidade virtual

Por Fabio Reynol

Um matemático resolve equações mergulhado em uma piscina virtual de números e gráficos, na qual ele pode andar e observar os resultados que são construídos à sua volta. Um químico testa novas interações moleculares movendo manualmente átomos do tamanho de bolas de tênis, que ficam ao seu redor e reproduzem em três dimensões as substâncias formadas.

Esses exemplos futuristas são a solução imaginada por George Djorgovski, professor de astronomia do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, para que pesquisadores consigam lidar com os dados cada vez mais complexos que a ciência vem produzindo em quantidade gigantesca.

Durante o Faculty Summit 2010 América Latina, evento promovido pela FAPESP e pela Microsoft Research, realizado de 12 a 14 de maio, no Guarujá (SP), Djorgovski explicou que a quantidade e a complexidade dos dados científicos ultrapassou os limites da capacidade humana para entendê-los e até mesmo para observá-los.

“É preciso admitir que a maior parte dos dados levantados hoje pela ciência jamais serão vistos por olhos humanos. É simplesmente impossível”, disse Djorgovski.

O pesquisador usou como exemplos trabalhos de sua própria área de atuação, a astronomia. Telescópios monitorados por sistemas automáticos registram diariamente enormes quantidades de dados que não poderiam ser totalmente analisados nem se toda a população da Terra fosse formada por astrônomos, de acordo com Djorgovski.

O mesmo acontece com outras áreas da ciência que trabalham com grandes quantidades de informações, como é o caso dos estudos sobre a biodiversidade e a climatologia. Além de enorme, esse banco de dados está dobrando de tamanho a cada ano e meio.

“A tecnologia da informação é uma enorme revolução que ainda está em andamento. Ela é muito maior que a Revolução Industrial e só é comparável à imprensa de Gutemberg. Essa revolução tem mudado até os paradigmas científicos vigentes”, declarou o pesquisador.

“Armas de instrução de massa”

Ele explica que as ferramentas, os dados e até os métodos utilizados pela ciência migraram para o mundo virtual e agora só podem ser trabalhados nele. “Com isso, a web tem potencial para transformar todos os níveis da educação. É uma verdadeira arma de instrução em massa”, ressaltou fazendo um trocadilho com o termo militar.

“Ferramentas de pesquisa de última geração podem ser utilizadas por qualquer pessoa do mundo com acesso banda larga à internet”, afirmou Djorgovski. Como exemplo, o pesquisador falou que países que não possuem telescópios de grande porte podem analisar e ainda fazer descobertas com imagens feitas pelos melhores e mais potentes equipamentos disponíveis no mundo.

No entanto, trabalhar a educação também envolve o processamento de grande quantidade de informações. Essa montanha de dados a ser explorada levou o pesquisador a questionar a utilidade de uma informação que não pode ser analisada.

Nesse sentido, Djorgovski considera tão importante quanto a coleta de dados, os processos subsequentes que vão selecionar o que for considerado relevante e lhes dar sentido. São os trabalhos de armazenamento, mineração e interpretação de dados, etapas que também estão ficando cada vez mais a cargo das máquinas.

Além da quantidade, também a complexidade das informações está ultrapassando a capacidade humana de entendimento. “Podemos imaginar um modelo de uma, duas ou três dimensões. Mas um universo formado por 100 dimensões é impossível. Você poderá entender matematicamente a sua formação, mas jamais conseguirá imaginá-lo”, desafiou o astrônomo.

Mesmo assim, ele acredita que ainda há espaço para que raciocínio humano amplie sua capacidade, contanto que receba uma ajuda externa: a da realidade virtual. “A tecnologia desenvolvida para os games poderá ajudar o pesquisadores a ter maior compreensão de seu objeto de pesquisa, ao proporcionar uma visualização que o envolve completamente”, afirmou ilustrando com os exemplos do matemático e do químico, citados acima.

Para Djorgovski, um dos grandes problemas da ciência atual consiste em lidar com uma complexidade crescente de informações. Como solução, o pesquisador aposta no desenvolvimento de novos sistemas de inteligência artificial. “As novas gerações de inteligência artificial estão evoluindo de maneira mais madura. Elas não emulam a inteligência humana, como faziam as primeiras versões. Com isso conseguem trabalhar dados mais complexos”, disse.

A chave para essas soluções, segundo o astrônomo, é a ciência da computação. “Ela representa para o século 21 o que a matemática foi para as ciências dos séculos 17, 18 e 19”, disse afirmando que a disciplina é ao mesmo tempo a “cola” e o “lubrificante” das ciências atuais.

Agência: Fapesp

terça-feira, 11 de maio de 2010

Videogame que ensina física

Por Fábio Reynol

Uma espaçonave de tamanho subatômico tem a missão de capturar partículas, identificá-las e com elas montar estruturas atômicas em outro planeta. Essa é parte da missão do Sprace Game , um jogo de computador projetado por físicos do Centro Regional de Análise de São Paulo (Sprace) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) com o objetivo de transmitir conceitos de física de partículas para o público leigo.

O desenvolvimento do videogame foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e é patrocinado pelo Sprace, centro financiado pela FAPESP e que é ligado ao Instituto de Física Teórica (IFT) do campus da Unesp da Barra Funda, na capital paulista.

Na cerimônia de lançamento, realizada na manhã de segunda-feira (10), o professor do Instituto de Física Teórica da Unesp Sérgio Ferraz Novaes, coordenador do Sprace, contou que o jogo faz parte de um esforço de levar aos alunos de ensino médio do país informações atuais sobre física de partículas.

“As informações escolares sobre estrutura da matéria estão defasadas em quase um século”, declarou Novaes através de um sistema de vídeoconferência. O professor falou aos jornalistas a partir do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), em Genebra, Suíça, onde participa do experimento CMS (Solenoide Múon Compacto, na sigla em inglês).

Para mostrar aos estudantes que os átomos são muito mais do que somente prótons, nêutrons e elétrons, a equipe do IFT enviou a todas as escolas brasileiras do ensino médio cartazes didáticos apresentando as demais partículas subatômicas.

“Porém, os cartazes atingem somente os interessados em física, enquanto que o game alcança muito mais jovens”, afirmou o designer do Sprace Game, Einar Saukas, da Summa Technology+Business, empresa que produziu o jogo. O desenvolvimento do game ficou sob a responsabilidade da empresa Black Widow Games Brasil, com a qual Saukas também está envolvido.

Projetado em linguagem Java, o Sprace Game consegue rodar em qualquer computador com sistemas operacionais Windows, Linus, ou Mac. O programador do jogo, Ulisses Bebianno de Mello, da Black Widow, explicou à Agência FAPESP que há três versões de resolução para que até máquinas um pouco mais antigas possam receber o jogo.

“Conseguimos rodar a versão mais básica em um Pentium 1,3Ghz com 512M de memória RAM, acreditamos que a configuração mínima para o jogo seja essa”, disse Mello. Por funcionar em plataformas enxutas, o Sprace Game pode servir como ferramenta de ensino em escolas e instituições com poucos recursos, necessitando apenas do acesso à internet. O jogo é gratuito e pode ser acessado na página do Sprace: Sprace Game

Em busca de partículas

Ao passar pelas quatro fases do Sprace Game, o jogador tem que capturar com sua espaçonave partículas subatômicas; levá-las a um laboratório para que sejam identificadas; descobrir do que são formadas as partículas compostas chamadas de hádrons e recombinar quarks para formar prótons e nêutrons.

Com eles, o jogador consegue montar núcleos atômicos de hidrogênio e oxigênio, a fim de produzir um recurso fundamental para a colonização do planeta explorado, a água.

Uma das fases mais interessantes é a segunda, na qual o jogador deve encontrar e perseguir a partícula tau e observar o seu decaimento, que é a decomposição em outras subpartículas no fim de seu tempo de vida. São essas subpartículas que o jogador deverá capturar. “Isso ajuda a explicar o conceito do decaimento”, disse Saukas.

O designer revelou que um dos grandes desafios do projeto foi criar um jogo que proporcionasse entretenimento sem perder a precisão científica. “Não podíamos fazer um jogo somente divertido e que tivesse incorreções científicas, nem fazer algo muito preciso e que fosse chato de jogar”, afirmou.

O produto final foi testado e aprovado por alunos do ensino médio participantes do Master Class: Hands on Particle Physics evento internacional cuja etapa paulista foi realizada em fevereiro pela Unesp. “Os estudantes tiveram duas horas para jogar, mas depois desse tempo ainda queriam continuar jogando”, contou Saukas.

O sucesso inicial demonstra o acerto na escolha do jogo eletrônico como mídia para divulgar a física de partículas, segundo acredita o professor Novaes. Para ele, trata-se de conceitos intrincados e que precisam ser repetidos para que sejam assimilados. “Filmes, livros e quadrinhos já foram feitos com esse objetivo, mas o videogame é muito mais eficaz nesse aspecto”, declarou o professor.

Repercussão internacional

O professor da Unesp disse que o Sprace Game já tem despertado o interesse de outros países. Uma versão em inglês está sendo finalizada para dar origem a traduções para outros idiomas.

Pesquisadores e divulgadores científicos da França, Áustria, Portugal, República Tcheca e Estados Unidos entraram em contato com Novaes para conversar sobre o jogo, além de profissionais de divulgação científica da Comunidade Europeia.

O professor Helio Takai, do Brookhaven National Laboratory, de Upton, nos Estados Unidos, que também participou da videoconferência do lançamento do Sprace, afirmou que o jogo poderá reduzir a defasagem do ensino de física de partículas que também existe naquele país.

Como no Brasil, o ensino norte-americano até o nível médio repassa conceitos da física descobertos até o início do século 20. Desde então, experimentos realizados em aceleradores de partículas revelaram que prótons e nêutrons são compostos de quarks, partes ainda menores.

Além dos quarks, que se dividem em seis tipos (up, down, strange, charm, bottom e top), também foram descobertos os léptons (elétron, múon, tau e seus três respectivos neutrinos) e as partículas responsáveis pelas interações forte, fraca e eletromagnética (glúon, W, Z e fóton). Enriquecer os conhecimentos de física de estudantes do ensino médio com essas informações mais atualizadas é o objetivo principal do Sprace Game.

“Aqui nos Estados Unidos, as agências de pesquisa valorizam muito as atividades educacionais. Da mesma forma, no Brasil, iniciativas como o Sprace são uma maneira de retribuir à população os investimentos públicos em pesquisa”, falou Takai na cerimônia de lançamento.

Novaes disse que um colega resumiu o ensino de física nesses termos: “Um professor do século 20 ensina física do século 19 para um estudante do século 21”. Para o professor da Unesp, o Sprace Game procura levar informações contemporâneas para estudantes do século 21, por meio de uma mídia moderna.

Agência Fapesp

domingo, 9 de maio de 2010

Redes de inclusão

Por Alex Sander Alcântara

A discussão sobre pobreza quase sempre esbarra nos indicadores de renda, que explicam apenas uma das facetas do problema. Se duas pessoas tiveram acessos diferenciados a serviços públicos como educação e saúde, por exemplo – embora possuam a mesma renda nominal –, uma delas pode ser considerada mais pobre. Além disso, se ela estiver isolada espacialmente, será mais segregada do que a outra.

Pela renda a pobreza até pode ser atenuada, mas, por outro lado, a desigualdade não, pois é reproduzida de várias outras formas. Pesquisas feitas no Centro de Estudos da Metrópole (CEM) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP e também um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) – têm se dedicado cada vez mais a ampliar essa percepção.

Um dos eixos de estudo foca na relação entre redes sociais e pobreza e mostra que a desigualdade está presente também nas primeiras. Uma das hipóteses sugere que, além da renda, a sociabilidade – relações familiares, de amizade no trabalho ou na vizinhança, na igreja, associações, entre outras – tem grande impacto nas condições de vida.

Um estudo conduzido por Eduardo Marques, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do CEM, tem indicado que membros de redes com grande homofilia – com parceiros de contato com mesmo perfil socioeconômico e demográfico – têm maior dificuldade para conseguir um emprego, por exemplo.

“A pobreza é multidimensional e articula vários elementos sociais. Até agora, nossas análises sugerem que redes sociais de pessoas pobres tendem a ser menores, menos diversas e mais locais do que as da classe média. Mas essa constatação pode ser observada também entre os mais desfavorecidos, explicando por que alguns indivíduos são mais pobres do que outros com mesma renda”, disse Marques, coordenador da pesquisa, à Agência FAPESP.

A pesquisa sobre redes sociais – que conta com a participação de duas doutorandas e uma mestranda – foi apresentada durante o Seminário Internacional Metrópole e Desigualdade, realizado em março último.

O estudo de campo colheu dados de redes pessoais de indivíduos pobres de São Paulo e Salvador e comparou com uma pequena amostra da classe média. Foram cerca de 362 casos de pessoas pobres (sendo 209 de sete regiões em São Paulo e 153 de cinco regiões em Salvador) e 30 de classe média.

De acordo com Marques, a amostra da classe média – que foi somente de São Paulo – foi usada apenas para ter um parâmetro. A lógica do estudo foi escolher casos muito diferentes entre eles, principalmente em relação aos pobres, cujas redes variam muito internamente.

“Por isso, escolhemos locais que representam situações urbanas diferentes no interior de cada cidade do ponto de vista da segregação, das condições de moradia e do tipo de habitação, como favelas próximas a bairros ricos e pobres, favela de periferia e outros, e representamos nas duas cidades situações de pobreza muito diferentes”, explicou.

Segundo ele, a escolha de São Paulo e Salvador se deu por se tratar de duas cidades com características bem diferentes do ponto de vista da malha urbana e do mercado de trabalho, mas o que se observou foi que os padrões gerais são similares.

“Percebemos que São Paulo apresenta redes de sociabilidade um pouco maiores, enquanto em Salvador as redes tendem a ser mais densas. Mas o que impressiona é justamente a similaridade em ambas, que sugere que esse padrão que obtivemos em São Paulo é sólido, ou seja, representa uma regularidade nas situações de pobreza”, disse o professor da USP.

Combinação complexa

As entrevistas focaram nas redes de contato do indivíduo. As pessoas foram abordadas em espaços públicos e em casa durante a semana ou no fim de semana. Foram coletadas informações relacionadas às redes e os atributos de seus componentes quanto ao gênero, idade e emprego, status usado para controlar a amostragem e combinação de critérios. Para as pessoas de classe média, as entrevistas foram agendadas por telefone.

“Nos dias da semana, por exemplo, entrevistávamos mais mulheres e, dependendo do horário, mais idosos e jovens. Corrigimos as diferenças nas entrevistas seguintes, realizadas em fins de semana”, explicou Marques.

Os perfis de sociabilidade mostraram semelhanças entre as cidades, com a esfera familiar respondendo em primeiro lugar, com 40,6%, e a vizinhança em segundo, com 31,6%. Em seguida, o trabalho correspondeu a 8%, seguido por amizades (5,9%), igreja (4,6%) e estudos (3,3%).

De acordo com Marques, a esfera familiar é muito alta também na classe média. “Mas pessoas pobres que têm redes concentradas na família, nos vizinhos e nos amigos tendem a ter condições piores do que pessoas com sociabilidade concentrada no trabalho, em associações e na igreja”, disse.

O conjunto das pesquisas conduzidas no CEM parte do pressuposto teórico de que o mundo do trabalho, as políticas e ações do Estado e a sociabilidade representam as três fontes de bem-estar, sendo decisivos para a superação da pobreza.

“Quanto menor a ‘homofilia potencial’ maior a probabilidade de se encontrar pessoas diferentes do grupo no qual se está inserido, em comparação com as esferas da família, da vizinhança e dos amigos. Com isso, as pessoas têm mais acessos a informação, repertórios e oportunidades”, disse.

A ideia do estudo é mostrar que muitos indivíduos podem estar segregados no espaço e, ao mesmo tempo, conectados por redes. “O espaço e as redes podem se combinar de maneira complexa, com um combatendo o efeito do outro”, afirmou Marques.

Segundo ele, a pesquisa estabelece, em um primeiro momento, uma relação entre a classe média e pobres, mas depois é feita uma aproximação nos indivíduos menos favorecidos.

“Quando se faz um mergulho na classe menos favorecida, existe uma enorme variedade interna. O estudo procura explicar por que alguns são mais e outros menos pobres, e por que alguns têm sociabilidade mais variada e outros menos, por exemplo”, disse.

A introdução do estudo de Salvador foi importante, segundo Marques, porque trouxe mais segurança para as hipóteses. “Em um primeiro momento, a situação pareceria específica para São Paulo, devido às suas peculiaridades econômicas e sociais, mas não era. O caso de Salvador mostra que há essa similaridade”, apontou.

As análises referentes a São Paulo serão publicadas em livro (no prelo), que será lançado em breve pela editora da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Mais informações: www.centrodametropole.org.br

Por: Agência Fapesp.