quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Ciberespaço e a Cibereducação: Novas Relações e Novas Linguagens

Por: Wagner Antonio Junior



Ao longo da história da humanidade, os avanços tecnológicos sempre foram responsáveis por transformações nos mais diversos campos de atividades. Hoje, o desenvolvimento informacional e técnico está modificando a sociedade sob diversos ângulos, e a educação não poderia ficar alienada neste processo. As novas tecnologias da informação e da comunicação vêm desafiando a humanidade pelas transformações econômicas, sociais e políticas globalizadas, em um processo irreversível e cada vez mais acelerado. Para melhor visualizarmos os impactos das tecnologias na cultura contemporânea devemos dirigir nosso olhar para a educação como um processo complexo, inacabado e em permanente evolução.

Na atual sociedade, denominada “sociedade da informação”, constituída por influência decisiva dos meios de comunicação, as culturas, os processos educacionais e as competências requeridas passam por uma crise de significados sem precedentes. Neste contexto, damos destaque à rede mundial de computadores, que possibilita um fluxo de informações em diversos níveis. Tais informações não se atém somente à palavra escrita, mas constituem grande diversidade. São elas: textos, gráficos, som ou imagens, arquivos de áudio ou vídeo. Elas transformam nossa relação com o espaço e com o tempo numa velocidade nunca antes vivenciada, dando-nos uma nova percepção de mundo, no qual nossos relacionamentos, inclusive com os saberes, convertem-se em espaços de fluxos, criando e desfazendo verdades, competências e habilidades.

O progresso atual em que se encontram as tecnologias da informação e da comunicação apresentam um novo posicionamento tanto cultural quanto educacional. A grande quantidade de informações disponíveis e sua conversão em conhecimento, que permeiam nossas relações com o saber, estão adquirindo um novo ordenamento, caminhando para o ciberespaço. Este pode ser identificado como interconexões entre redes de computadores, o que se manifesta em maior alcance na Internet. Trata-se de um território eletrônico, onde se trabalha com informações, dados e memória compartilhada através da interação, onde o espaço e o tempo não têm referência.

Este novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século. (LÉVY, 1999, p.93).

A partir do rompimento dos padrões espaciais em redes interativas, o “espaço de fluxos” passou a substituir o “espaço de lugares” (CASTELLS, 2000). A inovação reside na organização corporal das seqüências de intercâmbio e interações intencionais, suporte das práticas sociais de tempo compartilhado. Este espaço imaterial de fluxos realiza um processo de desmaterialização das relações sociais e educacionais conectadas em rede. O que antes era concreto e palpável adquire uma dimensão imaterial na forma de impulsos eletrônicos.

O virtual é uma nova modalidade de ser, cuja compreensão é facilitada se considerarmos o processo que leva a ele: a virtualização. “O real seria da ordem do ‘tenho’, enquanto o virtual seria a ordem do ‘terás’, ou da ilusão, o que permite geralmente o uso de uma ironia fácil para evocar as diversas formas de virtualização” (LÉVY, 1996, p. 15).

O “lugar virtual” está apoiado em quatro eixos primordiais, que são: o tempo-real, a desterritorialidade, imaterialidade e interatividade. Tais aspectos possibilitam relações sociais simultâneas e acesso imediato a qualquer parte do mundo, inaugurando uma nova percepção do tempo, do espaço e das relações sociais. É no lugar virtual que se pode experimentar, solitariamente, uma nova sociabilidade, compartilhando um lugar simbólico e marcado por novas relações.

Neste novo século, a sociedade se caracteriza pela vasta quantidade de informação em fluxo e por seu conseqüente acesso, bem como a acelerada alteração e atualização da informação. Neste contexto, a familiarização com novas tecnologias da informação e a contínua atualização de conhecimentos serão necessários, potencializando ainda mais a influência da tecnologia sobre diversos aspectos da atividade humana relacionados à aprendizagem.

A educação contemporânea mostra que os atuais paradigmas não atendem mais o momento atual, visto a velocidade e quantidade de informações. Como o conhecimento tornou-se dinâmico, precisamos fazer novas conexões de fatos e informações, pois tudo está sistematizado. Os meios de produção mudaram para o paradigma da produção enxuta em lugar da produção em massa. Essa nova visão mostra a necessidade de um perfil diferenciado de cidadão para conviver na sociedade da informação e da tecnologia.

Torna-se importante, então, distinguirmos informação e conhecimento. A informação é a matéria-prima ainda não processada. Já o conhecimento seria a sistematização destas informações em saberes. Na segunda parte do século XX houve uma crescente especialização nas escolas, fazendo com que os conhecimentos fossem menos amplos que no passado, mas com uma maior profundidade. Hoje, é necessária uma menor preocupação com a acumulação do conhecimento, com sua construção a partir de informações que devem ser pesquisadas dentro de contextos significativos e reflexões críticas.

Atualmente, a velocidade com que circulam e são produzidas as informações, os conhecimentos passam a ser constantemente revistos, modificados ou sistematizados. O avanço das técnicas de comunicação ampliou notavelmente o alcance de conhecimentos compartilháveis.

Na sociedade da informação, a disseminação de novos paradigmas científicos aliados à presença de uma economia globalizada, assim como o crescente avanço das tecnologias digitais, exigem respostas coerentes de todo segmento educacional. Percebemos que o ato pedagógico precisa ser analisado e revisto de forma estrutural em suas concepções epistemológicas, na reformulação dos currículos e, principalmente, nas abordagens didáticas.

As tecnologias intelectuais da pós-modernidade – com seus suportes hipertextuais, interconectados, reticulares, interativos e múltiplos – questionam a escola e sua compartimentalização disciplinar, suas grades curriculares tão pouco propícias ao diálogo entre os saberes. O mundo digital no qual cada navegante é um autor de seus próprios percursos, questiona a escola e sua incapacidade de personalização... (RAMAL, 2002, p. 15).

Assim a internet, conectada a outras possibilidades digitais permite o acesso a bancos de informação que se proliferam geometricamente no ciberespaço. Nesse contexto, os professores devem assumir posturas novas e diferenciadas, ensinando e levando o educando à aprendizagem de forma colaborativa, na investigação e na pesquisa às informações existentes na rede.

A abordagem pedagógica da aprendizagem colaborativa e a distância vem ganhando força cada vez maior, constituindo-se na modalidade educacional apropriada, para atividades coletivas em redes de produção de conhecimento nos meios digitais de comunicação, como a Internet. Como conhecimento é visto como uma construção social, o processo educativo via ciberespaço é favorecido pela participação social em um ambiente que propicia a colaboração, a avaliação e o acesso a infinitos saberes universais, não totalizáveis e ricos em possibilidades que propiciam uma visão mais ampla do objeto de estudo, amplificando, assim, a aprendizagem individual de cada membro do grupo.

O aprendizado colaborativo, mediado pelas tecnologias interativas de informação e comunicação, vem de encontro à sociedade da informação como possibilidade no atendimento às demandas advindas das novas relações e percepções da realidade e produção de conhecimento. Os desafios, as ameaças e as possibilidades características da contemporaneidade exigirão, cada vez mais, o desenvolvimento de abordagens pedagógicas capazes de desenvolver competências e habilidades e, conseqüentemente, resoluções de problemas.

Atualmente, as demandas educacionais não estão sendo atendidas a contento pela relação da prática didático-pedagógica tradicional com as novas formas de comunicação. Todos no sistema escolar devem estar preparados para dominar os meios técnicos e incorpora-los a uma prática pedagógica transformadora, cujo principal objetivo é formar um cidadão autônomo e participativo com capacidade crítica e criadora diante dos desafios que se apresentam a cada dia, de forma mais dinâmica e veloz. Devemos pensar em uma formação docente que considere a existência do ciberespaço e sua influência na disseminação de informações. Partindo dessa formação, a reflexão dos novos contornos que a escola vem adquirindo e o papel do educador diante desta realidade.

Acredita-se que esse tema deve ser refletido pelos educadores, uma vez que a inserção das tecnologias na sociedade contemporânea já é uma realidade imposta e que vai além das formas tradicionais e estáticas de produção de conhecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 3.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

LÉVY, Piérre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

______. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.

RAMAL, Andréa Cecília. Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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