segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Empresas criam tecnologias que obedecem ao sabá judaico

Por: Dan Levin


Os rabinos, cientistas e engenheiros do Instituto Zomet estão tentando resolver problemas que surgem quando acontecem colisões entre a tecnologia e a Torá. Trabalhando em suas instalações de pesquisa na colônia de Alon Shvut, na Cisjordânia, eles criam aparelhos eletrônicos - de telefones a sistemas de alarme e veículos motorizados - que obedecem às leis do judaísmo ortodoxo sobre o sabá, quando até mesmo ligar ou desligar uma lâmpada é proibido.

"Estamos tentando combinar um estado judaico moderno e leis judaicas muito antigas", disse Dan Marans, o diretor executivo do Zomet. Isso requer tanto um conhecimento profundo do código legal judaico, ou halacha, quanto alguma engenhosidade. "A cada dia, Deus nos oferece coisas de que podemos usufruir, e é preciso apenas descobrir de que maneira fazê-lo de acordo com Suas normas", disse Marans.

Por décadas, grupos de pesquisa como o que Marans dirige vêm desfrutando de um quase monopólio sobre a tecnologia de aparelhos kosher. Eles vendem a maior parte de suas invenções ao governo e às forças armadas de Israel. Agora multinacionais, as pequenas empresas e empresários ortodoxos de todo o mundo estão criando produtos aprovados pelos rabinos.

As invenções, que ajudam os mais de 1,5 milhão de judeus ortodoxos do mundo a desfrutar das conveniências da vida moderna, estão ganhando popularidade devido aos baixos preços propiciados pela fabricação na Ásia e ao uso da Internet como ferramenta para comercializar produtos destinados a nichos de mercado.

O rabino Shmuel Veffer, presidente da Kosher Innovations, de Toronto, é apenas um dos empresários que se beneficiaram da tendência. Em 2004, Veffer inventou a Luminária Kosher, que conta com uma cobertura que pode ser movimentada de maneira a bloquear a luz da lâmpada mas sem desligá-la.

Veffer diz ter vendido "dezenas de milhares" das luminárias, entre as quais um modelo mais caro e uma versão infantil em forma de ursinho. Todas elas são fabricadas na China. A Kosher Innovations agora vende uma dúzia de produtos, entre os quais um dispositivo de iluminação que ajuda a combater insetos e um despertador que respeita o sabá, em quase 400 lojas, de Nova York a Londres e Sydney. Veffer garantiu aprovação religiosa de renomadas autoridades rabínicas em todos os países em que seus produtos estão à venda.

"O mundo dos judeus ortodoxos é uma comunidade fechada, de modo que se você oferece algo de que as pessoas gostam, as boas novas logo se espalham", afirma o rabino.

Mas "o consumidor kosher tem uma influência sobre o mercado que vai além dos números", disse o Dr. Avrom Pollak, presidente da Star-K, de Baltimore, que certifica como kosher diversos produtos, de grandes eletrodomésticos a alimentos, álcool e alguns remédios.

Por exemplo, disse Pollak, os domicílios judeus ortodoxos dedicam muito mais tempo, atenção e dinheiro às suas cozinhas do que a maioria dos demais consumidores norte-americanos, e é por isso que 14 grandes marcas de eletrodomésticos para cozinha solicitaram certificação Kosher da Star-K.

A Star-K também monitora algumas fábricas chinesas que produzem bens kosher, para garantir que elas estejam cumprindo as leis judaicas.

Embora a tecnologia moderna tenha por intenção tornar menos difíceis as tarefas da vida cotidiana, a proliferação de motores automáticos, sensores e luzes em mais aparelhos domésticos se tornou problema cada vez mais grave para os judeus que seguem estritamente as leis religiosas.

Por décadas, os judeus ortodoxos percorriam suas casas antes de cada sabá em um ritual que envolvia desligar seus sistemas de alarme, prender com fita adesiva o botão que acende a luz dentro da geladeira quando a porta se abre e deixar acesa uma das bocas do fogão, para que comida possa ser aquecida.

Nos últimos 10 anos, fabricantes como Whirlpool e Viking também incluíram programações para sabá em seus aparelhos, como fogões, refrigeradores e até sistemas de armazenagem de vinho. A General Electric introduziu seu modo sabá em 2000, e informa que o recurso está disponível em mais de 150 de seus fornos, fogões e outros utensílios culinários.

Esses modos ou desligam automaticamente certas luzes, ventiladores e alarmes ou usam um conceito legal judaico conhecido como "gramma", ou ação indireta, para manter os aparelhos em operação no dia de repouso. Nos refrigeradores, por exemplo, um mecanismo programado impede que o compressor entre em ação imediatamente quando a porta é aberta.

Mais de 750 mil judeus ortodoxos modernos e ultra-ortodoxos vivem nos Estados Unidos. Israel abriga mais de 800 mil ortodoxos modernos e ultra-ortodoxos, e 31% das pessoas com idade superior a 20 anos no país se identificam como ortodoxas, de acordo com Serviço Central de Estatísticas de Israel.

A comunidade exerce considerável influência política e econômica, e o mesmo se aplica a Eliyahu Yishai, primeiro-ministro assistente e ministro da Indústria, Comércio e Trabalho, ele mesmo judeu ortodoxo. No ano passado, o ministério que ele dirige colaborou com estudiosos da religião e com a Associação da Indústria de Israel para desenvolver produtos próprios ao sabá, com o objetivo de atender a comunidade ortodoxa em todo o mundo.

"Ser ortodoxo hoje precisa ser mais fácil do que era no passado", disse Yair Shiran, que representa Israel nos Estados Unidos para questões de cooperação econômica e apontou que mais de 20 produtos já haviam sido desenvolvidos especificamente para os judeus ortodoxos, entre os quais um condicionador de ar, uma cafeteira elétrica e um sistema de alarme adaptados para o sabá.

"A tecnologia está disponível, e a idéia é simplesmente a de comercializá-la para uso em comunidades específicas", declarou Shiran.

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times

Fonte: http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3166367-EI4801,00.html

Nenhum comentário: