quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O impacto desconhecido da implementação dos cursos superiores em Técnologia no Brasil

Impacto desconhecido

Por Alex Sander Alcântara

Os cursos superiores de tecnologia (CST) já foram vistos como mera alternativa para quem não tinha condições de ir à universidade. Hoje, eles superaram o preconceito e, graças a uma série de ações públicas, tornaram-se fundamentais.

De acordo com um estudo publicado na revista Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, o que falta é criar indicadores que permitam um acompanhamento sistemático a fim de incrementar os resultados dos CST.

O artigo, assinado pelos professores Adriana Roseli Wünsch Takahashi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Wilson Aparecido Costa de Amorim, da Universidade São Judas Tadeu, é parte da tese de doutorado de Adriana, defendida na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com Adriana, o objetivo do estudo foi discutir o papel organizador do Estado e as políticas públicas implementadas nos últimos anos para a reformulação e expansão do sistema profissional de educação, especialmente nos CST, com a finalidade de melhorar suas formas de avaliação de impacto.

“O desafio da educação tecnológica superior é o preenchimento ágil, com qualidade, de lacunas de mão-de-obra criadas no mercado de trabalho pela disseminação de novas tecnologias. Tendo em vista o tempo em que tais cursos estão em funcionamento e a tendência de expansão, é justamente neste momento que se faz necessário avaliar as políticas públicas a fim de confrontar os resultados atuais com seus propósitos de implementação”, disse a pesquisadora à Agência FAPESP.

O Brasil registrou nos últimos anos, segundo o estudo, um crescimento exponencial dos cursos de educação profissional, principalmente na graduação. Entre 2000 e 2002, os cursos tecnológicos registraram um crescimento de 74% (de 364 para 636), segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), contra 36% dos cursos de graduação tradicionais.

Apesar da importância da disseminação dos CST, o artigo alerta para os problemas relacionados à expansão sem controle. A deficiência de atos regulatórios comprometeria, segundo os autores, a qualidade da educação profissional, aumentando o risco de oferta de cursos com baixa efetividade educacional. Por isso, é importante a discussão e análise das políticas públicas de controle e avaliação.

“Como as conseqüências dessas iniciativas no âmbito educacional geram resultados de médio e longo prazos, elas requerem acompanhamento sistemático e contínuo. Nos últimos anos, a cultura de avaliação foi implantada no sistema educacional brasileiro, trazendo significativos benefícios à implementação dos cursos tecnológicos. Mas o Brasil ainda carece de avançar na criação e melhoria de uso dos seus indicadores a fim de incrementar seus resultados”, afirmou Adriana.

Segundo ela, a trajetória da educação profissional no Brasil conviveu ao longo do tempo com o preconceito que marcou essa modalidade de ensino, uma vez que sempre esteve associada à formação de classes menos favorecidas. Mas essa situação vem mudando desde 1996, com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

“A estratégia governamental de fomentar esses cursos não constitui uma novidade quanto à criação de uma nova modalidade de ensino, mas sim quanto à reorganização, reformulação e expansão de tais cursos. Os alunos com formação tecnológica estão conquistando espaço no mercado de trabalho e garantindo cada vez mais aceitação, o que tem atenuado o preconceito existente”, disse.

Aceitação no mercado

Embora o estudo identifique a crescente importância dos CST, segundo Adriana, ainda é difícil avaliar como os egressos desses cursos vêm sendo aceitos no mercado de trabalho, uma vez que o ensino tecnológico de nível superior é uma inovação recente na estrutura educacional brasileira.

“Algumas pesquisas mostram que em determinadas áreas há inclusive carência de tecnólogos. Porém, futuras pesquisas nesse sentido podem auxiliar ao investigar o papel das Instituições de Ensino Superior, das agências de fomento, das organizações públicas de regulamentação, ou mesmo da sociedade na forma de pesquisa com discentes e egressos”, destacou.

A pesquisadora afirma que as dificuldades dessa modalidade de cursos estão inseridas na mesma problemática da educação brasileira. “Em algumas áreas há poucos docentes e, em outras, a dificuldade é a qualificação técnica e pedagógica. Há também a insuficiência de oferta de vagas no setor público, além dos problemas de estrutura física e materiais.”

Segundo ela, a educação profissional não se limita à inserção no mercado de trabalho e à inclusão social. A retomada dos investimentos públicos nesse setor tangencia outros importantes tópicos, como o desenvolvimento da Economia Baseada no Conhecimento (EBC) e a difusão de um Sistema Nacional de Inovação.

“As pesquisas mostram que não há exemplos de países que tenham ingressado na categoria de EBC ou simplesmente no grupo dos países mais desenvolvidos sem uma população com nível educacional mais elevado e sem investimentos em pesquisa. E para um país participar competitivamente no mercado internacional, precisa de formação geral de qualidade, preparo técnico e cidadania”, afirmou.

Atualmente, a educação profissional em vigor no Brasil é constituída por três níveis: o primeiro de formação inicial e continuada de trabalhadores; a educação profissional técnica de nível médio; e a educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação.

“Os principais atributos dos CSTs são o foco, a rapidez, a inserção no mercado de trabalho e a metodologia. Ou seja, a formação em um campo de trabalho definido, aliada às necessidades atuais, com carga horária de dois a três anos, visando à rápida inserção do aluno no mercado de trabalho de acordo com as tendências da demanda”, disse.

Para ler o artigo Reformulação e expansão dos cursos superiores de tecnologia no Brasil: as dificuldades da retomada da educação profissional, de Adriana Roseli Wünsch Takahashi e Wilson Aparecido Costa de Amorim, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), neste link:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362008000200004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

Nenhum comentário: